terça-feira, 4 de julho de 2023

Cristãos repudiam pastor-capeta André Valadão

Ilustração de Alona Savchuk
Por Altamiro Borges


As diabólicas pregações do “pastor” André Valadão, incentivando os fanatizados da Igreja Batista Lagoinha a assassinarem integrantes da comunidade LGTBQIA+, tem gerado forte reação. Parlamentares pedem a prisão do falso líder evangélico e o Ministério Público Federal decidiu abrir inquérito por crime de homotransfobia. Nesta quarta-feira (4), os verdadeiros cristãos também divulgaram uma nota de repúdio ao pastor-capeta:

“Discursos falsamente religiosos de incitação ao ódio aprofundam a cultura da violência porque negam a humanidade e o direito à existência de pessoas vulnerabilizadas. O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) se une a todas as pessoas batizadas, de diferentes denominações, que não aceitam a instrumentalização da fé cristã para a promoção da cultura do ódio e incitação ao crime. Jesus, em Mt 22.33-39, nos compromete com o amor, portanto, não há lugar para o ódio e o crime na Boa nova do Evangelho”.

Liberdade religiosa não autoriza a prática da violência

Como lembra a nota, “no dia em que o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania lançou o relatório do GT de Enfrentamento ao Discurso de Ódio e Extremismo no Brasil, 3 de julho de 2023, o líder religioso André Valadão incitou sua comunidade, durante um culto, a matar pessoas LGBTQIA+. Desde 2019, tanto a homofobia quanto a transfobia são considerados crimes, conforme a Lei do Racismo (7.716/1989). Apesar disso, os números da violência crescem”. No ano passado, foram 159 assassinatos de travestis e mulheres transexuais e 96 mortes de gays.

“Compreendemos que o argumento do direito à liberdade religiosa não serve de justificativa e nem autoriza que líderes autodeclarados religiosos convoquem pessoas para prática da violência. É necessário que discursos religiosos que motivem para práticas violentas, sejam penalizados na forma da Lei. É necessário que o Estado brasileiro assuma a tarefa de promover amplo debate público sobre a liberdade religiosa e sua relação com os direitos humanos, bem como, o de posicionar-se em relação a líderes religiosos que se valem da facilidade para a abertura de igrejas para criar organizações de promoção de ódio”, concluiu a lúcida e corajosa nota.

"Se eu pudesse, matava tudo", esbravejou o capeta

A posição do Conic reforça a decisão do MPF de investigar o “pastor” endemoniado. Em um culto realizado no domingo (2) na Igreja Batista Lagoinha em Orlando (EUA), o farsante religioso esbravejou que “agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer: Pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais. Ele diz: ‘Já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso’. Agora está com vocês”. E insistiu: “Não entendeu o que eu disse? Agora, tá com vocês! Deus deixou o trabalho sujo para nós”.

Como relembra a jornalista Mônica Bergamo, “André Valadão assumiu no fim de 2022 a liderança da Lagoinha Global, com mais de 700 templos no Brasil e no mundo. Subiu na hierarquia após seu pai, Márcio Valadão, nome respeitado no meio, se aposentar. Na campanha eleitoral do ano passado, o pastor foi um dos apoiadores evangélicos mais entusiasmados de Jair Bolsonaro (PL)”. Antes do MPF, o Ministério Público de MG já havia aberto inquérito criminal contra o pastor-capeta a pedido da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).

O falso recuo do covarde

Em seu pedido, a parlamentar enfatiza que “é importante dizer que essa fala, independentemente do contexto em que foi dita, apresenta um perigo de absoluta preocupação, sobretudo no contexto em que o Brasil figura no topo da lista de países que mais matam e violentam pessoas LGBT+ em todo o mundo”. Temendo os efeitos de sua fala criminosa, o pastor-capeta já recuou e jura que não pregou o assassinato de pessoas LGBTQIA+.

Mas como enfatiza o senador Fabiano Contarato (PT-ES), que entrou com representação criminal contra André Valadão, as suas declarações foram gravadas e retransmitidas pela internet. “Ele postou um vídeo tentando se explicar porque, muito provavelmente, percebeu que cometeu um crime e que deve ser responsabilizado por isso. Até porque ele tem feitos ataques semelhantes rotineiramente. Não há dúvidas da incitação que fez... Um homem que se diz líder religioso deve pregar a união, o respeito, a tolerância, o amor. Isso, sim, é falar de Deus. A partir do momento que ele usa o espaço que tem, seja físico ou virtual, para atacar o outro e inflar os fiéis para a luta do 'nós contra eles', ele está cometendo crime”, afirmou em entrevista ao site UOL.

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