Reproduzo editorial do sítio Carta Maior:
Do jeito que a coisa vai, a candidatura de José Serra (PSDB) à presidência da República não precisa de adversários. O fogo amigo, as indecisões e trapalhadas que se avolumaram nos últimos dias estão atingindo a fronteira do surreal. O episódio da escolha do vice na chapa de Serra já ingressou nas páginas do anedotário da política nacional. Quem achava que já tinha visto tudo com as reações iradas de aliados de Serra contra a escolha de Álvaro Dias (PSDB-PR) deve ter ficado sem ar nesta quarta-feira com o anúncio de que o deputado paranaense não seria mais o candidato a vice, mas sim o deputado Índio da Costa (DEM-RJ). Quem? – foi uma pergunta muito repetida logo após o anúncio do nome. Logo começaram a surgir informações sobre o vice de Serra.
E, nova surpresa, as mais duras críticas vieram da vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB-RJ), que detonou a indicação do deputado do DEM para a chapa presidencial de Serra. Ex-colega de Índio da Costa na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Andréa Gouvêa resumiu: escolheram um “ficha suja” para ser vice de Serra. A vereadora foi relatora de uma CPI na Câmara do Rio que investigou irregularidades nos contratos de merenda escolar na cidade na época em que Índio ocupou a Secretaria de Administração (2001-2006). No relatório da CPI, Andréa Gouvêa apontou indícios de formação de cartel e de direcionamento de licitação e pediu a quebra do sigilo fiscal dos envolvidos ao Ministério Público Estadual. “O que eu penso do candidato Índio da Costa está refletido neste relatório da CPI. Houve direcionamento no resultado da merenda escolar. A conduta dele não é uma conduta de Ficha Limpa”.
Mas os problemas envolvendo a composição da chapa de José Serra não se resumem à biografia política do deputado Índio da Costa. A lambança ocorrida nos últimos dias foi mais um capítulo na acidentada trajetória do candidato que afirma ter se preparado a vida inteira para ser presidente da República. A julgar pelos últimos acontecimentos envolvendo sua campanha, essa preparação parece estar repleta de lacunas. Não é só o fato de que Serra tenha declarado publicamente que desejava ter ao seu lado na chapa o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e, após uma indicação atropelada de Álvaro Dias, rechaçada pelo DEM, tenha se contentado com o nome de um deputado desconhecido no cenário nacional e contestado no cenário estadual do Rio. A questão mais importante aqui não reside nos nomes, mas sim no método de escolha de um nome para o segundo cargo político mais importante do país e na qualidade da articulação política. E tanto o método quanto a qualidade da articulação foram marcados pela falta de preparo, pela truculência e pelo desrespeito aos próprios aliados. Essas não são exatamente virtudes de alguém que se preparou a vida inteira para a presidência da República.
É sintomático que algumas das declarações mais duras dirigidas ao ex-governador paulista tenham partido de aliados seus. “O poder do Serra de desorganizar as coisas é fora do comum. O Álvaro Dias não acrescenta nada e desagrega muito”, escreveu o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) no twitter, logo após ter ficado sabendo, pela imprensa, da indicação de Dias para ser vice de Serra. “O DEM não poderia saber da indicação do vice pela imprensa. Que tipo de parceria é esta?”, acrescentou o deputado Felipe Maia (DEM-RN). Fiel ao seu estilo,o ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, respondeu, também pelo twitter: “O DEM é uma merda”. Em meio a esse tiroteio, a campanha de Serra sofreu outro revés. No dia 30 de junho, o Partido Social Cristão (PSC) rompeu o acordo que havi feito com o PSDB e anunciou o apoio formal à candidatura da petista Dilma Rousseff á presidência da República. A direção do PSC apontou duas razões para a mudança: a posição da maioria dos deputados pró-Dilma e o fato de que o nome do partido ofertado para ser vice de Serra, o senador Mão Santa, sequer ter sido levado em consideração pelo candidato.
A truculência apontada pelos próprios aliados do PSDB na condução da campanha de Serra talvez não seja meramente um traço de personalidade individual e/ou institucional. A fulanização e a cultura do espetáculo e da fofoca que caracterizam boa parte da cobertura política na imprensa brasileira ocultam um fato que teima em ficar aparecendo: há algo chamado programa ou agenda política envolvido em uma campanha eleitoral. No caso da eleição presidencial brasileira, há, em linhas gerais, dois projetos em disputa. O projeto do atual governo, que conta com mais de 75% de aprovação popular, segundo as últimas pesquisas. E o projeto da oposição capitaneada pelo PSDB que representa o retorno ao projeto implementado durante os dois governos FHC. O desempenho presente do atual governo e as comparações com os números daquele período são amplamente desfavoráveis ao candidato Serra, razão pela qual ele procura fugir dessa recordação. Mas, ao fazer isso, o tucano e seus aliados ficam sem referência programática visível. Essa ausência ajuda a explicar um pouco o caos que marcou a campanha serrista nos últimos dias.
Não se trata exatamente de ausência de programa. Serra e o PSDB têm um programa político e ele pode ser visto na maneira como governam estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Serra e o PSDB têm uma visão de política externa e ela pode ser vista nas declarações do candidato contra o Mercosul, contra a Bolívia e em defesa da retomada da idéia da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) com os Estados Unidos. O discurso do PSDB propondo o corte de gastos públicos também aponta para uma agenda que é aquela que vem sendo imposta agora pelo FMI a diversos países europeus. No entanto, diante do êxito das políticas do governo Lula, interna e externamente, não há espaço político para que Serra defenda essas idéias de claro e transparente. Essa é uma das causas políticas reais das incríveis dificuldades políticas da candidatura tucana. Falta espaço de debate político, sobra truculência e desencontro.
Esse cenário, obviamente, favorece a candidatura de Dilma Rousseff, que já ultrapassou Serra nas pesquisas e abriu uma vantagem de cinco pontos. A principal vantagem de Dilma, na verdade, é a existência de um programa ancorado em políticas que vem sendo implementadas (e aprovadas) pela população. Do outro lado, o que Serra está oferecendo? Até aqui a promessa de que se preparou a vida inteira para ser presidente e uma sucessão de trapalhadas na condução da própria campanha. Considerando esse contexto, a candidatura Dilma parece ter dois potenciais adversários principais: a soberba, acreditar que a eleição já está ganha e passar a cometer erros em função disso; uma possível truculência do campo adversário que, diante deste quadro desfavorável e do desejo expresso do candidato (“Agora, trata-se, sobretudo, de vencer”, repete Serra), pode partir para o vale-tudo, deixando definitivamente a política de lado.
.
sábado, 3 de julho de 2010
Espelho distorceu imagem do PSDB
Reproduzo artigo de Maria Inês Nassif, publicado no jornal Valor Econômico:
Um velho amigo jornalista, o José Roberto de Alencar e Silva, resolveu ser setorista de paraíso há uns anos e de forma pouco leal: um cara que nunca teve saúde, convenhamos que não podia simplesmente ter se livrado da pouca que tinha sem preparar muito bem seu séquito de irmãos, irmãos tortos, amigos, ex-mulheres, namoradas, ex-namoradas, que continuam irredutivelmente órfãos dele. Pois bem, Alencar tinha um humor invejável e um texto maravilhoso, usados especialmente quando as situações eram muito ruins.
Para contar histórias de “furos” – fantásticos, inacreditáveis, cujo script era sempre um “causo” comprido de narrador mineiro -, o Zezão escreveu o “Sorte e Arte”. Botava a sorte na frente da arte, para não parecer que se achava com mais arte do que sorte – coisa antipática esta, de achar que você é tão Deus do “furo” que ele chega à sua mão trazido pela sua genialidade, sem que nada se tenha interposto entre ela e o pedaço de papel que vai estar na banca amanhã, e depois de amanhã sabe-se lá que volta vai dar para cumprir uma outra função muito distante daquela de informar distintos leitores que os tempos são bicudos mas que as coisas podem melhorar – ou piorar, vai saber.
Nesses três últimos dias que o DEM e o PSDB se separaram mais uma vez (eles racharam em 2002, lembram-se?) fiquei pensando no Zezão. Será que ele atribuiria o fracasso da aliança do DEM com José Serra à falta de sorte, ou à falta de arte, do próprio Serra, na impossibilidade de atribuir a um jornalista a sorte ou a arte de dar um furo sobre o azar da aliança oposicionista? Acho que, na cabeça do Zé (o meu amigo), a avaliação seria a de que faltou inteligência, tato; sobrou uma certa arrogância; passou pela frente também um espelho daqueles de parque de diversões, que mostra pessoas e coisas muito maiores do que elas são. Se o Zé (o Alencar) não tivesse tido a infeliz ideia de ver se tem alguma notícia relevante no céu, acho que ele iria ficar pasmo com a falta de sorte e a falta de arte dos personagens das notícias aqui do nosso pedaço.
Aqui conversando com o Zé (Alencar, bem entendido), o que mais me intriga é o espelho de aumento. Quando puxaram o tapete do DEM, lançando pelo twitter do Roberto Jefferson (PTB-RJ) – vejam só, do Roberto Jefferson – o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para vice de Serra, o PSDB agiu como se o DEM não tivesse qualquer opção a não ser estar com ele, em qualquer circunstância. Isto é, que o ex-PFL era tão destituído de sorte e de arte que tinha mesmo era de comer o prato feito, e de sobremesa a observação do miniblog de Jefferson, de que “o DEM é um partido de m…”
Daí, a realidade, que não depende nem de sorte, nem de arte, em algum momento aparece. O DEM elegeu 65 deputados em 2006. O PSDB elegeu 66. Os dois têm direito rigorosamente ao mesmo tempo de propaganda eleitoral gratuita que o outro. O PTB, que agiu com toda a desenvoltura a que está acostumado Jefferson, carrega para a coligação 22 deputados. O tempo de televisão e rádio é proporcional à bancada eleita em 2006. Seria uma arte conseguir, por meio dessa aritmética esquisita onde os 66 do PSDB passaram a valer muito mais do que os 65 do DEM, uma aliança em torno de uma chapa puro sangue com Álvaro Dias, o senador do Paraná cujo irmão, Osmar, é do PDT e vai se coligar com a candidata do PT, Dilma Rousseff. Seria também uma baita sorte. Não foi nem uma coisa, nem outra. Nem azar foi. O espelhão do circo deu ao PSDB uma ideia muito maior do que a que tinha sobre si mesmo. O Serra agiu por impulso. E a candidatura de Dias durou alguma coisa próxima a três dias.
Pois bem, o Zé que infelizmente não está aqui veria também o lado do DEM. Como o espelho deles não os diminuiu; como o partido tem consciência de que ele e o PSDB estão em situações muito ruim (ninguém pode se gabar nem um pouquinho do outro); como não lhes sobrou muita alternativa senão brigar pela vice – e olha, tem gente que nem queria brigar nada, bastava continuar do lado do Serra -, o DEM deu a volta por cima e conseguiu um vice. Sem qualquer uso de sorte ou arte. No grito, simplesmente. Se tivesse feito arte, o resultado teria que ser melhor do que um Índio da Costa (DEM-RJ). Mas daí é pedir muito: é torcer para o dono da bola, José Serra, ser um artista, e para a bola, por pura sorte, ser depositada nos pés do time. É pedir demais.
Ainda mais sabendo que o candidato Serra agiu sem sorte, e sem arte, em 2002, com situações, aliás, tão favoráveis a ele, que um pouquinho de arte teria ajudado muito. No mês de junho de 2002, quando os partidos se preparavam para fazer as convenções que oficializariam os candidatos a presidente, Serra foi o alvo de uma campanha de correligionários, destinada a tirá-lo da disputa. Os fiéis aliados do mercado financeiro e do mundo da economia, que vinham de uma lua de mel com Fernando Henrique Cardoso, armaram um “balão de ensaio” para tirá-lo do páreo. O balão é um boato que você espalha na mídia para ver se cola junto ao eleitor e junto ao partido. Se colar, vira fato. Serra, que já havia passado por cima de uma candidatura do então PFL, a de Roseana Sarney (MA), e comprado uma briga feia com Tasso Jereissati para ser o candidato de seu partido à Presidência, bancou sua pretensão. O balão furou. Sem nenhuma sorte, e sem nenhuma arte.
.
Um velho amigo jornalista, o José Roberto de Alencar e Silva, resolveu ser setorista de paraíso há uns anos e de forma pouco leal: um cara que nunca teve saúde, convenhamos que não podia simplesmente ter se livrado da pouca que tinha sem preparar muito bem seu séquito de irmãos, irmãos tortos, amigos, ex-mulheres, namoradas, ex-namoradas, que continuam irredutivelmente órfãos dele. Pois bem, Alencar tinha um humor invejável e um texto maravilhoso, usados especialmente quando as situações eram muito ruins.
Para contar histórias de “furos” – fantásticos, inacreditáveis, cujo script era sempre um “causo” comprido de narrador mineiro -, o Zezão escreveu o “Sorte e Arte”. Botava a sorte na frente da arte, para não parecer que se achava com mais arte do que sorte – coisa antipática esta, de achar que você é tão Deus do “furo” que ele chega à sua mão trazido pela sua genialidade, sem que nada se tenha interposto entre ela e o pedaço de papel que vai estar na banca amanhã, e depois de amanhã sabe-se lá que volta vai dar para cumprir uma outra função muito distante daquela de informar distintos leitores que os tempos são bicudos mas que as coisas podem melhorar – ou piorar, vai saber.
Nesses três últimos dias que o DEM e o PSDB se separaram mais uma vez (eles racharam em 2002, lembram-se?) fiquei pensando no Zezão. Será que ele atribuiria o fracasso da aliança do DEM com José Serra à falta de sorte, ou à falta de arte, do próprio Serra, na impossibilidade de atribuir a um jornalista a sorte ou a arte de dar um furo sobre o azar da aliança oposicionista? Acho que, na cabeça do Zé (o meu amigo), a avaliação seria a de que faltou inteligência, tato; sobrou uma certa arrogância; passou pela frente também um espelho daqueles de parque de diversões, que mostra pessoas e coisas muito maiores do que elas são. Se o Zé (o Alencar) não tivesse tido a infeliz ideia de ver se tem alguma notícia relevante no céu, acho que ele iria ficar pasmo com a falta de sorte e a falta de arte dos personagens das notícias aqui do nosso pedaço.
Aqui conversando com o Zé (Alencar, bem entendido), o que mais me intriga é o espelho de aumento. Quando puxaram o tapete do DEM, lançando pelo twitter do Roberto Jefferson (PTB-RJ) – vejam só, do Roberto Jefferson – o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para vice de Serra, o PSDB agiu como se o DEM não tivesse qualquer opção a não ser estar com ele, em qualquer circunstância. Isto é, que o ex-PFL era tão destituído de sorte e de arte que tinha mesmo era de comer o prato feito, e de sobremesa a observação do miniblog de Jefferson, de que “o DEM é um partido de m…”
Daí, a realidade, que não depende nem de sorte, nem de arte, em algum momento aparece. O DEM elegeu 65 deputados em 2006. O PSDB elegeu 66. Os dois têm direito rigorosamente ao mesmo tempo de propaganda eleitoral gratuita que o outro. O PTB, que agiu com toda a desenvoltura a que está acostumado Jefferson, carrega para a coligação 22 deputados. O tempo de televisão e rádio é proporcional à bancada eleita em 2006. Seria uma arte conseguir, por meio dessa aritmética esquisita onde os 66 do PSDB passaram a valer muito mais do que os 65 do DEM, uma aliança em torno de uma chapa puro sangue com Álvaro Dias, o senador do Paraná cujo irmão, Osmar, é do PDT e vai se coligar com a candidata do PT, Dilma Rousseff. Seria também uma baita sorte. Não foi nem uma coisa, nem outra. Nem azar foi. O espelhão do circo deu ao PSDB uma ideia muito maior do que a que tinha sobre si mesmo. O Serra agiu por impulso. E a candidatura de Dias durou alguma coisa próxima a três dias.
Pois bem, o Zé que infelizmente não está aqui veria também o lado do DEM. Como o espelho deles não os diminuiu; como o partido tem consciência de que ele e o PSDB estão em situações muito ruim (ninguém pode se gabar nem um pouquinho do outro); como não lhes sobrou muita alternativa senão brigar pela vice – e olha, tem gente que nem queria brigar nada, bastava continuar do lado do Serra -, o DEM deu a volta por cima e conseguiu um vice. Sem qualquer uso de sorte ou arte. No grito, simplesmente. Se tivesse feito arte, o resultado teria que ser melhor do que um Índio da Costa (DEM-RJ). Mas daí é pedir muito: é torcer para o dono da bola, José Serra, ser um artista, e para a bola, por pura sorte, ser depositada nos pés do time. É pedir demais.
Ainda mais sabendo que o candidato Serra agiu sem sorte, e sem arte, em 2002, com situações, aliás, tão favoráveis a ele, que um pouquinho de arte teria ajudado muito. No mês de junho de 2002, quando os partidos se preparavam para fazer as convenções que oficializariam os candidatos a presidente, Serra foi o alvo de uma campanha de correligionários, destinada a tirá-lo da disputa. Os fiéis aliados do mercado financeiro e do mundo da economia, que vinham de uma lua de mel com Fernando Henrique Cardoso, armaram um “balão de ensaio” para tirá-lo do páreo. O balão é um boato que você espalha na mídia para ver se cola junto ao eleitor e junto ao partido. Se colar, vira fato. Serra, que já havia passado por cima de uma candidatura do então PFL, a de Roseana Sarney (MA), e comprado uma briga feia com Tasso Jereissati para ser o candidato de seu partido à Presidência, bancou sua pretensão. O balão furou. Sem nenhuma sorte, e sem nenhuma arte.
.
Mino Carta explicita apoio a Dilma
Reproduzo artigo de Mino Carta, publicado na revista CartaCapital:
Por que apoiamos Dilma?
Resposta simples: porque escolhemos a candidatura melhor. Guerrilheira, há quem diga, para definir Dilma Rousseff. Negativamente, está claro. A verdade factual é outra, talvez a jovem Dilma tenha pensado em pegar em armas, mas nunca chegou a tanto. A questão também é outra: CartaCapital respeita, louva e admira quem se opôs à ditadura e, portanto, enfrentou riscos vertiginosos, desde a censura e a prisão sem mandado, quando não o sequestro por janízaros à paisana, até a tortura e a morte.
O cidadão e a cidadã que se precipitam naquela definição da candidata de Lula ou não perdem a oportunidade de exibir sua ignorância da história do País, ou têm saudades da ditadura. Quem sabe estivessem na Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade há 46 anos, ou apreciem organizar manifestação similar nos dias de hoje.
De todo modo, não é apenas por causa deste destemido passado de Dilma Rousseff que CartaCapital declara aqui e agora apoio à sua candidatura. Vale acentuar que neste mesmo espaço previmos a escolha do presidente da República ainda antes da sua reeleição, quando José Dirceu saiu da chefia da Casa Civil e a então ministra de Minas e Energia o substituiu.
E aqui, em ocasiões diversas, esclareceu-se o porquê da previsão: a competência, a seriedade, a personalidade e a lealdade a Lula daquela que viria a ser candidata. Essas inegáveis qualidades foram ainda mais evidentes na Casa Civil, onde os alcances do titular naturalmente se expandem.
E pesam sobre a decisão de CartaCapital. Em Dilma Rousseff enxergamos sem a necessidade de binóculo a continuidade de um governo vitorioso e do governante mais popular da história do Brasil. Com largos méritos, que em parte transcendem a nítida e decisiva identificação entre o presidente e seu povo. Ninguém como Lula soube valer-se das potencialidades gigantescas do País e vulgarizá-las com a retórica mais adequada, sem esquecer um suave toque de senso de humor sempre que as circunstâncias o permitissem.
Sem ter ofendido e perseguido os privilegiados, a despeito dos vaticínios de alguns entre eles, e da mídia praticamente em peso, quanto às consequências de um governo que profetizaram milenarista, Lula deixa a Presidência com o País a atingir índices de crescimento quase chineses e a diminuição do abismo que separa minoria de maioria. Dono de uma política exterior de todo independente e de um prestígio internacional sem precedentes. Neste final de mandato, vinga o talento de um estrategista político finíssimo. E a eleição caminha para o plebiscito que a oposição se achava em condições de evitar.
Escolha certa, precisa, calculada, a de Lula ao ungir Dilma e ao propor o confronto com o governo tucano que o precedeu e do qual José Serra se torna, queira ou não, o herdeiro. Carregar o PSDB é arrastar uma bola de ferro amarrada ao tornozelo, coisa de presidiário. Aí estão os tucanos, novos intérpretes do pensamento udenista.
Seria ofender a inteligência e as evidências sustentar que o ex-governador paulista partilha daquelas ideias. Não se livra, porém, da condição de tucano e como tal teria de atuar. Enredado na trama espessa da herança, e da imposição do plebiscito, vive um momento de confusão, instável entre formas díspares e até conflitantes ao conduzir a campanha, de sorte a cometer erros grosseiros e a comprometer sua fama de “preparado”, como insiste em afirmar seu candidato a vice, Índio da Costa. E não é que sonhavam com Aécio...
Reconhecemos em Dilma Rousseff a candidatura mais qualificada e entendemos como injunção deste momento, em que oficialmente o confronto se abre, a clara definição da nossa preferência. Nada inventamos: é da praxe da mídia mais desenvolvida do mundo tomar partido na ocasião certa, sem implicar postura ideológica ou partidária. Nunca deixamos, dentro da nossa visão, de apontar as falhas do governo Lula. Na política ambiental. Na política econômica, no que diz respeito, entre outros aspectos, aos juros manobrados pelo Banco Central. Na política social, que poderia ter sido bem mais ousada.
E fomos muito críticos quando se fez passivamente a vontade do ministro Nelson Jobim e do então presidente do STF Gilmar Mendes, ao exonerar o diretor da Abin, Paulo Lacerda, demitido por ter ousado apoiar a Operação Satiagraha, ao que tudo indica já enterrada, a esta altura, a favor do banqueiro Daniel Dantas. E quando o mesmo Jobim se arvorou a portavoz dos derradeiros saudosistas da ditadura e ganhou o beneplácito para confirmar a validade de uma Lei da Anistia que desrespeita os Direitos Humanos. E quando o então ministro da Justiça Tarso Genro aceitou a peroração de um grupelho de fanáticos do Apocalipse carentes de conhecimento histórico e deu início a um affair internacional desnecessário e amalucado, como o caso Battisti.
Hoje apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff com a mesma disposição com que o fizemos em 2002 e em 2006 a favor de Lula. Apesar das críticas ao governo que não hesitamos em formular desde então, não nos arrependemos por essas escolhas. Temos certeza de que não nos arrependeremos agora.
.
Por que apoiamos Dilma?
Resposta simples: porque escolhemos a candidatura melhor. Guerrilheira, há quem diga, para definir Dilma Rousseff. Negativamente, está claro. A verdade factual é outra, talvez a jovem Dilma tenha pensado em pegar em armas, mas nunca chegou a tanto. A questão também é outra: CartaCapital respeita, louva e admira quem se opôs à ditadura e, portanto, enfrentou riscos vertiginosos, desde a censura e a prisão sem mandado, quando não o sequestro por janízaros à paisana, até a tortura e a morte.
O cidadão e a cidadã que se precipitam naquela definição da candidata de Lula ou não perdem a oportunidade de exibir sua ignorância da história do País, ou têm saudades da ditadura. Quem sabe estivessem na Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade há 46 anos, ou apreciem organizar manifestação similar nos dias de hoje.
De todo modo, não é apenas por causa deste destemido passado de Dilma Rousseff que CartaCapital declara aqui e agora apoio à sua candidatura. Vale acentuar que neste mesmo espaço previmos a escolha do presidente da República ainda antes da sua reeleição, quando José Dirceu saiu da chefia da Casa Civil e a então ministra de Minas e Energia o substituiu.
E aqui, em ocasiões diversas, esclareceu-se o porquê da previsão: a competência, a seriedade, a personalidade e a lealdade a Lula daquela que viria a ser candidata. Essas inegáveis qualidades foram ainda mais evidentes na Casa Civil, onde os alcances do titular naturalmente se expandem.
E pesam sobre a decisão de CartaCapital. Em Dilma Rousseff enxergamos sem a necessidade de binóculo a continuidade de um governo vitorioso e do governante mais popular da história do Brasil. Com largos méritos, que em parte transcendem a nítida e decisiva identificação entre o presidente e seu povo. Ninguém como Lula soube valer-se das potencialidades gigantescas do País e vulgarizá-las com a retórica mais adequada, sem esquecer um suave toque de senso de humor sempre que as circunstâncias o permitissem.
Sem ter ofendido e perseguido os privilegiados, a despeito dos vaticínios de alguns entre eles, e da mídia praticamente em peso, quanto às consequências de um governo que profetizaram milenarista, Lula deixa a Presidência com o País a atingir índices de crescimento quase chineses e a diminuição do abismo que separa minoria de maioria. Dono de uma política exterior de todo independente e de um prestígio internacional sem precedentes. Neste final de mandato, vinga o talento de um estrategista político finíssimo. E a eleição caminha para o plebiscito que a oposição se achava em condições de evitar.
Escolha certa, precisa, calculada, a de Lula ao ungir Dilma e ao propor o confronto com o governo tucano que o precedeu e do qual José Serra se torna, queira ou não, o herdeiro. Carregar o PSDB é arrastar uma bola de ferro amarrada ao tornozelo, coisa de presidiário. Aí estão os tucanos, novos intérpretes do pensamento udenista.
Seria ofender a inteligência e as evidências sustentar que o ex-governador paulista partilha daquelas ideias. Não se livra, porém, da condição de tucano e como tal teria de atuar. Enredado na trama espessa da herança, e da imposição do plebiscito, vive um momento de confusão, instável entre formas díspares e até conflitantes ao conduzir a campanha, de sorte a cometer erros grosseiros e a comprometer sua fama de “preparado”, como insiste em afirmar seu candidato a vice, Índio da Costa. E não é que sonhavam com Aécio...
Reconhecemos em Dilma Rousseff a candidatura mais qualificada e entendemos como injunção deste momento, em que oficialmente o confronto se abre, a clara definição da nossa preferência. Nada inventamos: é da praxe da mídia mais desenvolvida do mundo tomar partido na ocasião certa, sem implicar postura ideológica ou partidária. Nunca deixamos, dentro da nossa visão, de apontar as falhas do governo Lula. Na política ambiental. Na política econômica, no que diz respeito, entre outros aspectos, aos juros manobrados pelo Banco Central. Na política social, que poderia ter sido bem mais ousada.
E fomos muito críticos quando se fez passivamente a vontade do ministro Nelson Jobim e do então presidente do STF Gilmar Mendes, ao exonerar o diretor da Abin, Paulo Lacerda, demitido por ter ousado apoiar a Operação Satiagraha, ao que tudo indica já enterrada, a esta altura, a favor do banqueiro Daniel Dantas. E quando o mesmo Jobim se arvorou a portavoz dos derradeiros saudosistas da ditadura e ganhou o beneplácito para confirmar a validade de uma Lei da Anistia que desrespeita os Direitos Humanos. E quando o então ministro da Justiça Tarso Genro aceitou a peroração de um grupelho de fanáticos do Apocalipse carentes de conhecimento histórico e deu início a um affair internacional desnecessário e amalucado, como o caso Battisti.
Hoje apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff com a mesma disposição com que o fizemos em 2002 e em 2006 a favor de Lula. Apesar das críticas ao governo que não hesitamos em formular desde então, não nos arrependemos por essas escolhas. Temos certeza de que não nos arrependeremos agora.
.
Prioridades e ações no pós-Confecom
Reproduzo artigo de Jacson Segundo, publicado no Observatório do Direito à Comunicação:
Uma das dificuldades para a implemetação das resoluções da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) é a extensa quantidade de propostas que foram aprovadas na plenária final do encontro nacional. As mais de 600 resoluções geraram um cenário de falta de foco e de priorização de temas e de ações. Para tentar minimizar esse problema, cerca de 50 pessoas de várias entidades nacionais e estaduais se reuniram em Brasília nesta quinta-feira (1) e escolheram aproximadamente 70 propostas consideradas prioritárias para a sociedade civil.
A ideia dos organizadores do seminário não foi de alterar ou retirar propostas e nem de bater o martelo sobre o que é mais ou menos importante na visão das organizações e movimentos sociais que participaram do processo da Confecom. O objetivo foi criar uma contribuição para que o movimento de comunicação debatesse prioridades. O documento final deve circular pela internet para avaliação dos que não puderam comparecer em Brasília neste seminário.
Com essas prioridades que foram sugeridas no seminário, pretende-se que as propostas escolhidas ganhem mais força que as outras e que, por consequencia, tenham mais condição de saírem do papel. Não deve ser uma tarefa fácil a curto prazo, já que o Parlamento vai andar a passos lentos por causa do calendário eleitoral este ano. Além disso, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, já afirmou que o papel deste governo seria apenas classificar as propostas.
As propostas elencadas como prioritárias foram selecionadas abarcando todos os temas tratados na Confecom. Elas devem ainda passar por uma sistematização e serão divulgadas a partir do próximo dia 19, por meio de uma videoconferência. “Essa é a nossa plataforma para a batalha eleitoral de 2010. É com ela que vamos tentar comprometer os candidatos”, disse o jornalista do Portal Vermelho e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges.
Propostas
Uma delas diz respeito ao financiamento e estímulo à produção independente e regional de conteúdos educativos. A ideia é mapear todos os fundos existentes em âmbito federal e local que tenham como objetivo o apoio a este tipo de produto de comunicação. E que as organizações sociais articulem a criação destes mecanismos onde eles não existam.
Outra prioridade seria a resolução que cria um sistema público de distribuição física de conteúdos produzidos pelas redes de comunicação e cultura, garantindo que a produção cultural financiada com dinheiro público seja exibida e distribuída de forma livre em creative commons.
Para a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), que foi uma das representantes da Câmara na Confecom, a eficácia dos encaminhamentos da Conferência vai depender do nível de mobilização e protagonismo da sociedade civil. Ela entende que o Plano Nacional de Banda Larga, por exemplo, foi acelerado pela pressão dos movimentos da área e da população.“Precisamos ampliar e preservar as conquistas”, afirma a deputada, que foi uma das proponentes do seminário.
Um estudo feito pelo deputado Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE) mostra que cerca de 35% das propostas aprovadas na Confecom implicam em alguma forma de ação legislativa no Congresso Nacional. Além disso, o relatório informa que, deste percentual, que representa 222 propostas, dois terços (148) já são motivo de alguma ação, como projetos de lei, em pelo menos uma das casas legislativas do país (Câmara e Senado).
Articulação
A priorização das propostas não foi o único resultado do seminário de Brasília. Também foi discutida a melhor forma do movimento de comunicação continuar organizado. Embora não tenha sido um consenso entre as entidades, a maioria decidiu manter e ampliar a Comissão Nacional Pró-Conferência (CNPC), articulação que surgiu para mobilizar a sociedade civil antes da Confecom.
A integrante do Conselho Federal de Psicologia e da coordenação executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Roseli Goffman, discordou da revitalização da CNPC. “Não é um momento em que há força política para nossas instituições comparecerem porque nós estamos disputando eleições nas nossas entidades”, opinou. Segundo ela, a estratégia do FNDC é revitalizar seus fóruns locais e criar novos onde não existirem.
Porém, dentro da próprio FNDC existem posições diferentes. O coordenador da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão (Fitert), Nascimento Silva, disse que o Fórum ainda não bateu o martelo sobre o assunto. “Temos que manter a CNPC do jeito que ela está”, afirmou.
As reuniões da CNPC devem acontecer mensalmente. Além disso, foram encaminhadas outras ações, como a manutenção de um diálogo mais próximo com as comissões estaduais e a tentativa de realizar um debate com os candidatos à Presidência da República.
Além de Luiza Erundina, pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, o seminário também contou com a co-realização da deputada Iriny Lopes (PT-ES), pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, e de entidades da sociedade civil. O evento foi realizado na Câmara dos Deputados.
.
Uma das dificuldades para a implemetação das resoluções da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) é a extensa quantidade de propostas que foram aprovadas na plenária final do encontro nacional. As mais de 600 resoluções geraram um cenário de falta de foco e de priorização de temas e de ações. Para tentar minimizar esse problema, cerca de 50 pessoas de várias entidades nacionais e estaduais se reuniram em Brasília nesta quinta-feira (1) e escolheram aproximadamente 70 propostas consideradas prioritárias para a sociedade civil.
A ideia dos organizadores do seminário não foi de alterar ou retirar propostas e nem de bater o martelo sobre o que é mais ou menos importante na visão das organizações e movimentos sociais que participaram do processo da Confecom. O objetivo foi criar uma contribuição para que o movimento de comunicação debatesse prioridades. O documento final deve circular pela internet para avaliação dos que não puderam comparecer em Brasília neste seminário.
Com essas prioridades que foram sugeridas no seminário, pretende-se que as propostas escolhidas ganhem mais força que as outras e que, por consequencia, tenham mais condição de saírem do papel. Não deve ser uma tarefa fácil a curto prazo, já que o Parlamento vai andar a passos lentos por causa do calendário eleitoral este ano. Além disso, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, já afirmou que o papel deste governo seria apenas classificar as propostas.
As propostas elencadas como prioritárias foram selecionadas abarcando todos os temas tratados na Confecom. Elas devem ainda passar por uma sistematização e serão divulgadas a partir do próximo dia 19, por meio de uma videoconferência. “Essa é a nossa plataforma para a batalha eleitoral de 2010. É com ela que vamos tentar comprometer os candidatos”, disse o jornalista do Portal Vermelho e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges.
Propostas
Uma delas diz respeito ao financiamento e estímulo à produção independente e regional de conteúdos educativos. A ideia é mapear todos os fundos existentes em âmbito federal e local que tenham como objetivo o apoio a este tipo de produto de comunicação. E que as organizações sociais articulem a criação destes mecanismos onde eles não existam.
Outra prioridade seria a resolução que cria um sistema público de distribuição física de conteúdos produzidos pelas redes de comunicação e cultura, garantindo que a produção cultural financiada com dinheiro público seja exibida e distribuída de forma livre em creative commons.
Para a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), que foi uma das representantes da Câmara na Confecom, a eficácia dos encaminhamentos da Conferência vai depender do nível de mobilização e protagonismo da sociedade civil. Ela entende que o Plano Nacional de Banda Larga, por exemplo, foi acelerado pela pressão dos movimentos da área e da população.“Precisamos ampliar e preservar as conquistas”, afirma a deputada, que foi uma das proponentes do seminário.
Um estudo feito pelo deputado Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE) mostra que cerca de 35% das propostas aprovadas na Confecom implicam em alguma forma de ação legislativa no Congresso Nacional. Além disso, o relatório informa que, deste percentual, que representa 222 propostas, dois terços (148) já são motivo de alguma ação, como projetos de lei, em pelo menos uma das casas legislativas do país (Câmara e Senado).
Articulação
A priorização das propostas não foi o único resultado do seminário de Brasília. Também foi discutida a melhor forma do movimento de comunicação continuar organizado. Embora não tenha sido um consenso entre as entidades, a maioria decidiu manter e ampliar a Comissão Nacional Pró-Conferência (CNPC), articulação que surgiu para mobilizar a sociedade civil antes da Confecom.
A integrante do Conselho Federal de Psicologia e da coordenação executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Roseli Goffman, discordou da revitalização da CNPC. “Não é um momento em que há força política para nossas instituições comparecerem porque nós estamos disputando eleições nas nossas entidades”, opinou. Segundo ela, a estratégia do FNDC é revitalizar seus fóruns locais e criar novos onde não existirem.
Porém, dentro da próprio FNDC existem posições diferentes. O coordenador da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão (Fitert), Nascimento Silva, disse que o Fórum ainda não bateu o martelo sobre o assunto. “Temos que manter a CNPC do jeito que ela está”, afirmou.
As reuniões da CNPC devem acontecer mensalmente. Além disso, foram encaminhadas outras ações, como a manutenção de um diálogo mais próximo com as comissões estaduais e a tentativa de realizar um debate com os candidatos à Presidência da República.
Além de Luiza Erundina, pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, o seminário também contou com a co-realização da deputada Iriny Lopes (PT-ES), pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, e de entidades da sociedade civil. O evento foi realizado na Câmara dos Deputados.
.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Outra pesquisa “conveniente” do Datafolha
Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:
A mais recente pesquisa Datafolha parece tão fora da curva quanto aquela anterior, que acompanhou o lançamento oficial da candidatura de José Serra. Então, graças a um repentino aumento da preferência entre eleitores do Sul, José Serra “abriu” vantagem de nove pontos sobre Dilma Rousseff.
Desta vez, quando três outros institutos registraram o avanço e a liderança de Dilma, o Datafolha produziu um empate técnico (Serra teria 39%, Dilma 38%) sem que houvesse uma justificativa factível para essa repentina mudança de rumo. Curiosamente, mais uma vez o crescimento de Serra se baseia num aumento da preferência de eleitores sulistas (no Sul, de acordo com o Datafolha, Serra passou de 38% a 50%). Será que os sulistas são mais suscetíveis à propaganda eleitoral do PSDB na TV?
Sabemos que existem diferenças de método entre os diversos institutos de pesquisa, que podem responder pelas diferenças entre Vox Populi, Sensus, Ibope e Datafolha. Sabemos, no entanto, que as pesquisas refletem tendências gerais do eleitorado e nada aconteceu nas últimas semanas que justifique uma reversão repentina das curvas de Serra e Dilma.
De qualquer forma, alguns detalhes me chamaram a atenção:
– Um dia antes da divulgação da pesquisa, já circulavam na internet as justificativas do PSDB para a repentina mudança no quadro eleitoral, como eu mesmo reproduzi, a partir do R7;
– O tracking do PSDB (levantamento diário feito a partir de pesquisa telefônico) não é confirmado pelo tracking do PT, pelo contrário, os números internos da campanha de Dilma apontam aumento na diferença entre os dois candidatos, com vantagem crescente da ex-ministra;
– Os números da Folha vieram acompanhados de “análises” que tem algo em comum: a sustenção do argumento conveniente para a campanha de Serra na atual conjuntura, aquele de que a campanha vai começar oficialmente com os dois candidatos zerados, empatados;
– Na mesma página que traz os resultados da pesquisa, uma coluna da Folha atribui o resultado, em parte, à decisão de Dilma Rousseff de evitar “alguns debates e sabatinas”. Em junho, 30% dos entrevistados disseram ter visto alguma entrevista com Serra; 25% disseram o mesmo em relação a Dilma. Isso não prova nada. E se o eleitor viu mais o Serra e não gostou? O que a coluna da Folha omite é que Dilma não aceitou o convite para participar de uma sabatina da Folha. Em outras palavras, o jornal está tentando dizer, sem dizê-lo, que Dilma perdeu votos ao não aceitar o convite do jornal. Como seria muito patético dizer isso abertamente, o jornal apenas sugere essa possibilidade.
.
A mais recente pesquisa Datafolha parece tão fora da curva quanto aquela anterior, que acompanhou o lançamento oficial da candidatura de José Serra. Então, graças a um repentino aumento da preferência entre eleitores do Sul, José Serra “abriu” vantagem de nove pontos sobre Dilma Rousseff.
Desta vez, quando três outros institutos registraram o avanço e a liderança de Dilma, o Datafolha produziu um empate técnico (Serra teria 39%, Dilma 38%) sem que houvesse uma justificativa factível para essa repentina mudança de rumo. Curiosamente, mais uma vez o crescimento de Serra se baseia num aumento da preferência de eleitores sulistas (no Sul, de acordo com o Datafolha, Serra passou de 38% a 50%). Será que os sulistas são mais suscetíveis à propaganda eleitoral do PSDB na TV?
Sabemos que existem diferenças de método entre os diversos institutos de pesquisa, que podem responder pelas diferenças entre Vox Populi, Sensus, Ibope e Datafolha. Sabemos, no entanto, que as pesquisas refletem tendências gerais do eleitorado e nada aconteceu nas últimas semanas que justifique uma reversão repentina das curvas de Serra e Dilma.
De qualquer forma, alguns detalhes me chamaram a atenção:
– Um dia antes da divulgação da pesquisa, já circulavam na internet as justificativas do PSDB para a repentina mudança no quadro eleitoral, como eu mesmo reproduzi, a partir do R7;
– O tracking do PSDB (levantamento diário feito a partir de pesquisa telefônico) não é confirmado pelo tracking do PT, pelo contrário, os números internos da campanha de Dilma apontam aumento na diferença entre os dois candidatos, com vantagem crescente da ex-ministra;
– Os números da Folha vieram acompanhados de “análises” que tem algo em comum: a sustenção do argumento conveniente para a campanha de Serra na atual conjuntura, aquele de que a campanha vai começar oficialmente com os dois candidatos zerados, empatados;
– Na mesma página que traz os resultados da pesquisa, uma coluna da Folha atribui o resultado, em parte, à decisão de Dilma Rousseff de evitar “alguns debates e sabatinas”. Em junho, 30% dos entrevistados disseram ter visto alguma entrevista com Serra; 25% disseram o mesmo em relação a Dilma. Isso não prova nada. E se o eleitor viu mais o Serra e não gostou? O que a coluna da Folha omite é que Dilma não aceitou o convite para participar de uma sabatina da Folha. Em outras palavras, o jornal está tentando dizer, sem dizê-lo, que Dilma perdeu votos ao não aceitar o convite do jornal. Como seria muito patético dizer isso abertamente, o jornal apenas sugere essa possibilidade.
.
Quem acredita ainda no Datafolha?
Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:
O jornal que emprestou seus caros para a Operação Bandeirantes, disfarçada de jornalistas, levar a cabo prisões arbitrárias, fuzilamentos sumários de detidos, conduzir os sobreviventes para tortura, para a desaparição, para a morte.
O jornal que considerou a ditadura militar – o mais ditatorial dos regimes, de imposição do terror, o mais antidemocrático – como a salvação do país, pregou sua realização, saudou a ruptura da democracia e a deposição de um presidente legitimamente eleito pelos cidadãos, apoio a ditadura, ajudou a escondeu seus crimes e, mais recentemente, chamou-o de “ditabranda”.
O jornal que publicou uma ficha falsa da Dilma em manchete de primeira página de um domingo. Pego em flagrante, nunca corrigiu sua brutal manipulação.
Uma executiva do jornal declarou que, dada a fraqueza dos partidos da oposição, a imprensa assume o papel de partido da oposição. Isto é, o jornaleco virou boletim de um partido opositor, os jornalistas não são mais jornalistas, todos eles militantes desse partido opositor. A direção, que nunca foi eleita por ninguém, mas designada pela família, o Comitê Central desse partido. O seu diretor, escolhido por seu pai para sucedê-lo na direção da empresa familiar, presidente do partido.
Suas pesquisas são pesquisas internas dos tucanos, feitas por encomenda e atendendo às penúrias do candidato-colunista do jornal, que passeia pela redação do jornal como pela sua casa, dá broncas no que não gosta, nomeia empregados, como a chefe da sucursal de Brasília, nomeada por ele, porque tucana e porque casada com publicitário – ex funcionário da Globo – que codirige a campanha derrotada em 2002 e agora em 2010.
Quem acredita nas pesquisas do Databranda?
Quem compraria um jornal usado da família Frias?
Que lê o Diario Oficial dos Tucanos, com todos os editorais cheios de pluma tucana da página 2?
O povo não é tonto. Com tudo o que eles dizem, apenas 3% aceitam seus argumentos e rejeitam Lula.
Ou será 0%, na margem de erro?
A derrota de Serra e seu vice de ocasião é também a derrota da imprensa das oligarquias familiares, da imprensa mercantil, da imprensa mentirosa e manipuladora, a derrota dos Frias, dos Marinhos, dos Mesquitas, dos Civitas e dos seus associados regionais e internacionais.
Daí seu desespero, daí sua depressão, daí mentiras como essa pesquisa encomendada pelos tucanos e em que nem eles mesmos acreditam.
Otávio Frias Filho (que ocupa o cargo por ser filho de Otávio Frias pai), seus parentes e militantes do seu partido, não conseguem mais ditabrandar em nome do país.
Prêmio Corvo do semestre para Otávio Frias Filho e sua trupe!
.
O jornal que emprestou seus caros para a Operação Bandeirantes, disfarçada de jornalistas, levar a cabo prisões arbitrárias, fuzilamentos sumários de detidos, conduzir os sobreviventes para tortura, para a desaparição, para a morte.
O jornal que considerou a ditadura militar – o mais ditatorial dos regimes, de imposição do terror, o mais antidemocrático – como a salvação do país, pregou sua realização, saudou a ruptura da democracia e a deposição de um presidente legitimamente eleito pelos cidadãos, apoio a ditadura, ajudou a escondeu seus crimes e, mais recentemente, chamou-o de “ditabranda”.
O jornal que publicou uma ficha falsa da Dilma em manchete de primeira página de um domingo. Pego em flagrante, nunca corrigiu sua brutal manipulação.
Uma executiva do jornal declarou que, dada a fraqueza dos partidos da oposição, a imprensa assume o papel de partido da oposição. Isto é, o jornaleco virou boletim de um partido opositor, os jornalistas não são mais jornalistas, todos eles militantes desse partido opositor. A direção, que nunca foi eleita por ninguém, mas designada pela família, o Comitê Central desse partido. O seu diretor, escolhido por seu pai para sucedê-lo na direção da empresa familiar, presidente do partido.
Suas pesquisas são pesquisas internas dos tucanos, feitas por encomenda e atendendo às penúrias do candidato-colunista do jornal, que passeia pela redação do jornal como pela sua casa, dá broncas no que não gosta, nomeia empregados, como a chefe da sucursal de Brasília, nomeada por ele, porque tucana e porque casada com publicitário – ex funcionário da Globo – que codirige a campanha derrotada em 2002 e agora em 2010.
Quem acredita nas pesquisas do Databranda?
Quem compraria um jornal usado da família Frias?
Que lê o Diario Oficial dos Tucanos, com todos os editorais cheios de pluma tucana da página 2?
O povo não é tonto. Com tudo o que eles dizem, apenas 3% aceitam seus argumentos e rejeitam Lula.
Ou será 0%, na margem de erro?
A derrota de Serra e seu vice de ocasião é também a derrota da imprensa das oligarquias familiares, da imprensa mercantil, da imprensa mentirosa e manipuladora, a derrota dos Frias, dos Marinhos, dos Mesquitas, dos Civitas e dos seus associados regionais e internacionais.
Daí seu desespero, daí sua depressão, daí mentiras como essa pesquisa encomendada pelos tucanos e em que nem eles mesmos acreditam.
Otávio Frias Filho (que ocupa o cargo por ser filho de Otávio Frias pai), seus parentes e militantes do seu partido, não conseguem mais ditabrandar em nome do país.
Prêmio Corvo do semestre para Otávio Frias Filho e sua trupe!
.
Comunicadores pela Reforma Agrária no Rio
Reproduzo artigo de Sheila Jacob, publicado no sítio do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC):
O auditório Barbosa Lima Sobrinho, da ABI, no Centro do Rio, ficou lotado para o lançamento, no Rio, da Rede de Comunicadores que apóiam a luta pela Reforma Agrária. Cerca de 150 pessoas assistiram ao debate do dia 30 de junho, que contou com a militante Marina dos Santos, da direção nacional do MST, e com o jornalista Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada. Álvaro Neiva, do coletivo Intervozes, mediou o debate, que também teve a participação de Igor Felippe dos Santos, da assessoria de comunicação do MST.
Marina dos Santos apresentou dados atuais do campo brasileiro, principalmente em relação à concentração de terras e ao agronegócio. Tal modelo é atualmente defendido pela mídia comercial, que vem atacando os movimentos sociais e entidades que lutam por um outro projeto, baseado na agricultura familiar camponesa. Frente a esse quadro, o jornalista Paulo Henrique Amorim defendeu o uso potencial da internet para a criação, organização e o fortalecimento de veículos de mídia alternativos, capazes de mostrar fatos silenciados pela mídia comercial e combater a criminalização das lutas dos trabalhadores e dos movimentos sociais em geral, especialmente o MST.
Igor Felippe dos Santos recuperou o histórico da Rede de Comunicadores, criada por iniciativa da sociedade para reagir aos ataques feitos pela mídia burguesa contra o Movimento. Segundo ele, com essa rede pretende-se monitorar a criminalização das lutas e agilizar a defesa frente aos ataques à Reforma Agrária; apresentar informações, elementos e dados concretos sobre o campo; mostrar os benefícios da Reforma Agrária e os prejuízos causados pelos latifúndios e pelo agronegócio; e aglutinar materiais produzidos por todos aqueles que são contra a concentração de terras.
Situação do meio rural
Sobre a criminalização sistemática dos movimentos sociais por parte da chamada grande mídia, Marina dos Santos lembrou episódios recentes, como, por exemplo, a manifestação ocorrida na fazenda da Cutrale, em Iaras (SP). Como ela observou, a imprensa não divulgou as reais causas da manifestação, não denunciou a grilagem dos cartéis da laranja pela empresa Cutrale e nem falou da exploração dos trabalhadores naquela região.
Outro exemplo, mais recente, é a instalação da CPI do MST: “É vergonhoso, mas as informações divulgadas pela chamada grande mídia foram os fatos que serviram de base para a instalação das CPIs do MST, principalmente matérias da Veja, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Ou seja: os ruralistas plantam matérias, dizem o que querem e depois querem usar aquilo a seu favor”.
A militante citou dados alarmantes referentes ao campo que não são divulgados pela mídia comercial. O primeiro deles é a concentração de terras no Brasil: segundo pesquisa divulgada pelo IBGE no ano passado, 1% dos proprietários de terra controlam 46% das terras produtivas no Brasil, perdendo apenas para o Paraguai. Outros agravantes são a apropriação, pelas transnacionais, de terras destinadas à produção agrícola; e o aumento das sementes transgênicas – além da soja, há pressão hoje, exercida principalmente pela Bayer, para que se libere o arroz transgênico. O uso intensivo de agrotóxicos também preocupa: em 2008, o Brasil se transformou no maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com um gasto anual de cerca de 7 bilhões de dólares em uma produção que gera contaminação dos alimentos, dos solos e outros prejuízos.
Contra esse modelo, os movimentos sociais do campo, principalmente os reunidos em torno da Via Campesina/Brasil, possuem algumas propostas políticas. Além da distribuição de terras, defendem a garantia de mecanismos para limitar o tamanho da propriedade privada no país; a regularização das terras quilombolas e indígenas; a mudança da matriz tecnológica para uma produção mais saudável, sem agrotóxicos; a garantia da soberania alimentar, trocando a monocultura de exportação por uma produção de qualidade e preço baixo, acessível a toda a população brasileira; e a erradicação do analfabetismo no campo.
Internet na luta contra o PIG
“Partilho desse movimento porque acredito que o melhor desinfetante é o sol. Meu objetivo é batalhar para abrir janelas. No caso específico dessa Rede, acho que nosso trabalho é tirar o MST do gueto, da sala de espera das delegacias, e colocá-lo no centro de debate da reforma agrária”. Assim deu início à sua fala o jornalista Paulo Henrique Amorim, lembrando que esse movimento de comunicadores nasceu da necessidade de se criarem caminhos de informação alternativa à criminalização do MST. Ele lembrou o caso recente da Petrobras, que ganhou a batalha contra a CPI devido à criação de um blog para combater as mentiras divulgadas pelo PIG - Partido da Imprensa Golpista. Assim como no caso do MST, a CPI da Petrobras foi instalada a partir de falsas denúncias de um veículo de mídia, nesse caso do jornal O Globo.
Uma das principais frentes de combate ao PIG é, segundo o jornalista, a internet, que já apresenta uma ampla ocupação por parte de diversas mídias alternativas, já que não há possibilidade de disputa dos meios comerciais. “A batalha da informação não será travada nem no PIG nem na Rede Globo, porque eles são irrecuperáveis”, afirmou. Para articular esse campo alternativo, surgiu a ideia de se realizar um Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que provavelmente será em Brasília. Outra importante campanha a ser feita é a luta pela implementação do Plano Nacional de Banda Larga. “Para mim, essa deve ser a tarefa prioritária: ampliar o acesso à internet, levando-a aos lugares mais remotos”, defendeu.
.
O auditório Barbosa Lima Sobrinho, da ABI, no Centro do Rio, ficou lotado para o lançamento, no Rio, da Rede de Comunicadores que apóiam a luta pela Reforma Agrária. Cerca de 150 pessoas assistiram ao debate do dia 30 de junho, que contou com a militante Marina dos Santos, da direção nacional do MST, e com o jornalista Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada. Álvaro Neiva, do coletivo Intervozes, mediou o debate, que também teve a participação de Igor Felippe dos Santos, da assessoria de comunicação do MST.
Marina dos Santos apresentou dados atuais do campo brasileiro, principalmente em relação à concentração de terras e ao agronegócio. Tal modelo é atualmente defendido pela mídia comercial, que vem atacando os movimentos sociais e entidades que lutam por um outro projeto, baseado na agricultura familiar camponesa. Frente a esse quadro, o jornalista Paulo Henrique Amorim defendeu o uso potencial da internet para a criação, organização e o fortalecimento de veículos de mídia alternativos, capazes de mostrar fatos silenciados pela mídia comercial e combater a criminalização das lutas dos trabalhadores e dos movimentos sociais em geral, especialmente o MST.
Igor Felippe dos Santos recuperou o histórico da Rede de Comunicadores, criada por iniciativa da sociedade para reagir aos ataques feitos pela mídia burguesa contra o Movimento. Segundo ele, com essa rede pretende-se monitorar a criminalização das lutas e agilizar a defesa frente aos ataques à Reforma Agrária; apresentar informações, elementos e dados concretos sobre o campo; mostrar os benefícios da Reforma Agrária e os prejuízos causados pelos latifúndios e pelo agronegócio; e aglutinar materiais produzidos por todos aqueles que são contra a concentração de terras.
Situação do meio rural
Sobre a criminalização sistemática dos movimentos sociais por parte da chamada grande mídia, Marina dos Santos lembrou episódios recentes, como, por exemplo, a manifestação ocorrida na fazenda da Cutrale, em Iaras (SP). Como ela observou, a imprensa não divulgou as reais causas da manifestação, não denunciou a grilagem dos cartéis da laranja pela empresa Cutrale e nem falou da exploração dos trabalhadores naquela região.
Outro exemplo, mais recente, é a instalação da CPI do MST: “É vergonhoso, mas as informações divulgadas pela chamada grande mídia foram os fatos que serviram de base para a instalação das CPIs do MST, principalmente matérias da Veja, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Ou seja: os ruralistas plantam matérias, dizem o que querem e depois querem usar aquilo a seu favor”.
A militante citou dados alarmantes referentes ao campo que não são divulgados pela mídia comercial. O primeiro deles é a concentração de terras no Brasil: segundo pesquisa divulgada pelo IBGE no ano passado, 1% dos proprietários de terra controlam 46% das terras produtivas no Brasil, perdendo apenas para o Paraguai. Outros agravantes são a apropriação, pelas transnacionais, de terras destinadas à produção agrícola; e o aumento das sementes transgênicas – além da soja, há pressão hoje, exercida principalmente pela Bayer, para que se libere o arroz transgênico. O uso intensivo de agrotóxicos também preocupa: em 2008, o Brasil se transformou no maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com um gasto anual de cerca de 7 bilhões de dólares em uma produção que gera contaminação dos alimentos, dos solos e outros prejuízos.
Contra esse modelo, os movimentos sociais do campo, principalmente os reunidos em torno da Via Campesina/Brasil, possuem algumas propostas políticas. Além da distribuição de terras, defendem a garantia de mecanismos para limitar o tamanho da propriedade privada no país; a regularização das terras quilombolas e indígenas; a mudança da matriz tecnológica para uma produção mais saudável, sem agrotóxicos; a garantia da soberania alimentar, trocando a monocultura de exportação por uma produção de qualidade e preço baixo, acessível a toda a população brasileira; e a erradicação do analfabetismo no campo.
Internet na luta contra o PIG
“Partilho desse movimento porque acredito que o melhor desinfetante é o sol. Meu objetivo é batalhar para abrir janelas. No caso específico dessa Rede, acho que nosso trabalho é tirar o MST do gueto, da sala de espera das delegacias, e colocá-lo no centro de debate da reforma agrária”. Assim deu início à sua fala o jornalista Paulo Henrique Amorim, lembrando que esse movimento de comunicadores nasceu da necessidade de se criarem caminhos de informação alternativa à criminalização do MST. Ele lembrou o caso recente da Petrobras, que ganhou a batalha contra a CPI devido à criação de um blog para combater as mentiras divulgadas pelo PIG - Partido da Imprensa Golpista. Assim como no caso do MST, a CPI da Petrobras foi instalada a partir de falsas denúncias de um veículo de mídia, nesse caso do jornal O Globo.
Uma das principais frentes de combate ao PIG é, segundo o jornalista, a internet, que já apresenta uma ampla ocupação por parte de diversas mídias alternativas, já que não há possibilidade de disputa dos meios comerciais. “A batalha da informação não será travada nem no PIG nem na Rede Globo, porque eles são irrecuperáveis”, afirmou. Para articular esse campo alternativo, surgiu a ideia de se realizar um Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que provavelmente será em Brasília. Outra importante campanha a ser feita é a luta pela implementação do Plano Nacional de Banda Larga. “Para mim, essa deve ser a tarefa prioritária: ampliar o acesso à internet, levando-a aos lugares mais remotos”, defendeu.
.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
O Estadão chamou Lula de quadrúpede?
Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:
Em minhas longas viagens rumo à periferia de São Paulo, dentro de um carro de reportagem, em geral sirvo-me dos jornais lidos pelas equipes de gravação. Normalmente há sempre uma cópia do Agora ou dos jornaizinhos distribuídos de graça nos sinaleiros (é assim que se diz em Bauru). Hoje, porém, comprei o Estadão, jornal que sempre foi muito respeitado em casa, pela consistência ideológica: foi, é e sempre será um jornal reacionário.
Ao ler o editorial “A Noruega tropical de Lula”, no entanto, fui pego de surpresa. Muito bem escrito, com bons argumentos e até mesmo algumas pitadas de ironia e sarcasmo, características que o jornal chupou da imprensa britânica e que seriam muito benvindas em página tão austera, que leva o solene título de “Notas e Informações”.
Lá pelas tantas, no entanto, o jornal chama o presidente da República de quadrúpede (escolha você o que se encaixa melhor, se mula, jumento, cavalo, besta, jegue, burro ou muar): “Mas a megalomania se livra dos arreios quando, para justificar o seu intento de fazer pelos latino-americanos, caribenhos e africanos o que se vangloria de ter feito pelos brasileiros, Lula não deixa por menos: “Não podemos ser uma ilha de prosperidade cercada por um mar de pobreza e injustiça social”.”
Acho que o texto diz mais sobre o Estadão do que sobre Lula.
Do ódio de classe da elite brasileira em relação ao presidente da República já temos exemplos muito mais descarados. Quem se der ao trabalho de ler os jornais diariamente terá farto material para estudar este fenômeno explícito de preconceito.
A elite que se expressa através dos jornais, que os alimenta e através deles se retroalimenta, sempre acreditou ter o monopólio do idealismo (são os únicos que pensam no Brasil sem considerar primeiro seus próprios interesses políticos ou econômicos), do discurso (até que surgisse a internet, um paredão inabalável se erguia diante dos leitores) e da educação (eram, de fato, os únicos que tinham acesso à educação superior).
Era possível entender, portanto, que decidissem escrever um script para encaixar o sindicalista que se tornou presidente: tosco, intelectualmente limitado, grosseiro, à imagem e semelhança do penetra que não sabe se comportar na festa. A alguém assim, recomendava a etiqueta do andar de cima, se dedicava o desprezo das piadas sussuradas, quando muito.
Quando um jornal gasta tempo e miolos na elaborada tarefa de taxar de quadrúpede um penetra meramente desprezível, é indício de que ele fez muito mais do que arrombar a festa.
.
Em minhas longas viagens rumo à periferia de São Paulo, dentro de um carro de reportagem, em geral sirvo-me dos jornais lidos pelas equipes de gravação. Normalmente há sempre uma cópia do Agora ou dos jornaizinhos distribuídos de graça nos sinaleiros (é assim que se diz em Bauru). Hoje, porém, comprei o Estadão, jornal que sempre foi muito respeitado em casa, pela consistência ideológica: foi, é e sempre será um jornal reacionário.
Ao ler o editorial “A Noruega tropical de Lula”, no entanto, fui pego de surpresa. Muito bem escrito, com bons argumentos e até mesmo algumas pitadas de ironia e sarcasmo, características que o jornal chupou da imprensa britânica e que seriam muito benvindas em página tão austera, que leva o solene título de “Notas e Informações”.
Lá pelas tantas, no entanto, o jornal chama o presidente da República de quadrúpede (escolha você o que se encaixa melhor, se mula, jumento, cavalo, besta, jegue, burro ou muar): “Mas a megalomania se livra dos arreios quando, para justificar o seu intento de fazer pelos latino-americanos, caribenhos e africanos o que se vangloria de ter feito pelos brasileiros, Lula não deixa por menos: “Não podemos ser uma ilha de prosperidade cercada por um mar de pobreza e injustiça social”.”
Acho que o texto diz mais sobre o Estadão do que sobre Lula.
Do ódio de classe da elite brasileira em relação ao presidente da República já temos exemplos muito mais descarados. Quem se der ao trabalho de ler os jornais diariamente terá farto material para estudar este fenômeno explícito de preconceito.
A elite que se expressa através dos jornais, que os alimenta e através deles se retroalimenta, sempre acreditou ter o monopólio do idealismo (são os únicos que pensam no Brasil sem considerar primeiro seus próprios interesses políticos ou econômicos), do discurso (até que surgisse a internet, um paredão inabalável se erguia diante dos leitores) e da educação (eram, de fato, os únicos que tinham acesso à educação superior).
Era possível entender, portanto, que decidissem escrever um script para encaixar o sindicalista que se tornou presidente: tosco, intelectualmente limitado, grosseiro, à imagem e semelhança do penetra que não sabe se comportar na festa. A alguém assim, recomendava a etiqueta do andar de cima, se dedicava o desprezo das piadas sussuradas, quando muito.
Quando um jornal gasta tempo e miolos na elaborada tarefa de taxar de quadrúpede um penetra meramente desprezível, é indício de que ele fez muito mais do que arrombar a festa.
.
Concessões de TV e a terra de ninguém
Reproduzo artigo do professor Venício A. de Lima, publicado no Observatório da Imprensa:
Após a publicação, neste Observatório, do artigo sobre a inexistência de um cadastro geral de radiodifusão que o cidadão comum possa consultar e saber quem são os concessionários deste serviço público , recebi informações de leitores e amigos sobre o caso citado como exemplo: as emissoras de propriedade do empresário e político brasiliense Paulo Octávio (PO), no Distrito Federal.
Na verdade, das cinco emissoras de rádio e televisão que aparecem no site das Organizações Paulo Octávio como pertencendo ao grupo, somente duas foram encontradas nos sistemas da Anatel com o nome de PO e/ou de membros de sua família, no Distrito Federal: a TV Brasília, que aparece como Rádio e Televisão CV Ltda e a Rádio JK FM (ver abaixo).
TV Brasília:
Rádio e televisão Ltda
CNPJ: 02374250000117
Presidente:
Endereço: SHN QUADRA - SETOR HOTELEIRO NORTE
E-mail:
Capital Social: 15.042.115,00
Reserva de Capital:
Total: 15.042.115,00
Quadro Societário
CNPJ/CPF
NOME Qtd. Cotas Vlr. Cotas
00.475.251/0001-22 PAULO OCTAVIO INVESTIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA 7.642.115 7.642.115,00
023.621.631-72 PAULO OCTAVIO ALVES PEREIRA 7.300.000 7.300.000,00
619.566.191-00 WILMA CARVALHO ALVES PEREIRA 100.000 100.000,00
Conselho
Diretoria
CNPJ / CPF NOME
Cargo INDICAÇÃO
619.566.191-00 WILMA CARVALHO ALVES PEREIRA DIRETORA
Rádio JK:
Rádio JK FM Ltda
CNPJ: 02373790000186
Presidente:
Endereço: SHN QUADRA 2 - BL. A - LOJAS 139/143 - ASA NORTE - ASA NORTE
E-mail:
Capital Social: 20.000.000,00
Reserva de Capital:
Total: 20.000.000,00
Quadro Societário
CNPJ/CPF NOME Qtd. Cotas Vlr. Cotas
013.756.817-70 ANNA CHRISTINA KUBITSCHEK BARBARA PEREIRA 4.000.000 0,00
023.621.631-72 PAULO OCTAVIO ALVES PEREIRA 16.000.000 0,00
Conselho
CNPJ / CPF NOME
Cargo INDICAÇÃO
013.756.817-70 ANNA CHRISTINA KUBITSCHEK BARBARA PEREIRA Diretoria ANNA CHRISTINA KUBITSCHEK BARBARA PEREIRA
Registre-se que, embora seja de conhecimento público que os Diários Associados, por intermédio da TV Alterosa de Belo Horizonte, tenha adquirido metade do capital acionário da TV Brasília, em janeiro de 2008 – há mais de dois anos – no Sistema de Acompanhamento de Controle Societário da Anatel (SIACCO) ainda consta que o grupo de PO é seu único proprietário.
Mistério
Com relação às outras três emissoras de rádio que constam no site das Organizações Paulo Octávio como pertencendo ao grupo, duas foram localizadas em cidades do entorno do Distrito Federal – Valparaíso e Santo Antônio do Descoberto, no estado de Goiás – mas o nome de PO não aparece no quadro societário.
Rádio Principal FM Ltda. Valparaíso, Goiás; opera como Rádio Mix 88,3 em Brasília:
CNPJ: 01865659000173
Presidente:
Endereço: QUADRA 07 ETAPA A BLOCO B EDIFICIO TROPICAL – CENTRO
E-mail:
Capital Social: 200.000,00
Reserva de Capital:
Total: 200.000,00
Quadro Societário
CNPJ/CPF NOME Qtd. Cotas Vlr. Cotas
001.493.141-91 CARLOS ROBERTO MONTEIRO BERTAZI 100.000 100.000,00
212.146.031-49 SEBASTIAO LUIS FERREIRA SOBRINHO 100.000 100.000,00
Conselho
Diretoria
CNPJ / CPF NOME Cargo INDICAÇÃO
001.493.141-91 CARLOS ROBERTO MONTEIRO BERTAZI GERENTE
212.146.031-49 SEBASTIAO LUIS FERREIRA SOBRINHO GERENTE
Fundação Cultural Eclética Universal. Santo Antônio do Descoberto, Goiás; opera como Globo AM 1160 kHz , em Brasília:
CNPJ: 25034257000195
Presidente:
Endereço: CAIXA POSTAL, 17 - CIDADE ECLETICA
E-mail:
Capital Social: 0,00
Reserva de Capital:
Total: 0,00
Conselho
Diretoria
CNPJ / CPF NOME Cargo INDICAÇÃO
036.119.571-00 OSCAR BIAZ DE QUEIROZ ASSISTENTE
192.016.567-34 ITO PESSOA BARROSO MAGNO PRESIDENTE
228.194.101-97 JOAO LUIZ MOREIRA ASSISTENTE
304.259.056-91 PAULO MONTEIRO DOS SANTOS VICE-PRESIDENTE
548.981.537-04 JORGE LAIR DE SOUZA TURQUE ASSISTENTE
Já a Bandeirantes AM, 1410 kHz, não foi encontrada nos sistemas da Anatel. A Folha de S.Paulo revelou, em 12 de janeiro deste ano, tratar-se da rádio Voz do Cerrado que estaria registrada em nome de PO, desde 2004, na Junta Comercial de Goiás (qual cidade?) e que, inclusive, a emissora não teria sido incluída na declaração feita ao Tribunal Regional Eleitoral pelo então candidato a vice-governador, em 2006.
Lições reiteradas
Certamente, não é novidade que informações pontuais, eventualmente garimpadas nos sistemas da Anatel, estejam desatualizadas.
Não é privilégio ou exclusividade de Brasília a utilização de cidades vizinhas para servir de sede para outorga de emissoras de rádio e/ou televisão que, na verdade, se destinam ao mercado das respectivas regiões metropolitanas. Isso ocorre em São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e outras capitais e/ou regiões metropolitanas e trata-se de fato conhecido.
Também não é novidade que emissoras não tenham registro no Ministério das Comunicações com os nomes que de fato se utilizam para "ir ao ar" ou que o verdadeiro proprietário se "esconda" atrás de "laranjas" e não apareça nas (eventuais) informações oficiais.
Alguns desses procedimentos, por óbvio, constituem ilicitudes que deveriam ser fiscalizadas e devidamente punidas. Mas não são.
De tudo isso, permanece o fato já sabido de que não há transparência em relação às outorgas do serviço público de radiodifusão. O caso de PO no Distrito Federal é apenas mais um de centenas de outros. O cidadão comum não tem acesso a uma informação que deveria ser pública, tão pública como o próprio serviço de radiodifusão. As concessões de rádio e televisão constituem mesmo uma terra de ninguém.
.
Após a publicação, neste Observatório, do artigo sobre a inexistência de um cadastro geral de radiodifusão que o cidadão comum possa consultar e saber quem são os concessionários deste serviço público , recebi informações de leitores e amigos sobre o caso citado como exemplo: as emissoras de propriedade do empresário e político brasiliense Paulo Octávio (PO), no Distrito Federal.
Na verdade, das cinco emissoras de rádio e televisão que aparecem no site das Organizações Paulo Octávio como pertencendo ao grupo, somente duas foram encontradas nos sistemas da Anatel com o nome de PO e/ou de membros de sua família, no Distrito Federal: a TV Brasília, que aparece como Rádio e Televisão CV Ltda e a Rádio JK FM (ver abaixo).
TV Brasília:
Rádio e televisão Ltda
CNPJ: 02374250000117
Presidente:
Endereço: SHN QUADRA - SETOR HOTELEIRO NORTE
E-mail:
Capital Social: 15.042.115,00
Reserva de Capital:
Total: 15.042.115,00
Quadro Societário
CNPJ/CPF
NOME Qtd. Cotas Vlr. Cotas
00.475.251/0001-22 PAULO OCTAVIO INVESTIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA 7.642.115 7.642.115,00
023.621.631-72 PAULO OCTAVIO ALVES PEREIRA 7.300.000 7.300.000,00
619.566.191-00 WILMA CARVALHO ALVES PEREIRA 100.000 100.000,00
Conselho
Diretoria
CNPJ / CPF NOME
Cargo INDICAÇÃO
619.566.191-00 WILMA CARVALHO ALVES PEREIRA DIRETORA
Rádio JK:
Rádio JK FM Ltda
CNPJ: 02373790000186
Presidente:
Endereço: SHN QUADRA 2 - BL. A - LOJAS 139/143 - ASA NORTE - ASA NORTE
E-mail:
Capital Social: 20.000.000,00
Reserva de Capital:
Total: 20.000.000,00
Quadro Societário
CNPJ/CPF NOME Qtd. Cotas Vlr. Cotas
013.756.817-70 ANNA CHRISTINA KUBITSCHEK BARBARA PEREIRA 4.000.000 0,00
023.621.631-72 PAULO OCTAVIO ALVES PEREIRA 16.000.000 0,00
Conselho
CNPJ / CPF NOME
Cargo INDICAÇÃO
013.756.817-70 ANNA CHRISTINA KUBITSCHEK BARBARA PEREIRA Diretoria ANNA CHRISTINA KUBITSCHEK BARBARA PEREIRA
Registre-se que, embora seja de conhecimento público que os Diários Associados, por intermédio da TV Alterosa de Belo Horizonte, tenha adquirido metade do capital acionário da TV Brasília, em janeiro de 2008 – há mais de dois anos – no Sistema de Acompanhamento de Controle Societário da Anatel (SIACCO) ainda consta que o grupo de PO é seu único proprietário.
Mistério
Com relação às outras três emissoras de rádio que constam no site das Organizações Paulo Octávio como pertencendo ao grupo, duas foram localizadas em cidades do entorno do Distrito Federal – Valparaíso e Santo Antônio do Descoberto, no estado de Goiás – mas o nome de PO não aparece no quadro societário.
Rádio Principal FM Ltda. Valparaíso, Goiás; opera como Rádio Mix 88,3 em Brasília:
CNPJ: 01865659000173
Presidente:
Endereço: QUADRA 07 ETAPA A BLOCO B EDIFICIO TROPICAL – CENTRO
E-mail:
Capital Social: 200.000,00
Reserva de Capital:
Total: 200.000,00
Quadro Societário
CNPJ/CPF NOME Qtd. Cotas Vlr. Cotas
001.493.141-91 CARLOS ROBERTO MONTEIRO BERTAZI 100.000 100.000,00
212.146.031-49 SEBASTIAO LUIS FERREIRA SOBRINHO 100.000 100.000,00
Conselho
Diretoria
CNPJ / CPF NOME Cargo INDICAÇÃO
001.493.141-91 CARLOS ROBERTO MONTEIRO BERTAZI GERENTE
212.146.031-49 SEBASTIAO LUIS FERREIRA SOBRINHO GERENTE
Fundação Cultural Eclética Universal. Santo Antônio do Descoberto, Goiás; opera como Globo AM 1160 kHz , em Brasília:
CNPJ: 25034257000195
Presidente:
Endereço: CAIXA POSTAL, 17 - CIDADE ECLETICA
E-mail:
Capital Social: 0,00
Reserva de Capital:
Total: 0,00
Conselho
Diretoria
CNPJ / CPF NOME Cargo INDICAÇÃO
036.119.571-00 OSCAR BIAZ DE QUEIROZ ASSISTENTE
192.016.567-34 ITO PESSOA BARROSO MAGNO PRESIDENTE
228.194.101-97 JOAO LUIZ MOREIRA ASSISTENTE
304.259.056-91 PAULO MONTEIRO DOS SANTOS VICE-PRESIDENTE
548.981.537-04 JORGE LAIR DE SOUZA TURQUE ASSISTENTE
Já a Bandeirantes AM, 1410 kHz, não foi encontrada nos sistemas da Anatel. A Folha de S.Paulo revelou, em 12 de janeiro deste ano, tratar-se da rádio Voz do Cerrado que estaria registrada em nome de PO, desde 2004, na Junta Comercial de Goiás (qual cidade?) e que, inclusive, a emissora não teria sido incluída na declaração feita ao Tribunal Regional Eleitoral pelo então candidato a vice-governador, em 2006.
Lições reiteradas
Certamente, não é novidade que informações pontuais, eventualmente garimpadas nos sistemas da Anatel, estejam desatualizadas.
Não é privilégio ou exclusividade de Brasília a utilização de cidades vizinhas para servir de sede para outorga de emissoras de rádio e/ou televisão que, na verdade, se destinam ao mercado das respectivas regiões metropolitanas. Isso ocorre em São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e outras capitais e/ou regiões metropolitanas e trata-se de fato conhecido.
Também não é novidade que emissoras não tenham registro no Ministério das Comunicações com os nomes que de fato se utilizam para "ir ao ar" ou que o verdadeiro proprietário se "esconda" atrás de "laranjas" e não apareça nas (eventuais) informações oficiais.
Alguns desses procedimentos, por óbvio, constituem ilicitudes que deveriam ser fiscalizadas e devidamente punidas. Mas não são.
De tudo isso, permanece o fato já sabido de que não há transparência em relação às outorgas do serviço público de radiodifusão. O caso de PO no Distrito Federal é apenas mais um de centenas de outros. O cidadão comum não tem acesso a uma informação que deveria ser pública, tão pública como o próprio serviço de radiodifusão. As concessões de rádio e televisão constituem mesmo uma terra de ninguém.
.
Veja aposta na amnésia dos leitores
Reproduzo artigo de Pedro Saraiva, publicado no blog Viomundo:
Impossível ler o semanário da elite conservadora e não se lembrar do “1984″ de George Orwell. Para quem ainda não o leu, o excelente livro, que ironicamente inspirou um dos mais lamentáveis programas de TV, o Big Brother, conta a história de um regime totalitarista que mantém sua vasta população completamente alienada através de atos como eliminar notícias, livros e documentos com informações do passado que possam ser constrangedoras para o “Partido” no presente, reescrevendo-os de modo a que se “adaptem” a nova realidade.
Na era da internet, apagar informações é impossível, mas a Veja arranjou um modo de criar a sua própria versão do “duplipensar”. Nem é preciso voltar à década de 1980 quando a revista fez ampla campanha pelo “Caçador de Marajás” para, tempos depois, descartá-lo como se não tivesse passado os últimos anos elogiando o jovem Governador de Alagoas. Basta olharmos para os últimos três anos e vamos encontrar indícios de que o semanário apresenta uma completa ausência de compromisso com o que escreve. Três exemplos simples:
1- Denise Abreu, a charuteira, mentirosa e oportunista da edição de 29.08.2007 virou testemunha acima de qualquer suspeita contra a então Ministra Dilma no caso da venda da Varig. Mesmo sem mostrar uma única prova, virou estrela da revista.
2- O promotor José Carlos Blat que em 15.02.2006 era tratado como promotor corrupto associado ao contrabandista chinês Law Kin Chong, virou o promotor herói do caso Bancoop ao investigar supostas doações ilegais à petistas.
3- O Ex-governador do DEM José Roberto Arruda era tratado em 15.07.2009 como governador modelo: moderno, honesto e bom gestor. Elogios, aliás, que foram frequentes em mais de um edição da Veja, já visando sua indicação ao posto de vice-presidente na chapa com José Serra. Depois da sua prisão pela Polícia Federal, desprezo completo pelo ex-aliado e silêncio sobre os elogios anteriores.
Pois hoje, ao procurar saber o que a revista teria preparado sobre o deputado Antônio Pedro Indio da Costa, descobri mais uma “adaptação” do passado. Diz a revista, agora em 30.06.2010, que Indio apenas namorou a filha do banqueiro Salvatore Cacciola, e que o inocente affair terminou no ano de 2000. Rafaella Cacciola era apenas mais uma na sua imensa lista de namoradas. O problema é que a mesma Veja, em 11.04.2001, não só mostrava que o casal ainda estava unido, como afirmava que eram casados e estavam de mudança para o Leblon. Em quem acreditar? Na Veja de 2010 ou na Veja de 2001?
Apenas alguns exemplos de como funciona a principal revista da Editora Abril. Para quem a assina, pouco importa se a guerra de hoje é contra a Eurásia ou a Lestásia, o importante e seguir repetindo ad nauseam o discurso do Grande irmão. Porém, para quem tem mais de dois neurônios, essas alterações da História, além de beirarem o ridículo, não são nada originais.
Em tempo: quem imaginaria ver a Veja defendendo Indio?
.
Impossível ler o semanário da elite conservadora e não se lembrar do “1984″ de George Orwell. Para quem ainda não o leu, o excelente livro, que ironicamente inspirou um dos mais lamentáveis programas de TV, o Big Brother, conta a história de um regime totalitarista que mantém sua vasta população completamente alienada através de atos como eliminar notícias, livros e documentos com informações do passado que possam ser constrangedoras para o “Partido” no presente, reescrevendo-os de modo a que se “adaptem” a nova realidade.
Na era da internet, apagar informações é impossível, mas a Veja arranjou um modo de criar a sua própria versão do “duplipensar”. Nem é preciso voltar à década de 1980 quando a revista fez ampla campanha pelo “Caçador de Marajás” para, tempos depois, descartá-lo como se não tivesse passado os últimos anos elogiando o jovem Governador de Alagoas. Basta olharmos para os últimos três anos e vamos encontrar indícios de que o semanário apresenta uma completa ausência de compromisso com o que escreve. Três exemplos simples:
1- Denise Abreu, a charuteira, mentirosa e oportunista da edição de 29.08.2007 virou testemunha acima de qualquer suspeita contra a então Ministra Dilma no caso da venda da Varig. Mesmo sem mostrar uma única prova, virou estrela da revista.
2- O promotor José Carlos Blat que em 15.02.2006 era tratado como promotor corrupto associado ao contrabandista chinês Law Kin Chong, virou o promotor herói do caso Bancoop ao investigar supostas doações ilegais à petistas.
3- O Ex-governador do DEM José Roberto Arruda era tratado em 15.07.2009 como governador modelo: moderno, honesto e bom gestor. Elogios, aliás, que foram frequentes em mais de um edição da Veja, já visando sua indicação ao posto de vice-presidente na chapa com José Serra. Depois da sua prisão pela Polícia Federal, desprezo completo pelo ex-aliado e silêncio sobre os elogios anteriores.
Pois hoje, ao procurar saber o que a revista teria preparado sobre o deputado Antônio Pedro Indio da Costa, descobri mais uma “adaptação” do passado. Diz a revista, agora em 30.06.2010, que Indio apenas namorou a filha do banqueiro Salvatore Cacciola, e que o inocente affair terminou no ano de 2000. Rafaella Cacciola era apenas mais uma na sua imensa lista de namoradas. O problema é que a mesma Veja, em 11.04.2001, não só mostrava que o casal ainda estava unido, como afirmava que eram casados e estavam de mudança para o Leblon. Em quem acreditar? Na Veja de 2010 ou na Veja de 2001?
Apenas alguns exemplos de como funciona a principal revista da Editora Abril. Para quem a assina, pouco importa se a guerra de hoje é contra a Eurásia ou a Lestásia, o importante e seguir repetindo ad nauseam o discurso do Grande irmão. Porém, para quem tem mais de dois neurônios, essas alterações da História, além de beirarem o ridículo, não são nada originais.
Em tempo: quem imaginaria ver a Veja defendendo Indio?
.
Veja aposta na amnésia dos leitores
Reproduzo artigo de Pedro Saraiva, publicado no blog Viomundo:
Impossível ler o semanário da elite conservadora e não se lembrar do “1984″ de George Orwell. Para quem ainda não o leu, o excelente livro, que ironicamente inspirou um dos mais lamentáveis programas de TV, o Big Brother, conta a história de um regime totalitarista que mantém sua vasta população completamente alienada através de atos como eliminar notícias, livros e documentos com informações do passado que possam ser constrangedoras para o “Partido” no presente, reescrevendo-os de modo a que se “adaptem” a nova realidade.
Na era da internet, apagar informações é impossível, mas a Veja arranjou um modo de criar a sua própria versão do “duplipensar”. Nem é preciso voltar à década de 1980 quando a revista fez ampla campanha pelo “Caçador de Marajás” para, tempos depois, descartá-lo como se não tivesse passado os últimos anos elogiando o jovem Governador de Alagoas. Basta olharmos para os últimos três anos e vamos encontrar indícios de que o semanário apresenta uma completa ausência de compromisso com o que escreve. Três exemplos simples:
1- Denise Abreu, a charuteira, mentirosa e oportunista da edição de 29.08.2007 virou testemunha acima de qualquer suspeita contra a então Ministra Dilma no caso da venda da Varig. Mesmo sem mostrar uma única prova, virou estrela da revista.
2- O promotor José Carlos Blat que em 15.02.2006 era tratado como promotor corrupto associado ao contrabandista chinês Law Kin Chong, virou o promotor herói do caso Bancoop ao investigar supostas doações ilegais à petistas.
3- O Ex-governador do DEM José Roberto Arruda era tratado em 15.07.2009 como governador modelo: moderno, honesto e bom gestor. Elogios, aliás, que foram frequentes em mais de um edição da Veja, já visando sua indicação ao posto de vice-presidente na chapa com José Serra. Depois da sua prisão pela Polícia Federal, desprezo completo pelo ex-aliado e silêncio sobre os elogios anteriores.
Pois hoje, ao procurar saber o que a revista teria preparado sobre o deputado Antônio Pedro Indio da Costa, descobri mais uma “adaptação” do passado. Diz a revista, agora em 30.06.2010, que Indio apenas namorou a filha do banqueiro Salvatore Cacciola, e que o inocente affair terminou no ano de 2000. Rafaella Cacciola era apenas mais uma na sua imensa lista de namoradas. O problema é que a mesma Veja, em 11.04.2001, não só mostrava que o casal ainda estava unido, como afirmava que eram casados e estavam de mudança para o Leblon. Em quem acreditar? Na Veja de 2010 ou na Veja de 2001?
Apenas alguns exemplos de como funciona a principal revista da Editora Abril. Para quem a assina, pouco importa se a guerra de hoje é contra a Eurásia ou a Lestásia, o importante e seguir repetindo ad nauseam o discurso do Grande irmão. Porém, para quem tem mais de dois neurônios, essas alterações da História, além de beirarem o ridículo, não são nada originais.
Em tempo: quem imaginaria ver a Veja defendendo Indio?
.
Impossível ler o semanário da elite conservadora e não se lembrar do “1984″ de George Orwell. Para quem ainda não o leu, o excelente livro, que ironicamente inspirou um dos mais lamentáveis programas de TV, o Big Brother, conta a história de um regime totalitarista que mantém sua vasta população completamente alienada através de atos como eliminar notícias, livros e documentos com informações do passado que possam ser constrangedoras para o “Partido” no presente, reescrevendo-os de modo a que se “adaptem” a nova realidade.
Na era da internet, apagar informações é impossível, mas a Veja arranjou um modo de criar a sua própria versão do “duplipensar”. Nem é preciso voltar à década de 1980 quando a revista fez ampla campanha pelo “Caçador de Marajás” para, tempos depois, descartá-lo como se não tivesse passado os últimos anos elogiando o jovem Governador de Alagoas. Basta olharmos para os últimos três anos e vamos encontrar indícios de que o semanário apresenta uma completa ausência de compromisso com o que escreve. Três exemplos simples:
1- Denise Abreu, a charuteira, mentirosa e oportunista da edição de 29.08.2007 virou testemunha acima de qualquer suspeita contra a então Ministra Dilma no caso da venda da Varig. Mesmo sem mostrar uma única prova, virou estrela da revista.
2- O promotor José Carlos Blat que em 15.02.2006 era tratado como promotor corrupto associado ao contrabandista chinês Law Kin Chong, virou o promotor herói do caso Bancoop ao investigar supostas doações ilegais à petistas.
3- O Ex-governador do DEM José Roberto Arruda era tratado em 15.07.2009 como governador modelo: moderno, honesto e bom gestor. Elogios, aliás, que foram frequentes em mais de um edição da Veja, já visando sua indicação ao posto de vice-presidente na chapa com José Serra. Depois da sua prisão pela Polícia Federal, desprezo completo pelo ex-aliado e silêncio sobre os elogios anteriores.
Pois hoje, ao procurar saber o que a revista teria preparado sobre o deputado Antônio Pedro Indio da Costa, descobri mais uma “adaptação” do passado. Diz a revista, agora em 30.06.2010, que Indio apenas namorou a filha do banqueiro Salvatore Cacciola, e que o inocente affair terminou no ano de 2000. Rafaella Cacciola era apenas mais uma na sua imensa lista de namoradas. O problema é que a mesma Veja, em 11.04.2001, não só mostrava que o casal ainda estava unido, como afirmava que eram casados e estavam de mudança para o Leblon. Em quem acreditar? Na Veja de 2010 ou na Veja de 2001?
Apenas alguns exemplos de como funciona a principal revista da Editora Abril. Para quem a assina, pouco importa se a guerra de hoje é contra a Eurásia ou a Lestásia, o importante e seguir repetindo ad nauseam o discurso do Grande irmão. Porém, para quem tem mais de dois neurônios, essas alterações da História, além de beirarem o ridículo, não são nada originais.
Em tempo: quem imaginaria ver a Veja defendendo Indio?
.
Dilma ou Serra; mudar ou continuar?
Reproduzo artigo de Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, publicado no jornal Correio Braziliense:
Já faz algum tempo, começou a se generalizar no meio político a convicção de que Dilma vai ganhar as eleições. Embora nem todos admitam, é o que pensam até as principais lideranças da oposição, assim como a quase totalidade dos formadores de opinião e da imprensa. Para consumo externo, continuam a dizer que o processo está aberto, que nada está definido. Mas não é o que, no íntimo, acreditam que vai acontecer.
Do lado governista, nem se fala. Não é de agora que os principais estrategistas do Planalto e do PT trabalham com o cenário de crescimento e vitória da candidata de Lula. A rigor, é nisso que apostam desde 2008, quando o presidente deixou claras duas coisas: que ele próprio não tentaria mudar as regras do jogo para disputar um terceiro mandato; e que achava que conseguiria ganhar as eleições através de alguém que o representasse.
Tudo que está acontecendo na sua sucessão, até o momento, confirma seu cálculo. Ele não se baseava no que diziam as pesquisas sobre as intenções de voto do conjunto do eleitorado. Ao contrário, o raciocínio sempre foi sobre o potencial de crescimento de uma candidatura identificada com ele e o governo, avaliados, pela grande maioria da população, como ótimos ou bons.
Nunca foi relevante considerar os resultados agregados das pesquisas (que são os que a imprensa normalmente divulga), pois misturavam respostas de quem sabia e quem não sabia qual era a candidatura apoiada por Lula. Enquanto não aumentasse a proporção dos que tinham essa informação, a vantagem de Serra era ilusória e não preocupava quem, no PT, sabia fazer as contas.
É de se notar que, na oposição, as pessoas pensaram de maneira oposta. A opção por Serra, em detrimento de Aécio, mostrou que ela preferia escolher em função do desempenho presente dos pré-candidatos, deixando em segundo plano seu potencial de crescimento. Serra prevaleceu pelo patamar de largada, não pela perspectiva de chegada.
Há quem defenda que é cedo para decretar que a eleição está resolvida. De fato, é preciso admitir que muita água ainda pode rolar por baixo da ponte. Não é impossível que Dilma, sua campanha, seus apoiadores e o vasto conjunto de forças políticas mobilizadas para elegê-la cometam erros calamitosos. É, apenas, pouco provável.
Em função da possibilidade cada vez mais concreta de que Dilma venha a ganhar (talvez já no primeiro turno), alguns setores da oposição andam à cata de novos argumentos, para tentar convencer os eleitores a mudar de ideia. Um dos mais engraçados tem a ver com o conceito de alternância do poder.
Trata-se da tese de que é bom, para a democracia, que as eleições ensejem a mudança do partido ou coalizão que está no poder, assim permitindo que ocorra uma salutar alternância de pontos de vista e prioridades. A continuidade seria ruim, ao impedir que novas agendas sejam discutidas e que outras políticas, mais adequadas a um novo momento, sejam formuladas.
O ápice dessa argumentação aconteceu outro dia, quando uma importante revista semanal entrevistou o candidato do PSDB e perguntou “porque é positivo”, para “a democracia brasileira”, experimentar “uma alternância de poder depois de 8 anos de governo Lula”.
Difícil imaginar algo mais sem sentido, a começar pelo fato da pergunta ser feita ao candidato interessado na alternância. É o mesmo que perguntar ao macaco se quer banana. Ou alguém supõe que Serra diria que o melhor, para o país, é a continuidade?
Mas o importante não é isso. A democracia não está na ideia abstrata de alternância. Para o ideal democrático, o relevante não é o conteúdo da escolha. Tanto faz que os cidadãos prefiram continuar ou mudar. O que torna uma sociedade democrática é haver instituições que assegurem, a cada cidadão, a possibilidade real de escolher.
Se a maioria da sociedade brasileira quer a continuidade e vota Dilma, é bom que todos se acostumem, incluindo os que querem a alternância. Em si, ela só é importante como uma possibilidade. Se não, nem seria preciso haver eleições. Bastaria trocar o governo a cada período estipulado. (O problema é que ninguém saberia como fazê-lo.)
.
Já faz algum tempo, começou a se generalizar no meio político a convicção de que Dilma vai ganhar as eleições. Embora nem todos admitam, é o que pensam até as principais lideranças da oposição, assim como a quase totalidade dos formadores de opinião e da imprensa. Para consumo externo, continuam a dizer que o processo está aberto, que nada está definido. Mas não é o que, no íntimo, acreditam que vai acontecer.
Do lado governista, nem se fala. Não é de agora que os principais estrategistas do Planalto e do PT trabalham com o cenário de crescimento e vitória da candidata de Lula. A rigor, é nisso que apostam desde 2008, quando o presidente deixou claras duas coisas: que ele próprio não tentaria mudar as regras do jogo para disputar um terceiro mandato; e que achava que conseguiria ganhar as eleições através de alguém que o representasse.
Tudo que está acontecendo na sua sucessão, até o momento, confirma seu cálculo. Ele não se baseava no que diziam as pesquisas sobre as intenções de voto do conjunto do eleitorado. Ao contrário, o raciocínio sempre foi sobre o potencial de crescimento de uma candidatura identificada com ele e o governo, avaliados, pela grande maioria da população, como ótimos ou bons.
Nunca foi relevante considerar os resultados agregados das pesquisas (que são os que a imprensa normalmente divulga), pois misturavam respostas de quem sabia e quem não sabia qual era a candidatura apoiada por Lula. Enquanto não aumentasse a proporção dos que tinham essa informação, a vantagem de Serra era ilusória e não preocupava quem, no PT, sabia fazer as contas.
É de se notar que, na oposição, as pessoas pensaram de maneira oposta. A opção por Serra, em detrimento de Aécio, mostrou que ela preferia escolher em função do desempenho presente dos pré-candidatos, deixando em segundo plano seu potencial de crescimento. Serra prevaleceu pelo patamar de largada, não pela perspectiva de chegada.
Há quem defenda que é cedo para decretar que a eleição está resolvida. De fato, é preciso admitir que muita água ainda pode rolar por baixo da ponte. Não é impossível que Dilma, sua campanha, seus apoiadores e o vasto conjunto de forças políticas mobilizadas para elegê-la cometam erros calamitosos. É, apenas, pouco provável.
Em função da possibilidade cada vez mais concreta de que Dilma venha a ganhar (talvez já no primeiro turno), alguns setores da oposição andam à cata de novos argumentos, para tentar convencer os eleitores a mudar de ideia. Um dos mais engraçados tem a ver com o conceito de alternância do poder.
Trata-se da tese de que é bom, para a democracia, que as eleições ensejem a mudança do partido ou coalizão que está no poder, assim permitindo que ocorra uma salutar alternância de pontos de vista e prioridades. A continuidade seria ruim, ao impedir que novas agendas sejam discutidas e que outras políticas, mais adequadas a um novo momento, sejam formuladas.
O ápice dessa argumentação aconteceu outro dia, quando uma importante revista semanal entrevistou o candidato do PSDB e perguntou “porque é positivo”, para “a democracia brasileira”, experimentar “uma alternância de poder depois de 8 anos de governo Lula”.
Difícil imaginar algo mais sem sentido, a começar pelo fato da pergunta ser feita ao candidato interessado na alternância. É o mesmo que perguntar ao macaco se quer banana. Ou alguém supõe que Serra diria que o melhor, para o país, é a continuidade?
Mas o importante não é isso. A democracia não está na ideia abstrata de alternância. Para o ideal democrático, o relevante não é o conteúdo da escolha. Tanto faz que os cidadãos prefiram continuar ou mudar. O que torna uma sociedade democrática é haver instituições que assegurem, a cada cidadão, a possibilidade real de escolher.
Se a maioria da sociedade brasileira quer a continuidade e vota Dilma, é bom que todos se acostumem, incluindo os que querem a alternância. Em si, ela só é importante como uma possibilidade. Se não, nem seria preciso haver eleições. Bastaria trocar o governo a cada período estipulado. (O problema é que ninguém saberia como fazê-lo.)
.
Nova falência da Internacional Socialista
Reproduzo artigo de Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:
O Conselho da Internacional Socialista, entidade que coordena os partidos de inspiração social-democrata, reuniu-se nos dias 22 e 23 de junho, em Nova Iorque. A imprensa não deu muito bola para o evento, mas trata-se de um momento importante para entender o que pensa e como age essa família política.
A organização foi fundada, em 1951, com o intuito de agrupar a esquerda não-comunista, então ensanduichada pela guerra fria. Estão entre seus principais membros o Partido Socialista Francês, o Partido Social-Democrata Alemão, o Partido Socialista Operário Espanhol e o Partido Trabalhista Inglês.
Os filiados alinhavam-se ao campo capitalista, aceitavam a hegemonia norte-americana e majoritariamente renunciavam ao marxismo. Mas defendiam a ampliação do bem-estar social e adotavam circunstancialmente posturas antiimperialistas.
Esse programa permitiu aos social-democratas posição forte enquanto a expansão dos direitos trabalhistas se constituía em uma das estratégias contra a influência do campo socialista. Revelava-se funcional a existência de uma corrente política pró-ocidental que disputasse, com os comunistas, a direção do movimento operário.
Sua trajetória, contudo, sofreu um cavalo-de-pau a partir dos anos oitenta. As demandas da reestruturação produtiva e o enfraquecimento do bloco soviético tornaram obsoletos os paradigmas da social-democracia. Dispensadas de seu papel de contenção política, as conquistas sociais viraram estorvo para os grandes monopólios.
Os partidos da Internacional Socialista se viram diante de uma escolha: caso preservassem o velho programa, romperiam com as elites de seus próprios países e assumiriam uma política de confrontação; se preferissem salvaguardar o pacto de conciliação firmado na guerra fria, teriam que abandonar antigas bandeiras e aderir aos cânones do neoliberalismo. Seus dirigentes preferiram o segundo caminho.
A reunião em Nova Iorque, porém, ignorou solenemente esses acontecimentos. Como se os social-democratas nada tivessem que ver com as políticas de privatização, desregulamentação do Estado e liberdade ao capital financeiro que conduziram o capitalismo a presente crise. Ou com as guerras de agressão levadas a cabo para defender os interesses das grandes potências.
Sintomático, aliás, que a IS seja atualmente presidida pelo grego George Papandreou, o primeiro-ministro à testa do colapso econômico de seu país e da ofensiva contra os direitos dos trabalhadores helênicos.
Sob sua batuta foram aprovados, no encontro realizado na sede da ONU, quatro documentos principais, versando sobre economia global, situação no Oriente Médio, mudanças climáticas e regras para desarmamento nuclear. Uma versão em espanhol está disponível no sítio da Internacional Socialista.
O malabarismo do palavreado apresenta-se como curiosa pantomima. A sacada: ocultar o que se passou com promessas sobre o que se passará. Critica-se a “ideologia neoliberal” e fala-se em “nova regulação financeira”, por exemplo, mas não há palavra sobre a política desenvolvida pelos governos social-democratas nos últimos vinte anos.
Menos ainda se fala nas atuais medidas contra a crise adotadas pelas administrações da Grécia, Espanha e Portugal, as três comandadas por partidos da Internacional Socialista. Cúmplices econômicos e militares do Consenso de Washington, Papandreou e seus amigos apelam para cortes nos gastos sociais, passando aos pobres a conta da fortuna angariada pelos ricos.
Outro ato falho da cúpula socialista está em relatório paralelo aos documentos principais, acerca da situação venezuelana. A moção acusa o presidente Chávez de “autoritário”, assumindo o discurso fabricado por Washington e a oposição de direita.
A resolução demonstra, além da submissão de seus líderes a Casa Branca, inconformismo com a esquerda que preserva uma política contra-hegemônica. Deixa poucas duvidas de que lado estará a Internacional Socialista nos momentos das definições a sério.
E quando uma organização que se reivindica de tradições progressistas aceita ser linha auxiliar do conservadorismo, é porque perdeu sentido histórico e sobreveio a falência do projeto que representa.
No caso da Internacional Socialista, a bem da verdade, trata-se da terceira bancarrota. Herdeira da Segunda Internacional, foi à lona pela primeira vez quando votou os créditos militares exigidos pelas burguesias nacionais européias às vésperas do conflito mundial de 1914. Reconstruída, bateu outra vez na lona em 1940 por incapacidade de organizar a resistência contra o nazismo.
O novo colapso da IS é determinado pela associação com governos e políticas de direita que levaram o capitalismo a sua pior turbulência desde 1929. Ao contrário das ocasiões anteriores, nas quais simplesmente fecharam as portas, dessa feita os social-democratas parecem fazer de conta que ainda respiram, ainda que por aparelhos.
.
O Conselho da Internacional Socialista, entidade que coordena os partidos de inspiração social-democrata, reuniu-se nos dias 22 e 23 de junho, em Nova Iorque. A imprensa não deu muito bola para o evento, mas trata-se de um momento importante para entender o que pensa e como age essa família política.
A organização foi fundada, em 1951, com o intuito de agrupar a esquerda não-comunista, então ensanduichada pela guerra fria. Estão entre seus principais membros o Partido Socialista Francês, o Partido Social-Democrata Alemão, o Partido Socialista Operário Espanhol e o Partido Trabalhista Inglês.
Os filiados alinhavam-se ao campo capitalista, aceitavam a hegemonia norte-americana e majoritariamente renunciavam ao marxismo. Mas defendiam a ampliação do bem-estar social e adotavam circunstancialmente posturas antiimperialistas.
Esse programa permitiu aos social-democratas posição forte enquanto a expansão dos direitos trabalhistas se constituía em uma das estratégias contra a influência do campo socialista. Revelava-se funcional a existência de uma corrente política pró-ocidental que disputasse, com os comunistas, a direção do movimento operário.
Sua trajetória, contudo, sofreu um cavalo-de-pau a partir dos anos oitenta. As demandas da reestruturação produtiva e o enfraquecimento do bloco soviético tornaram obsoletos os paradigmas da social-democracia. Dispensadas de seu papel de contenção política, as conquistas sociais viraram estorvo para os grandes monopólios.
Os partidos da Internacional Socialista se viram diante de uma escolha: caso preservassem o velho programa, romperiam com as elites de seus próprios países e assumiriam uma política de confrontação; se preferissem salvaguardar o pacto de conciliação firmado na guerra fria, teriam que abandonar antigas bandeiras e aderir aos cânones do neoliberalismo. Seus dirigentes preferiram o segundo caminho.
A reunião em Nova Iorque, porém, ignorou solenemente esses acontecimentos. Como se os social-democratas nada tivessem que ver com as políticas de privatização, desregulamentação do Estado e liberdade ao capital financeiro que conduziram o capitalismo a presente crise. Ou com as guerras de agressão levadas a cabo para defender os interesses das grandes potências.
Sintomático, aliás, que a IS seja atualmente presidida pelo grego George Papandreou, o primeiro-ministro à testa do colapso econômico de seu país e da ofensiva contra os direitos dos trabalhadores helênicos.
Sob sua batuta foram aprovados, no encontro realizado na sede da ONU, quatro documentos principais, versando sobre economia global, situação no Oriente Médio, mudanças climáticas e regras para desarmamento nuclear. Uma versão em espanhol está disponível no sítio da Internacional Socialista.
O malabarismo do palavreado apresenta-se como curiosa pantomima. A sacada: ocultar o que se passou com promessas sobre o que se passará. Critica-se a “ideologia neoliberal” e fala-se em “nova regulação financeira”, por exemplo, mas não há palavra sobre a política desenvolvida pelos governos social-democratas nos últimos vinte anos.
Menos ainda se fala nas atuais medidas contra a crise adotadas pelas administrações da Grécia, Espanha e Portugal, as três comandadas por partidos da Internacional Socialista. Cúmplices econômicos e militares do Consenso de Washington, Papandreou e seus amigos apelam para cortes nos gastos sociais, passando aos pobres a conta da fortuna angariada pelos ricos.
Outro ato falho da cúpula socialista está em relatório paralelo aos documentos principais, acerca da situação venezuelana. A moção acusa o presidente Chávez de “autoritário”, assumindo o discurso fabricado por Washington e a oposição de direita.
A resolução demonstra, além da submissão de seus líderes a Casa Branca, inconformismo com a esquerda que preserva uma política contra-hegemônica. Deixa poucas duvidas de que lado estará a Internacional Socialista nos momentos das definições a sério.
E quando uma organização que se reivindica de tradições progressistas aceita ser linha auxiliar do conservadorismo, é porque perdeu sentido histórico e sobreveio a falência do projeto que representa.
No caso da Internacional Socialista, a bem da verdade, trata-se da terceira bancarrota. Herdeira da Segunda Internacional, foi à lona pela primeira vez quando votou os créditos militares exigidos pelas burguesias nacionais européias às vésperas do conflito mundial de 1914. Reconstruída, bateu outra vez na lona em 1940 por incapacidade de organizar a resistência contra o nazismo.
O novo colapso da IS é determinado pela associação com governos e políticas de direita que levaram o capitalismo a sua pior turbulência desde 1929. Ao contrário das ocasiões anteriores, nas quais simplesmente fecharam as portas, dessa feita os social-democratas parecem fazer de conta que ainda respiram, ainda que por aparelhos.
.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Plenária definirá lutas no pós-Confecom
Reproduzo artigo de Márcia Xavier, publicado no sítio Vermelho:
Para retomar a mobilização que marcou a 1a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada no final do ano passado em Brasília, entidades da sociedade civil realizarão, nesta quinta-feira (1o), na Câmara dos Deputados, o seminário "Pós-Confecom: uma contribuição ao debate sobre propostas e ações prioritárias". O objetivo é definir ações prioritárias e plano de ação na conjuntura posterior à Conferência Nacional de Comunicação.
O presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, que participa do evento, destacou como principal desafio a retomada da mobilização, lembrando que “terminada a conferência houve letargia e dispersão e os ‘barões da mídia’, que boicotaram a conferência - das oito entidades patronais, seis abandonaram o evento -, não ficaram parados e estão fazendo carga pesada contra o governo.”
Ele citou o caso da instalação do Conselho Nacional de Comunicação, cujo decreto já estava pronto e que foi adiada para o próximo governo. Segundo Miro Borges, esse recuo é resultado da falta de pressão das entidades sociais. “Daí a importância dessa plenária de amanhã”, ressalta.
A ideia da atividade é reunir militantes das organizações da sociedade civil e movimentos sociais interessados em contribuir com o debate pós-Confecom para definir as propostas fundamentais entre as 633 aprovadas na Confecom que devem ser priorizadas. E definir linhas de atuação conjunta ainda para este ano.
Miro Borges adianta que entre os pontos prioritários já definidos nos debates realizados nos estados estão a melhoria e aprovação do Plano Nacional de Banda Larga, a instalação do Conselho Nacional de Comunicação e a regulamentações dos artigos da Constituição que se refere a comunicação.
Entre os artigos que devem ser regulamentados, Miro Borges faz referência a regulamentação das concessões de rádios e TVs. Ele diz que é preciso proibir o monopólio, que caracteriza a realidade atual no Brasil, onde meia dúzia de famílias detém a maioria dos veículos de comunicação. “Só se concede para quem já tem”, afirma, criticando ainda a falta de transparência no processo de concessões: “O cadastro não é público”.
No plano de ação, Miro Borges também já adianta o teor da discussão, dizendo que a ideia é fazer os movimentos sociais interferirem na campanha eleitoral, com definição das plataformas para o setor da comunicação e comprometimento dos candidatos com essas plataformas.
A entidade presidida por Miro Borges nasceu após a realização da Confecom, quando ficou clara a necessidade de construção de uma militância social, permanente e aguerrida nesta frente estratégica da batalha de idéias. Em parceria com muitas outras entidades já existentes, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé contribui na luta pela democratização dos meios de comunicação e pelo fortalecimento da mídia alternativa.
.
A criminalização das rádios comunitárias
Reproduzo nota pública da Frente Paulista pelo Direito à Comunicação e a Liberdade de Expressão:
Nós, organizações integrantes da Frente paulista pelo Direito à Comunicação e a Liberdade de Expressão, manifestamos nosso repúdio a mais recente onda de criminalização e cerceamento da liberdade de expressão de inúmeras rádios comunitárias no estado de São Paulo. Nos últimos meses a repressão às emissoras, organizações, movimentos e ativistas que tem atuação na radiodifusão comunitária – segmento importante da luta pela democratização dos meios de comunicação – recrudesceu em nosso estado, com ações ilegais e ilegítimas realizadas pela Polícia Civil na região metropolitana de Campinas e Bauru.
O caso mais recente foi o fechamento da Rádio Nova Estação, em Campinas, que revelou a relação promíscua entre interesses privados e a atuação do poder público no campo da radiodifusão. Antes do fechamento da emissora, no dia 17 de junho, funcionários de uma empresa formada por ex-agentes da Anatel e que presta serviços de rastreamento e denúncia de rádios comunitárias às rádios comerciais visitaram a região. Na sequência, policiais da Delegacia de Investigações Gerais de Campinas, fortemente armados, lacraram a emissora e detiveram seis coordenadores regionais da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço). O carro de reportagem da TV Bandeirantes chegou ao local imediatamente depois para registrar a ocorrência.
Em 14 de junho, a Abraço já denunciara, em reunião do Conselho Consultivo da Anatel em Brasília, a atuação desta empresa privada, e solicitara a abertura de sindicância em São Paulo para apurar as possíveis relações entre ex e atuais funcionários da Anatel e as rádios comerciais. Houve ações de fechamento em que ex-funcionários da Anatel estavam identificados como atuais agentes do poder público.
A ação contra a Rádio Nova Estação traz novos indícios da relação entre empresários de comunicação – representados pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e pela Associação Brasileira de Radiodifusão (Abra) –, agentes da Anatel e a Polícia Civil de São Paulo, que sequer tem competência para atuar em casos de radiodifusão. Pela Constituição Federal, é prerrogativa da Polícia Federal, quando solicitada pela Anatel, auxiliar em ações de fechamento de emissoras que funcionem sem autorização.
O intuito da nova onda de fechamento de emissoras em São Paulo é criminalizar a luta pela democratização da comunicação e impedir o exercício do direito à livre manifestação do pensamento, criação, expressão e informação, assegurado constitucionalmente a todos e todas no Brasil. Contraditoriamente, prevaricando diante dos interesses das oligarquias políticas locais e regionais, a Anatel permite o funcionamento de rádios comerciais não regularizadas e que utilizam equipamento não certificado, tal como foi testemunhado nas ações de fiscalização na Rádio Morena, em Campinas.
Diante de tais acontecimentos, repudiamos fortemente a ação ilegal que levou ao fechamento dessas emissoras e pedimos que o Ministério Público Federal investigue a relação da referida empresa com as denúncias que pautam a ação da Anatel na região, assim como a participação da Polícia Civil de São Paulo nestas ocorrências. Convocamos ainda as entidades e movimentos integrantes da Frente Paulista para se somarem à Abraço num ato massivo, a ser realizado em Campinas, em defesa da liberdade de expressão e contra a criminalização dos movimentos sociais.
.
Nós, organizações integrantes da Frente paulista pelo Direito à Comunicação e a Liberdade de Expressão, manifestamos nosso repúdio a mais recente onda de criminalização e cerceamento da liberdade de expressão de inúmeras rádios comunitárias no estado de São Paulo. Nos últimos meses a repressão às emissoras, organizações, movimentos e ativistas que tem atuação na radiodifusão comunitária – segmento importante da luta pela democratização dos meios de comunicação – recrudesceu em nosso estado, com ações ilegais e ilegítimas realizadas pela Polícia Civil na região metropolitana de Campinas e Bauru.
O caso mais recente foi o fechamento da Rádio Nova Estação, em Campinas, que revelou a relação promíscua entre interesses privados e a atuação do poder público no campo da radiodifusão. Antes do fechamento da emissora, no dia 17 de junho, funcionários de uma empresa formada por ex-agentes da Anatel e que presta serviços de rastreamento e denúncia de rádios comunitárias às rádios comerciais visitaram a região. Na sequência, policiais da Delegacia de Investigações Gerais de Campinas, fortemente armados, lacraram a emissora e detiveram seis coordenadores regionais da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço). O carro de reportagem da TV Bandeirantes chegou ao local imediatamente depois para registrar a ocorrência.
Em 14 de junho, a Abraço já denunciara, em reunião do Conselho Consultivo da Anatel em Brasília, a atuação desta empresa privada, e solicitara a abertura de sindicância em São Paulo para apurar as possíveis relações entre ex e atuais funcionários da Anatel e as rádios comerciais. Houve ações de fechamento em que ex-funcionários da Anatel estavam identificados como atuais agentes do poder público.
A ação contra a Rádio Nova Estação traz novos indícios da relação entre empresários de comunicação – representados pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e pela Associação Brasileira de Radiodifusão (Abra) –, agentes da Anatel e a Polícia Civil de São Paulo, que sequer tem competência para atuar em casos de radiodifusão. Pela Constituição Federal, é prerrogativa da Polícia Federal, quando solicitada pela Anatel, auxiliar em ações de fechamento de emissoras que funcionem sem autorização.
O intuito da nova onda de fechamento de emissoras em São Paulo é criminalizar a luta pela democratização da comunicação e impedir o exercício do direito à livre manifestação do pensamento, criação, expressão e informação, assegurado constitucionalmente a todos e todas no Brasil. Contraditoriamente, prevaricando diante dos interesses das oligarquias políticas locais e regionais, a Anatel permite o funcionamento de rádios comerciais não regularizadas e que utilizam equipamento não certificado, tal como foi testemunhado nas ações de fiscalização na Rádio Morena, em Campinas.
Diante de tais acontecimentos, repudiamos fortemente a ação ilegal que levou ao fechamento dessas emissoras e pedimos que o Ministério Público Federal investigue a relação da referida empresa com as denúncias que pautam a ação da Anatel na região, assim como a participação da Polícia Civil de São Paulo nestas ocorrências. Convocamos ainda as entidades e movimentos integrantes da Frente Paulista para se somarem à Abraço num ato massivo, a ser realizado em Campinas, em defesa da liberdade de expressão e contra a criminalização dos movimentos sociais.
.
Procura-se uma oposição séria
Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no blog Cidadania:
Em que pese ser arriscado cantar vitória antes do tempo, penso que a eleição de Dilma vai se tornando irreversível. E devo dizer que o fenômeno, por mais que decorra da satisfação do brasileiro com a forma como o país é administrado, pode ser debitado, em grande parte, a erros crassos e à mediocridade e à falta de seriedade da oposição midiática.
A começar pela escolha do candidato da oposição. É espantoso que PSDB, PFL e seu aparato midiático tenham confundido o recall (lembrança de um político pelo eleitorado) de Serra com força eleitoral do tucano.
Pesquise-se a blogosfera progressista e se encontrarão centenas de análises de que o que o tucano tinha não era nada mais do que confusão do eleitorado entre um nome conhecido (o de Serra) e o candidato que Lula apoiaria.
Contudo, os péssimos analistas políticos da oposição e da mídia simplesmente se negaram a enxergar o fato. Talvez por continuarem acreditando que se mantinha vigente o poder de persuasão que essa mídia deixou de ter após a catástrofe que foi o segundo governo FHC, devido ao eleitorado ter entendido que foi induzido ao erro de votar no tucano em 1998, pois a manutenção do real valorizado, que ele prometera, era uma farsa.
Outro erro da direita midiática foi abusar da invenção de escândalos para desmoralizar Dilma e Lula. Estão em curso estudos acadêmicos sobre o tsunami de escândalos inventados ou irracionalmente vitaminados que se abateu sobre o país a partir de 2005.
Outro grande erro da aliança entre a oposição e a mídia foi deixarem ver que um governo Serra poderia se constituir em uma verdadeira ditadura. Os setores verdadeiramente politizados da sociedade se assustaram com um governo que, como o de FHC, iria pairar acima do bem e do mal simplesmente porque, não tendo imprensa para fiscalizá-lo, poderia cometer atrocidades como as que cometeu o governo tucano entre 1995 e 2002.
Andei refletindo sobre o seguinte: por que um poder econômico tão gigantesco quanto esse que apóia Serra, dotado de toda a grande imprensa e dos mais poderosos grupos empresariais do país, não conseguiu um único analista que lhe dissesse para onde caminhava o projeto político conservador?
Não havia um analista que lhes dissesse que através da escandalização do nada não só não conseguiriam impedir que um governo tão popular fizesse seu sucessor como também estavam expondo que Serra era o candidato encarregado de manter a desigualdade no país?
Claro que havia. Não faltam analistas capacitados em uma coalizão política tão poderosa, do ponto de vista econômico e institucional. O que faltou foi coragem para contrariarem os caciques tucanos e pefelês, os barões da mídia, o mega empresariado e a elite branca em si.
É aquela velha história de monarcas enlouquecidos pelo poder absoluto trucidarem mensageiros portadores de más notícias. Foi medo dos analistas lúcidos de serem mal-interpretados pela elite midiática ao sugerirem comedimento na proteção da mídia a Serra e na difamação de Dilma e de Lula.
Os dois maiores atos irracionais em favor de Serra certamente serão estudados pela ciência social do futuro: a ficha policial falsificada de Dilma e a acusação a Lula de que teria sido um maníaco sexual que tentou estuprar um adolescente. Não me lembro de outro país em nosso estágio de importância e de desenvolvimento em que a oposição tenha tentado algo parecido.
Não sei até que ponto os agentes políticos já mensuraram, inclusive, o custo da campanha de difamação contra Lula e Dilma. Se calcularmos o custo do tempo de tevê e de rádio e dos espaços intermináveis na imprensa escrita que foram usados para atacar os petistas, chegaremos a cifras espantosas. Não me espantaria se chegassem aos bilhões de reais…
E o que mais impressiona é que não vejo o menor sinal de que os partidos e os meios de comunicação de direita estejam sequer cogitando interromperem a estratégia de desmoralizarem os adversários para se concentrarem em tentar oferecer alguma proposta ao eleitorado sobre o que Serra poderia fazer de realmente melhor.
A aposta tucano-midiática, ao menos até o dia da eleição em primeiro turno, não tenho dúvida de que será a de produzir mais do mesmo, ou seja, mais denúncias, mais pseudo escândalos, mas ridicularizações e desqualificações da candidata governista. E não haverá, nesse grupo político alucinado, quem tenha coragem de sugerir mudança de rota.
Aliás, penso que a estratégia permanecerá a mesma em um cada vez mais possível governo Dilma Rousseff.
Só que a incapacidade dos conservadores brasileiros de se reciclarem, ao contrário do que possam pensar seus adversários progressistas, é péssima para o país. A continuidade da escandalização do nada atrasa o desenvolvimento, atrasa projetos, políticas públicas, enfim, prejudica o desenvolvimento do Brasil.
Uma oposição propositiva, que fiscalize o que está errado, mas que não tente criar erros e escândalos inexistentes, faz falta a qualquer país. Uma imprensa séria, que fiscalize os políticos e governantes independentemente de ideologias e de colorações partidárias, faz mais falta ainda.
Quem nos garante que Dilma, por exemplo, não pode vir a ser uma péssima governante que iluda o povo com crescimento da economia herdado do governo anterior? Quem nos garante que ela não poderia deixar a corrupção campear, não se aliaria a grupos econômicos, enfim, que ela não fizesse o que fizeram um Collor ou um FHC?
Se isso ocorresse – e, vejam bem, não estou dizendo que ocorrerá, mas que tal possibilidade existe em qualquer governo –, quem poderia defender a sociedade e denunciar os malfeitos? Só a imprensa, é claro. Mas, então, não teríamos imprensa e oposição com credibilidade. Qualquer denúncia seria apontada como apenas mais um factóide difamatório da direita midiática.
O Brasil precisa de uma imprensa e de uma oposição sérias, mas não tem e não deverá ter por ainda muito tempo. A sociedade brasileira está dependendo de que tenha no poder bons governos como o de Lula. Se votarmos errado, como fizemos em São Paulo (na capital e no Estado), teremos que amargar governos ruins perpetuando-se no poder.
.
Em que pese ser arriscado cantar vitória antes do tempo, penso que a eleição de Dilma vai se tornando irreversível. E devo dizer que o fenômeno, por mais que decorra da satisfação do brasileiro com a forma como o país é administrado, pode ser debitado, em grande parte, a erros crassos e à mediocridade e à falta de seriedade da oposição midiática.
A começar pela escolha do candidato da oposição. É espantoso que PSDB, PFL e seu aparato midiático tenham confundido o recall (lembrança de um político pelo eleitorado) de Serra com força eleitoral do tucano.
Pesquise-se a blogosfera progressista e se encontrarão centenas de análises de que o que o tucano tinha não era nada mais do que confusão do eleitorado entre um nome conhecido (o de Serra) e o candidato que Lula apoiaria.
Contudo, os péssimos analistas políticos da oposição e da mídia simplesmente se negaram a enxergar o fato. Talvez por continuarem acreditando que se mantinha vigente o poder de persuasão que essa mídia deixou de ter após a catástrofe que foi o segundo governo FHC, devido ao eleitorado ter entendido que foi induzido ao erro de votar no tucano em 1998, pois a manutenção do real valorizado, que ele prometera, era uma farsa.
Outro erro da direita midiática foi abusar da invenção de escândalos para desmoralizar Dilma e Lula. Estão em curso estudos acadêmicos sobre o tsunami de escândalos inventados ou irracionalmente vitaminados que se abateu sobre o país a partir de 2005.
Outro grande erro da aliança entre a oposição e a mídia foi deixarem ver que um governo Serra poderia se constituir em uma verdadeira ditadura. Os setores verdadeiramente politizados da sociedade se assustaram com um governo que, como o de FHC, iria pairar acima do bem e do mal simplesmente porque, não tendo imprensa para fiscalizá-lo, poderia cometer atrocidades como as que cometeu o governo tucano entre 1995 e 2002.
Andei refletindo sobre o seguinte: por que um poder econômico tão gigantesco quanto esse que apóia Serra, dotado de toda a grande imprensa e dos mais poderosos grupos empresariais do país, não conseguiu um único analista que lhe dissesse para onde caminhava o projeto político conservador?
Não havia um analista que lhes dissesse que através da escandalização do nada não só não conseguiriam impedir que um governo tão popular fizesse seu sucessor como também estavam expondo que Serra era o candidato encarregado de manter a desigualdade no país?
Claro que havia. Não faltam analistas capacitados em uma coalizão política tão poderosa, do ponto de vista econômico e institucional. O que faltou foi coragem para contrariarem os caciques tucanos e pefelês, os barões da mídia, o mega empresariado e a elite branca em si.
É aquela velha história de monarcas enlouquecidos pelo poder absoluto trucidarem mensageiros portadores de más notícias. Foi medo dos analistas lúcidos de serem mal-interpretados pela elite midiática ao sugerirem comedimento na proteção da mídia a Serra e na difamação de Dilma e de Lula.
Os dois maiores atos irracionais em favor de Serra certamente serão estudados pela ciência social do futuro: a ficha policial falsificada de Dilma e a acusação a Lula de que teria sido um maníaco sexual que tentou estuprar um adolescente. Não me lembro de outro país em nosso estágio de importância e de desenvolvimento em que a oposição tenha tentado algo parecido.
Não sei até que ponto os agentes políticos já mensuraram, inclusive, o custo da campanha de difamação contra Lula e Dilma. Se calcularmos o custo do tempo de tevê e de rádio e dos espaços intermináveis na imprensa escrita que foram usados para atacar os petistas, chegaremos a cifras espantosas. Não me espantaria se chegassem aos bilhões de reais…
E o que mais impressiona é que não vejo o menor sinal de que os partidos e os meios de comunicação de direita estejam sequer cogitando interromperem a estratégia de desmoralizarem os adversários para se concentrarem em tentar oferecer alguma proposta ao eleitorado sobre o que Serra poderia fazer de realmente melhor.
A aposta tucano-midiática, ao menos até o dia da eleição em primeiro turno, não tenho dúvida de que será a de produzir mais do mesmo, ou seja, mais denúncias, mais pseudo escândalos, mas ridicularizações e desqualificações da candidata governista. E não haverá, nesse grupo político alucinado, quem tenha coragem de sugerir mudança de rota.
Aliás, penso que a estratégia permanecerá a mesma em um cada vez mais possível governo Dilma Rousseff.
Só que a incapacidade dos conservadores brasileiros de se reciclarem, ao contrário do que possam pensar seus adversários progressistas, é péssima para o país. A continuidade da escandalização do nada atrasa o desenvolvimento, atrasa projetos, políticas públicas, enfim, prejudica o desenvolvimento do Brasil.
Uma oposição propositiva, que fiscalize o que está errado, mas que não tente criar erros e escândalos inexistentes, faz falta a qualquer país. Uma imprensa séria, que fiscalize os políticos e governantes independentemente de ideologias e de colorações partidárias, faz mais falta ainda.
Quem nos garante que Dilma, por exemplo, não pode vir a ser uma péssima governante que iluda o povo com crescimento da economia herdado do governo anterior? Quem nos garante que ela não poderia deixar a corrupção campear, não se aliaria a grupos econômicos, enfim, que ela não fizesse o que fizeram um Collor ou um FHC?
Se isso ocorresse – e, vejam bem, não estou dizendo que ocorrerá, mas que tal possibilidade existe em qualquer governo –, quem poderia defender a sociedade e denunciar os malfeitos? Só a imprensa, é claro. Mas, então, não teríamos imprensa e oposição com credibilidade. Qualquer denúncia seria apontada como apenas mais um factóide difamatório da direita midiática.
O Brasil precisa de uma imprensa e de uma oposição sérias, mas não tem e não deverá ter por ainda muito tempo. A sociedade brasileira está dependendo de que tenha no poder bons governos como o de Lula. Se votarmos errado, como fizemos em São Paulo (na capital e no Estado), teremos que amargar governos ruins perpetuando-se no poder.
.
Sem vice e sem discurso, Serra agoniza
O Portal Terra foi o primeiro a confirmar que José Serra está novamente sem vice na sua chapa. “Em reunião na casa do presidente nacional do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE), os tucanos resolveram desistir de colocar o senador Álvaro Dias (PR) como vice do candidato do partido à presidência, José Serra. Na madrugada desta quarta-feira, tucanos e democratas foram avisados por telefone pelo senador Osmar Dias (PDT) de que ele concorreria ao governo do Paraná, o que inviabiliza a defesa do nome de Álvaro para ocupar o posto”, revelou a jornalista Marcela Rocha.
Com mais esta trapalhada, prossegue a agonia da oposição neoliberal-conservadora. Qualquer que seja o vice escolhido nos próximos dias, o estrago já está feito. O clima entre os dois partidos da direita nativa é de desconfiança. No momento de tensão, o presidente do DEM, Rodrigo Maia, chegou a jogar a toalha. “A eleição nós já perdemos, não podemos perder é o caráter”. Venenoso, o senador Demóstenes Torres lembrou que “ninguém é obrigado a acompanhar o velório”.
Razões da crise demotucana
Anunciado como “mês da arrancada para a vitória”, junho confirma a infernal crise da oposição demotucana. Nem os programas gratuitos de rádio e TV do PSDB e do apêndice PPS serviram para impulsionar o candidato José Serra – este sim, um poste. As duas mais recentes pesquisas, inclusive do instituto tucano Ibope, mostram que Dilma Rousseff já está na dianteira. E não há nada que indique uma reversão desta tendência, a não ser o jogo sujo da direita e de sua mídia.
Serra não agoniza apenas em decorrência das dificuldades na escolha do seu vice – e mais de 20 nomes foram lembrados para ocupar o posto, sendo que a maioria preferiu evitar a aventura. Na verdade, o presidenciável tucano sofre da falta de discurso. Ele não tem vice e nem o que falar na campanha. Não dá para repetir os ataques ao “bolsa esmola” e à “gastança pública”, sob risco de apanhar em comícios pelo interior do país. Também não dá para criticar a política externa altiva do governo Lula, que é motivo de orgulho dos brasileiros segundo recentes pesquisas.
As dicas da mídia golpista
No terreno econômico, os índices recordes de geração de empregos e as previsões de que o PIB deverá crescer mais de 7% neste ano – já tendo sido batizado do Pibão – também deixam o fajuto “economista” sem discurso. Serra está num mato sem cachorro. No início, ele tentou se travestir de “continuador” do governo Lula e lançou o slogan “o Brasil pode mais”. A tática eleitoral não deu certo. Se for para continuar, melhor votar na candidata do presidente – concluiu o povo. Na sequência, ele tirou a pele de cordeiro e partiu para baixaria. Mas também não deu certo.
A mídia golpista, a única que ainda parece manter as esperanças na candidatura demotucana, já percebeu a arapuca. Em recente artigo, o Estadão alertou seu candidato. “Os temas econômicos, apesar de serem especialidades de Serra, como emprego e consumo, são francamente favoráveis à candidata governista. Será difícil o tucano encontrar um ‘gancho’ que lhe renda votos nessas áreas”. O jornal sugere que o presidenciável concentre sua artilharia na questão dos impostos – por mera coincidência, quase toda a mídia já está em guerra contra a carga tributária.
.
Com mais esta trapalhada, prossegue a agonia da oposição neoliberal-conservadora. Qualquer que seja o vice escolhido nos próximos dias, o estrago já está feito. O clima entre os dois partidos da direita nativa é de desconfiança. No momento de tensão, o presidente do DEM, Rodrigo Maia, chegou a jogar a toalha. “A eleição nós já perdemos, não podemos perder é o caráter”. Venenoso, o senador Demóstenes Torres lembrou que “ninguém é obrigado a acompanhar o velório”.
Razões da crise demotucana
Anunciado como “mês da arrancada para a vitória”, junho confirma a infernal crise da oposição demotucana. Nem os programas gratuitos de rádio e TV do PSDB e do apêndice PPS serviram para impulsionar o candidato José Serra – este sim, um poste. As duas mais recentes pesquisas, inclusive do instituto tucano Ibope, mostram que Dilma Rousseff já está na dianteira. E não há nada que indique uma reversão desta tendência, a não ser o jogo sujo da direita e de sua mídia.
Serra não agoniza apenas em decorrência das dificuldades na escolha do seu vice – e mais de 20 nomes foram lembrados para ocupar o posto, sendo que a maioria preferiu evitar a aventura. Na verdade, o presidenciável tucano sofre da falta de discurso. Ele não tem vice e nem o que falar na campanha. Não dá para repetir os ataques ao “bolsa esmola” e à “gastança pública”, sob risco de apanhar em comícios pelo interior do país. Também não dá para criticar a política externa altiva do governo Lula, que é motivo de orgulho dos brasileiros segundo recentes pesquisas.
As dicas da mídia golpista
No terreno econômico, os índices recordes de geração de empregos e as previsões de que o PIB deverá crescer mais de 7% neste ano – já tendo sido batizado do Pibão – também deixam o fajuto “economista” sem discurso. Serra está num mato sem cachorro. No início, ele tentou se travestir de “continuador” do governo Lula e lançou o slogan “o Brasil pode mais”. A tática eleitoral não deu certo. Se for para continuar, melhor votar na candidata do presidente – concluiu o povo. Na sequência, ele tirou a pele de cordeiro e partiu para baixaria. Mas também não deu certo.
A mídia golpista, a única que ainda parece manter as esperanças na candidatura demotucana, já percebeu a arapuca. Em recente artigo, o Estadão alertou seu candidato. “Os temas econômicos, apesar de serem especialidades de Serra, como emprego e consumo, são francamente favoráveis à candidata governista. Será difícil o tucano encontrar um ‘gancho’ que lhe renda votos nessas áreas”. O jornal sugere que o presidenciável concentre sua artilharia na questão dos impostos – por mera coincidência, quase toda a mídia já está em guerra contra a carga tributária.
.
Dunga e a arrogância histórica da Globo
Reproduzo excelente artigo do professor Venício Lima, publicado no sítio Carta Maior:
Embora tenha apoiado o golpe de 64, o regime militar e se consolidado como a mais poderosa rede de televisão do país durante a ditadura, houve períodos em que a percepção de boa parte da elite fardada era de que a Rede Globo de Televisão representava uma ameaça real de controle da opinião pública brasileira e precisava ser enfrentada.
No governo do General Geisel (1974-1979), sendo ministro das Comunicações o Coronel Euclides Quandt de Oliveira, foi certamente quando surgiram as maiores contradições e divergências entre o regime autoritário e a Globo. Documentos da época e sua análise estão disponíveis, por exemplo, no livro “Dossiê Geisel”, organizado por Celso Castro e Maria Celina Araújo e publicado pela FGV em 2002.
Encontro na UnB
Faço esta rápida introdução para relatar um encontro emblemático acontecido há 35 anos, entre professores do então Departamento de Comunicação da Universidade de Brasília e altos dirigentes globais, entre eles, Walter Clark (diretor geral), Luiz Eduardo Borgerth (diretor), Otto Lara Resende (assessor da presidência), infelizmente, já falecidos.
O contexto do encontro trazia, no mínimo, preocupações para as Organizações Globo:
1- A Globo havia perdido a disputa por um canal de TV aberta em João Pessoa, PB, por interferência direta do ministro Quandt que considerava um risco “aumentar o monopólio da emissora”.
2- O ministro vinha fazendo uma série de críticas públicas à televisão brasileira, todas de grande repercussão. Uma delas, a aula inaugural no curso de comunicação do CEUB, Centro de Ensino Unificado de Brasília, sobre “A televisão no Brasil” (17/2/1975). Na sua fala ele destacava os “perigos do monopólio” tanto de canais, quanto de audiência, quanto na programação “alienígena”.
3- Estava em andamento a criação da Radiobras [Lei n. 6301 de 15/12/1975] que era vista com desconfiança pela Globo pelo temor de que se transformasse em destinação preferencial de verbas publicitárias do governo.
4- Estava em discussão, dentro do governo, um pré-projeto de regulação da radiodifusão que deveria substituir o superado Código Brasileiro de Telecomunicações [Lei 4. 117/1962].
5- O Departamento de Comunicação da UnB era uma unidade acadêmica que produzia pesquisa crítica sobre a radiodifusão brasileira e acabara de elaborar um pioneiro projeto de unificação das televisões públicas que recebeu o nome de SINTIS, Sistema Nacional de Televisão de Interesse Social. Além disso, circulava que alguns de seus professores tinham acesso ao ministro das Comunicações e o abasteciam com dados nos quais ele fundamentava sua posição, direta e/ou indiretamente, contrária à hegemonia da Globo.
O objetivo do encontro, realizado por iniciativa da Globo, na UnB, era “trocar idéias” sobre as comunicações no Brasil. O que acabou acontecendo, todavia, foi quase um bate-boca.
Apesar da conjuntura politicamente adversa - para a Globo - em que se realizava o encontro, a memória de professores presentes é unânime em afirmar a arrogância de seus dirigentes. Não houve diálogo possível e cada um saiu do encontro ainda mais convicto em relação às respectivas posições. Divergimos em relação à existência de um virtual monopólio na TV brasileira; às finalidades educativas da televisão (previstas em lei); à prioridade ao conteúdo nacional e à necessidade de criação de uma rede pública de radiodifusão.
No presente como no passado
Relembro este encontro e a memória que dele ficou para reforçar os inúmeros comentários já escritos e publicados nesta Carta Maior sobre o enfretamento que a Globo faz a Dunga, aparentemente, por ele não ser conivente com os privilégios da emissora em relação aos demais veículos de mídia que estão cobrindo a Copa do Mundo na África do Sul.
Ao longo de sua existência, uma característica da Rede Globo tem sido ignorar que a televisão é apenas a concessão de um serviço público que tem como soberano o cidadão e seu interesse. Ao contrário, a Globo tem historicamente se comportado como proprietária das concessões de radiodifusão.
A própria Seleção Brasileira de Futebol constitui um patrimônio cultural do país que não pode ser apropriado por interesses privados. No entanto, o futebol brasileiro - não só a Seleção - tem sido explorado comercialmente pela Globo como se sua propriedade fosse.
A Globo, por óbvio, não tem mais em 2010 o poder que teve na década de 70 do século passado, enfrentado, por razões próprias, pelo regime militar. Mas conserva a arrogância.
Por outro lado, uma diferença do passado para o presente é que o inconformismo em relação à Globo não está mais restrito a alguns professores isolados em departamentos universitários. Repetindo a resistência que se expressou em outras situações históricas no lema popular “o povo não é bobo, abaixo a rede Globo”, a internet fornece hoje o suporte tecnológico necessário para que milhões de pessoas se mobilizem em torno de iniciativas como o “cala a boca Galvão” e o “cala a boca Tadeu”. Além disso, dezenas de blogs e sites alternativos tornaram pública a opinião daqueles que fazem contraponto à TV hegemônica.
Outro mundo possível
Resta manter a esperança de que - um dia - a transmissão de jogos dos campeonatos locais, regionais e nacional de futebol e a cobertura dos jogos da Seleção Brasileira, não serão exclusividade de concessionárias comerciais, mas estejam disponíveis nas redes públicas de televisão.
Em se tratando de um patrimônio cultural brasileiro, as redes comerciais privadas não deveriam remunerar as redes públicas para distribuir e comercializar este tipo de conteúdo?
O episódio Globo versus Dunga - que certamente ainda não terminou - deixa claro que já existe no país, não só uma ampla consciência da arrogância e dos privilégios históricos da Globo, como também novas e eficientes formas de expressar inconformismo diante dessa situação. E mais importante: novas e eficientes formas de apoiar aqueles que, como Dunga - correndo o risco de perder o emprego - não se curvam ao poder de concessionários de um serviço público que continuam a se comportar como se dele fossem proprietários.
.
Um radialista na revolução de El Salvador
Reproduzo artigo de Nelson Rentería, publicado no sítio Opera Mundi:
"Radio Venceremos, transmitindo seu sinal de liberdade desde Morazán, pela conquista da democracia e da paz para El Salvador. Radio Venceremos, voz operária, camponesa e guerrilheira...". Por meio da voz e sem disparar uma única bala, Santiago obteve sua primeira vitória de guerra. Foi no momento em que ligou o transmissor da Radio Venceremos, emissora clandestina que animou a luta da hoje extinta guerrilha esquerdista da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) durante 12 anos, até a assinatura dos Acordos de Paz de 1992.
A guerra civil salvadorenha (1980-1992) foi fomentada por uma série de atos repressivos praticada pelo governo salvadorenho e por grupos paramilitares. A violência atingiu seu ápice com o assassinato do arcebispo de San Salvador, Oscar Arnulfo Romero, por um comando ultradireitista na tarde de 24 de março de 1980. Dos altares, Romero defendia o diálogo de paz e denunciava a injustiça social, os altos níveis de pobreza e os crimes políticos atribuídos aos governos da época.
Dezoito anos depois, Santiago relembra, em seu confortável escritório em San Salvador, aqueles momentos de uma vida intensa na intempérie, em meio a combates e bombas, cheios de transmissões históricas e inúmeras anedotas ao lado de seus companheiros no estúdio instalado no subsolo da selva salvadorenha, no estado de Morazán – um dos territórios mais disputados durante a guerra civil.
O tempo tingiu de branco os cabelos e a barba desse jornalista sexagenário de origem venezuelana. O rosto demonstra cansaço, apesar da distância da intensidade do trabalho de radialista, mas ele garante que ainda presta serviços no "campo da comunicação".
Carlos Henríquez Consalvi nasceu em janeiro de 1947 no estado de Mérida, oeste da Venezuela. Conheceria o exílio ainda na primeira infância, já que seus pais eram opositores ferrenhos do presidente militar, o general Marcos Pérez Jiménez (1952-1958).
Diante das perseguições do regime venezuelano, seus pais, Rigoberto e Cristina, optaram por emigrar para o México e depois, Costa Rica. O destino desse homem viajante e revolucionário estava traçado desde seus primeiros dias de vida. Na década de 1970, ele voltou ao país natal e ingressou na Universidade Central da Venezuela para estudar jornalismo.
"Fomos uma geração que condenou os atentados à liberdade de expressão no continente em nossa época. Não podíamos expressar nossas ideias sem ter um chafarote [militar] ao nosso lado", contou Santiago ao Opera Mundi.
Mas a natureza lhe havia preparado um novo caminho. Em 1972, um terremoto sacudiu a Nicarágua e Carlos sentiu a necessidade de viajar ao empobrecido país centro-americano para registrar o fato. Embarcou em um avião da força militar venezuelana e chegou à Nicarágua. Depois da experiência no país, voltou a Caracas com o objetivo de concluir os estudos de jornalismo, mas seu espírito de viajante o levou a Buenos Aires, Argentina – onde, garante – foi motorista da cantora popular Mercedes Sosa e do fotógrafo de Jorge Luis Borges.
Santiago fez uma última parada de sua peregrinação na Europa, para depois se firmar na América Central, onde conduziu o projeto de uma rádio na costa atlântica depois da revolução sandinista de 1979, que derrubou o ditador Anastasio Somoza (1967-1979). Ele explicou que se interessou por El Salvador quando soube do assassinato do arcebispo Oscar Arnulfo Romero.
Radio Venceremos
Santiago contou que estava na Nicarágua quando membros da FMLN entraram em contato e o convidaram para liderar o projeto da Radio Venceremos. O venezuelano abandonou tudo e juntou-se à guerrilha salvadorenha em dezembro de 1980. Segundo o comando da FMLN, a rádio deveria estar no ar no dia 10 de janeiro de 1981, data em que a guerrilha lançaria a primeira ofensiva militar a fim de tomar o poder em El Salvador. Mas o dia se aproximava e a emissora não funcionava.
Correndo contra o tempo ao longo de vários dias de trabalho árduo, Santiago finalmente ativou "El Vikingo", como era chamado o radiotransmissor da marca Valiant Viking, adquirido a milhares de quilômetros dali, em um barco pesqueiro mexicano. "Foi um sucesso da equipe técnica, que fez funcionar a usina elétrica danificada", disse Santiago.
Segundo ele, a clandestina Radio Venceremos se transformou em referência noticiosa para as dezenas de agências internacionais que cobriam o conflito e em uma arma eficaz de propaganda. Era a voz da revolução salvadorenha. "As transmissões com mais calor, com mais emoção, aconteciam durante os bombardeios, especialmente porque driblávamos as operações militares. Nesses momentos, continuávamos transmitindo com mais adrenalina e paixão", contou.
Ante a incapacidade do exército salvadorenho de encontrar a cabine de transmissão subterrânea, surgiram vários mitos sobre a Venceremos. Alguns afirmando, por exemplo, que a rádio operava a partir da Nicarágua, governada pelos sandinistas.
Santiago se lembra de duas transmissões em especial: a primeira, assim que ativou o transmissor, e a última, realizada a partir do campanário da Catedral de San Salvador, depois da assinatura dos Acordos de Paz, em 16 de janeiro de 1992, pondo fim a 12 anos de conflito. Um relatório de 1993 da Comissão da Verdade de El Salvador disse que a guerra deixou 75 mil mortos – a maioria civis – e oito mil desaparecidos.
O projeto da Radio Venceremos naufragou depois dos acordos, em meio a divergências sobre o objetivo da emissora. "Havia duas visões contrárias, uma visão meramente mercantilista, que ao fim fracassou. Tiveram de fechar. E eu não quis participar de um projeto que não fosse um projeto sério de comunicação", explicou.
Pós-guerra
O Santiago antes barbado, descabelado e maltrapilho que sobrevivia sob a terra, em uma cabine de rádio, em nada se parece com o hoje elegante diretor do Museu da Palavra e Imagem (Mupi) de El Salvador, que em alguns momentos mostra-se receoso de lembrar o passado.
Ele abandonou a vida de viajante, se instalou em El Salvador em 1980 e se casou com a salvadorenha Georgina Hernández, com quem teve um filho, Camilo. "Dediquei-me a levantar a história dessas lutas sociais e me comprometi com o resgate da memória oral e das identidades culturais salvadorenhas", contou.
No Mupi, Santiago resgata a história ancestral e contemporânea do país. O museu guarda cerca de quatro mil vídeos da guerra, 50 mil fotos e todas as transmissões da rádio. Até desenhos animados são produzidos pela instituição.
O jornalista publicou os livros de memórias La terquedad del Izote (1992, México) e Luciérnagas en el Mozote (1996, El Salvador). Seu trabalho lhe rendeu em janeiro de 2009 o Prêmio Internacional de Cultura Príncipe Claus, da Holanda.
Ao contrário dos detratores da esquerda radical salvadorenha, Santiago vê com bons olhos o processo conduzido pelo governo da FMLN, com Mauricio Funes à frente, pois o considera uma das tantas vitórias da agremiação política, criada há três décadas. "É um processo muito interessante, muito complexo, mas que faz parte dessa construção coletiva que precisa seguir em frente, precisa continuar nos aperfeiçoando e avançar rumo às mudanças sociais pelas quais milhares e milhares pegaram em armas", afirmou.
Santiago prefere olhar para o futuro. Para ele, as lembranças dos dias na Radio Venceremos foram reduzidos a uma pequena exposição no museu, onde um aparelho de som recorda ininterruptamente uma de suas longínquas transmissões: "Radio Venceremos, transmitindo seu sinal de liberdade desde Morazán, pela conquista da democracia e da paz para El Salvador. Radio Venceremos, voz operária, camponesa e guerrilheira..."
.
"Radio Venceremos, transmitindo seu sinal de liberdade desde Morazán, pela conquista da democracia e da paz para El Salvador. Radio Venceremos, voz operária, camponesa e guerrilheira...". Por meio da voz e sem disparar uma única bala, Santiago obteve sua primeira vitória de guerra. Foi no momento em que ligou o transmissor da Radio Venceremos, emissora clandestina que animou a luta da hoje extinta guerrilha esquerdista da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) durante 12 anos, até a assinatura dos Acordos de Paz de 1992.
A guerra civil salvadorenha (1980-1992) foi fomentada por uma série de atos repressivos praticada pelo governo salvadorenho e por grupos paramilitares. A violência atingiu seu ápice com o assassinato do arcebispo de San Salvador, Oscar Arnulfo Romero, por um comando ultradireitista na tarde de 24 de março de 1980. Dos altares, Romero defendia o diálogo de paz e denunciava a injustiça social, os altos níveis de pobreza e os crimes políticos atribuídos aos governos da época.
Dezoito anos depois, Santiago relembra, em seu confortável escritório em San Salvador, aqueles momentos de uma vida intensa na intempérie, em meio a combates e bombas, cheios de transmissões históricas e inúmeras anedotas ao lado de seus companheiros no estúdio instalado no subsolo da selva salvadorenha, no estado de Morazán – um dos territórios mais disputados durante a guerra civil.
O tempo tingiu de branco os cabelos e a barba desse jornalista sexagenário de origem venezuelana. O rosto demonstra cansaço, apesar da distância da intensidade do trabalho de radialista, mas ele garante que ainda presta serviços no "campo da comunicação".
Carlos Henríquez Consalvi nasceu em janeiro de 1947 no estado de Mérida, oeste da Venezuela. Conheceria o exílio ainda na primeira infância, já que seus pais eram opositores ferrenhos do presidente militar, o general Marcos Pérez Jiménez (1952-1958).
Diante das perseguições do regime venezuelano, seus pais, Rigoberto e Cristina, optaram por emigrar para o México e depois, Costa Rica. O destino desse homem viajante e revolucionário estava traçado desde seus primeiros dias de vida. Na década de 1970, ele voltou ao país natal e ingressou na Universidade Central da Venezuela para estudar jornalismo.
"Fomos uma geração que condenou os atentados à liberdade de expressão no continente em nossa época. Não podíamos expressar nossas ideias sem ter um chafarote [militar] ao nosso lado", contou Santiago ao Opera Mundi.
Mas a natureza lhe havia preparado um novo caminho. Em 1972, um terremoto sacudiu a Nicarágua e Carlos sentiu a necessidade de viajar ao empobrecido país centro-americano para registrar o fato. Embarcou em um avião da força militar venezuelana e chegou à Nicarágua. Depois da experiência no país, voltou a Caracas com o objetivo de concluir os estudos de jornalismo, mas seu espírito de viajante o levou a Buenos Aires, Argentina – onde, garante – foi motorista da cantora popular Mercedes Sosa e do fotógrafo de Jorge Luis Borges.
Santiago fez uma última parada de sua peregrinação na Europa, para depois se firmar na América Central, onde conduziu o projeto de uma rádio na costa atlântica depois da revolução sandinista de 1979, que derrubou o ditador Anastasio Somoza (1967-1979). Ele explicou que se interessou por El Salvador quando soube do assassinato do arcebispo Oscar Arnulfo Romero.
Radio Venceremos
Santiago contou que estava na Nicarágua quando membros da FMLN entraram em contato e o convidaram para liderar o projeto da Radio Venceremos. O venezuelano abandonou tudo e juntou-se à guerrilha salvadorenha em dezembro de 1980. Segundo o comando da FMLN, a rádio deveria estar no ar no dia 10 de janeiro de 1981, data em que a guerrilha lançaria a primeira ofensiva militar a fim de tomar o poder em El Salvador. Mas o dia se aproximava e a emissora não funcionava.
Correndo contra o tempo ao longo de vários dias de trabalho árduo, Santiago finalmente ativou "El Vikingo", como era chamado o radiotransmissor da marca Valiant Viking, adquirido a milhares de quilômetros dali, em um barco pesqueiro mexicano. "Foi um sucesso da equipe técnica, que fez funcionar a usina elétrica danificada", disse Santiago.
Segundo ele, a clandestina Radio Venceremos se transformou em referência noticiosa para as dezenas de agências internacionais que cobriam o conflito e em uma arma eficaz de propaganda. Era a voz da revolução salvadorenha. "As transmissões com mais calor, com mais emoção, aconteciam durante os bombardeios, especialmente porque driblávamos as operações militares. Nesses momentos, continuávamos transmitindo com mais adrenalina e paixão", contou.
Ante a incapacidade do exército salvadorenho de encontrar a cabine de transmissão subterrânea, surgiram vários mitos sobre a Venceremos. Alguns afirmando, por exemplo, que a rádio operava a partir da Nicarágua, governada pelos sandinistas.
Santiago se lembra de duas transmissões em especial: a primeira, assim que ativou o transmissor, e a última, realizada a partir do campanário da Catedral de San Salvador, depois da assinatura dos Acordos de Paz, em 16 de janeiro de 1992, pondo fim a 12 anos de conflito. Um relatório de 1993 da Comissão da Verdade de El Salvador disse que a guerra deixou 75 mil mortos – a maioria civis – e oito mil desaparecidos.
O projeto da Radio Venceremos naufragou depois dos acordos, em meio a divergências sobre o objetivo da emissora. "Havia duas visões contrárias, uma visão meramente mercantilista, que ao fim fracassou. Tiveram de fechar. E eu não quis participar de um projeto que não fosse um projeto sério de comunicação", explicou.
Pós-guerra
O Santiago antes barbado, descabelado e maltrapilho que sobrevivia sob a terra, em uma cabine de rádio, em nada se parece com o hoje elegante diretor do Museu da Palavra e Imagem (Mupi) de El Salvador, que em alguns momentos mostra-se receoso de lembrar o passado.
Ele abandonou a vida de viajante, se instalou em El Salvador em 1980 e se casou com a salvadorenha Georgina Hernández, com quem teve um filho, Camilo. "Dediquei-me a levantar a história dessas lutas sociais e me comprometi com o resgate da memória oral e das identidades culturais salvadorenhas", contou.
No Mupi, Santiago resgata a história ancestral e contemporânea do país. O museu guarda cerca de quatro mil vídeos da guerra, 50 mil fotos e todas as transmissões da rádio. Até desenhos animados são produzidos pela instituição.
O jornalista publicou os livros de memórias La terquedad del Izote (1992, México) e Luciérnagas en el Mozote (1996, El Salvador). Seu trabalho lhe rendeu em janeiro de 2009 o Prêmio Internacional de Cultura Príncipe Claus, da Holanda.
Ao contrário dos detratores da esquerda radical salvadorenha, Santiago vê com bons olhos o processo conduzido pelo governo da FMLN, com Mauricio Funes à frente, pois o considera uma das tantas vitórias da agremiação política, criada há três décadas. "É um processo muito interessante, muito complexo, mas que faz parte dessa construção coletiva que precisa seguir em frente, precisa continuar nos aperfeiçoando e avançar rumo às mudanças sociais pelas quais milhares e milhares pegaram em armas", afirmou.
Santiago prefere olhar para o futuro. Para ele, as lembranças dos dias na Radio Venceremos foram reduzidos a uma pequena exposição no museu, onde um aparelho de som recorda ininterruptamente uma de suas longínquas transmissões: "Radio Venceremos, transmitindo seu sinal de liberdade desde Morazán, pela conquista da democracia e da paz para El Salvador. Radio Venceremos, voz operária, camponesa e guerrilheira..."
.
Um DNA dos jornais argentinos
Reproduzo artigo de Stella Calloni, publicado no jornal mexicano La Jornada:
Sob um clima de tensões e preocupações, começaram no dia 7 de junho, no Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG), as perícias para determinar se as duas crianças adotadas pela diretora do jornal e do Grupo Clarín, Ernestina Herrera de Noble, durante a última ditadura argentina (1976-1983), são filhos de desaparecidos políticos.
Depois de se esquivar de todo tipo de obstáculos impostos pelos advogados de Ernestina para impedir o exame, a Justiça argentina conseguiu se impor e fazer reunir dados genéticos importantes que podem determinar, em um lapso de 29 a 45 dias, se Felipe e Marcela Noble estão entre as 500 crianças roubadas pelos militares.
No BNDG, está guardada uma quantidade de mostras de DNA de familiares, recolhidas depois de um árduo trabalho das Avós da Praça de Maio, que procuram seus netos e denunciam há anos o plano sistemático utilizado pelos agentes da ditadura, que mantinham com vida as mulheres grávidas que sequestravam em operações de guerra suja e, depois que estas tinham seus filhos em condições atrozes, nos centros clandestinos de detenção ou hospitais das Forças Armadas, os arrancavam para entregá-los para a adoção.
Obstáculos
Mais de cem crianças foram encontradas, já jovens, em mãos de militares, policiais ou amigos destes. Há anos, Ernestina Herrera de Noble burla as disposições judiciais. Seus advogados pediram a recusa da juíza Sandra Arroyo Salgado, que ficou à frente da causa depois de ter ordenado o afastamento do magistrado anterior, Conrado Bergesio, que cometeu irregularidades para impedir os testes de DNA.
A Câmara Federal de San Martín estuda o assunto. A juíza não aceitou a recusa da família Noble e demonstrou que tem documentados todos os passos que deu, para impedir que se tente forçar seu afastamento do caso, como se fez até agora.
Tal medida já foi tomada em outros momentos. Vale lembrar o caso de Evelyn Vázquez – apropriada pelo militar da Marinha Policarpio Vázquez e sua esposa Ana Ferra –, que se negava a cumprir a lei que obriga a determinar a identidade nesses casos. Em fevereiro de 2008, a Justiça ordenou a polícia a entrar em sua residência para retirar material pessoal. O Banco de Dados confirmou, finalmente, que a jovem era filha de Susana Pegoraro e Rubén Bauer, desaparecidos durante a ditadura.
A vice-presidente da Avós da Praça de Maio, Rosa Roisinblit, lembrou que, “durante 20 anos, Evelyn disse que não queria prejudicar seu pai. Agora que se sabe quem são seus pais, vai se dar conta de que não o prejudicará, porque ele mesmo reconheceu o delito de apropriação”.
Abraço simbólico
Outros jovens filhos de desaparecidos que recuperaram sua identidade nos últimos dois anos denunciaram as ações do advogado dos Noble, que tenta pôr em dúvida o BNDG. Eles destacaram que, se alguém pode burlar a lei porque é poderoso economicamente, então tudo que se conseguiu até agora para se fazer justiça se perderá.
Centrais sindicais como a Central de Trabalhadores Argentinos (CTA) e outras organizações sociais deram, no mesmo dia 7, um abraço simbólico no Hospital Durand, onde fica o BNDG, para defender a lei em um tema tão sensível como o das crianças apropriadas e repartidas como botim de guerra.
No ato de abertura dos envelopes que guardavam as prendas dos filhos de Ernestina Herrera de Noble, estiveram presentes a juíza Sandra Arroyo, peritos, advogados das partes e o jornalista e advogado Pablo Llonto, denunciante nessa causa.
Escândalo
Enquanto isso, continua crescendo o escândalo pela forma com que os grupos de comunicação Clarín, La Nación e La Razón passaram a controlar a companhia Papel Prensa, produtora de papel de jornal, durante a ditadura. Ao testemunho da viúva de David Graiver – dono original da empresa, morto em um estranho acidente de aviação –, que relatou as terríveis torturas que ele sofreu durante o regime militar para que entregasse suas ações, se uniu a voz de Rafael Ianover, que foi vice-presidente da companhia entre 1973 e 1977.
Ele afirmou que, em agosto de 1976, ao regressar à sua casa, encontrou sua família sendo ameaçada por um grupo armado que havia revirado todo o local. A partir de então, começou um processo extorsivo e se chegou ao extremo de fazerem-no assinar um documento de venda sem se estabelecer preço ou condições.
“Assina que não vai te acontecer nada”, lhe disseram. Pouco tempo depois, Rafael foi preso. Tais testemunhos, assim como o do ex-diretor do diário La Opinión, Jacobo Timermman, que esteve sob torturas em um centro clandestino de detenção em La Plata, província de Buenos Aires, conformam os relatos mais terríveis sobre a cumplicidade de grupos econômicos e meios de comunicação com a ditadura.
.
Sob um clima de tensões e preocupações, começaram no dia 7 de junho, no Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG), as perícias para determinar se as duas crianças adotadas pela diretora do jornal e do Grupo Clarín, Ernestina Herrera de Noble, durante a última ditadura argentina (1976-1983), são filhos de desaparecidos políticos.
Depois de se esquivar de todo tipo de obstáculos impostos pelos advogados de Ernestina para impedir o exame, a Justiça argentina conseguiu se impor e fazer reunir dados genéticos importantes que podem determinar, em um lapso de 29 a 45 dias, se Felipe e Marcela Noble estão entre as 500 crianças roubadas pelos militares.
No BNDG, está guardada uma quantidade de mostras de DNA de familiares, recolhidas depois de um árduo trabalho das Avós da Praça de Maio, que procuram seus netos e denunciam há anos o plano sistemático utilizado pelos agentes da ditadura, que mantinham com vida as mulheres grávidas que sequestravam em operações de guerra suja e, depois que estas tinham seus filhos em condições atrozes, nos centros clandestinos de detenção ou hospitais das Forças Armadas, os arrancavam para entregá-los para a adoção.
Obstáculos
Mais de cem crianças foram encontradas, já jovens, em mãos de militares, policiais ou amigos destes. Há anos, Ernestina Herrera de Noble burla as disposições judiciais. Seus advogados pediram a recusa da juíza Sandra Arroyo Salgado, que ficou à frente da causa depois de ter ordenado o afastamento do magistrado anterior, Conrado Bergesio, que cometeu irregularidades para impedir os testes de DNA.
A Câmara Federal de San Martín estuda o assunto. A juíza não aceitou a recusa da família Noble e demonstrou que tem documentados todos os passos que deu, para impedir que se tente forçar seu afastamento do caso, como se fez até agora.
Tal medida já foi tomada em outros momentos. Vale lembrar o caso de Evelyn Vázquez – apropriada pelo militar da Marinha Policarpio Vázquez e sua esposa Ana Ferra –, que se negava a cumprir a lei que obriga a determinar a identidade nesses casos. Em fevereiro de 2008, a Justiça ordenou a polícia a entrar em sua residência para retirar material pessoal. O Banco de Dados confirmou, finalmente, que a jovem era filha de Susana Pegoraro e Rubén Bauer, desaparecidos durante a ditadura.
A vice-presidente da Avós da Praça de Maio, Rosa Roisinblit, lembrou que, “durante 20 anos, Evelyn disse que não queria prejudicar seu pai. Agora que se sabe quem são seus pais, vai se dar conta de que não o prejudicará, porque ele mesmo reconheceu o delito de apropriação”.
Abraço simbólico
Outros jovens filhos de desaparecidos que recuperaram sua identidade nos últimos dois anos denunciaram as ações do advogado dos Noble, que tenta pôr em dúvida o BNDG. Eles destacaram que, se alguém pode burlar a lei porque é poderoso economicamente, então tudo que se conseguiu até agora para se fazer justiça se perderá.
Centrais sindicais como a Central de Trabalhadores Argentinos (CTA) e outras organizações sociais deram, no mesmo dia 7, um abraço simbólico no Hospital Durand, onde fica o BNDG, para defender a lei em um tema tão sensível como o das crianças apropriadas e repartidas como botim de guerra.
No ato de abertura dos envelopes que guardavam as prendas dos filhos de Ernestina Herrera de Noble, estiveram presentes a juíza Sandra Arroyo, peritos, advogados das partes e o jornalista e advogado Pablo Llonto, denunciante nessa causa.
Escândalo
Enquanto isso, continua crescendo o escândalo pela forma com que os grupos de comunicação Clarín, La Nación e La Razón passaram a controlar a companhia Papel Prensa, produtora de papel de jornal, durante a ditadura. Ao testemunho da viúva de David Graiver – dono original da empresa, morto em um estranho acidente de aviação –, que relatou as terríveis torturas que ele sofreu durante o regime militar para que entregasse suas ações, se uniu a voz de Rafael Ianover, que foi vice-presidente da companhia entre 1973 e 1977.
Ele afirmou que, em agosto de 1976, ao regressar à sua casa, encontrou sua família sendo ameaçada por um grupo armado que havia revirado todo o local. A partir de então, começou um processo extorsivo e se chegou ao extremo de fazerem-no assinar um documento de venda sem se estabelecer preço ou condições.
“Assina que não vai te acontecer nada”, lhe disseram. Pouco tempo depois, Rafael foi preso. Tais testemunhos, assim como o do ex-diretor do diário La Opinión, Jacobo Timermman, que esteve sob torturas em um centro clandestino de detenção em La Plata, província de Buenos Aires, conformam os relatos mais terríveis sobre a cumplicidade de grupos econômicos e meios de comunicação com a ditadura.
.
Assinar:
Postagens (Atom)