terça-feira, 12 de outubro de 2010

Remédios genéricos: Serra mente!

Por Altamiro Borges

Na sua campanha, o demotucano José Serra coleciona mentiras novas e antigas. Entre as novas, ele afirmou que iria “dobrar o Bolsa Família”, logo ele que sempre desqualificou esta iniciativa como “bolsa esmola” e que cortou investimentos de São Paulo nos programas de transferência de renda. Entre as velhas, o tucano repete que foi o pai do FAT e do seguro-desemprego, o que foi imediatamente desmascarado pelas centrais sindicais. A mentira mais batida, porém, é de Serra foi o criador dos remédios genéricos e “o melhor ministro da Saúde da história do país”.

Haddad desmentiu os tucanos

O decreto-lei número 793, que possibilitou a fabricação de remédios genéricos, é de 1993 e o seu autor foi Jamil Haddad, ex-ministro da Saúde de Itamar Franco. Antes, em 1991, o ex-deputado Eduardo Jorge já havia apresentado o projeto de lei 2.022, que proibia o uso de marca comercial ou fantasia nos produtos farmacêuticos e obrigava a utilização do nome genérico nos remédios comercializados no país. Ou seja: bem antes do trágico reinado de FHC e do seu egocêntrico ministro da Saúde, a política dos remédios genéricos já estava em pleno curso.

Ainda vivo, Jamil Haddad até ironizou os que tentavam se apropriar indevidamente do seu projeto: “Como de filho bonito todo mundo quer ser o pai, em 1999 foi aprovada uma lei, que era praticamente uma regulamentação dos remédios genéricos. O então ministro da Saúde, José Serra, passou a dizer que ele era o autor da lei. Eu considero uma usurpação o que está sendo enfatizado pelo PSDB. Eles não têm fundamento legal nenhum para afirmar que foi por meio daquele partido que se implantou a política dos medicamentos genéricos no país”.

Retrocessos e bondades do ex-ministro

Além de mentir sobre a autoria do projeto, os tucanos ainda foram denunciados por tentar atrasar a sua implantação. O partido cedeu às pressões do poderoso lobby da indústria farmacêutica, que ingressou na Justiça com liminares e fez chantagem diplomática a partir dos países sedes destas multinacionais. No primeiro mandato de FHC, iniciado em 1995, a implantação dos genéricos foi simplesmente arquivada. Só no final, com o desgaste do seu governo, é que ela foi retomada, com o aperto da fiscalização sobre as empresas farmacêuticas.

Para apagar as digitais de Jamil Haddad, FHC e Serra revogaram o decreto anterior e baixaram uma lei (9.787) e um novo decreto (3.181) sobre o tema. Ambos apresentaram retrocessos com relação à política anterior, fazendo concessões às multinacionais do setor. Enquanto o decreto do ex-ministro de Itamar Franco obrigava, por exemplo, que as letras do nome genérico fossem três vezes maiores do que a marca comercial, o projeto de Serra reduziu para o mesmo tamanho. Na ocasião, o presidente da Abifarma, o empresário Bandeira de Mello, elogiou a bondade de Serra para com as multinacionais. “A empresa agora poderá vender caro para quem quiser comprar”.

“Um lobista das multinacionais”

Vários estudos também desmascaram o embuste de que “Serra foi o melhor ministro da Saúde da história do Brasil”. A sua passagem pelo ministério foi um desastre para a indústria nacional de medicamentos. O setor foi totalmente desnacionalizado, beneficiando as multinacionais do setor, em especial dos EUA. A importação de insumos e remédios saltou de US$ 50 milhões, em 1990, para US$ 2,5 bilhões em 2001. “Nós viramos uma zona franca para a importação de remédios”, acusou Dante Alário Júnior, da Associação de Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac).

O incentivo dado por José Serra às importações de remédios fez com que o consumo de produtos fabricados no exterior crescesse trinta vezes, saltando da faixa de 1% para 30% do mercado. A isenção do imposto de importação bancada pelos tucanos desestimulou a produção interna, gerou forte desemprego no setor, reduziu os investimentos em pesquisa e tecnologia, causou a falência de várias indústrias nativas e elevou o preço dos remédios. Na época, alguns empresários do setor acusaram José Serra de ser “lobista das multinacionais dos medicamentos”.

Ministério virou “balcão de negócios”

Mesmo na área dos genéricos, a atuação do ex-ministro sofreu duras críticas. Ele presenteou os laboratórios estrangeiros com isenção total de impostos para importação. Certificados obtidos em órgãos de outros países, como do FDA dos EUA, eram imediatamente liberados como o rótulo de “genéricos”. Já as empresas nacionais eram obrigadas a fazer testes demorados para registrar os seus produtos, ao custo de US$ 60 mil. O resultado foi a invasão de “genéricos” estrangeiros e várias suspeitas de corrupção. Tanto que o ministério foi rotulado de “balcão de negócios”.

Quando a Polícia Federal apreendeu a agenda do lobista Alexandre Paes dos Santos, ela continha os nomes de assessores de Serra. Alguns foram acusados de extorquir empresários nacionais para liberar seus produtos. Em outro caso suspeito, batizado de “operação vampiro”, a PF desvendou uma quadrilha que atuava no Ministério da Saúde nas licitações para a compra de medicamentos. Os “vampiros” da máfia do sangue faziam parte do esquema PC Farias, mas continuaram agindo impunemente na gestão de José Serra. Ao ano, eles desviaram cerca de R$ 120 milhões.

Desmonte e surto da dengue

A política entreguista do ex-ministro José Serra causou o aumento do preço dos medicamentos – os de marca e os genéricos. No reinado tucano, as multinacionais do setor festejaram os recordes dos seus lucros. Além de prejudicar a saúde da população com os preços abusivos, Serra sabotou a indústria nacional de remédios e agravou o desemprego industrial no país. Como ministro da Saúde, sua única prioridade foi beneficiar as multinacionais do setor. Já como deputado, ele tinha cumprido o mesmo papel, atuando como lobista da lei das patentes do cartel farmacêutico.

Como se nota, é muita petulância afirmar que “Serra foi o melhor ministro da Saúde da história”. Para desmenti-lo, bastaria lembrar o surto da dengue no país. Em 2001, o grão-tucano gastou R$ 81,3 milhões em propaganda e apenas R$ 3 milhões em campanhas de combate à dengue. Como parte do desmonte neoliberal do Estado, ele demitiu seis mil mata-mosquitos contratados para eliminar os focos do Aedes Aegypti (transmissor da dengue). Resultado: em 2002 o Estado do Rio de Janeiro registrou 207.521 casos de dengue, com 63 mortes. Ou seja: Serra mente!

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FAT e seguro-desemprego: Serra mente!

Por Altamiro Borges

Uma das marcas da campanha presidencial de José Serra é a da dissimulação – para ser mais direto, da mentira. O candidato não tem como defender abertamente o programa neoliberal de desmonte do estado, da nação e do trabalho. Além de esconder seu programa, Serra está sem discurso. O chavão udenista da “ética” sucumbiu com a prisão do “vice-careca” Arruda no DF e com as denúncias de corrupção contra Yeda Crusius. Neste cenário, só resta mesmo a mentira.

Essa tática, usada à exaustão no primeiro turno, volta a ser a tônica do segundo turno. No programa de rádio e TV do PSDB, o embusteiro aparece na maior caradura afirmando ser o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do seguro-desemprego. No sítio oficial da campanha, a mentira está estampada no título: “Emenda de Serra criou o FAT e tirou o seguro-desemprego do papel”.

“Expediente para alavancar a candidatura”

Uma mentira repetida várias vezes pode virar “verdade”, já ensinava Goebbels, o marqueteiro de Hitler. Como advertiu o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), em entrevista ao blog Viomundo, “nem o FAT nem o seguro-desemprego são criações do Serra... Ele não pode usar a mentira como expediente para se promover e alavancar sua candidatura, pois ele vai perder mais credibilidade. Ainda mais hoje em dia que, graças à internet, tudo é descoberto rapidamente”.

Uma rápida pesquisa nos anais do Congresso Nacional confirma o embuste do demotucano. O autor do projeto de lei que criou o FAT foi o ex-deputado federal Jorge Uequed (PMDB-RS). O PL de número 991 foi apresentado em 11 de outubro de 1988. Já o projeto de José Serra sobre o tema foi apresentado sete meses depois, em 5 de maio de 1989, e recebeu o número 2250. Na sessão de 13 de dezembro de 1989, ele foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados devido à aprovação do projeto de Jorge Uequed.

Sarney desmente o tucano

Já no que se refere ao seguro-desemprego, José Serra volta a mentir. Na campanha presidencial de 2002, ele já havia difundido esta falsa versão. Na ocasião, numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador José Sarney desmentiu o candidato de chofre. “Não sei de onde ele tirou que criou o seguro-desemprego. O seguro foi criado no meu governo. Na época, ele era secretário de Econômica e Planejamento do governador Franco Montoro”.

Como apurou o blog Viomundo, Sarney disse a mais pura verdade – e Serra, novamente, mentiu. “O seguro-desemprego foi criado em 1986, quando Sarney ocupava a presidência da República. Foi instituído junto com o Plano Cruzado pelo decreto-lei 2.284, de 10 de março de 1986. Passou a ser concedido aos trabalhadores após a sua regulamentação, que ocorreu 40 dias depois, pelo decreto 92.608, de 30 de abril do mesmo ano”.

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Quem é o Serra dos debates?

Reproduzo artigo de Gilson Caroni Filho, publicado no sítio Carta Maior:

Quando entrou nos estúdios da Rede Bandeirantes para o segundo confronto com Dilma Rousseff, Serra parecia confiante. Afinal, pesquisas recentes indicavam que sua candidatura registrava uma curva ascendente. Amparado pelo confortável clima de terror criado por demotucanos, com auxílio inestimável do oportunismo de grupos religiosos partidários da teologia da prosperidade, "in nomine Dei”, o massacre da adversária era tratado como favas contadas. Mas, como costuma acontecer na luta política, o açodamento voraz aumenta a voltagem de fracassos inesperados.

A adversária se mostrava surpreendentemente bem mais preparada do que no encontro anterior, disparando alguns petardos para os quais o PSDB - e a mídia corporativa que lhe apóia - não encontraria proteção adequada nem mesmo no dia seguinte. Do assessor que fugiu com R$ 4 milhões da campanha a uma possível privatização do pré-sal em um caso de vitória tucana, Serra manteve a fisionomia tensa, perdendo-se nas respostas, sem conseguir esboçar contra-ataques com os detalhes que a televisão exige. O desempenho do personagem preocupou assessores e a base social que lhe dá sustentação.

Quando perguntado sobre fatos provados, respondia com evasivas. Nem mesmo a mulher, Mônica Serra, foi capaz de defender. Foge como o diabo da cruz quando são feitas comparações entre os governos FHC e Lula. Quem tirou 14 milhões da miséria, levou 32 milhões para a classe média, criando 13 milhões de empregos? Que governo fez o Brasil crescer como nunca, libertando o país dos ditames do FMI? Quem proporcionou acesso de um enorme contingente popular às universidades, mudando a fisionomia e as expectativas educacionais de uma formação social marcada pela exclusão? Sob o manto das redações que o protegem, Serra é poupado de contraditórios incômodos. Quando exposto ao confronto, sobram o sorriso nervoso e as mãos trêmulas no ar.

Ficou claro, no debate de ontem, que Serra promete coisas sem base e silencia sobre como vai cumpri-las. Chegou o momento de mostrar, às claras, quem é o ex-governador que paga os piores salários do Brasil para os professores e policiais de São Paulo, recusando qualquer possibilidade de diálogo com representantes das duas categorias. Serra envereda pela ficção quando diz que criou os genéricos e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). E mente quando diz que tirou do papel o Seguro-Desemprego.

Nos próximos encontros, Dilma deve mostrar ao país o perigo de ter religiosos fundamentalistas dando palpite na administração pública. Precisa alertar que nas regiões metropolitanas, em comunidades carentes, além da crônica falta do Estado, os poderes conferidos a seitas e outros espertalhões, aliados a uma polícia medíocre e corrupta, acabam facilitando a vida de milicianos e traficantes. O que faz soar, no mínimo, ridícula a proposta tucana de criação de um Ministério da Segurança.

É importante indicar ao eleitor que um eventual governo Serra representará um mergulho nas trevas, com direito a TFPs, Opus Dei, Carismáticos e outras denominações legislando o nascimento de um poder assentado em bases teocráticas. Sobre isso deveria refletir uma parcela da classe média. Aquela mais apegada ao consumo que à cidadania, sócia despreocupada do rentismo e do poder nos tempos neoliberais.

Acostumada, desde a ditadura militar, à apropriação dos recursos que o mercado ou o Estado lhe ofereciam para a melhoria de seu poder aquisitivo e seu bem-estar material, ainda conserva vícios de origem, reagindo negativamente ao aumento da participação e da inclusão política de novos setores. Instalada em um desencanto abrangente, como estamento arraigado, abriga forças que não ameaçam apenas o processo democrático. O perigo vai bem além. Por tudo que vimos nessa campanha, a candidatura de Serra é incompatível com os valores mais caros à modernidade.

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Uma lembrança para Marina Silva

Reproduzo mensagem enviada por Paulo Maldos, ex-assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI):

Acho que é o caso de lembrar a Marina de onde ela estava em abril do ano 2.000.

No dia 22 de abril de 2.000 ela estava na estrada que liga Santa Cruz de Cabrália a Porto Seguro, junto com 3.600 indígenas, de mais de 180 povos, militantes do movimento negro, quilombolas, militantes do MST, estudantes, mulheres, militantes de inúmeros movimentos populares e sindicais, talvez mais de 10 mil ao todo, de todo o Brasil.

Ela tinha falado no Quilombo, que era o acampamento coletivo, no dia anterior, para alguns destes milhares de militantes.

No dia 22 de abril, logo pela manhã, foi desatada a repressão sobre todos e todas.

O Fernando Henrique estava na Cidade Alta de Porto Seguro, comemorando com o Presidente de Portugal.

Na estrada, a policia do Antonio Carlos Magalhães e as tropas do FHC jogavam bombas de gás, arrastavam negros pelos cabelos, espancavam indígenas e prendiam estudantes. Havia helicópteros e lanchas da Marinha no cerco.

Um indígena se jogou no chão da estrada, em frente dos soldados, que passaram por cima dele.

Encontrei a Marina com sua assessora Áurea, perdidas na estrada, escutando bombas e tiros próximos.

Coloquei as duas no meu carro, para escapar dali protegendo-as. Dentro do carro, a Marina falou calmamente que, se respirasse aquele gás, poderia morrer. Virei o carro para pegar um caminho de terra e ir em direção da praia. Ela pediu que não fosse, porque tinha visto soldados irem para a praia perseguindo estudantes.

Voltei com o carro prá estrada e levei a Marina até local seguro, longe da repressão e das bombas. Emocionado porque, segundo a nossa Senadora, eu talvez tivesse acabado de salvar sua vida.

Acho bom ela lembrar deste episódio neste momento, para pensar de que lado ela sempre esteve, e de que lado deve estar agora.
Um abraço fraterno

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Serra atropelado: "Anotou a placa?"

Reproduzo artigo de Sônia Correa, publicado no blog Coisas da Soninha:

O debate da Band foi de lavar a alma de qualquer militante de esquerda. Dilma foi um verdadeiro caminhão que passou por cima de Serra. E eles nem conseguiram anotar a placa.

Ontem, bem antes do debate, quando postei o texto abaixo, disse que queria ver Dilma colocar o SimSERRAmente ou o SerraMilCaras no seu devido lugar.

Também ressaltei que queria ver aquela Dilma que é firme, forte, competente, decidida, incisiva na defesa de suas posições. E vi.

Claro que era previsível que o PIG fosse manchetear (como está fazendo hoje) que Dilma teria sido “agressiva”. Notem que nesse item chama a atenção um outro preconceito: o machismo. Se um homem é enfático, ele defendeu com firmeza suas posições. Se isso acontece com uma mulher, então ela é “agressiva” e, muitas vezes “histérica”.

Pois de minha parte e, pelo que acompanhei no Twitter, também de parte da militância de todo o Brasil, a contundência com que Dilma se posicionou no debate foi o melhor que podia ter acontecido. Incendiou a militância, em minha opinião. Deu gás à campanha. Encheu de tesão.

Era necessário mostrar que a campanha dos adversários do povo se baseia na calúnia, na baixaria, na mentira e nas mil caras de José Serra. E eu acho que precisamos elevar ainda mais o tom. Precisamos, por exemplo, desmascarar o programa de Serra onde ele fala sobre educação e valorização dos professores. Mostrem que tipo de valorização defende José Serra, botando a polícia paulista para bater nos professores.

Quanto ao debate do aborto, acho que não temos mais que comer a isca “deles”. Defendemos a vida e ponto. Não aceitamos que milhares de mulheres sejam vítimas de açougueiros mercenários. Assunto encerrado.

Quer falar da Erenice? Pois que Dilma diga mais do estar indignada. Que esclareça que sua posição é exigir apuração e punição de quem quer que seja. Agora, por que não pedirmos também que se apure o motivo pelo qual as empresas brasileiras privatizadas por FHC tenham sido vendidas a troco de banana podre.

O Brasil de Dilma, Lula e do povo brasileiro não é o Brasil do orelhão. É o Brasil da Banda Larga para todos os brasileiros. É o Brasil que tirou milhões de brasileiros da linha da miséria. Que ampliou a classe média, que foi recordista no acesso a diversos bens de consumo, que levou luz para o campo, que está tratando – como nunca antes ocorreu – do imenso déficit habitacional.

Sou mais Dilma e, se é para ser agressivos, sejamos fazendo as comparações entre as incomensuráveis realizações voltadas para o povo brasileiro, iniciadas pelo presidente Lula, e as realizações de FHC/Serra voltadas para os ricos e poderosos. E, é justamente esta diferença que faz com que eles se desesperem como cães famintos pelo osso da presidência do Brasil.

Quanto à nós, seguiremos passando por cima deles no caminhão da esperança, do desenvolvimento e da valorização dessa gente brasileira que constrói nosso gigante verde-amarelo.

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Renato Rabelo: "Bravo, Dilma!"

Reproduzo artigo de Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, publicado no sítio Vermelho:

O primeiro debate do 2º turno entre os candidatos a presidente da República na TV Bandeirantes revelou o melhor momento de Dilma Rousseff nesse tipo de disputa. Ela se portou com veemência, convicção e, aliás, com muita serenidade diante das provocações rasteiras, agressivas e insidiosas de que tem sido alvo. Enfrentou com indignação e altivez a campanha sórdida perpetrada contra ela.

José Serra, em muitos momentos do debate, desde o começo, sentiu-se desnudado, sem respostas. A fim de esconder seu desapontamento, diversiona: vocifera que Dilma está “agressiva”. A contundência de Dilma que tirou a máscara de Serra – as suas “mil caras”, como denominou precisamente nossa candidata – é repercutida pela oposição e a mídia serrista como atitude agressiva. É obvio. É o mote que encontraram, aos vexames, para esconder o impecável desempenho de Dilma e o atônito e rebarbativo desempenho de Serra.

A reação de muitas pessoas do meu convívio fora do meio político – diga-se que alguns votaram em Marina no primeiro turno – foram eloquentes: “Agora entendo por que Lula a escolheu. Ela é de fato destemida e preparada”.

Dilma, no transcorrer das duas horas de debate, procurou demonstrar que Serra não apresentou nenhum projeto para o país, esconde o desastre do passado governo tucano de FHC – e ele foi destacado defensor do que diziam os documentos dessa época: “O maior plano de privatizações da história no mundo”.

Dilma reagiu com justeza à situação em que Serra, sem projeto a apresentar, agindo com seu sistema de apoio, apelou para o nível da baixaria, da mentira e deturpação grosseira, explorando valores caros ao povo, para incitá-lo vergonhosamente contra a sua candidatura. É tudo isso que Dilma, numa nova atitude, procurou responder nesse debate de domingo.

Logo no primeiro bloco do debate, em face da pergunta lançada de qual o maior desafio para o futuro governo nacional, Serra revelou o seu limite: reduziu essa questão central para o futuro da nação a algumas medidas mal alinhavadas para educação. Dilma foi direta na questão do desafio central para o Brasil: desenvolvimento robusto com distribuição de renda e crescimento sustentado.

Este é o caminho a ser perseguindo. Porque, sem um desenvolvimento acelerado do país, não iremos alcançar uma educação para todos de qualidade, assim também no caso da saúde e outras exigências sociais fundamentais. É certo que, no projeto nacional de desenvolvimento, a educação ocupa papel nodal. Dilma enfocou o desafio no seu verdadeiro contexto, demonstrando o caminho e um horizonte para o Brasil.

O debate sustentado por Dilma trouxe a lume que o candidato tucano não tem um projeto explícito e apenas apresenta receitas pontuais demagógicas (salário mínimo de R$ 600, sendo que antes os tucanos não conseguiram sequer elevar o salário mínimo a mais de 80 dólares), ou “pré-projetos pilotos”, sem dimensão em relação ao tamanho do problema a ser enfrentado – clínica de 90 leitos para atender população de mais de 400 mil dependentes químicos. Mostrou que ele esconde o desastre do passado governo tucano de FHC, com investimentos reduzidos e contidos pela tutela ao FMI tornando a infra-estrutura sucateada, hoje sem nenhuma autoridade para criticar as inúmeras obras dos ambiciosos PAC 1 e PAC 2 iniciadas pelo governo Lula.

Também Dilma denunciou que ela, quando assumiu a presidência do Conselho da Petrobras, no primeiro governo Lula, encontrou planos de “esquartejamento” desta empresa estatal, dividindo-a em fatias, preparando sua privatização por partes. Dilma também acentuou a posição defendida pelo esquema de Serra, e sem uma orientação nítida da parte dele, em mudar o projeto apresentado pelo governo sobre o pré-sal, dando-lhe uma natureza privatista, entregando aos grandes monopólios internacionais a exploração de tamanha riqueza, componente essencial para o alcance de uma nação moderna e próspera.

Dilma teve o protagonismo durante o transcorrer de todos os blocos, demonstrando profundo conhecimento do governo nacional e do Brasil.

Bravo, Dilma!

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Aos que me cobram uma posição…

Reproduzo artigo da jornalista Hildegard Angel, publicado em seu blog:

Aos que me cobram por nada ter falado neste blog a respeito da eleição, desde o último domingo das urnas, eis o que tenho a dizer. Por enquanto...

Para superar Dilma Rousseff, como pretendem os tucanos, José Serra tem um caminho longo e difícil a percorrer, passando dos 33% que mereceu no primeiro turno para 51% nas urnas do segundo. Para isso, o que já se percebe é que sua campanha deverá jogar ainda mais pesado junto à ala conservadora que deu a Marina os 6% a mais que ela não tinha. E o jogo pesado já começou, trazendo de volta à pauta o mesmo “discurso do aborto” que tirou uma eleição de Lula no último minuto do segundo tempo, com aquela acusação de Miriam Cordeiro, hoje sabidamente falsa, mas que na época serviu aos propósitos dos opositores...

No recente primeiro turno, vimos coisas de arrepiar, como jornalistas, ditos liberais, da grande imprensa irem ao Clube Militar no Rio defender a 'democracia' unidos aos milicos de pijama, os mesmos daquele tempo negro do país; vimos Cesar Maia, em seu blog, defender como 'tática' de ataque apontar o risco de 'chavenização' do Brasil com Dilma; vimos uma saraivada de e-mails ofensivos, com mentiras e covardias, construindo uma falsa imagem da candidata Dilma, identificando-a com a truculência, quando ser truculento é participar sem nenhum escrúpulo de uma tal campanha difamatória, habilmente pensada, construída e orientada. Um verdadeiro vale-tudo...

Nessa estratégia de matar ou morrer, vemos agora, com ainda mais escândalo, um manifesto com diretrizes do Comando de Caça aos Comunistas ser distribuído em reunião do PSDB; vemos o aborto na ordem do dia; vemos o Estadão demitir articulista porque emitiu opinião diferente da voz de comando da redação 100% pró-Serra – e justamente o jornal que levantou sua voz contra uma suposta 'censura' (!!)...

É a campanha do mata-mata, do salve-se quem puder, numa violência de dar inveja até aos mais raivosos momentos do lacerdismo. Ética, bons costumes, palavra, honradez, tudo isso posto de lado por um tempo, justamente por aqueles que se arvoram de donos da moral...

Resta saber se o eleitor concorda que tudo seja mesmo válido até se alcancar o objetivo do poder; até se conseguir destronar a possibilidade de continuidade de um governo que dá certo, que é sucesso em todas as áreas, que tira o miserável da miséria, o pobre da pobreza, que faz o rico produzir, que gera empregos, que enriquece o país, que nos levou ao tão anunciado, desde sempre, fim do túnel onde enfim encontramos a tal luz tão falada...

Um governo que nos retirou da escuridão da ausência de perspectivas, que faz jovens que haviam partido em busca de oportunidades retornarem ao Brasil, que atrai os investidores estrangeiros...

Temos, com tristeza e vergonha, presenciado uma maratona de maldades e artimanhas patrocinadas por parte da grande mídia em conluio, uma lavagem cerebral nos eleitores querendo convencê-los de que o amarelo é verde, distorcendo a realidade...

Mas não é apenas essa campanha vexatória que ameaça Dilma. O entorno da candidata também tem deixado bastante a desejar. Quando, na última semana da campanha, foi detectado o estrago da 'bala de prata' do aborto, eles deveriam ter mudado seu programa de TV. E não mudaram. Ficaram engessados dentro de uma agenda previamente estabelecida, sem qualquer agilidade...

A campanha apócrifa do medo contra Dilma, através de e-mails e boatos, prosperou sem contra-ataques, sem desmentidos incisivos, sem praticamente qualquer reação dos petistas. Outro erro fatal que impediu a vitória no primeiro turno...

Fizeram falta, também, nos programas da campanha na TV, os depoimentos de personalidades que formam opinião, conhecem Dilma e podem falar sobre ela com propriedade. E esses depoimentos existem, como aquele magnífico dado por Maria da Conceição Tavares, que permanece restrito aos blogs da internet. A cantora Alcione também gravou um depoimento muito bom, que o grande público da TV não viu...

E a última falha foi da própria Dilma, que não ganhou o debate da Globo, empatou, quando poderia ter saído vencedora se, em vez de se retrair, tivesse abordado diretamente, por sua iniciativa, o caso Erenice, a questão do aborto e a própria campanha de medo que a apresentava e ainda a apresenta como uma 'Chavez de saias', o que ela definitivamente não é...

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Guerra suja na campanha eleitoral

Reproduzo artigo do professor Venício A. de Lima, publicado no Observatório da Imprensa:

As campanhas eleitorais têm servido para revelar, de forma inequívoca, qual a ética empresarial e jornalística que predomina na grande mídia brasileira.

Os episódios recentes relacionados à demissão de conceituada articulista do Estado de S.Paulo, assim como a ação da Folha de S.Paulo, que obteve na Justiça liminar para retirada do ar do blog de humor crítico Falha de S.Paulo, são apenas mais duas evidências recentes de que esses jornalões adotam, empresarialmente e dentro de suas redações, práticas muito diferentes daquelas que alardeiam em público.

Como se sabe, o Estadão é o jornal que afirma diariamente estar sofrendo "censura" judicial, há vários meses.

Tratei do tema neste Observatório quando da demissão do jornalista Felipe Milanez, editor da revista National Geographic Brasil, publicada pela Editora Abril, por ter criticado, via Twitter, a revista Veja.

Corre solta também, na internet, uma guerra - e, como toda guerra, sem qualquer ética - de manipulação da informação, agora tendo como aliados partidos de oposição e os setores mais retrógrados das igrejas católica e evangélica, incluindo velhas e conhecidas organizações como o Opus Dei e a TFP.

Ademais, uma série de panfletos anônimos sobre candidatos e partidos, de conteúdo mentiroso e manipulador, tem aparecido e circulado em diferentes pontos do país, aparentemente de forma articulada.

Estamos chegando ao "primeiro mundo". Repetem-se aqui as estratégias políticas obscuras que já vem sendo utilizadas pelos radicais conservadores ligados - direta ou indiretamente - à extrema direita do Partido Republicano - o "Tea Party" - e também pela chamada "Christian Right", nos Estados Unidos.

A bandeira da liberdade de expressão equacionada, sem mais, com a liberdade de imprensa, não passa de hipocrisia.

Começou com o PNDH3

A atual onda, que acabou por deslocar o eixo da agenda pública da campanha eleitoral e da propaganda política no rádio e na televisão para uma questão de foro íntimo e religioso, teve seu início na violenta reação ao Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3), capitaneada pela grande mídia. Na época, escrevi:

"O curto período de menos de cinco meses compreendido entre 21 de dezembro de 2009 e 12 de maio de 2010 foi suficiente para que as forças políticas que, de fato, há décadas, exercem influência determinante sobre as decisões do Estado no Brasil, conseguissem que o governo recuasse em todos os pontos de seu interesse contidos na terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (Decreto n. 7.037/2009). Refiro-me, por óbvio aos militares, aos ruralistas, à Igreja Católica e, sobretudo, à grande mídia."

São essas forças políticas - com seus paradoxos e contradições - que agora se unem novamente para tentar influir no resultado das eleições presidenciais de 2010, valendo-se da "ética" de que "os fins justificam os meios".

Lições

A essa altura, já podem ser observadas algumas lições sobre a mídia e suas responsabilidades no processo político de uma democracia representativa liberal como a nossa:

1. Não é apenas a grande mídia que tem o poder de pautar a agenda do debate público. A experiência atual demonstra que, em períodos eleitorais, essa agenda pode ser pautada "de fora" quando há convergência de interesses entre forças políticas dominantes. Elas se utilizam de seus próprios recursos de comunicação (incluindo redes de rádio e televisão), redes sociais (p. ex. Twitter) e correntes de e-mail na internet. A grande mídia, por óbvio, adere e abraça a nova agenda por ser de seu interesse.

2. Fica cada vez mais clara a necessidade do cumprimento do "princípio da complementaridade" entre os sistemas de radiodifusão (artigo 223 da Constituição). Seria extremamente salutar para a democracia brasileira que o sistema público de mídia se consolidasse e funcionasse, de fato, como uma alternativa complementar ao sistema privado.

3. Independente de qual dos candidatos vença o segundo turno das eleições presidenciais, a regulação do setor de comunicações será inescapável. Não dá mais para fingir que o Brasil é a única democracia do planeta onde os grupos de mídia devem prosseguir sem a existência de um marco regulatório.

4. O artigo 19 da Constituição reza:

É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I- Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na formada lei, a colaboração de interesse público.


Apesar de ser, portanto, claro o caráter laico do Estado brasileiro, na vida real estamos longe, muito longe, disso.

5. Estamos também ainda longe, muito longe, do ideal teórico da democracia representativa liberal onde a mídia plural deveria ser a mediadora equilibrada do debate público, representando a diversidade de opiniões existentes no "mercado livre de idéias". Doce ilusão.

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TV Globo esconde homem-bomba do Serra

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Dilma trouxe Paulo Preto para o debate da “Band”. Se você não sabe quem é Paulo Preto, não se culpe. A velha mídia escondeu a história. Em maio, duas revistas fizeram matérias discretas sobre o tal personagem, que seria ligado a Aloysio Nunes Ferreira (eleito senador pelo PSDB-SP) e teria arrecadado “recursos não-contabilizados” para a campanha tucana. Os detalhes você pode ler aqui.

Logo depois, o assunto sumiu da mídia. Imaginem se Paulo Preto fosse do PT?

A “Folha” já teria pedido a prisão do sujeito. Já haveria provas da ligação dele com Zé Dirceu e Dilma. Mas como Paulo Preto é tucano…

Dilma perguntou a Serra sobre Paulo Preto no debate. Serra fingiu que não ouviu. Hoje, a imprensa perguntou a Serra sobre Paulo Preto, Serra não quis falar.

O “Jornal da Record” fez reportagem sobre Paulo Preto.

A Globo, não. A Globo não gosta de mostrar Preto na tela.

Leia aqui o texto do R-7 – que explica quem é Paulo Preto e mostra como Serra fugiu do assunto.

Leia trecho da reportagem do R-7, que traz informações da revista “Istoé” sobre o engenheiro Paulo Preto – amigo dos tucanos de São Paulo:

A revista diz que “segundo dois dirigentes do primeiro escalão do PSDB, o engenheiro arrecadou “antes e depois de definidos os candidatos tucanos às sucessões nacional e estadual”. Os R$ 4 milhões seriam referentes apenas ao valor arrecadado antes do lançamento oficial das candidaturas, “o que impede que a dinheirama seja declarada, tanto pelo partido como pelos doadores”, relata a revista.

A IstoÉ diz ainda que “até abril, Paulo Preto ocupou posição estratégica na administração tucana do Estado de São Paulo”. Foi diretor de engenharia da Dersa, estatal responsável por obras como a do Rodoanel, “empreendimento de mais de R$ 5 bilhões, e a ampliação da marginal Tietê, orçada em R$ 1,5 bilhão – ambas verdadeiros cartões-postais das campanhas do partido”. Mas, segundo a reportagem, “Paulo Preto foi exonerado da Dersa oito dias depois de participar da festa de inauguração do Rodoanel”.


É um caso que incomoda os tucanos. Por que será, Serra? E por que a Globo não levou Preto pro ar?

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Folha: não dá mais pra ler

Reproduzo artigo de Guilherme Scalzilli, publicado em seu blog:

Decido cancelar minha assinatura da Folha de S.Paulo depois de quinze anos. Hesitei muito porque ela foi um baluarte jornalístico para minha geração. Ali acompanhei, adolescente, o movimento Diretas-Já. Colecionava encartes, discutia editoriais. Sonhava em fazer parte do quadro de colunistas do jornal. A Folha era bacana, moderna, quase obrigatória.

Planejava o divórcio há algum tempo, mas o adiei porque estava curioso para conhecer a reforma gráfica e as mudanças prometidas pelo novo editor-executivo, o jovem e talentoso Sérgio Dávila. Dupla decepção.

A questão do design é comodamente subjetiva. Sempre haverá o cinismo "especializado" a bafejar que o objetivo era mesmo esse, qualquer que seja o resultado. E o leitor se acostuma a tudo. Inclusive à mancha horrorosa no alto das capas dos cadernos, ou à tipologia que parece colhida nas Publicações Acme dos desenhos animados.

Convenhamos, foram muitos esforços humanos e financeiros para se chegar a resultado tão pífio. A Folha perdeu sua cara. Pior, ficou feia. Mesmo os raros acertos têm ar de cópia ou improviso. O tabloide Esportes remete a similares estrangeiros, como o argentino Olé. As redundantes artes explicativas ocupam espaço injustificável.

Vitrine de conservadorismo provinciano

A reforma editorial trouxe verniz de imparcialidade à cobertura política. Mas o tratamento dispensado aos candidatos presidenciais de 2010 segue tendencioso, para dizer o mínimo. A Folha demonstraria mais respeito pela inteligência dos leitores se deixasse de lado a hipocrisia apartidária, assumindo suas evidentes preferências eleitorais. Assim não precisaria usar subterfúgios rasteiros para disfarçá-las.

Eu apurei que a divulgação de factoides sem o devido embasamento é o instrumento ideal para destruir reputações e favorecer projetos obscuros. Profissionais ouvidos no meio enxergam na indiscriminada ocultação de fontes um salvo-conduto para qualquer abuso difamatório.

Ao privilegiar diplomados, a Folha assimilou a baixa qualidade da formação universitária em jornalismo. Os equívocos gramaticais e técnicos são abundantes. A recente inserção de análises pontuais remenda mal os defeitos do noticiário, pois tenta impor vaticínios duvidosos de manjados profissionais que inevitavelmente possuem algum interesse nas questões abordadas. Os jargões de release escancaram o pendor publicitário dos cadernos de variedades, que repetem pautas convenientes à indústria do entretenimento (basta ver as matérias sobre canais pagos e leis de incentivo). Salvo honrosas exceções, os juízos estéticos de seus repórteres são risíveis.

Mas não existe decadência mais constrangedora que a dos espaços regulares de opinião. Abandonando qualquer ilusão de pluralidade, o jornal transformou-se em vitrine para um conservadorismo provinciano, medíocre e repetitivo.

Tratado como idiota

Diante da riqueza de nosso mundo acadêmico, a opção por Demetrio Magnoli, Boris Fausto e Marco Antonio Villa chega a parecer acintosa. Os chiliques elitistas de Danuza Leão, o udenismo de Fernando de Barros e Silva, as interjeições antipetistas de Eliane Cantanhêde ("massa cheirosa", gente?), o neo-reacionarismo de Ferreira Gullar e os venenos de Josias de Souza envergonham a direita esclarecida e republicana que eles talvez julguem representar.

Alguém realmente prefere João Pereira Coutinho a Jorge Coli? Luiz Carlos Mendonça de Barros a Paulo Nogueira Batista Jr? Quem faz contraponto ao serrismo de Elio Gaspari? A tolerante ombudsman Suzana Singer?

A presunção messiânica e uma lamentável falta de autocrítica impedem os editores de perceber que certas mesquinharias político-eleitorais destroem aos poucos os maiores patrimônios do jornal. Os editoriais são bobinhos, histéricos, esclerosados. As ameaças veladas ao presidente da República ("fique advertido"), em plena efervescência eleitoral, embutem um espírito autoritário e confrontador que só se viu nos piores momentos da história nacional.

Nenhuma credibilidade sobrevive à responsabilização do governo federal por acidentes aéreos, à ficha apócrifa de Dilma Rousseff, à apologia da "ditabranda" ou à acusação de que os críticos da imprensa querem censurá-la. Defender tais absurdos em nome da liberdade de expressão não é apenas irresponsável: é ilegítimo e antidemocrático.

Talvez isso explique a necessidade de operar reformulações periódicas. Como ensinam as cartilhas publicitárias, o consumo inercial e o apelo das mudanças cosméticas inibem o abandono dos produtos de uso cotidiano. Só que a estratégia também pressupõe a satisfação de certas expectativas. A Folha se distanciou dos interesses de seu público a ponto de perder o mínimo papel utilitário que se espera de um veículo informativo. Ela virou um amontoado de páginas e seções descartáveis.

Imagine receber, toda manhã, a visita de alguém que tenta iludi-lo, repetindo bobagens e distorções. Agora imagine que você paga, e caro, para ser tratado como idiota. Demora, mas chega um momento em que o prejuízo deixa de compensar.

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Serra ganha direito de resposta na Veja



Em recente evento, o demotucano José Serra, sempre tão falso e hipócrita, acabou se embananando ao falar sobre o aborto. Disse que era a favor e, segundos depois, afirmou que era contra. O blog Cloaca News, sempre atento, registrou o fato e propos uma capa bombástica para a revista Veja. Lógico que Serra conseguiu da famíglia Civita, com que mantém relações promíscuas, o imediato direito de resposta.

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Imagens do SWU que a TV Globo cortou





Integrantes do grupo Rage Against The Machine colocam bonés do MST. A TV Globo, que transmitia o festival em Itu ao vivo, simplesmente censurou as imagens. Seu ódio ao movimentos sociais é visceral, o que explica sua intensa torcida por José Serra.

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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mino Carta e a patética mídia nativa

Reproduzo artigo de Mino Carta, publicado na revista CartaCapital:

Ocorre-me recordar Claudio Marques, que se dizia jornalista como tantos outros dispostos a enganar o público e, eventualmente, a si próprio. Assinava uma coluna no Shopping News, jornal publicitário de circulação gratuita na São Paulo de 1975. Tempo de ditadura e de recrudescimento do Terror de Estado após o discurso dito “da pá de cal”, pronunciado no começo de agosto pelo ditador Ernesto Geisel para avisar aturdidos navegantes que “a distensão lenta, gradual, porém segura” haveria de sofrer uma interrupção. Foi nesta ocasião que Ulysses Guimarães, em pronunciamento na Câmara, comparou Geisel a Idi Amin Dada.

Pois Claudio Marques, caçador de comunistas agachados atrás de cada esquina, passava seu tempo a denunciar os vermelhos comandados por Vlado Herzog, a cujos cuidados estavam entregues os programas noticiosos da TV Cultura. Marques contava com a aprovação ampla, geral e irrestrita do DOI-Codi, ex-Operação Bandeirantes, e foi enfim premiado com a prisão, ou melhor, o sequestro dos jornalistas alvejados, a começar por Herzog, assassinado pelos torturadores no mesmo dia em que deu entrada no quartel do DOI-Codi. Dia 25 de outubro, um sábado.

Os tempos mudaram, felizmente. Não há mais torturadores e porões para hospedá-los e aos seus instrumentos, por exemplo. Há, entretanto, herdeiros de Claudio Marques afinados com os dias de hoje e ainda velhacos e daninhos. A semelhança entre o caçador de comunistas a serviço do DOI-Codi e esses jornalistas (jornalistas?) é percebida pela obsessiva preocupação que cultivam desde a primeira eleição de Lula com a quantidade de anúncios governistas nas páginas de CartaCapital. Trata-se, obviamente, de uma ofensa gravíssima ao pretender insinuar, com leveza de britadeira, que vendemos a alma ao Sapo Barbudo. Alguém, no meio da tigrada, proclama: CartaCapital não tem credibilidade.

Não ouso afirmar que a vice-procuradora da Justiça Eleitoral Sandra Cureau (pronuncie Quirrô) seja sucedâneo do DOI-Codi. Creio, porém, que na sua ação inquisidora desfechada contra esta publicação ela tenha levado em conta as aleivosias assacadas contra nós por sem-número de colegas (colegas?), embora não tenha dúvidas quanto à origem tucana da assoprada final e decisiva: o candidato José Serra gosta de dar telefonemas. Assim como não me abalo a crer que o nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff seja determinante. Obrigatórios sim, a definição e seus motivos desde o começo da campanha oficial, como se dera em 2002 e 2006 em relação a Lula. Dever para com os eleitores.

Registro que o Estadão no domingo 26 decidiu desvendar a evidência. Um humorista diria: surpresa, estão com o Serra, e eu que até ontem não tinha percebido. Melhor o Estadão, de todo modo, do que o resto da tropa de choque, Globo, Folha, Veja, a agirem como partido político, conforme a óbvia constatação do presidente da República. Barack Obama foi além quando disse que não daria entrevista à Fox porque esta não era órgão midiático e sim “partido político”.

Lula errou, na nossa visão, ao afirmar: “A opinião pública somos nós”. A frase é certamente perigosa. Da mesma forma foi erro incluir tempos atrás no programa de governo a criação de uma entidade destinada a classificar os órgãos da mídia ao sabor dos seus comportamentos em relação aos direitos humanos. Esta não é tarefa governista, e CartaCapital não usou meias-palavras na ocasião para condenar a iniciativa. Diga-se que o prato indigesto saiu prontamente do cardápio, graças a uma barganha lamentável pela qual se fez a felicidade dos torturadores da ditadura e dos seus mandantes, muitos já no além, ao aceitar a ideia da anistia polivalente.

CartaCapital reprovou também a criação de uma tevê pública federal por enxergar de saída o seu inescapável destino: servir ao poder contingente, como se dá com a Cultura paulista, em mãos tucanas há 16 anos. Resta ver se o Brasil estaria maduro para uma tevê estatal, nascida do entendimento de que esta há de ser uma instituição permanente a servir à nação em lugar do governo do momento. Sinceramente, não aposto nesta maturidade.

O fenômeno que mais me aflige põe-se, no entanto, a propor por quês. Por que os profissionais da mídia nativa aderem tão compacta e fervorosamente ao pensamento dos patrões? Por que lhe tomam as dores como se eles mesmos pertencessem à categoria? Uma premissa. Em termos econômicos, a situação nas redações é semelhante àquela da população brasileira em geral. Os jornalistas graúdos, assinaturas celebradas, ganham mais que os colegas americanos e europeus, e nem se fale dos salários da nossa televisão. Astronômicos, trafegamos entre nababos. Na zona cinzenta flutuam os remediados. À ralé sobra esperança. A maioria dos recém-formados não tem emprego. Este, ninguém que conseguiu quer perder.

Pode-se concluir que os graúdos curvam-se diante da generosidade patronal enquanto os miúdos em tempos bicudos contentam-se com as migalhas? Talvez a explicação valha em relação a muitos casos graúdos e miúdos. Mas há que se ressaltar, em relação a outros, o ardor com que assumem os interesses do patrão. Estamos diante de uma identificação visceral, a ponto de justificar, no meu ponto de vista, uma investigação profunda a se valer das lições de Balzac e de Freud. Ambos ficariam muito impressionados, creio eu, ao registrar que os profissionais nativos chamam o patrão de colega, e nisto são únicos no mundo. Quem sabe mais ainda Balzac do que Freud.

No mais, vale acentuar que esta unicidade, esta exclusividade, invade outros terrenos. Um: o nosso sindicato se dispõe de bom grado a oferecer aos empresários da comunicação carteirinha de jornalista. Dois: sem falar da mediocridade dolorosa, a nossa mídia é única na sua capacidade de se alinhar de um lado só na hora de uma eleição, por exemplo. E não somente nesta. Mundo democrático afora vigora o pluralismo que a Folha de S.Paulo, com inefável hipocrisia, afirma existir em suas páginas. Nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França, na Alemanha, só para citar alguns países, tem vez o jornalismo de todas as tendências. Aqui não, só existe uma, a favor da minoria privilegiada.

O que espanta é a tenacidade com que essa mídia permanece atada ao passado oligárquico. Os editoriais de hoje são absurdamente iguais àqueles de 47 anos atrás, que invocavam o golpe para impedir a cubanização do Brasil. Agora falam em mexicanização e venezuelização, e clamam contra o assalto à democracia e à liberdade de imprensa, perpetrado pelo presidente da República e seu partido e fadado a prosseguir à sombra de Dilma Rousseff.

Durante o ano de 1963 e nos primeiros meses de 1964 anunciavam a iminente marcha da subversão. Nunca passou. Veio foi a Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade, de imponentes efeitos subversivos. E lá se foi a liberdade, com a bênção dos editorialistas. Os quais aí estão agora para prestar seu solerte serviço. Salvo raras exceções, editorialistas, colunistas, articulistas. Diretores, redatores-chefes, editores, repórteres. A turma toda.

Os colegas do lado de lá, um exército, prestam-se a acusar sem provas, omitir fatos, frequentemente mentir com a expressão do dever cumprido. Encantou-me, na Folha de S.Paulo de segunda 27 a entrevista da vice-procuradora Sandra Cureau, aquela que atendeu a uma entrevista anônima para cometer uma inominável prepotência contra CartaCapital, esta sim, verdadeiro atentado à liberdade de imprensa. Mas a entrevistadora ali estava para agradar à doutora, a ponto de mencionar seus cabelos loiros e olhos azuis. Nem foi capaz, está claro, de uma única, escassa pergunta a respeito da ação movida contra nós.

Recordo que na semana passada manifestamos a certeza de que não contaríamos com a solidariedade dos barões da mídia e dos seus sabujos, bem como das chamadas entidades de classe. Aqueles são mestres em mau jornalismo. Mas será mesmo jornalismo? Quanto a estas, confirmam apenas a sua patética inutilidade. Para não dizer do viés tendencioso, ou francamente alinhado.

Patética é também um bom qualificativo para a atuação da mídia nativa ao longo deste ano, iniciado com a previsão de uma retumbante vitória tucana. E quando se viu que o ardil de Lula funcionava e que Dilma crescia graças inclusive ao seu próprio desempenho, começou a sarabanda.

Não se diga que os velhos morteiros deixaram de funcionar. É inegável, porém, que munição foi oferecida de graça pelo próprio PT, mais uma vez, do seu lado a dar tiros no pé. Está claro que o fogo aberto para denunciar ameaças à democracia e à liberdade de imprensa não passa de tentativa frustrada de invocar fantasmas do passado. Pesou, isto sim, o caso Erenice, no qual se mesclam dois fenômenos tão antigos quanto os fantasmas, contudo resistentes, dois vícios gravíssimos da tradição verde-amarela, dois pecados impredoáveis: nepotismo e clientelismo.

É espantoso: a rapaziada ainda não percebeu que o País mudou em latitude e longitude em relação à época do golpe. Certo é que a mídia detinha amplo poder há 50 anos, quadra favorável à influência dos ditos formadores de opinião. Bastava alcançar os senhores da minoria e seus aspirantes para alcançar os fins buscados.

Desta vez com o segundo turno, a mídia poderá enxergar no resultado um prêmio de consolação. Vale sublinhar, entretanto, que o PT concedeu espaço exagerado aos seus aloprados, como já houve em outras ocasiões, e mostrou, assim, lacunas sérias na organização e na união. Cabe ao presidente da República anotar que muitos dos problemas surgidos para seu governo tiveram sua origem nas fileiras petistas.

Os coronéis ainda mandavam em largas áreas e na hora da eleição lotavam a caçamba do caminhão depois de colocar a cédula preenchida nas mãos dos seus peões. Chamava-se voto de cabresto, e dava certo. Esse gênero de penosas tradições foi tragado pela transformação de um país então de 70 milhões de habitantes e hoje de 200. E com os documentos em dia para chegar logo à maioridade, à contemporaneidade do mundo.

Os senhores não apreciam a perspectiva e torcem contra. Deixa como está para ver como fica. O primeiro ato da debacle foi encenado na eleição de Fernando Henrique Cardoso e no seu segundo mandato. Cabe a ele o papel de primeiro motor da mudança, a ser concretizada no governo Lula.

FHC em 2002 lança sobre seu candidato José Serra uma sombra espessa e maligna. Com baixo índice de aprovação e pífia atuação, de sorte a deixar ao sucessor burras à míngua, o príncipe dos sociólogos torna-se cabo eleitoral de Lula. A maioria tira do governo FHC lições evidentes e parte para a votação inédita, a favor do ex-metalúrgico em vez do costumeiro bacharel engravatado. A identificação com o igual cresce naturalmente, não é imediata nas proporções que fermentarão em seguida.

A maioria não é mais aquela, a pressão dos patrões e dos capatazes não a condiciona e, principalmente, não lê jornal e ao Jornal Nacional prefere a novela e os Faustões da vida. Os editoriais e as manchetes mantêm, contudo, o tom de outrora, na desmiolada convicção de atingir a todos, do Oiapoque ao Chuí.

De todo modo, não nos iludimos quanto à possibilidade de uma redenção da mídia, pelo menos a curto prazo. Os caminhos são conhecidos porque experimentados com ótimos resultados em países mais adiantados. Difícil, por ora, percorrê-los. Trata-se de criar leis para limitar o monopólio da comunicação e conter a influência patronal nas redações, ao se cancelar, inclusive, e de vez, a figura do diretor de redação por direito divino.

Leis nesse sentido estão em vigor em países de democracia mais antiga e protegida. Aqui é dramaticamente visível, como cabo das tormentas em meio ao mar revolto, o obstáculo representado pelo próprio Congresso, que deveria debater e aprovar as novas leis. Inúmeros deputados e senadores são donos de instrumentos midiáticos e não é por aí que rapidamente chegaremos a uma solução aceitável, assim como não seria se o governo pretendesse ditar as regras.

Sobram perguntas, angustiantes: o que haverá de ler, ou ouvir, o cidadão consciente quando interessado em saber dos fatos? Em quem confiar no espectro sombrio da mídia nativa? Como distinguir entre a informação honesta e a opinião eventualmente distorcida, corrompida até pelo partidarismo?

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Rage Against the Machine, o MST e TV Globo

Reproduzo matéria publicada no sítio do MST:

O Rage Against the Machine fez uma apresentação no Festival SWU, em Itu, na noite deste sábado. Zack de la Rocha, vocalista da banda, dedicou a música "People of the sun" ao MST. Ele disse o seguinte: "Esse som vai para os irmãos e irmãs do MST: People of the sun".

Durante a música "Wake Up", o guitarrista Tom Morello vestiu o boné do MST. Misteriosamente, a TV Globo cortou a transmissão que fazia ao vivo da apresentação.

Durante encontro com militantes do MST, Zack de la Rocha afirmou que vai doar parte do cachê da banda ao movimento. "O MST tem uma experiência muito importante de solidariedade humana e na criação de espaços fora do modelo capitalista, e é muito importante para muitos de nós que, nos EUA, que estamos lutando pelas mesmas coisas. Eu acho que MST já criou um exemplo maravilhoso de luta por justiça social e econômica, é um grande exemplo para nós", declarou.

O Rage Against the Machine é uma banda de rock norte-americana, uma das mais influentes e polêmicas da década de 1990. Uma forte característica é a mescla de hip-hop, rock, funk, punk e heavy-metal, com letras enérgicas e politizadas.

Junto com a música de protesto, demonstraram a luta pela causa política, contra a censura, a favor da liberdade e em defesa dos mais pobres.

O som do grupo é bastante diferenciado, devido ao estilo rítmico e vocal de Zack de la Rocha e as técnicas únicas de Tom Morello na guitarra.

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Serra: escola ruim é culpa dos “migrantes”

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Eu ainda trabalhava na Globo, em 2006, quando Chico Pinheiro e Carla Vilhena fizeram uma bela entrevista no SPTV 1 (noticiário local que vai ao ar na hora do almoço) com José Serra – então, candidato a governador pelo PSDB. Entrevista dura, com perguntas firmes, mas respeitosas. E agiram assim, igualmente, com todos os candidatos a governador.

No meio da entrevista, Serra deixou escapar uma frase curiosa: culpou os “migrantes” pela falta de qualidade da escola paulista. Um tremendo ato falho. A elite paulista – e parte dos tucanos – nutre preconceito pelos nordestinos.

A entrevista pode ser vista aqui. O trecho sobre os “migrantes” está aos 5 minutos e 45 segundos.

O povo simples do Nordeste, e os nordestinos que vivem em todo o país, merecem saber disso, merecem assistir essa entrevista.

É preciso entender o que é hoje o núcleo duro do PSDB (que já não guarda relação com o ideário generoso – ainda que moderado – de Covas, Montoro e outros): é um partido voltado e dominado pela elite paulista.

PSDB é São Paulo. PSDB é a elite de São Paulo que não gosta de nordestino.

E o Serra, na entrevista de 2006, revela isso.

No dia da eleição mesmo, último 3 de outubro, minha irmã recebeu mensagem de uma conhecida (filha da classe média paulistana), que dizia o seguinte: “Pena que Tiririca não ofereceu passagem para os eleitores dele voltarem ao estados de origem. Seria um milhão a menos de ‘pessoas’ em São Paulo”.

Esse é o pensamento de boa parte dos eleitores do PSDB em São Paulo. Se pudessem, mandariam os nordestinos de volta.

Você não precisa gostar da Dilma ou do PT para votar contra Serra no segundo turno. Basta compreender que tipo de interesse Serra representa.

Voltando à entrevista de 2006, lembro bem: Serra saiu do estúdio da Globo furioso. Talvez por isso, pouco tempo depois, numa outra entrevista que iria ao ar no SP-TV 2 (edição da noite), o jornalista Carlos Tramontina recebeu ordens expressas do Rio de Janeiro, para cortar as perguntas duras. Aliás, recebeu do Rio exatamente as perguntas que deveriam ser feitas. A equipe do jornal ficou muito chateada, lembro bem. Porque até ali todas as entrevistas tinham sido feitas com liberdade – como aquela do Chico e Carla Vilhena.

Mas é que a Globo, sob Ratzinger, virou sucursal do projeto serrista de poder. Ou seria o contrário?

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A "neutralidade" sórdida de Josias de Souza

Reproduzo artigo de Brizola Neto, publicado no blog Tijolaço:

O blog de Josias de Souza, sob o pretexto de noticiar uma baixaria que está circulando na internet, ajuda a espalhá-la. Porque acusações de caráter sexual, ou têm uma autoria a quem possa ser atribuída – e imputada a devida responsabilidade – ou não se divulga.

Dar curso a notícia que se sabe falsa, mesmo dizendo - e sem a devida ênfase – que é falsa é fazer o jogo do boateiro anônimo e covarde.

Se, amanhã, algum anônimo fizer afirmações falsas de teor sexual contra José Serra, todos os que o divulgarem estarão metidos no jogo sujo.

E tenho certeza que o jornalista será o primeiro a não expor um homem a tal sordidez.

Esperava-se, no mínimo, o mesmo em relação a uma mulher.

Mas na hora em que se trata do que disse – e disse mesmo, saiu publicado nos jornais, sem desmentido – a mulher de José Serra, o cuidado é outro. Primeiro, ao falar que a difusão de panfletos associando Dilma ao aborto está em curso, diz que “teria sido distribuído em templos evangélicos do Rio”, enquanto o seu próprio jornal afirma que estes panfletos foram distribuídos até na reunião do PSDB. E a declaração de Monica Serra, cuja notícia reproduzo aqui do site do Estadão, sem que tivesse havido desmentido ou pedido de desculpas, é tratada no condicional:

“Sua esposa, Mônica Serra, disse o seguinte: ‘A Dilma é a favor da morte de criancinhas’.” (a fala de Dilma)

Mônica teria dirigido o comentário a um eleitor, durante caminhada pelas ruas de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense (RJ). Coisa do mês passado.

Serra esquivou-se de responder. Presente à platéia da TV Bandeirantes, Mônica não se deu por aludida. Disse que não sabe do que Dilma está falando.”


Quer dizer, fica tudo sem uma posição. Não é uma suposição, boato, nem mesmo é uma acusação. É um fato, uma declaração pública, não desmentida. Mas é tratada com indulgência fraternal.

Eu gostaria de saber como reagiria a nossa purista mídia diante de um coluna que, depois de abordar boatos mentirosos sobre uma suposta homossexualidade do candidato da direita, abordasse uma declaração pública de um dirigente da campanha de Dilma de que Serra ” é a favor de matar as criancinhas”. Tenho certeza que haveria – com justíssima razão – uma enorme grita contra a irresponsabilidade de quem o fizesse.

Mas contra Dilma, vale tudo, inclusive a sordidez disfarçada de “neutralidade”.

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Quem é o "homem-bomba" de Serra?

Reproduzo matéria de Claudio Leal e Marcela Rocha, publicada no Terra:

No final do primeiro bloco do debate na Rede Bandeirantes, Dilma Rousseff (PT), cobrou de José Serra (PSDB) esclarecimentos sobre Paulo Vieira de Souza, ex-membro do governo tucano em São Paulo que, segundo a petista, “fugiu com R$ 4 milhões de sua campanha”. Na plateia, o questionamento deixou os petistas efusivos. Integrantes do PSDB, preocupados com o cerco da imprensa a partir deste instante, prepararam uma saída à francesa do senador eleito Aloysio Nunes, que mantinha relações estreitas com Vieira de Souza. Minutos depois, o senador eleito deixou o estúdio e não retornou.

Mais conhecido como Paulo Preto, Paulo Vieira de Souza foi diretor de engenharia da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa). Ele era o responsável direto por grande parte das obras viárias do governo de São Paulo. Chamado de “homem-bomba do PSDB”, em matéria da revista Veja, publicada em maio deste ano, Paulo Preto foi demitido oito dias depois de ter inaugurado o trecho sul do Rodoanel. Quando Aloysio Nunes deixou o debate, depois do questionamento sobre Paulo Preto, o correligionário Cícero Lucena ocupou o seu lugar na plateia.

No instante da acusação, Serra olhou para assessores, o marqueteiro Luiz Gonzalez e o estrategista Felipe Soutello. Tempo encerrado. Nos bastidores, a denúncia agitou a plateia e as conversas de pé-de-ouvido. “Ele está desnorteado. Isso, no boxe, é nocaute”, mordiscou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT). Mais abaixo, o coordenador de comunicação de Dilma, o deputado estadual Rui Falcão, informava: “A imprensa já noticiou: ele era diretor da Dersa e fugiu com quatro milhões”. Dinheiro que, segundo a pergunta-acusação de Dilma no debate, teria sido arrecadado para campanha tucana.

“Serra deve ter levado um susto”, comemorou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. “A Dilma colocou o tema do Paulo Preto na campanha. Foi colocado e não houve qualquer reação. Está na pauta das discussões dos próximos dias”, avaliou Edinho Silva, presidente do PT paulista.

Ainda segundo a matéria da revista Veja, “Vieira de Souza e Aloysio se conhecem há mais de 20 anos. Quando, no ano passado, o tucano sonhou em ser o candidato de seu partido ao governo de São Paulo, Vieira de Souza foi apresentado como seu ‘interlocutor’ junto ao empresariado. A proximidade entre os dois é tão grande que a família dele contribuiu para que o ex-secretário comprasse seu apartamento”.

Em agosto, a revista IstoÉ publicou uma matéria de capa, segundo a qual líderes do PSDB acusam Paulo Preto “de ter arrecadado dinheiro de empresários em nome do partido e não entregá-lo para o caixa da campanha”. A publicação traz também uma declaração de um diretor de uma das empreiteiras responsáveis por obras de remoção de terras no eixo sul do Rodoanel: “Não fizemos nenhuma doação irregular, mas o engenheiro Paulo foi apresentado como o ‘interlocutor’ do Aloysio junto aos empresários”.

À saída do debate na TV Bandeirantes, os petistas questionavam a falta de resposta do tucano à acusação feita por Dilma com base na denúncia da revista IstoÉ. O deputado Jutahy Magalhães Jr., diz “desconhecer completamente a história” e acrescenta que o comportamento mais ofensivo da ex-ministra flagra “a preocupação com os números”. A afirmação é referente às pesquisas eleitorais. Segundo o último Datafolha – publicado no sábado (9) – Dilma tem 54% dos votos válidos, contra 46% de Serra.

O candidato tucano e sua equipe avaliaram que a estratégia da petista era conclamar sua militância. “Ela falou para dentro do partido”, avaliou o jornalista Luiz Gonzalez, coordenador de marketing da campanha. Para Serra, a petista se comportou de forma atípica para poder usar as imagens em seu programa de televisão. O marqueteiro da petista, João Santana Filho, sorriu com a declaração.

O deputado eleito Sérgio Guerra (PSDB-PE) provocou: “Esta foi a primeira intervenção de Ciro Gomes (PSB) na campanha”. O socialista é integrante novo na campanha de Dilma e, segundo aliados, entrou para “bater”. Para o governador de São Paulo, Alberto Goldman, a petista fez afirmações “estapafúrdias”: “Eu nunca vi em 40 anos um suicídio desta forma que ela está fazendo”. E completou: “Ela está totalmente perdida”.

Tucanos e petistas monitoraram, durante o debate, a reação de grupos focais espalhados pelas regiões brasileiras. Nas pesquisas do PT, houve aprovação da linha de ataques assumida por Dilma, o que justificou a manutenção dos ataques a Serra em todos os blocos do debate. Nas qualitativas tucanas, a petista aparecia como “agressiva” e “raivosa”.

Ainda em relação às análises particulares, o coordenador jurídico da campanha, José Eduardo Cardozo, opinou: “No confronto frente a frente, a linha vai ser essa”.

Os tucanos usam o exemplo deixado por Geraldo Alckmin em 2006 contra Lula, então candidato à reeleição. O primeiro confronto entre os dois, já no segundo turno, foi marcado por ataques mútuos. O tucano, diferente do que fizera no primeiro turno, resolveu subir o tom contra o petista. À época, o PSDB avaliou que esta mudança de comportamento foi o que rendeu uma vitória ainda mais folgada a Lula.

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A tática fascista da campanha de Serra



Reproduzo artigo de Renato Rovai, publicado no sítio da Revista Fórum:

O cartaz que você vê é uma das piores peças de campanha da história da democracia pós ditadura militar. Talvez o ataque a Lula com o caso Miriam Cordeiro esteja no mesmo nível.

Mas esta campanha contra Dilma tem um componente mais sórdido. É uma campanha de desconstrução histórica da luta por democracia no Brasil. A luta de uma mulher corajosa que enfrentou os militares e seus canhões, está sendo transformada na saga de uma terrorista má que assaltava bancos.

E quem ajuda a difundir essa farsa histórica não é a campanha de um ex-defensor da ditadura. É a de alguém que esteve do outro lado do balcão.

Serra decidiu fazer aliança não com Deus, mas com o demônio para tentar ganhar esta eleição.

O cartaz que pesquei no blog RS Urgente, do Marco Weissheimer, é a prova mais cabal disso.

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As eleições e o ovo da serpente

Reproduzo artigo do professor Marcos Dantas, publicado no sítio Carta Maior:

“Se Hitler invadisse o inferno, eu me aliaria ao demônio” – assim falou Churchill, o grande líder britânico da Segunda Guerra Mundial, quando lhe questionaram a aliança firmada com Stálin, o grande líder soviético na mesma Guerra, aliança esta decisiva para a derrota da barbárie nazista.

Bem que Hitler desejava muito aliar-se aos britânicos. Lamentou explicitamente até o fim da Guerra e da própria vida que os seus “primos” raciais não o tivessem “compreendido”. Não que Hitler e Stálin não tenham, em um dado momento, firmado um pacto de aliança. Mas ambos sabiam que era um pacto de ocasião, a ser rompido na primeira oportunidade, quando um lado, ou outro se julgassem preparados para fazê-lo. Foi rompido por Hitler mas, por efeito, entre tantos outros fatores, também desse pacto, a Guerra acabou vencida por Stálin e seus aliados capitalistas democráticos, Churchill e Roosevelt.

Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos eram potências capitalistas. A União Soviética, potência comunista emergente. Capitalismo e comunismo eram inimigos viscerais. Mas o comunismo e o capitalismo democrático souberam se unir contra a besta nazista. O historiador Eric Hobsbawm, em seu "A era dos extremos: o breve século XX", nos dá a explicação:

“As linhas divisórias cruciais nesta guerra civil não foram traçadas entre o capitalismo como tal e a revolução social comunista, mas entre famílias ideológicas: de um lado, os descendentes do Iluminismo do século XVIII e das grandes revoluções, incluindo, claro, a russa; do outro, seus adversários [...] A Alemanha de Hitler era ao mesmo tempo mais implacável e comprometida com a destruição dos valores e instituições da ‘civilização ocidental’ da Era das Revoluções, e mais capaz de levar a efeito o seu bárbaro projeto [...] O antifascismo, por mais heterogêneo e transitório que fosse sua mobilização, conseguiu unir uma extraordinária gama de forças. E o que é mais, essa unidade não foi negativa, mas positiva, e em certos aspectos duradoura. Ideologicamente, baseava-se nos valores e aspirações partilhados do Iluminismo e da Era das Revoluções: progresso pela aplicação da razão e da ciência; educação e governo popular; nenhuma desigualdade baseada em nascimento ou origem; sociedades voltadas mais para o futuro que para o passado” (Companhia das Letras, 2ª Ed., pgs. 146,147, 174).

Em suma, por mais antagônicos que fossem – e eram –, o liberalismo ocidental e o comunismo soviético tinham origem numa mesma matriz ideológica, política, ontológica, eram ramos divergentes de um mesmo frondoso tronco: o esclarecimento racional, laico, republicano, universalista, igualitarista e progressista que veio transformando o mundo desde os tempos de Cromwell, Jefferson e Robespierre. O nazismo era a negação das grandes promessas do projeto Iluminista, a negação da igualdade entre os povos e entre as classes, a recusa do Estado de Direito, o escárnio dos direitos individuais e sociais dos homens e das mulheres.

Não se trata neste artigo de discutir se aquelas promessas se cumpriam ou não. Liberais e comunistas se acusavam mutuamente de traí-las. Mas nisto, também, reafirmavam seus compromissos com um programa de liberação ou desalienação da humanidade. O nazismo representava o retorno, ainda que num estágio superior, ao obscurantismo e à barbárie. A interrupção das Luzes. Uma nova escuridão. Contra isso, apesar de suas profundas diferenças e mútuas desconfianças, uniram-se Churchill, Roosevelt e Stálin.

E venceram.

Nas últimas décadas, sob novas formas e por um amplo conjunto de motivos que não vem ao caso discutir aqui, o obscurantismo renasceu das trevas. Atende agora pelo nome “fundamentalismo religioso”. Ele pode ser muçulmano, pode ser católico, pode ser cristão sob outras denominações – em hipótese alguma significando dizer que já conquistou ou venha a conquistar a maior parte dos seguidores dessas religiões. De fato, recruta o grosso dos seus adeptos, como o nazismo recrutava, na grande massa popular pobre, posta nas fímbrias do progresso, por isto ressentida, sobretudo ignorante. No caso dos muçulmanos, tem sido capaz de levar centenas de jovens à auto-imolação espetacular, fornecendo bons pretextos para reforçar os aparatos de guerra, segurança, espionagem e repressão das potências capitalistas, sobretudo dos Estados Unidos. No caso dos cristãos, ainda não chegou a tanto, mas já se mostra capaz de agir ordenada e fortemente na recuperação de parte do terreno perdido para dois séculos de avanços seculares, no mundo e também no Brasil.

Estamos assistindo no Brasil, neste momento, a um debate inimaginável neste século XXI – em que pese este século estar sendo capaz de se revelar cada vez mais surpreendentemente inimaginável. O nosso Estado Democrático de Direito está correndo o risco de proporcionar-nos uma eleição decidida pelo obscurantismo e irracionalidade. Sabemos que a ainda então minoria nazista chegou ao poder, na Alemanha, também através dos mecanismos democráticos. Por isso, não está sendo possível entender que democratas, republicanos, lídimos herdeiros e formuladores do melhor das Luzes, queiram agora, no Brasil, chegar ao poder com a ajuda das Trevas.

Está acontecendo nas grandes periferias urbanas e rurais brasileiras, uma insidiosa, granular, sussurrante campanha fundamentalista contra a candidata do PT, Dilma Rousseff. Multiplicam-se relatos assustadores de conversas de “pastores” com seus crédulos, dizendo coisas como “a Dilma vai fechar a Igreja”. Isso dito a alguém, por exemplo, que, nos últimos oito anos, graças a programas do Governo Lula, comprou e mobiliou casa, tem emprego, melhorou de vida material. Mas não melhorou cultural e educacionalmente (e isso também é culpa do governo Lula!). Acredita piamente no “pastor”. E vai votar numa mentira porque o debate eleitoral reduziu-se à agenda obscurantista, quando teríamos muito o que debater sobre educação, infra-estrutura, política externa etc.

Em resposta, circulam na internet panfletos acusando Serra de já ter fechado templos evangélicos em São Paulo. Isto porque a cidade de São Paulo faz cumprir suas leis que protegem o cidadão da agressão sonora desses templos que teimam em desrespeitar o espaço público e o direito dos outros à paz e tranqüilidade no resguardo do lar. Se Serra, por ventura, tem algo a ver com isso, merece elogios, não críticas.

Que evangélicos, carismáticos e quejandos façam o que estão fazendo, é de lamentar mas não admira. O que admira e muito preocupa é o oportunismo eleitoral de uma parte da política laica e republicana que parece não se lembrar da lição de Churchill. O Brasil civilizado tem muito ainda a construir, inclusive para deter esse avanço de volta à barbárie, o que só logrará se incorporar à modernidade educacional e cultural, além da material, aquela massa popular que permanece vulnerável às prédicas medievais.

Uma eleição é sempre o momento de a sociedade discutir os melhores caminhos para seguir avançando, avaliar e criticar o que já foi feito, debater suas alternativas. É natural, numa sociedade de classes, a diferença programática. Mas essa diferença se manifesta num mesmo campo histórico. Os fundamentalistas não podem ser aceitos nesse debate, porque, por definição e por suas práticas, agem pela ignorância, para a ignorância, com a ignorância.

Ora, Serra e Dilma, por formação, histórias de vida, lutas políticas, não têm posições assim tão distintas em relação a temas como “aborto”, “homossexualidade” e similares. Ninguém pode ser “a favor” do aborto, salvo talvez, algumas feministas radicais e egoístas; ninguém apóia a discriminação por opção sexual, salvo energúmenos. O que se pede – e, com certeza, ambos os candidatos não discordam, exceto talvez em detalhes – são políticas públicas e regras jurídicas que acolham a realidade já vivida em nossa sociedade. Estes são debates seculares e racionais, e nestes termos precisam e podem ser tratados por ambos os candidatos.

Faz-se necessário, neste momento, que cabeças sensatas de ambos os lados abram canal de comunicação visando recolocar o debate eleitoral nos trilhos da razão. Seria bom que ambos os candidatos manifestassem mútua solidariedade diante de ataques falsos e estúpidos, demarcando com clareza a agenda de discussão que interessa, de fato, ao Brasil moderno.

Eles têm muito o que divergir aí, na política educacional, na política de saúde, no papel do Estado, nas relações internacionais, nas prioridades de infra-estrutura, no tratamento ao meio-ambiente, nas reformas política e tributária etc. E devem dizer à sociedade que são as definições sobre esses pontos que conduzirão o Brasil para o futuro, cabendo à maioria político-eleitoral decidir o caminho que prefere, para os próximos quatro anos, sempre rumo ao esclarecimento e ao progresso.

Se o debate prosseguir agendado pelo atraso, ganhe quem ganhar, estará chocando o ovo da serpente.

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A Folha e os arquivos da ditadura

Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:

Tem tudo que ver com a história da grande imprensa brasileira a próxima aposta da Folha de São Paulo para difamar a adversária do candidato que apóia tacitamente. Ao tentar resgatar o processo que a ditadura militar abriu contra Dilma Rousseff para justificar seu encarceramento, o jornal revela que, mais uma vez, tornar-se-á porta-voz dos ditadores.

É evidente que um processo aberto por uma ditadura para dar ares de legitimidade a um crime de lesa-humanidade como é prender e torturar uma garota de 19 anos só pode conter as acusações mais terríveis contra a vítima dessas sevícias.

Ou alguém acha que a ditadura teria prendido e torturado a tantos sob acusações de ordem meramente política e ideológica? É óbvio que Dilma sofrerá, em pleno regime democrático, acusações que lhe foram feitas pelos pervertidos que impuseram duas décadas de regime de exceção ao Brasil. Nessas acusações, obviamente que lhe serão atribuídos crimes sérios.

Hoje, um daqueles jornais que caminharam de braços dados com a violação da democracia no Brasil tenta resgatar as acusações dos ditadores àquela pós-adolescente de óculos grossos que teve coragem que muito marmanjo não teve ao suportar a tortura sem dar aos torturadores o que queriam.

A organização criminosa dirigida pela famiglia Frias anuncia neste sábado, com pompa e circunstância, que “O Ministério Público Militar deu parecer favorável à Folha no mandado de segurança protocolado pelo jornal no STM (Superior Tribunal Militar) para ter acesso ao processo que levou Dilma Rousseff à prisão durante a ditadura militar (1964-1985)”.

Perfeito! O que simbolizaria melhor uma campanha eleitoral tão imunda se não o candidato da direita mandar a sua máquina de propaganda difundir as justificativas mentirosas de uma ditadura para prender e torturar a adversária dele?

Não tenho a menor dúvida de que os mesmos militares de pijama que vivem dando declarações golpistas estão pressionando seus contatos na Justiça Militar para torturar uma vez mais uma de suas muitas vítimas.

Ah, e para quem não sabe, o papelório já está liberado. Há boatos de que a Folha já sabe seu conteúdo. O material será usado pelo PIG enquanto Serra posará de bonzinho.

Sugiro que a campanha de Dilma comece a preparar o público para o que virá. As pessoas precisam ser alertadas de que a ditadura, para prender aqueles garotos e garotas que a enfrentavam, era preciso acusá-los de crimes sérios, tais como roubo, assassinato etc.

Mas, para tanto, a campanha petista teria que começar a denunciar já esse comportamento degenerado e partidário da Folha, esse esforço malévolo do jornal de José Serra para resgatar da lata de lixo da história acusações viciadas, usadas como justificativas para prender e seviciar uma garota de 19 anos.

O histórico de inércia do PT nesta campanha permite prever que assistirá sentado à utilização dessa estratégia suja de Serra de dar voz a mentiras de uma ditadura assassina. Mas não se preocupe, leitor. Conhecendo o PT, quando for tarde demais para responder à altura, daí o partido acorda. Mesmo sendo tarde demais.

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