quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Ameaçado, Serra defende seu homem-bomba
Reproduzo artigo de Marco Aurélio Weissheimer, publicado no sítio Carta Maior:
Após negar conhecer o engenheiro Paulo Vieira de Souza, acusado por lideranças do PSDB de ter desviado recursos destinados à campanha eleitoral do partido, o candidato José Serra saiu em defesa do ex-assessor, nesta terça-feira. Ontem, em Goiania, Serra disse que "nunca tinha ouvido falar em Paulo Preto". A amnésia terminou ocorreu após o engenheiro dizer à Folha de S.Paulo, em tom ameaçador que “não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro”. Serra declarou que “a acusação contra ele é injusta” e que ele é “totalmente inocente”. “Não houve desvio de dinheiro de campanha por parte de ninguém, nem do Paulo Souza”, declarou Serra que procurou atribuir a acusação à candidata Dilma Rousseff (PT). Os autores da acusação, na verdade, são lideranças do PSDB que estão sendo, inclusive, processadas pelo engenheiro inocentado por Serra.
Origem da acusação é o próprio partido de Serra
Dilma Roussef trouxe para o debate público, no debate da TV Bandeirantes, um tema incômodo para a campanha de José Serra: o caso do ex-integrante do governo tucano em São Paulo, Paulo Vieira de Souza, acusado por lideranças do próprio PSDB de ter fugido com R$ 4 milhões que seriam resultado de doações de empresários para a campanha de Serra. Quando Dilma mencionou o caso, “integrantes do PSDB, preocupados com o cerco da imprensa a partir daquele instante, prepararam uma saída à francesa do senador eleito Aloysio Nunes, que mantinha relações estreitas com Vieira de Souza. Minutos depois, o senador eleito deixou o estúdio e não retornou”, relataram os jornalistas Cláudio Leal e Marcela Rocha, em matéria publicada no portal Terra.
Paulo Vieira de Souza, que também é conhecido como Paulo Preto, foi diretor de engenharia da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), sendo responsável por uma grande parte das obras viárias do governo do Estado de São Paulo. Em agosto deste ano, a revista IstoÉ publicou uma matéria de capa, onde lideranças do PSDB acusaram abertamente o ex-assessor de “ter arrecadado dinheiro de empresários em nome do partido e não entregá-lo para o caixa da campanha”. A matéria da IstoÉ traz ainda uma declaração de um diretor de uma das empreiteiras responsáveis por obras de remoção de terras no eixo sul do Rodoanel: “Não fizemos nenhuma doação irregular, mas o engenheiro Paulo foi apresentado como o interlocutor de Aloysio junto aos empresários”.
Engenheiro teria relação estreita com Aloysio Nunes
Em 2009, Paulo Preto foi eleito Eminente Engenheiro do Ano pelo Instituto de Engenharia de São Paulo. O prêmio foi concedido “por sua excelente gestão dos aspectos institucionais, jurídicos e técnicos na condução de grandes obras governamentais, com brilhantes resultados para a sociedade, administração pública e contratantes.” O engenheiro ingressou com uma ação penal (por calúnia e injúria) contra os dirigentes tucanos Eduardo Jorge Caldas e Evandro Losacco, além dos jornalistas da revista IstoÉ, Sérgio Pardellas e Claudio Dantas. A reportagem baseou-se no depoimento de oito dos principais líderes e parlamentares do PSDB. Segundo eles, o engenheiro teria arrecadado pelo menos R$ 4 milhões para a campanha eleitoral, mas os recursos não chegaram ao caixa do comitê de Serra.
Ainda segundo a mesma matéria, Paulo Preto mantinha uma relação estreita com Aloysio Nunes, então chefe da Casa Civil do governo Serra, que acabou eleito para o Senado por São Paulo. “Não por acaso, o senador recém-eleito deixou o debate de domingo entre os segundo e terceiro blocos e saiu falando ao telefone evitando falar com jornalistas”, assinala nesta segunda-feira o portal de notícias R7, recordando o seguinte trecho da reportagem da Isto É:
“As relações de Aloysio e Paulo Preto são antigas e extrapolam a questão política. Em 2007, familiares do engenheiro fizeram um empréstimo de R$ 300 mil para Aloysio. No final do ano passado, o ex-chefe da Casa Civil afirmou que usou o dinheiro para pagar parte do apartamento adquirido no bairro de Higienópolis e que tudo já foi quitado”.
Os grandes jornais brasileiros deram pouca atenção à denúncia publicada na IstoÉ. Fosse outro o partido, com muito menos, o barulho provavelmente seria outro. Após algumas notas aqui e ali, o assunto caiu no esquecimento. O desinteresse é notável uma vez que, na reportagem da revista, as fontes são altos integrantes da cúpula tucana. São dois dirigentes do primeiro escalão do PSDB que dizem que o engenheiro arrecadou “antes e depois de definidos os candidatos tucanos às sucessões nacional e estadual”. Segundo o matéria, os R$ 4 milhões seriam referentes apenas ao valor arrecadado antes do lançamento oficial das candidaturas do PSDB, o que teria impedido que o dinheiro fosse declarado, tanto pelo partido quanto pelos supostos doadores.
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