Por Altamiro Borges
O banco espanhol Santander, acusado de ter ligações com a seita ultraconservadora Opus Dei, tirou a máscara de vez. Num comunicado aos seus “clientes ricos”, ele fez campanha escancarada – e ilegal – contra a reeleição da presidenta Dilma. Descoberta na sua militância oposicionista, a instituição financeira até pediu desculpas e demitiu alguns “bagrinhos”, mas o estrago já estava feito. O Sindicato dos Bancários de São Paulo anunciou que denunciará a direção local por “gestão temerária”. Já o prefeito de Osasco, Jorge Lapas, informou que suspenderá as contas da prefeitura com o banco. E o presidente do PT, Ruy Falcão, classificou como “absurdo terrorismo eleitoral” a carta enviada pelo Santander aos seus correntistas.
No comunicado enviado em julho, o banco afirma que a reeleição de Dilma detonará a economia brasileira. A mensagem terrorista foi impressa no extrato dos clientes da categoria “Select”, com renda mensal acima de R$ 10 mil. O texto afirma que o avanço da presidenta nas pesquisas de intenções de voto poderá prejudicar os acionistas da Bolsa de Valores. “A quebra de confiança e o pessimismo crescente em relação ao Brasil (...) têm contribuído para a subida do Ibovespa. Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir”.
Reações imediatas e duras
Diante deste explícito crime eleitoral, a reação foi imediata. Segundo a Rede Brasil Atual, o Sindicato dos Bancários de São Paulo já decidiu que fará uma reclamação formal ao presidente mundial do Santander, Emilio Botín, contra a gestão do chefe da instituição no Brasil, Jésus Zabalza. “De acordo com a diretora-executiva da entidade Rita Berlofa, a ‘atuação alarmista’ do banco em pleno ambiente eleitoral brasileiro não é um caso isolado, mas parte de um conjunto de práticas que permite classificar a gestão do Santander no país de ‘temerária’... ‘Uma instituição desse porte não pode, ainda que tenha preferência eleitoral, praticar especulação, agredir a imagem do país e pôr em dúvida a nossa estabilidade’”.
Segundo a líder bancária, a chegada de Jésus Zabalza ao Brasil, em maio do ano passado, só trouxe transtornos. “Desde lá, ele vem fazendo uma política esquisita de redução de despesas, incluindo desde o corte de gastos com água e cafezinho, passando por redução de pessoal de limpeza até o corte de trabalhadores responsáveis por atendimento e negócios, piorando drasticamente o ambiente interno de trabalho e repercutindo de maneira visível na qualidade de atendimento”. Em poucos meses, Jésus Zabalza foi responsável pela demissão de 4.800 bancários e pelo fechamento de 150 agências. “Em contrapartida, ele aumentou a bonificação de altos executivos em mais de 38%”, afirma Rita Berlofa.
A reclamação formal do Sindicato dos Bancários à direção mundial do Santander pode até dar em nada. Já a atitude do prefeito de Osasco, Jorge Lapas (PT), terá efeitos imediatos. Segundo o site Brasil-247, ele decidiu romper o convênio mantido pela prefeitura com a instituição financeira para o recolhimento de impostos e taxas municipais – que movimenta cerca de R$ 1,9 bilhão. “Notificamos o banco que em trinta dias o convênio será encerrado”, afirmou. Já havia muitas críticas dos munícipes às enormes filas nas agências do Santander. Mas o texto terrorista da instituição aos seus clientes endinheirados acelerou a decisão do prefeito. “O banco praticou uma partidarização fora de hora e lugar”, afirmou Jorge Lapas.
Ação orquestrada dos banqueiros
O jornalista Fernando Rodrigues, da Folha, foi o primeiro a reproduzir a cópia do extrato terrorista do Santander. Como ele mesmo observou, “o documento do Santander aos seus correntistas mais abastados contém uma análise que já frequentava o mercado financeiro brasileiro de forma difusa, mas nunca de maneira institucional por um grande banco. Esse tipo de comportamento do mercado não é novo. Desde a primeira eleição direta pós-ditadura ocorrem interpretações nesse sentido. Em 1989, o empresário Mário Amato deu uma entrevista dizendo que se o petista Luiz Inácio Lula da Silva ganhasse naquele ano, 800 mil empresários deixariam o Brasil”.
Em 2002, lembra ainda o colunista da Folha, os agiotas do capital financeiro ficaram novamente apreensivos com uma possível vitória de Lula. “O analista Daniel Tenengauzer, do banco Goldman Sachs, chegou a inventar o ‘lulômetro’, que previa a cotação futura do dólar caso o petista fosse eleito”. Também em 2002, segundo a repórter Carmen Munari, do jornal Valor, o mesmo Santander já havia feita uma “recomendação negativa sobre o Brasil”. “O escritório de Nova York do banco divulgou relatório rebaixando os títulos brasileiros”. Dias depois da vitória de Lula, o próprio Emilio Botín procurou o presidente já eleito e “esclareceu que ele mesmo ordenou a demissão do analista e o fechamento do escritório”.
Torcida contra o Brasil
Esta mesma escalada desestabilizadora dos banqueiros, que tem motivações econômicas e políticas – e de classe –, está em pleno curso contra a reeleição da presidenta Dilma. A iniciativa terrorista do Santander não é uma ação isolada. Outros banqueiros, mais discretos, não escondem o seu desejo de ajudar a oposição neoliberal no retorno ao Palácio do Planalto. Eles têm feito de tudo para criar um clima de pânico na economia, apostando na desestabilização do país. A própria mídia rentista registrou, sem maior alarde, que durante a Copa do Mundo houve especulação com papéis na Bolsa de Valores com o objetivo de prejudicar o governo brasileiro.
Os banqueiros chegaram a torcer pelo desastre na organização do evento e, na sequência, vibraram com a goleada da Alemanha sobre o Brasil. “É muito provável que a derrota respingue na presidente Dilma. Da mesma forma que ela se beneficiou nas intenções de voto quando a seleção estava indo bem, agora também deve sentir essa derrota”, argumentou na época o “abutre” Raphael Juan, gestor da BBT Asset. Já Miguel Daoud, analista da Global Financial Advisor, disse que “qualquer notícia ruim que possa ser ligada à presidente está impactando positivamente os papéis das companhias”. A torcida contra se daria como vingança “ao intervencionismo do governo na economia”, que prejudicaria os especuladores.
A repórter Raquel Landim, em matéria na Folha em 4 de julho, descreveu que “a ‘Copa das Copas’ conquistou até os piores ‘urubus’ do mercado financeiro. Com o Brasil nas quartas de final, os investidores perderam a esperança de lucrar com a derrota e pararam de ‘secar’ a seleção. Antes de a competição começar, a expectativa era que um colapso na organização e/ou um vexame em campo, como a eliminação do Brasil logo no início, poderiam impulsionar o preço das ações. O ciclo seria o seguinte: um desastre na Copa recrudesceria o pessimismo, diminuindo as chances de reeleição de Dilma, e favoreceria as ações das estatais. Esses papéis estão sendo prejudicados pelo intervencionismo do governo na economia”.
*****
Leia também:
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No comunicado enviado em julho, o banco afirma que a reeleição de Dilma detonará a economia brasileira. A mensagem terrorista foi impressa no extrato dos clientes da categoria “Select”, com renda mensal acima de R$ 10 mil. O texto afirma que o avanço da presidenta nas pesquisas de intenções de voto poderá prejudicar os acionistas da Bolsa de Valores. “A quebra de confiança e o pessimismo crescente em relação ao Brasil (...) têm contribuído para a subida do Ibovespa. Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir”.
Reações imediatas e duras
Diante deste explícito crime eleitoral, a reação foi imediata. Segundo a Rede Brasil Atual, o Sindicato dos Bancários de São Paulo já decidiu que fará uma reclamação formal ao presidente mundial do Santander, Emilio Botín, contra a gestão do chefe da instituição no Brasil, Jésus Zabalza. “De acordo com a diretora-executiva da entidade Rita Berlofa, a ‘atuação alarmista’ do banco em pleno ambiente eleitoral brasileiro não é um caso isolado, mas parte de um conjunto de práticas que permite classificar a gestão do Santander no país de ‘temerária’... ‘Uma instituição desse porte não pode, ainda que tenha preferência eleitoral, praticar especulação, agredir a imagem do país e pôr em dúvida a nossa estabilidade’”.
Segundo a líder bancária, a chegada de Jésus Zabalza ao Brasil, em maio do ano passado, só trouxe transtornos. “Desde lá, ele vem fazendo uma política esquisita de redução de despesas, incluindo desde o corte de gastos com água e cafezinho, passando por redução de pessoal de limpeza até o corte de trabalhadores responsáveis por atendimento e negócios, piorando drasticamente o ambiente interno de trabalho e repercutindo de maneira visível na qualidade de atendimento”. Em poucos meses, Jésus Zabalza foi responsável pela demissão de 4.800 bancários e pelo fechamento de 150 agências. “Em contrapartida, ele aumentou a bonificação de altos executivos em mais de 38%”, afirma Rita Berlofa.
A reclamação formal do Sindicato dos Bancários à direção mundial do Santander pode até dar em nada. Já a atitude do prefeito de Osasco, Jorge Lapas (PT), terá efeitos imediatos. Segundo o site Brasil-247, ele decidiu romper o convênio mantido pela prefeitura com a instituição financeira para o recolhimento de impostos e taxas municipais – que movimenta cerca de R$ 1,9 bilhão. “Notificamos o banco que em trinta dias o convênio será encerrado”, afirmou. Já havia muitas críticas dos munícipes às enormes filas nas agências do Santander. Mas o texto terrorista da instituição aos seus clientes endinheirados acelerou a decisão do prefeito. “O banco praticou uma partidarização fora de hora e lugar”, afirmou Jorge Lapas.
Ação orquestrada dos banqueiros
O jornalista Fernando Rodrigues, da Folha, foi o primeiro a reproduzir a cópia do extrato terrorista do Santander. Como ele mesmo observou, “o documento do Santander aos seus correntistas mais abastados contém uma análise que já frequentava o mercado financeiro brasileiro de forma difusa, mas nunca de maneira institucional por um grande banco. Esse tipo de comportamento do mercado não é novo. Desde a primeira eleição direta pós-ditadura ocorrem interpretações nesse sentido. Em 1989, o empresário Mário Amato deu uma entrevista dizendo que se o petista Luiz Inácio Lula da Silva ganhasse naquele ano, 800 mil empresários deixariam o Brasil”.
Em 2002, lembra ainda o colunista da Folha, os agiotas do capital financeiro ficaram novamente apreensivos com uma possível vitória de Lula. “O analista Daniel Tenengauzer, do banco Goldman Sachs, chegou a inventar o ‘lulômetro’, que previa a cotação futura do dólar caso o petista fosse eleito”. Também em 2002, segundo a repórter Carmen Munari, do jornal Valor, o mesmo Santander já havia feita uma “recomendação negativa sobre o Brasil”. “O escritório de Nova York do banco divulgou relatório rebaixando os títulos brasileiros”. Dias depois da vitória de Lula, o próprio Emilio Botín procurou o presidente já eleito e “esclareceu que ele mesmo ordenou a demissão do analista e o fechamento do escritório”.
Torcida contra o Brasil
Esta mesma escalada desestabilizadora dos banqueiros, que tem motivações econômicas e políticas – e de classe –, está em pleno curso contra a reeleição da presidenta Dilma. A iniciativa terrorista do Santander não é uma ação isolada. Outros banqueiros, mais discretos, não escondem o seu desejo de ajudar a oposição neoliberal no retorno ao Palácio do Planalto. Eles têm feito de tudo para criar um clima de pânico na economia, apostando na desestabilização do país. A própria mídia rentista registrou, sem maior alarde, que durante a Copa do Mundo houve especulação com papéis na Bolsa de Valores com o objetivo de prejudicar o governo brasileiro.
Os banqueiros chegaram a torcer pelo desastre na organização do evento e, na sequência, vibraram com a goleada da Alemanha sobre o Brasil. “É muito provável que a derrota respingue na presidente Dilma. Da mesma forma que ela se beneficiou nas intenções de voto quando a seleção estava indo bem, agora também deve sentir essa derrota”, argumentou na época o “abutre” Raphael Juan, gestor da BBT Asset. Já Miguel Daoud, analista da Global Financial Advisor, disse que “qualquer notícia ruim que possa ser ligada à presidente está impactando positivamente os papéis das companhias”. A torcida contra se daria como vingança “ao intervencionismo do governo na economia”, que prejudicaria os especuladores.
A repórter Raquel Landim, em matéria na Folha em 4 de julho, descreveu que “a ‘Copa das Copas’ conquistou até os piores ‘urubus’ do mercado financeiro. Com o Brasil nas quartas de final, os investidores perderam a esperança de lucrar com a derrota e pararam de ‘secar’ a seleção. Antes de a competição começar, a expectativa era que um colapso na organização e/ou um vexame em campo, como a eliminação do Brasil logo no início, poderiam impulsionar o preço das ações. O ciclo seria o seguinte: um desastre na Copa recrudesceria o pessimismo, diminuindo as chances de reeleição de Dilma, e favoreceria as ações das estatais. Esses papéis estão sendo prejudicados pelo intervencionismo do governo na economia”.
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1 comentários:
Ora, parem de enviar ao falido Santander Espanhol BILHÕES anualmente que nosso "deficit" nas "contas correntes" será muito menor!!!
Talvez uma mudança na lei de remessa de lucros seja uma boa alternativa aos abutres e piratas do século XXI...
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