sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Marina pode atropelar os tucanos?

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Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

Com o olhar compungido, Marina Silva surge numa sala apertada, para o primeiro pronunciamento depois da morte de Eduardo Campos. Não fala de temas eleitorais, oferece “apenas” conforto à família do candidato morto. Não tem pompa nem pose, não quer parecer uma “estadista”…

Assisto à cena na Redação. Uma colega, menos afeita aos temas da política, pergunta: “quando será que ela começa a campanha pra valer? Precisa esperar uns dias, né?”.

Outro jornalista, mais experiente, responde rápido: “a campanha dela já começou; isso aí que você tá assistindo é o primeiro pronunciamento de campanha”.

Poucas horas depois, converso com outro colega – raposa velha em coberturas eleitorais: “o que você achou da fala da Marina?”. E ele: “importa pouco o que ela disse; importa muito mais a maneira como aquilo foi dito”.

Marina Silva não precisa falar de política pra fazer política. Essa é a grande força da candidatura dela. Não sei se Marina surgirá na faixa dos 15%, ou acima dos 20% na próxima pesquisa Datafolha (que será divulgada entre domingo e segunda-feira). Mas sei que ela tem uma boa chance de encampar o discurso da “não-política”. Um discurso que é – claro – tudo menos “não-político”.

Eduardo Campos enfrentava enorme dificuldade para conquistar esse eleitor desesperado por algo “novo”. Aécio, então, nem se diga…

Esse era o grande nó da campanha em 2014. Um terço dos eleitores está fechado com Dilma; outra parcela (bastante barulhenta, mas que reúne pouco menos de um terço do total) se dispõe a votar em qualquer um contra o PT; só que há ainda 30% dos eleitores que não querem PT mas também não topam PSDB. Esse é o eleitor desiludido “com tudo que está aí”.

Em 1960, esse clima de “mar de lama” terminou em Janio. Em 1989, a desilusão terminou em Collor.

Em 2014, Eduardo achou que poderia ser a terceira via, com um discurso moderado, a meio caminho entre PT e PSDB. Não entendeu, talvez, que esse terço “desiludido” dos eleitores não quer meio-termo, não quer meio do caminho. Quer alguém que seja (ou pareça) outro caminho.

Até duas semanas atrás, estava claro que a sorte de Dilma era ter uma oposição que não representava a “mudança”. Aécio é um político jovem, mas tem uma imagem precocemente “envelhecida”, até pelas companhias de palanque (Serra, FHC etc). Eduardo era uma liderança nova, mas também pesava contra ele a imagem de “político engravatado”.

Marina, não.

Comentaristas atucanados nem esperaram o corpo de Eduardo ser recolhido. Começaram a espalhar que Marina é a candidata perfeita “para garantir o segundo turno”. Acham que ela repetirá 2010, quando os votos marineiros levaram de fato Serra ao segundo turno.

Só que no meio do caminho houve junho de 2013. A sociedade, ali, pareceu pedir mudanças mais profundas no sistema político. Dilma fez a leitura correta: propôs a Reforma Política e a Constituinte; estratégia barrada pelo PMDB. O mal estar se aprofundou desde 2013…

A oposição (com seus comentaristas gagos nas rádios e seus acadêmicos de segunda linha) não compreende por que o eleitor que pede mudança não vota no Aécio. Ora, a maioria do Brasil não quer andar pra trás… Um terço vai com Dilma. Outro terço quer mudança sem tucano nem liberalismo velho dos anos 90.

Marina pode ocupar esse espaço.

O sonho dos tucanos é que ela apareça forte na próxima pesquisa, mas que depois seja desidratada para abrir passagem a Aécio Neves. Falta combinar com os eleitores.

O mais provável é que, se a opção Marina prosperar no PSB (e tudo indica que vai prosperar), a eleição se decida entre Dilma e a ex-ministra do Meio Ambiente.

O que pode barrar Marina? O veto do empresariado, dos ruralistas e das empreiteiras preocupados com o discurso “anti-desenvolvimento” dela. Francamente, esse não é um obstáculo relevante do ponto de vista eleitoral…

Marina pode virar a candidata da “anti-política” (mesmo com apoio da Natura, Itaú, e de economistas liberais – que teriam o papel, justamente, de chancelar os compromissos dela com o chamado “mercado”). Até porque, isso é inegável, Marina carrega – legitimamente – as bandeiras de um novo ambientalismo e de uma juventude que esperam mais do que acordos com o PMDB para mudar o Brasil.

Mais que isso: ela vai carregar a imagem de Eduardo Campos Brasil afora. O jovem que queria “mudar o Brasil”. O apelo é forte.

Marina pode ser uma espécie de Janio de 2014? Ela é mais que isso, certamente.

Evangélica, verde, messiânica. Será que é nesse “novo” que o Brasil vai apostar?

Do outro lado, há Lula e um projeto em parte desgastado. Há uma militância que defende Dilma (sem empolgação) contra os tucanos. Mas terá a mesma disposição para enfrentar Marina? Com qual discurso?

Minha impressão é de que a candidatura Marina Silva tem boas chances de prosperar, e de tirar os tucanos do segundo turno.

Marina – se for de fato confirmada como candidata – pode ganhar de Dilma? Sim. Tem chances mais que razoáveis. Mas gostaria de ouvir a opinião dos internautas. Porque nesse tema não há certezas…

3 comentários:

Unknown disse...

Luiz Stinghen
Olá Miro. Há um outro fator, também especulativo. O eleitor de Dilma tem uma certa fidelidade, porque foi testado pela mídia nativa na demonização anti-PT e mesmo assim manteve-se fiel com cerca de 50% dos votos válidos. Para este eleitor, que é a parcela dos 30% do PT e mais os 20% de eleitores que fazem análise política dos avanços sociais, etc...Este eleitor não muda tão fácilmente para uma candidatura que apesar desta balela de comoção que tanto se fala me parece meio aventureira e sem posição definida que é a candidatura de Marina. Não creio em mudança tão fácil assim. Acho que o eleitor do Aécio pode sim mudar de voto mais fácilmente, como aconteceu com outro Tucano aqui do Paraná, que rápidamente vê sua candidatura perder votos para o Requião.

Ricardo disse...

Rodrigo, via Miro:
Eu também acredito que Marina pode desbancar Aécio e chegar ao segundo turno com Dilma.
O que me preocupa nem tanto são os apoios direitistas a ela, mas... com quem ela vai governar? Que partidos irão lhe dar apoio no Congresso? Como ela vai conviver com a bancada ruralista? o PMDB vai se transformar no fiel da balança no Congresso?
Tudo isso me preocupa. E já vi insinuações de outros blogueiros, no sentido de que Marina seja um novo Jânio, um novo Collor. Teremos uma renúncia pela frente? Ou o segundo impeachment?
O Psdb será oposição ferrenha, como foi ao PT? O PT vai engolir a derrota?
Há tantas perguntas! como diria o Brecht

Unknown disse...

A imprevisibilidade de uma gestão Marina coloca uma montanha de interrogações até nos mais interessados no "sim" dela. Talvez o mais importante neste momento de "escolhas", seja a figura do vice, pois a provável titular não inspira confiança "neles". A conferir.