Bonner, com a série de entrevistas com os candidatos à presidência, talvez não faça ideia do risco que corre.
Sua agressividade deu a elas – às entrevistas – uma dimensão muito acima do que você poderia imaginar em sabatinas na Globo.
Justiça seja feita: a agressividade esteve sempre presente. Não foi seletiva. O que foi diferente foi a reação dos entrevistados.
Aécio, por ser o primeiro da fila, foi claramente surpreendido, e pagou o preço disso com respostas titubeantes e evasivas.
Dilma já sabia o que a esperava, e se preparou para a pancadaria.
Bonner, em suma, virou notícia.
Numa empresa familiar, isto pode ser fatal.
A regra de ouro em empresas familiares é a seguinte: não brilhe mais que seu patrão, ou você está frito.
Em meus dias de editor da Exame, era comum darmos capas com executivos que estavam fazendo grandes transformações em empresas familiares.
Dias, semanas depois, vinha a notícia: o dono demitiu nossa capa.
Ciúme.
Na Globo, isso é ainda mais acentuado.
Não basta à família Marinho ter total controle sobre o que é dito ou não dito no Jornal Nacional.
É preciso que todo mundo tenha ciência desse controle.
O jornalista Evandro de Andrade, que dirigiu o Globo e o telejornalismo da empresa, sabia perfeitamente disso.
Em sua biografia sobre Roberto Marinho, Bial conta que Evandro conseguiu o cargo de editor do Globo depois de garantir ao patrão que era “papista”.
Isso queria dizer o seguinte: o Papa Roberto mandou, está mandado. Não se discute.
Evandro jamais apareceu, porque o papismo não admite dupla autoridade. Por isso chegou aonde chegou. E por isso só saiu da Globo morto, num caixão.
No Estadão, nos anos 1990, Augusto Nunes desafiou a regra das empresas familiares. Tinha assumido fazia pouco tempo o jornal, e topou ser capa da revista Veja São Paulo. Aparecia como uma espécie de salvador dos Mesquitas. Aquela capa foi seu epitáfio no Estadão. Dias depois, estava fora.
O telejornalismo da Globo nunca teve um âncora exatamente por esse motivo. Um âncora se destaca, ganha notoriedade, autonomia, e pode falar coisas que os Marinhos não querem que sejam ditas.
Bonner é uma extensão modernizada de Cid Moreira. Dá a impressão de ter mais conteúdo, mas no fundo o que faz é ler.
E é assim que ele sempre foi visto, dentro e fora da Globo: um leitor de notícias que escrevem para ele.
Esta série inusual de entrevistas muda a forma como Bonner é visto fora da Globo, pela extraordinária repercussão.
Ele ganhou estatura. Parece ter uma influência que ninguém jamais enxergou nele.
É certo que nenhuma pergunta que ele fez e fará aos candidatos escapou do crivo e da aprovação dos Marinhos, nos bastidores.
Mas isso o mundo exterior ignora. E de repente Bonner parece, para a voz rouca das ruas, ter o tamanho de um Shaquille O´Neal.
Isso atrairá a ele, internamente, doses copiosas de raiva e inveja.
Começa no seu chefe, mas vira um problema mesmo quando chega ao acionista.
O maior risco, para Bonner, será acreditar que pode voar. Não pode. Só poderia se a emissora fosse sua.
Ou se a Globo não fosse, como é, um papado, como entendeu tão bem Evandro de Andrade.
Sua agressividade deu a elas – às entrevistas – uma dimensão muito acima do que você poderia imaginar em sabatinas na Globo.
Justiça seja feita: a agressividade esteve sempre presente. Não foi seletiva. O que foi diferente foi a reação dos entrevistados.
Aécio, por ser o primeiro da fila, foi claramente surpreendido, e pagou o preço disso com respostas titubeantes e evasivas.
Dilma já sabia o que a esperava, e se preparou para a pancadaria.
Bonner, em suma, virou notícia.
Numa empresa familiar, isto pode ser fatal.
A regra de ouro em empresas familiares é a seguinte: não brilhe mais que seu patrão, ou você está frito.
Em meus dias de editor da Exame, era comum darmos capas com executivos que estavam fazendo grandes transformações em empresas familiares.
Dias, semanas depois, vinha a notícia: o dono demitiu nossa capa.
Ciúme.
Na Globo, isso é ainda mais acentuado.
Não basta à família Marinho ter total controle sobre o que é dito ou não dito no Jornal Nacional.
É preciso que todo mundo tenha ciência desse controle.
O jornalista Evandro de Andrade, que dirigiu o Globo e o telejornalismo da empresa, sabia perfeitamente disso.
Em sua biografia sobre Roberto Marinho, Bial conta que Evandro conseguiu o cargo de editor do Globo depois de garantir ao patrão que era “papista”.
Isso queria dizer o seguinte: o Papa Roberto mandou, está mandado. Não se discute.
Evandro jamais apareceu, porque o papismo não admite dupla autoridade. Por isso chegou aonde chegou. E por isso só saiu da Globo morto, num caixão.
No Estadão, nos anos 1990, Augusto Nunes desafiou a regra das empresas familiares. Tinha assumido fazia pouco tempo o jornal, e topou ser capa da revista Veja São Paulo. Aparecia como uma espécie de salvador dos Mesquitas. Aquela capa foi seu epitáfio no Estadão. Dias depois, estava fora.
O telejornalismo da Globo nunca teve um âncora exatamente por esse motivo. Um âncora se destaca, ganha notoriedade, autonomia, e pode falar coisas que os Marinhos não querem que sejam ditas.
Bonner é uma extensão modernizada de Cid Moreira. Dá a impressão de ter mais conteúdo, mas no fundo o que faz é ler.
E é assim que ele sempre foi visto, dentro e fora da Globo: um leitor de notícias que escrevem para ele.
Esta série inusual de entrevistas muda a forma como Bonner é visto fora da Globo, pela extraordinária repercussão.
Ele ganhou estatura. Parece ter uma influência que ninguém jamais enxergou nele.
É certo que nenhuma pergunta que ele fez e fará aos candidatos escapou do crivo e da aprovação dos Marinhos, nos bastidores.
Mas isso o mundo exterior ignora. E de repente Bonner parece, para a voz rouca das ruas, ter o tamanho de um Shaquille O´Neal.
Isso atrairá a ele, internamente, doses copiosas de raiva e inveja.
Começa no seu chefe, mas vira um problema mesmo quando chega ao acionista.
O maior risco, para Bonner, será acreditar que pode voar. Não pode. Só poderia se a emissora fosse sua.
Ou se a Globo não fosse, como é, um papado, como entendeu tão bem Evandro de Andrade.
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