segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Os fantasmas que apavoram FHC

Por Altamiro Borges

Em artigo no Estadão deste domingo (3), o ex-presidente FHC fez uma análise sombria da realidade e concluiu: “Vejo fantasmas? Pode ser, mas é melhor cuidar do que não lhes dar atenção”. De fato, ele teme vários fantasmas. Um deles é bem real: o povo brasileiro, que o rejeita – como apontam todas as pesquisas sobre a popularidade do seu reinado ou sobre sua capacidade de influenciar o eleitorado. Outro fantasma, até hoje contido, é o da abertura de investigações sobre as maracutaias do seu governo – como a compra de votos para a sua reeleição, a privataria das estatais e tantas outras. Mas o fantasma que FHC mais teme, sem dúvida, é o de uma quarta derrota consecutiva nas eleições presidenciais.

Seu artigo visa exatamente afastar este fantasma. “Ainda é cedo, mas há fortes indícios de que o PT perderá as próximas eleições. Em que Estado com muitos eleitores seus candidatos a governador se mostram competitivos?”, pergunta logo na abertura. FHC podia aproveitar para responder em que Estados o seu PSDB está bem das pernas. Os tucanos não têm candidatos fortes em importantes unidades da federação – como no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Bahia e tantos outros. Além disso, a sigla corre o risco de perder em Minas Gerais e no Paraná. No caso de São Paulo, o “picolé de chuchu” Geraldo Alckmin, blindado pela mídia tucana, parece imbatível. Mas não é! 

FHC prefere não falar sobre o quadro, este sim muito sombrio, no principal Estado da federação, com a crise de abastecimento de água, o caos no transporte público e os índices alarmantes de violência urbana. Em seu artigo, FHC também poderia citar os capachos do DEM – este, sim, um típico fantasma. Os demos tendem a desaparecer nas eleições de outubro, rumando para o inferno – se o diabo aceitar tão péssima companhia. No caso do PPS, do servil Roberto Freire, não valia realmente gastar tinta e papel! No computo geral, as eleições ainda estão indefinidas – nem começaram de fato. O que dá para dizer, porém, é que “há fortes indícios” de que a oposição neoliberal (PSDB, DEM e PPS) tende a encolher!

Temendo este fantasma, FHC faz um esforço prévio para se inocentar. Afirma que a “herança maldita” – “estigma que petistas ilustres quiseram impingir ao meu governo” – foi uma invenção. Cinicamente, o ex-presidente argumenta que elevou os juros, colocou o Brasil de joelhos diante do FMI e paralisou a economia, causando índices recordes de desemprego, para garantir a chegada tranquila do PT ao governo central. Ele jura que agiu como estadista, sem qualquer apego ao poder e à agenda eleitoral! Para FHC, a presidenta Dilma – com suas “taxas de rejeição nas nuvens, onde nem o céu é limite” – não demonstra a mesma disposição diante dos riscos de derrota nas eleições de outubro. Daí seus falsos temores:

“Agora, na eventualidade de vitória oposicionista (e, repito, é cedo para assegurá-la), que fazem os detentores do poder? Previnem-se ameaçando: faremos o controle social da mídia; criaremos um governo paralelo, com comissões populares sob a batuta da Casa Civil, que dará os rumos à sociedade; amedrontam bancos que apenas dizem o que todos sabem, etc. Sei que são mais palavras equívocadas do que realidades impositivas. Mas denotam um estado de espírito. Em lugar de se prepararem para "aceitar o outro", como em qualquer transição democrática decente, estigmatizam os adversários e ameaçam com um futuro do qual os outros estarão excluídos. Vejo fantasmas? Pode ser, mas é melhor cuidar do que não lhes dar atenção”.

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4 comentários:

Anônimo disse...

Como ex-intelectual, FHC não pode dizer que boatos são verdadeiros, quando ele sabe que não são.

Então ele se sai com este "Vejo fantasmas? Pode ser" -- uma maneira covarde de repetir os boatos sem afirmar nada.

jonios disse...

FHC deveria desistir de escrever para os jornais. Tudo que ele diz em seus artigos tem um efeito bumerangue: volta sobre ele mesmo. Parece que ele está comentando o negro período em que ele dilapidou o patrimonio nacional, quebrou o Brasil, curvou-se ao FMI, tomou um pito público de Bill Clinton sem esboçar qualquer reação, etc. etc. FHC deveria conformar-se com a rejeição que lhe devota fervorosamente o povo brasileiro, que não deseja viver os apertos vividos em seu negro período de (des)governo. Já morreu e esqueceu de deitar.

Anônimo disse...

Quanta besteira e mentirinha este senhor, FHC, fala! Aceitar o outro?
Até hoje, eles, oposição, não aceitaram o "diferente".
Nós é que ficamos apavorados com a ideia de ter de volta aqueles fantasmas de seu governo e dos do PSDB, DEMOS e cia , FHC!

Elisa

antonio barbosa filho disse...

Miro e amigos: com alegria, comunico-lhes a absolvição do blogueiro Irani Gomes de Lima, de Taubaté-SP, no processo que lhe movia o ex-presidente da FDE - Fundação para o Desenvolvimento da Educação, José Bernardo Ortiz. Irani foi um dos raríssimos jornalistas (fomos dois, na verdade) a denunciar as fraudes em licitações para compra de mochilas e materiais para a rede estadual de ensino de SP. As comissões pagas serviram para a campanha vitoriosa (e milionária) do filho de Bernardo para prefeito de Taubaté, em 2012. Graças às denúncia que fizemos, especialmente o Irani, o prefeito de Taubaté foi cassado em primeira instância há quase um ano, e deverá ter a sentença confirmada nos próximos dez dias pelo TRE, deixando o cargo que comprou, mesmo recorrendo ao TSE. Foi uma grande vitória do direito à livre expressão e da Liberdade de Imprensa. Acho que o Barão deve tomar ciência desta luta que nada tem de local, mas afeta diretamente o Governo Alckmin.