domingo, 14 de setembro de 2014

Marina Silva, a UDN de tamancas

Por Leopoldo Vieira, no blog de Zé Dirceu:

Em seu pronunciamento pelo Dia da Independência, Marina deixou claro que, enfim, a barriga-de-aluguel “socialista” pariu a nova herdeira das forças entreguistas, elitistas e autoritárias do país. Vamos a alguns trechos selecionados.

- “Hoje é o dia histórico da independência do Brasil. Nesta data, em 1822, deixamos de ser uma colônia de Portugal (…) Esse gesto que consolidou a longa luta pela independência do Brasil foi fonte de inspiração, ao longo da nossa história, para outros gestos e outros momentos em que reafirmamos nosso amor à liberdade: o fim da escravidão, a República, o direito das mulheres ao voto, a campanha do petróleo é nosso, a luta pelas Diretas Já, a Constituição de 1988, a estabilização da moeda e o início do importante processo de inclusão social”.

Marina simula uma narrativa linear, sem lados, sem enfrentamentos. Sintomático que ela tenha se esquecido de mencionar a Revolução de 30… O sentido do “brado retumbante”, contudo, não é uma linha reta que chega à “nova política”. O gesto de D. Pedro I começou a abrir no país uma disputa sobre o destino da nação, um berço esplêndido de soberania política, independência econômica e justiça social ou não.

O fim da escravidão, por exemplo, só foi completado com o advento da CLT de Getúlio Vargas e seu trabalhismo, mesma corrente que assegurou o voto das mulheres e o controle nacional sobre o petróleo. A disputa sobre o sentido do “brado retumbante” esteve também na raiz do modelo de República, se o guarda-chuva de oligarquias regionais ultra-liberais e seu sistema de poder – a Política do Café-com-Leite – ou, outro, que acabou este mesmo trabalhismo expressando, com Justiça e Código Eleitoral, a substituição das importações pela industrialização etc.

A luta pelas eleições diretas para presidente e a Constituição de 88 foram respostas do povo aos 25 anos de ditadura militar, cuja implantação ocorreu para impedir que o projeto trabalhista de país fosse adiante, com as Reformas de Base de João Goulart. A Constituição de 88 foi fruto da explosão dos movimentos e demandas sociais reprimidas em 64, casada com novidades emanadas das contradições do Milagre da concentração de renda.

Já o “início do importante processo de inclusão social”, modo como Marina se referiu aos governos Lula, foi expressão da ruptura da sociedade com o projeto neoliberal, que, na prática, representou o resgate daquele velho e bom trabalhismo à luz dos desafios do século XXI.

O oposto do trabalhismo, há 20 anos, estava sendo representado pelo bloco liderado pelo PSDB. Emblematicamente, Marina copiou o programa tucano e recebeu o apoio (crítico!) dos Clubes Militares, aqueles que chamam desaparecidos e torturados de terroristas e clamam por uma nova intervenção das forças armadas contra a democracia.

Por tudo isso, não passa de uma completa falácia a declaração dela, no mesmo “patriótico” discurso, de que “[PT e PSDB] não se conformam de ver sua bem treinada e confortável polarização ser quebrada pela primeira vez em décadas”. A candidatura de Marina vai além e assume a liderança do fantasma udenista. Não à toa, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, é sustentada pelas intenções de voto da centro-direita.

* Leopoldo Vieira é secretário do Núcleo Petista Celso Daniel de Administração Pública e coordenador do Monitoramento Participativo do PPA 2012-2015.

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