Por Altamiro Borges
Alegria pela vitória nas urnas e apreensão diante das turbulências dos próximos quatro anos. Estes dois sentimentos estiveram presentes na posse de Dilma Rousseff nesta quinta-feira (1) – seja entre os militantes que ocuparam o gramado da Esplanada dos Ministérios, entre os convidados para a solenidade oficial no segundo andar do Palácio do Planalto ou na festa realizada do Itamaraty. Segundo o comando da Polícia Militar, cerca de 40 mil pessoas participaram das atividades na tarde de intenso calor em Brasília. Alguns veículos da imprensa jogaram as estimativas para baixo – falaram em 10 mil participantes –, numa cobertura “jornalística” nitidamente negativista, baseada em futricas e intrigas. Mas a festa foi bonita e deve ter irritado o cambaleante Aécio Neves, os mais hidrófobos da oposição demotucana e da mídia golpista e os fascistas que rosnam pelo impeachment da presidenta e pela volta dos militares ao poder.
Inimaginável numa posse de FHC ou Geraldo Alckmin, a manifestação em Brasília foi popular e juvenil. Milhares de pessoas se descolaram dos seus Estados, em ônibus fretados e rodando dezenas de horas. Com cartazes e faixas, eles saudaram a presidenta reeleita – que desfilou em carro aberto –, registraram os nomes de suas distantes cidades e apresentaram suas demandas. Várias faixas estampavam a reivindicação da “reforma política”. Esbarrei em petroleiros, metalúrgicos, operários da construção civil e bancários. Havia muitos jovens, alegres e irreverentes, gritando palavras-de-ordem. A primeira que ouvi foi “Fora Rede Globo, o povo não é bobo”. Caravanas de movimentos de luta pela moradia e de trabalhadores rurais sem-terra também se fizeram presentes.
Nas conversas durante o longo percurso na Esplanada dos Ministérios, sempre procurando uma árvore para fugir do sol escaldante, aquele misto de alegria e preocupação. Abnegados ativistas, maiores responsáveis pela vitória épica de Dilma Rousseff “contra tudo e contra todos”, eles se abraçavam e descreviam como foi a campanha eleitoral na sua localidade. Na sequência, muitos indagavam sobre as dificuldades que a presidenta reeleita irá enfrentar: a economia em retração, a agressividade da direita, como suas marchas fascistas de estímulo ao ódio e ao preconceito, a ofensiva midiática de manipulação e golpismo. Também muitas dúvidas sobre o novo ministério, que reúne algumas expressões do conservadorismo. “Não vai ser nada fácil” – muitos argumentaram.
Já no segundo andar do Palácio do Planalto, o clima era o mesmo. Havia ministros – alguns de saída e outros prestes a serem empossados –, governadores, prefeitos e parlamentares e inúmeras lideranças da sociedade civil. Cumprimentei vários sindicalistas da CUT, CTB, UGT, NCST, CSB e Contag. Conversei com as presidentas da UNE, UBES e da ANPG. Esbarrei em ativistas destacados do movimento negro, de mulheres, de moradia e dos sem-terra. Blogueiros e ativistas da cultura também circulavam pelo amplo salão, como convidados oficiais. Todos festejavam a quarta derrota eleitoral consecutiva da direita – com inúmeras piadinhas sobre a ressaca do cambaleante Aécio Neves –, mas também explicitavam as suas preocupações sobre o segundo mandato de Dilma Rousseff.
Nas conversas, os maiores temores eram sobre as mudanças na política econômica para fazer o Brasil voltar a crescer e sobre a composição conservadora do Congresso Nacional. No geral, todos aplaudiram os dois discursos da presidenta Dilma. Já na posse dos novos ministros, ninguém vaiou ninguém. Mas, de forma civilizada, as simpatias e as desconfianças foram explicitadas no anúncio dos nomes. Joaquim Levy, o ortodoxo ministro da Fazenda, e Kátia Abreu, a ruralista que comandará a Agricultura, geraram certo burburinho. Este é o “ministério da defensiva”, comentou um deputado federal. Um jornalista amigo brincou: “É o ministério da retranca” para enfrentar as dificuldades. Um blogueiro mais atrevido arrematou: “Não é um ministério, é uma esquizofrenia”.
Já na festa no belíssimo salão do Itamaraty, o clima foi mais descontraído. Embaixadores de dezenas de países circulavam com as suas vestimentas e línguas distintas. Os novos ministros, agora empossados, eram questionados sobre seus planos de trabalho. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, era uma das autoridades mais assediadas, na esperança que se faça realmente Justiça no Brasil. O deputado Jean Wyllys, do PSOL, foi bastante cumprimentado por sua coragem e altivez na batalha do segundo turno. Apesar da descontração, muito conversa rolou sobre os novos desafios políticos. No geral, todos concordavam: o próximo período será de fortes emoções e muita adrenalina. O Brasil não será o mesmo após a eleição de outubro passado!
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1 comentários:
Caro Miro, veja aí a abertura duma matéria que merece maior divulgação. Publiquei hoje no meu blog Evidentemente - www.blogdejadson.blogspot.com abraço, Jadson:
ZAFFARONI: “NA CORTE TEMEM O ESCÂNDALO JORNALÍSTICO, ESSE TERRORISMO MIDIÁTICO QUE SOFREMOS”
“Há uma parte do Poder Judiciário (na Argentina) que está alinhada claramente com um partido, e quando falo de partido quero dizer Clarín” (pensando no Brasil, leia-se Rede Globo).
“Não há democracia se o povo não tem pluralidade de fontes de informação”.
Por Jadson Oliveira, jornalista/blogueiro – editor do blog Evidentemente, de 03/01/2015
A matéria de capa de hoje (sábado, dia 3) da edição impressa do jornal argentino Página/12, muito conhecido aqui dos leitores deste blog Evidentemente, é uma entrevista com o juiz Raúl Zaffaroni, que acaba de se aposentar da Corte Suprema de Justiça (o equivalente ao nosso Supremo Tribunal Federal – STF). A autora da matéria, Irina Hauser, o apresenta como uma pessoa bem humorada, de hábitos simples e informais. Foi designado para a Corte pelo então presidente Néstor Kirchner.
(Está claro que todas as informações que reproduzo aqui são “chupadas” da entrevista. O título que uso acima é a tradução literal da manchete de capa. O título usado pelo diário na edição das páginas internas destaca o desprestígio que tal situação resulta para o Poder Judiciário).
Dentre outros assuntos, ele fala desassombradamente do terrorismo midiático, ou seja, da ditadura que a mídia hegemônica exerce sobre a sociedade, impondo as versões afinadas com a direita – sua visão de mundo, seus valores -, e com os interesses das oligarquias de cada país, por sua vez embicadas com os interesses do império estadunidense e suas grandes corporações transnacionais.
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