O argumento é sentimental: dizer que ocorreu uma grande ampliação do consumo, em particular de eletro-domésticos, mas lamentar em tom lacrimoso que não houve um aumento correspondente na oferta de energia.
O truque é esconder o que ocorreu com nossa oferta de energia - e quem é responsável pelo que acontece agora. Não estamos falando de um episódio que aconteceu ontem ou na semana passada nem há dois anos mas de uma política de décadas.
Qualquer que seja a causa real para os cortes de energia dos últimos dias, a verdade é que o país estaria em situação muito mais segura e confortável se não tivesse sido obrigado a enfrentar - e ceder - diante de pressões poderosas, ocupadas em atrasar os principais investimentos no setor, com argumentos razoáveis, absurdos ou apenas estúpidos mas que, na prática, apenas contribuíram para enfraquecer o desenvolvimento do país. O governo Lula-Dilma encontrou o dinheiro, fez o projeto, definiu como seria feito - mas foi impedido de seguir em frente, por campanhas políticas, de marketing, ou através da judicialização do debate.
Segunda da maior hidroelétrica do país, a terceira maior do mundo, Belo Monte é um projeto de três décadas, que sofre um massacre sistemático e agressivo, inclusive campanhas internacionais com estrelas de Hollywood, onde se multiplicaram ações na Justiça e repentinas preocupações com o bem-estar dos trabalhadores dos canteiros de obras apenas para justificar o apoio a todo tipo de paralisação. Poderia estar pronta, contribuindo para acender lampadas no país inteiro mas só vai entrar em funcionamento no ano que vem. Irá produzir menos da metade de seu potencial porque a pressão ecológica levou a uma reforma do projeto para agradar entidades ambientais.
Contra a usina de Madeira se insurgiram os amigos de um tipo especial de bagres que se reproduzem pelo rio - e poderiam ser ameaçados pelas turbinas.
Faça sua lista e não esqueça de incluir as usinas nucleares que, de uma forma ou de outra, asseguram energia para a maioria das sociedades desenvolvidas, inclusive aquelas que financiam milionárias entidades ecológicas abaixo da linha do Equador. Não pense em teorias da conspiração.
É disputa de interesses, pura e simplesmente, tão antiga como a história do capitalismo.Falando na forma de caricatura, apenas para tornar as questões mais claras: houve uma época na qual as potencias mundiais usavam a religião para submeter os povos da América e da Asia com a ameaça do inferno cristão. Hoje, a ameaça de destruição da Terra serve como argumento ideológico para manter tudo como está - e azar de quem ainda não possui aquilo que necessita e tem direito.
É claro que Marina Silva tem explicações a dar nesse debate, vamos combinar. Suas responsabilidades são óbvias, ainda mais como candidata presidencial, que se apresenta como porta-voz da natureza ameaçada. Emprestou um prestígio adquirido na luta popular para causas que nada tem a ver com a melhoria no bem-estar das maiorias. Ajudou a dividir a resistência brasileira para defender o direito ao desenvolvimento. Mas não só.
Esse discurso só tem ressonância porque expressa interesses muito maiores, que nada tem a ver com os brasileiros que lutam dia e noite por um destino melhor na floresta - mas às grandes forças que sempre governaram o mundo e trabalham diariamente para manter tudo como está. Não foi por acaso que o esforço do PSDB para ampliar nosso parque energético esteve perto da nulidade.
Não se trata de negar a importância de medidas preservacionistas. Elas podem e dever ser estimuladas. A questão é de prioridade: preservar a natureza ou o status quo? Para quem? Para beneficiar o que?
O debate é este.
3 comentários:
Como disse a presidente quando os atacados era o pt autentico e a turma do lula, não estão satisfeitos, é só usar o controle remoto....
volta helena chagas, a chefe é a mesma....
Olha... Lamento, mas este governo está pavimentando com galhardia o acesso ao poder dos tucanos em 2019 ou até de outro bem mais à direita. A classe media está sendo massacrada e os rentistas e ricos numa boa... 1,4 trilhões de reais para pagar juros de especulador? E pau nas alíquotas do IR? Lamento. Faz falta um Siritza ou um Podemos aqui. O resto está mofado.
O executivo federal passa por falta de credibilidade crônica. Qualquer raio que cair servirá para a oposição criticar. Bom texto. Aproveito para divulgar o Blog do Ebook: http://blogdoebook.blogspot.com.br/
Postar um comentário