quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A ilusão da diversidade em Hollywood

Por Dandara Lima, no site da UJS:

A 87ª cerimônia do Oscar, que acontece no dia 22 de fevereiro, celebrará os verdadeiros donos da indústria do entretenimento estadunidense: o homem branco.

Apesar dos tímidos avanços da última edição e da escolha de Cheryl Boone Isaacs como primeira mulher negra a presidir a organização, o Oscar ainda não está disposto a contestar a hegemonia branca masculina.

Após a divulgação da lista dos indicados, uma onda indignada tomou as redes sociais com as hashtags #OscarsSoWhite (Oscar tão branco) e #whiteOscars (Oscar branco). Nenhum ator negro foi indicado (apesar de “Selma” concorrer a melhor filme) e nenhuma mulher aparece nas categorias de direção, roteiro e fotografia. Dentre indicados a filme, nenhum tem protagonista mulher. É a primeira vez que isso acontece desde 2006.

A academia ao esnobar a diretora e os atores de “Selma” deixou claro que não entendeu ou não se importa com o atual conflito social e racial do seu país, com as grandes mobilizações de massa em apoio a Ferguson, pedindo o fim do genocídio da população negra. Selma retrata a trajetória de Martin Luther King Jr, ironicamente lançado em um ano que reacendeu as marchas da população afro-americana por direitos, mas dessa vez não tão pacíficas.

Mas ao olhar para os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood podemos entender onde começa a falta da diversidade. Segundo levantamento publicado pelo “Los Angeles Times”, dos mais de 6 mil membros, 94% são brancos, 77% são homens, e 86% têm mais de 50 anos. Sem levar em consideração a grande porcetagem de judeus.

David Oyelowo não foi indicado como melhor ator por sua interpretação de Martin Luther King em “Selma”, mas Bradley Cooper emplacou sua terceira indicação em três anos por “Sniper americano”, uma propaganda que glorifica a indústria da guerra estadunidense.

Dos indicados à principal categoria do Oscar 2015, apenas “Selma” fala sobre negros. Os outros sete filmes são sobre um atirador de elite das forças especiais da marinha americana (“Sniper americano”); um ator decadente de filmes de super-herói (“Birdman”); a passagem do tempo na vida de um garoto de classe média (“Boyhood”); um dedicado gerente de hotel na Europa oriental (“O grande hotel Budapeste”); o matemático e pioneiro na computação Alan Turing (“O jogo da imitação”); o físico teórico e cosmólogo Stephen Hawking (“A teoria de tudo”); e sobre um baterista de jazz (“Whiplash”).

Dessa lista sete são dirigidos por homens brancos, menos “Selma”, de Ava DuVernay,que no domingo 11 havia sido celebrada como a primeira afro-americana indicada na categoria no Globo de Ouro.

“Quem pensou que este ano ia ser como no ano passado é retardado. Uma vez a cada dez anos mais ou menos recebo telefonemas de jornalistas sobre como as pessoas estão aceitando filmes com pessoas negras. Antes do ano passado, foi em 2002 com Halle Berry, Denzel Washington, e Sidney Poitier. É um ciclo de 10 anos”, disse o diretor Spike Lee ao site The Daily Beast.

As mulheres só estão presentes na premiação desse ano porque existem categorias que exigem a presença delas. Em 87 anos de premiação, quatro diretoras foram indicadas, sendo Kathryn Bigelow a única a ganhar, por “Guerra ao terror”, em 2010.

Gillian Flynn, autora do best-seller “Garota exemplar”, escreveu a adaptação para o cinema e teve seu trabalho ignorado. Nos últimos 20 anos, só Diablo Cody e Sofia Coppola ganharam o Oscar de roteiro original. E quatro mulheres – Ruth Prawer Jhabvala, Emma Thompson, Fran Walsh e Phillipa Boyens – ganharam de melhor roteiro adaptado desde 1993.

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