domingo, 12 de abril de 2015

A Globo e seu ovo de serpente

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Editorial do jornal Brasil de Fato:

Em 2010, quando Maria Judi­th Brito, então presidente da Asso­ciação Nacional de Jornais (ANJ) e executiva do grupo Folha de S. Pau­lo, anunciou que a imprensa deveria assumir, de fato, “a posição oposi­cionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”, es­cancarou o ovo de serpente que es­tava sendo chocado.

O filme “O ovo da serpente”, do sueco Ingmar Bergman, produzido em 1977, retratou a Alemanha dos anos pós I Guerra Mundial, e cap­tou com magistral sutileza uma so­ciedade à beira do caos econômico e político, onde já era possível vis­lumbrar o réptil que estava sendo gerado: o nazismo.

Muitas das faixas carregadas na avenida paulista, na manifestação do dia 15 de março, se devem à es­sa partidarização da mídia brasi­leira. Sem as amarras da legislação que regem os partidos políticos, a mídia se sentiu livre para criminali­zar a política, de modo geral, e, es­pecificamente, destilar seu ódio de classe contra o partido que venceu as últimas quatro eleições presiden­ciais, o PT.

Até poucos anos atrás, era impen­sável imaginar que os setores retró­grados, minoritários e que sempre existiram, se atreveriam ir às ru­as carregando faixas com a suásti­ca nazista ou pedindo a volta da di­tadura militar. Sentiram-se encora­jados e incentivados por um único motivo: também fazem oposição ao atual governo federal.

Não se esconde mais a baba de ódio e de preconceito desses grupos fascistas. Os alvos preferidos são os esquerdistas, comunistas, os negros, os nordestinos, os petralhas, gayzis­tas, feministas, bolivarianos, chavis­tas etc. São alvos por causa da sua militância política e pela sua posição social, gênero e/ou raça.

Ver o senador tucano Aluísio Nu­nes, de honroso passado de lutas contra a ditadura militar, dizer com mórbido prazer que quer sangrar a presidenta da República é algo es­tarrecedor. Talvez, ele, com sua face crispada de ódio, sintetize o melhor retrato da transformação que vem ocorrendo em nossa sociedade.

Privilegiadíssima pelo oligopólio midiático que lidera – e encoraja­da pelo acovardamento do partido que governa o país – a Rede Globo choca seus ovos de serpente.

Have­rá a história de elucidar quem se­gurava a faca no pescoço do STF, durante o julgamento da Ação Pe­nal 470 – o mensalão petista –, de­núncia feita por um dos ministros do próprio Supremo. A espetacu­larização midiática daquele julga­mento assegurou o resultado dese­jado e anunciado insistentemente pela mídia, às custas de que a ver­dade é uma quimera.

É vergonhosa, e cada vez mais es­cancarada, a forma como mídia par­tidariza o seu jornalismo. Escânda­los nos governos aliados aos seus in­teresses, principalmente dos tucanos, não são noticias. A conta-gotas se no­ticia a corrupção existente no trans­porte público de trens em São Pau­lo, governado há duas décadas pe­lo PSDB.

Sobre o governo de Aécio Neves, em Minas Gerais, só há espaços para elogios e para enaltecer seu “choque de administração”. Veremos como será noticiado/ocultado a radiografia das finanças do Estado, feita nesses primeiros 100 dias de governo petis­ta em Minas.

Deverá receber tanto destaque quanto recebeu o helicóptero apreen­dido com 450 quilos de pasta de co­caína, pertencente (o helicóptero!!) ao senador amigo e aliado político do senador Aécio Neves.

O mensalão tucano, devolvido à primeira instância do poder Judiciá­rio – direito negado aos petistas – es­pera apenas, tudo indica, prescre­ver e deixar impunes tucanos gordos e vivos.

As vezes que aparece o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em denúncias que possam ligá-lo aos casos de corrupção, há sempre a sutil observação de edito­res atentos: podemos tirar, se achar melhor.

Há que se reconhecer, no entan­to, que esse zelo que a mídia tem pe­la imagem de alguns partidos não se restringe aos tucanos. O sena­dor Agripino Maia (DEM/RN), des­fila alegremente nas passeatas como paladino da ética na politica e na lu­ta contra a corrupção, mesmo acusa­do pelo Procurador Geral da Repu­blica, Rodrigo Janot, de cobrar pro­pinas para permitir um esquema de corrupção no serviço de inspeção vei­cular, no seu Estado.

E Demóstenes Torres, ex-senador e procurador de Justiça acusou o se­nador Ronaldo Caiado (DEM/GO) de roubar, mentir e trair, ter campanhas eleitorais financiadas pelo contraven­tor Carlos Cachoeira e de passar fé­rias na Bahia às custas da empresa OAS. Virou mais uma não-notícia, na mídia partidarizada.

Não bastasse a corrupção parti­dária em suas fileiras, a mídia ago­ra precisa não noticiar as milionárias contas bancárias mantidas no HS­BC, na Suíça e a bilionária sonegação e impostos, desbaratada pela Policia Federal, na Operação Zelotes.

No primeiro caso aparece até mes­mo a viúva de Roberto Marinho, Lyly de Carvalho. Integrantes da família Saad, donos da Rede Bandeirantes, também estão lá, juntamente com os da Rádio Jovem Pan. Não é ilegal ter uma conta bancária no exterior, des­de que declarada à Receita Federal.

Na operação Zelotes, está lá a RBS, umas das principais afiliadas da Re­de Globo.

Começam a ser tantos os fatos não noticiados que será necessário au­mentar o tempo das novelas.

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