domingo, 6 de dezembro de 2015

Como o Google determina o que você vai ver

Por Ivan Longo, na revista Fórum:

Antes do rompimento de uma barragem que causou um dos maiores desastres naturais do mundo em Mariana (MG), o termo “Samarco” era ignorado pela maioria das pessoas. Isso por que ele só veio à tona nas discussões da internet por se tratar do nome da mineiradora responsável pela construção e gestão da barragem que rompeu. Para o Google Imagens, no entanto, aparentemente a empresa não tem qualquer relação com a tragédia. Em uma busca por imagens relacionadas ao termo, os resultados mostrados são, em sua maioria, imagens institucionais e de cunho propagandístico.



Como o Google é o hoje o maior buscador da web, fica a a impressão de que são essas as imagens e resultados de mais relevância em relação à empresa. A busca pelo mesmo termo feito em outro buscador, no entanto, mostra que internet não se resume ao Google e sugere que critérios no mínimo questionáveis podem estar sendo utilizados para filtrar os resultados.

No DuckDuckGo – buscador independente que garante não rastrear os dados dos usuários -, as imagens para o termo “Samarco” estão, em sua maioria, relacionadas à tragédia ambiental em Minas Gerais – exatamente o mote que fez o termo vir à tona.



De acordo com o analista de redes Tiago Pimentel, esse diferença exacerbada nos resultados é causada por dois fatores: um é a capacidade de indexação dos buscadores e outro são os algoritmos que cada um deles utiliza para selecionar e priorizar a ordem dos resultados na sua exibição. No caso da busca pelo termo “Samarco”, são os algoritmos – isto é, os elementos que selecionam e priorizam os resultados – que determinam esse tipo de “filtragem”. Enquanto o Google rastreia os dados dos usuários para oferecer resultados “personalizados”, o DuckDuckGO afirma garantir a privacidade e, por isso, em tese, oferece resultados mais plurais.

“Sob o propósito de oferecer resultados (e anúncios) segmentados, sua verdadeira intenção é a maximização dos lucros da empresa. O custo maior desse modelo de negócios é pago com a privacidade de quem utiliza o serviço”, explicou Pimentel.

Segundo o analista, os resultados mostrados para o termo no Google contraria a tese de que o buscador tem os melhores algoritmos de priorização de busca, que deveriam selecionar os resultados que são mais acessados na web. No caso da Samarco, a busca está sempre relacionada à tragédia de Mariana.

“Nota-se que, neste caso, o Google tem priorizado imagens institucionais, ignorando as tendências de pesquisa sobre o termo ‘Samarco’ nas últimas semanas. O discurso da empresa sobre si mesma parece estar sendo privilegiado em relação aos discursos da sociedade civil sobre essa mesma empresa”, avaliou Tiago, salientando que independente do teor técnico que esse tipo de discussão carrega, os fatores ideológicos ou políticos não podem ser ignorados.

“Se é uma questão técnica do funcionamento do algoritmo ou se é uma questão política, é difícil saber. Fácil é perceber que mesmo as mais banais questões técnicas estão impregnadas de questões políticas”.

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