Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A revelação de que o empresário João Doria recebeu recursos de vulto da Apex, uma agência de estímulo à exportação do governo Dilma Rousseff, para pagar despesas de uma homenagem a Fernando Henrique Cardoso em Nova York, é um desses episódios que servem de termômetro de uma situação de tragédia política.
Do ponto de vista do governo, não cabe a nenhuma instituição gastar dinheiro público para estimular sessões de culto à personalidade de nenhum tipo, mesmo para os amigos.
Chega a ser politicamente absurdo quando se trata de Fernando Henrique Cardoso, que vestiu smoking para uma festa onde recebeu, em 2015, um título de O Homem do Ano.
A homenagem a FHC ocorreu em julho, quando o principal produto de exportação tucana era uma mercadoria política voltada para o mercado interno: articulações pelo impeachment de Dilma.
Naquele mês o PSDB tentava emparedar o Planalto, consolidando sua aliança com o presidente da Câmara Eduardo Cunha. Fernando Henrique chegou a se manifestar de modo responsável, na época, ao dizer que não havia uma “ narrativa convincente” para se pedir o afastamento de Dilma.
Essas palavras inspiraram movimentos por parte de quem acreditava num pacto de não-agressão capaz de abrir uma rachadura nas fileiras adversárias e esvaziar a musculatura do golpe contra a presidente.
Contra movimentos que ocorriam no privado, a resposta do ex-presidente foi pública, sem permitir dúvidas sobre sua opção:
- O momento não é para busca de aproximação com o governo, mas com o povo – disse. Prosseguiu:
- Qualquer conversa não pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não deve ser salvo.
O financiamento a uma homenagem a um presidente que foi buscar “aproximação com o povo” em Nova York também chama atenção pelo segundo personagem. Dória não é um lobista discreto, com atuação profissional e opiniões reservadas, postura distanciada e isenta.
É um adversário aberto do PT e do governo, o que dá um aspecto particularmente constrangedor ao caso, revelado por Daniela Lima, da Folha de S.Paulo. Dória manifesta suas opiniões com palavras de insulto, como dizer que Lula é “sem vergonha”. Também diz que vai pedir ao juiz Sérgio Moro para “adiar a prisão” do ex-presidente.
Isso não começou agora.
Em 2007, Dória lançou o movimento “Cansei!,” que tentou arregimentar os bairros chiques de São Paulo em protestos de cidadãos inconformados com a derrota de Geraldo Alckmin para Lula, no ano anterior.
Demonstrando um persistente inconformismo diante de derrotas eleitorais, em 2015 os mesmos cidadãos voltaram ás ruas, com faixas que falavam até em intervenção militar.
Foi então que Doria recebeu R$ 950 000 da Apex, soma 25% mais elevada do que a recebida em 2013, que até então havia sido o ano de seu maior faturamento junto ao governo petista.
Um ano antes, na campanha de 2014, Doria foi um destacado aliado de Aécio Neves nos bastidores da política de São Paulo.
Em contribuições variadas, em dez anos Dória recebeu recursos do governo federal que somam R$2,2 milhões. É um bom dinheiro.
Se você aplicar a inflação de uma década, a soma ultrapassa os R$ 2,5 milhões que Luiz Claudio Lula da Silva recebeu de um lobista da Anfavea. Este episódio, como se sabe, tem sido usado para aumentar a pressão contra Lula, para surpresa até do procurador Frederico Paiva, do Ministério Público Federal, responsável pela Operação Zelotes, que já disse alto e bom som que não enxerga nenhum motivo para que o ex-presidente fosse chamado a prestar depoimento à Polícia Federal.
É trágico mas também pode ser engraçado, não?
A revelação de que o empresário João Doria recebeu recursos de vulto da Apex, uma agência de estímulo à exportação do governo Dilma Rousseff, para pagar despesas de uma homenagem a Fernando Henrique Cardoso em Nova York, é um desses episódios que servem de termômetro de uma situação de tragédia política.
Do ponto de vista do governo, não cabe a nenhuma instituição gastar dinheiro público para estimular sessões de culto à personalidade de nenhum tipo, mesmo para os amigos.
Chega a ser politicamente absurdo quando se trata de Fernando Henrique Cardoso, que vestiu smoking para uma festa onde recebeu, em 2015, um título de O Homem do Ano.
A homenagem a FHC ocorreu em julho, quando o principal produto de exportação tucana era uma mercadoria política voltada para o mercado interno: articulações pelo impeachment de Dilma.
Naquele mês o PSDB tentava emparedar o Planalto, consolidando sua aliança com o presidente da Câmara Eduardo Cunha. Fernando Henrique chegou a se manifestar de modo responsável, na época, ao dizer que não havia uma “ narrativa convincente” para se pedir o afastamento de Dilma.
Essas palavras inspiraram movimentos por parte de quem acreditava num pacto de não-agressão capaz de abrir uma rachadura nas fileiras adversárias e esvaziar a musculatura do golpe contra a presidente.
Contra movimentos que ocorriam no privado, a resposta do ex-presidente foi pública, sem permitir dúvidas sobre sua opção:
- O momento não é para busca de aproximação com o governo, mas com o povo – disse. Prosseguiu:
- Qualquer conversa não pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não deve ser salvo.
O financiamento a uma homenagem a um presidente que foi buscar “aproximação com o povo” em Nova York também chama atenção pelo segundo personagem. Dória não é um lobista discreto, com atuação profissional e opiniões reservadas, postura distanciada e isenta.
É um adversário aberto do PT e do governo, o que dá um aspecto particularmente constrangedor ao caso, revelado por Daniela Lima, da Folha de S.Paulo. Dória manifesta suas opiniões com palavras de insulto, como dizer que Lula é “sem vergonha”. Também diz que vai pedir ao juiz Sérgio Moro para “adiar a prisão” do ex-presidente.
Isso não começou agora.
Em 2007, Dória lançou o movimento “Cansei!,” que tentou arregimentar os bairros chiques de São Paulo em protestos de cidadãos inconformados com a derrota de Geraldo Alckmin para Lula, no ano anterior.
Demonstrando um persistente inconformismo diante de derrotas eleitorais, em 2015 os mesmos cidadãos voltaram ás ruas, com faixas que falavam até em intervenção militar.
Foi então que Doria recebeu R$ 950 000 da Apex, soma 25% mais elevada do que a recebida em 2013, que até então havia sido o ano de seu maior faturamento junto ao governo petista.
Um ano antes, na campanha de 2014, Doria foi um destacado aliado de Aécio Neves nos bastidores da política de São Paulo.
Em contribuições variadas, em dez anos Dória recebeu recursos do governo federal que somam R$2,2 milhões. É um bom dinheiro.
Se você aplicar a inflação de uma década, a soma ultrapassa os R$ 2,5 milhões que Luiz Claudio Lula da Silva recebeu de um lobista da Anfavea. Este episódio, como se sabe, tem sido usado para aumentar a pressão contra Lula, para surpresa até do procurador Frederico Paiva, do Ministério Público Federal, responsável pela Operação Zelotes, que já disse alto e bom som que não enxerga nenhum motivo para que o ex-presidente fosse chamado a prestar depoimento à Polícia Federal.
É trágico mas também pode ser engraçado, não?
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