Do blog de Renato Rabelo:
O Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou a redução da meta de inflação de 4,5% para 4,25% em 2019 e para 4% em 2020. É a primeira vez em 14 anos que o centro da meta é reduzido. Para o economista Paulo Kliass, a decisão faz parte da retórica do governo, que tenta passar a imagem de eficiência e responsabilidade. “Querem desviar o debate do fracasso que está sendo a política econômica hoje para tentar vender o peixe de que, em 2019, a coisa estará controlada. Mas não há essa garantia”, diz. “Eles estão reduzindo inflação porque estão quebrando o país”, diz Kliass.
O CMN também modificou a maneira como divulga a meta para a inflação. Até então, ela era informada com dois anos de antecedência . A partir de agora, a meta passa a ser divulgada três anos antes. O sistema de meta de inflação foi adotado pelo Brasil como principal diretriz de política monetária em junho de 1999. Trata-se de um compromisso que o país firmou com o argumento de dar segurança ao “mercado” sobre os rumos da economia, depois do período de hiperinflação nas décadas de 1980 e 1990.
Criado na esteira do Plano Real, o sistema prevê que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar dentro de uma faixa-limite estabelecida. Assim, o CMN fixa metas e o Comitê de Política Monetária (Copom) é o responsável por adotas medidas consideradas necessárias pelo Banco Central para que a inflação fique dentro deste patamar.
De acordo com Paulo Kliass, a decisão do governo de reduzir a meta de inflação para 2019 e 2020 é “irresponsável” e usada para reforçar uma ideia “falaciosa” de que a equipe econômica é o “suprassumo da credibilidade”.
Ele lembra que um dos argumentos utilizados para fragilizar a administração da ex-presidente Dilma Rousseff era o de que haveria no país um descontrole inflacionário. Isso por que, na gestão da petista, a inflação chegou a ultrapassar o teto superior da meta, que era de 6%. O tema terminou por dar mais munição para aqueles que defendiam o impeachment.
“Defendia-se que precisávamos de mais rigor, aquela coisa toda. E, depois da implementação do golpe, tentou-se vender a ideia de que, com a chegada do time dos sonhos do financismo ao poder, ia estar ‘tudo dominado’ e os problemas iam acabar. Colocaram dois banqueiros – Henrique Meirelles na Fazenda e Ilan Goldfajn no Banco Central –, mas não estão conseguindo entregar o venderam”, avalia.
Segundo o economista, as pessoas começam agora a perceber que não basta uma equipe técnica alinhada ao mercado para resolver os problemas macroeconômicos do país. E o resultado das medidas adotadas até então pelo presidente Michel Temer serviram, ao final, para aprofundar a recessão.
Sem resultados positivos para apresentar, o governo tem se dedicado a celebrar a queda da inflação. Kliass, contudo, ressalta que a queda no nível dos preços não está relacionada à eficiência da equipe econômica – pelo contrário.
“Eles estão reduzindo inflação porque estão quebrando o país. Tudo bem que a recessão vem de antes, mas ela foi aprofundada com a chegada de Meirelles e Ilan. A recessão está conseguindo reduzir a taxa de inflação, mas o custo social, político e econômico disso é absurdo. Você tem as falências, o desemprego em alta. E aí as pessoas não têm, claro, dinheiro para consumir. Por isso os preços estão caindo. Qualquer manual de macroeconomia explica essa redução”, alerta.
Kliass chama de “malandragem” a alteração da meta inflacionária. E destaca que as avaliações que o Banco Central faz – a partir de projeções encomendadas às instituições financeiras – são de natureza política. Costumam, portanto, mudar a depender da conjuntura.
“Como pretender estabelecer regras de inflação para 2020? É coisa para inglês ver. Não há garantias de que essa coisa vá se consumar. Eles querem vender peixe de que estabilizaram a economia, o discurso do ‘somos técnicos e responsáveis, tanto é que estamos garantindo que a inflação do futuro estará sob controle’. Mas não há essa garantia”, reitera.
O economista sublinha as mudanças que devem ocorrer no cenário, para defender a ideia de que é difícil prever como estará a economia nos próximos anos. “Esse governo deve se acabar ao longo dos próximos meses, haverá novas eleições, o mundo vai mudar, o Brasil vai mudar. Essa redução na meta é então uma coisa puramente pró-forma, não vai influenciar o debate da política monetária de curto prazo. O fato é que eles estão provocando a maior recessão da história e o país está quebrado. Aí a inflação caiu mesmo, mas isso não é mérito, é fracasso”.
Para ele, a redução das metas de inflação faz parte de um conjunto de medidas levadas adiante no pós-impeachment, que engessam as possibilidades de outros governantes fazerem uma política econômica diferente. “É justamente para que, em 2018, haja dificuldade de fazer uma política desenvolvimentista, inclusiva etc”, afirma, citando nesse rol as reformas trabalhista e previdenciária, além da Proposta de Emenda Constitucional que estabeleceu um teto para os gastos públicos.
No caso das metas de inflação, contudo, Kliass lembra que é algo mais simples de ser revisto mais à frente, uma vez que não são fixadas por legislação, mas por uma decisão atribuída a um colegiado – o CMN. “No futuro, um governo que vier e quiser uma política mais proativa do ponto de vista da política econômica, vai ter que ter recuperação da demanda, recuperação de salários, nível de emprego, capacidade de consumo e, eventualmente isso pode ter algum impacto de inflação. O que não pode é ser algo descontrolado, como em décadas anteriores”, coloca.
Os juros
Com a missão de zelar pela estabilidade dos preços, a cada 45 dias, o Copom se reúne e fixa a taxa de juros básica da economia, a Selic, hoje em 10,25%. “Por excelência, a ortodoxia recomenda a ideia de que é preciso manter a taxa de juros relativamente alta, tirando recursos monetários do ponto de vista da demanda, para que ela faça menos pressão sobre a oferta. E aí você teria uma redução de preços”, explica Kliass.
Nesse sentido, em teoria, o Copom deveria diminuir a Selic quando julga que a inflação está caindo ou está sob controle, e deseja estimular a atividade econômica; e aumentar a Selic na situação inversa. Essas decisões fazem o crédito ficar mais caro ou mais barato, incentivando ou desestimulando as pessoas e as empresas a gastarem. Diante do quadro recessivo atual, o Banco Central tem diminuído a Selic, mais ainda de forma tímida.
Kliass destaca que, na prática, não há uma redução dos juros na velocidade e na magnitude que a realidade atual exige e permite. “A redução recente da Selic esconde o fato que a taxa real de juros (descontada a inflação) está aumentando, apesar da fantasia e da narrativa que tentam criar. Isso por que a inflação tem caído muito mais rápido que a Selic. Sem falar no custo do crédito ofertado pelo mercado financeiro. O spread [diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram na ponta] continua elevadíssimo e, sobre ele, o Banco Central continua a fazer cara de paisagem”, encerra.
O CMN também modificou a maneira como divulga a meta para a inflação. Até então, ela era informada com dois anos de antecedência . A partir de agora, a meta passa a ser divulgada três anos antes. O sistema de meta de inflação foi adotado pelo Brasil como principal diretriz de política monetária em junho de 1999. Trata-se de um compromisso que o país firmou com o argumento de dar segurança ao “mercado” sobre os rumos da economia, depois do período de hiperinflação nas décadas de 1980 e 1990.
Criado na esteira do Plano Real, o sistema prevê que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar dentro de uma faixa-limite estabelecida. Assim, o CMN fixa metas e o Comitê de Política Monetária (Copom) é o responsável por adotas medidas consideradas necessárias pelo Banco Central para que a inflação fique dentro deste patamar.
De acordo com Paulo Kliass, a decisão do governo de reduzir a meta de inflação para 2019 e 2020 é “irresponsável” e usada para reforçar uma ideia “falaciosa” de que a equipe econômica é o “suprassumo da credibilidade”.
Ele lembra que um dos argumentos utilizados para fragilizar a administração da ex-presidente Dilma Rousseff era o de que haveria no país um descontrole inflacionário. Isso por que, na gestão da petista, a inflação chegou a ultrapassar o teto superior da meta, que era de 6%. O tema terminou por dar mais munição para aqueles que defendiam o impeachment.
“Defendia-se que precisávamos de mais rigor, aquela coisa toda. E, depois da implementação do golpe, tentou-se vender a ideia de que, com a chegada do time dos sonhos do financismo ao poder, ia estar ‘tudo dominado’ e os problemas iam acabar. Colocaram dois banqueiros – Henrique Meirelles na Fazenda e Ilan Goldfajn no Banco Central –, mas não estão conseguindo entregar o venderam”, avalia.
Segundo o economista, as pessoas começam agora a perceber que não basta uma equipe técnica alinhada ao mercado para resolver os problemas macroeconômicos do país. E o resultado das medidas adotadas até então pelo presidente Michel Temer serviram, ao final, para aprofundar a recessão.
Sem resultados positivos para apresentar, o governo tem se dedicado a celebrar a queda da inflação. Kliass, contudo, ressalta que a queda no nível dos preços não está relacionada à eficiência da equipe econômica – pelo contrário.
“Eles estão reduzindo inflação porque estão quebrando o país. Tudo bem que a recessão vem de antes, mas ela foi aprofundada com a chegada de Meirelles e Ilan. A recessão está conseguindo reduzir a taxa de inflação, mas o custo social, político e econômico disso é absurdo. Você tem as falências, o desemprego em alta. E aí as pessoas não têm, claro, dinheiro para consumir. Por isso os preços estão caindo. Qualquer manual de macroeconomia explica essa redução”, alerta.
Kliass chama de “malandragem” a alteração da meta inflacionária. E destaca que as avaliações que o Banco Central faz – a partir de projeções encomendadas às instituições financeiras – são de natureza política. Costumam, portanto, mudar a depender da conjuntura.
“Como pretender estabelecer regras de inflação para 2020? É coisa para inglês ver. Não há garantias de que essa coisa vá se consumar. Eles querem vender peixe de que estabilizaram a economia, o discurso do ‘somos técnicos e responsáveis, tanto é que estamos garantindo que a inflação do futuro estará sob controle’. Mas não há essa garantia”, reitera.
O economista sublinha as mudanças que devem ocorrer no cenário, para defender a ideia de que é difícil prever como estará a economia nos próximos anos. “Esse governo deve se acabar ao longo dos próximos meses, haverá novas eleições, o mundo vai mudar, o Brasil vai mudar. Essa redução na meta é então uma coisa puramente pró-forma, não vai influenciar o debate da política monetária de curto prazo. O fato é que eles estão provocando a maior recessão da história e o país está quebrado. Aí a inflação caiu mesmo, mas isso não é mérito, é fracasso”.
Para ele, a redução das metas de inflação faz parte de um conjunto de medidas levadas adiante no pós-impeachment, que engessam as possibilidades de outros governantes fazerem uma política econômica diferente. “É justamente para que, em 2018, haja dificuldade de fazer uma política desenvolvimentista, inclusiva etc”, afirma, citando nesse rol as reformas trabalhista e previdenciária, além da Proposta de Emenda Constitucional que estabeleceu um teto para os gastos públicos.
No caso das metas de inflação, contudo, Kliass lembra que é algo mais simples de ser revisto mais à frente, uma vez que não são fixadas por legislação, mas por uma decisão atribuída a um colegiado – o CMN. “No futuro, um governo que vier e quiser uma política mais proativa do ponto de vista da política econômica, vai ter que ter recuperação da demanda, recuperação de salários, nível de emprego, capacidade de consumo e, eventualmente isso pode ter algum impacto de inflação. O que não pode é ser algo descontrolado, como em décadas anteriores”, coloca.
Os juros
Com a missão de zelar pela estabilidade dos preços, a cada 45 dias, o Copom se reúne e fixa a taxa de juros básica da economia, a Selic, hoje em 10,25%. “Por excelência, a ortodoxia recomenda a ideia de que é preciso manter a taxa de juros relativamente alta, tirando recursos monetários do ponto de vista da demanda, para que ela faça menos pressão sobre a oferta. E aí você teria uma redução de preços”, explica Kliass.
Nesse sentido, em teoria, o Copom deveria diminuir a Selic quando julga que a inflação está caindo ou está sob controle, e deseja estimular a atividade econômica; e aumentar a Selic na situação inversa. Essas decisões fazem o crédito ficar mais caro ou mais barato, incentivando ou desestimulando as pessoas e as empresas a gastarem. Diante do quadro recessivo atual, o Banco Central tem diminuído a Selic, mais ainda de forma tímida.
Kliass destaca que, na prática, não há uma redução dos juros na velocidade e na magnitude que a realidade atual exige e permite. “A redução recente da Selic esconde o fato que a taxa real de juros (descontada a inflação) está aumentando, apesar da fantasia e da narrativa que tentam criar. Isso por que a inflação tem caído muito mais rápido que a Selic. Sem falar no custo do crédito ofertado pelo mercado financeiro. O spread [diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram na ponta] continua elevadíssimo e, sobre ele, o Banco Central continua a fazer cara de paisagem”, encerra.
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