Por Matheus Pichonelli, no site The Intercept-Brasil:
Na carta endereçada a Michel Temer em forma de artigo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que aprovou no muque (maldosos usarão outro termo) a emenda da própria reeleição e agora defende mandato presidencial de cinco anos, fez um apelo ao bom senso do peemedebista para encurtar sua estadia no Planalto. O gesto seria, nas palavras do grão-tucano, uma demonstração de “grandeza”. Uma gentileza, claro, veja bem, se não for muito incômodo, faltou dizer FHC.
O convite antes revela um desejo do que um mero conselho, dado de graça pela principal liderança tucana. Temer renunciando, PSDB e PMDB tratariam com outros termos a estratégia para aprofundar o abraço mútuo que não levasse ao afogamento. Aqui entram dois cálculos políticos. Um é relativo à sobrevivência a curto prazo. O outro é eleitoral.
A essa altura, quando todos parecem alvejados, ninguém tem condições de deixar o aliado ferido na estrada. Sabe que vai precisar de amparo em breve. Na ausência de coisa melhor, fala-se em bom senso por desencargo de consciência.
Na vida real, não haveria janela de oportunidade maior para o primeiro presidente da República denunciado formalmente por um procurador-geral do que a desgraça do fiador da aliança com os tucanos, o senador e presidente afastado do PSDB, Aécio Neves (MG). Seu partido, que decidiu recentemente permanecer no governo, tem hoje quatro ministérios na Esplanada, entre eles a Secretaria do Governo e o Ministério das Relações Internacionais.
Em autoexílio desde que teve conversas divulgadas com o dono da JBS, Joesley Batista, Aécio poderia ter o destino selado pelos colegas peemedebistas no Senado caso o STF aceitasse o pedido de prisão e da perda do cargo feito pela Procuradoria Geral da República. O ministro Marco Aurélio, porém, decidiu atender um pedido da defesa do tucano, que teve o pedido de prisão rejeitado e poderá voltar ao Senado. Em seu argumento, o magistrado disse considerar normais, esperadas e decorrentes do exercício legítimo da função legislativa as críticas feitas por Aécio à atuação do ministro da Justiça –na conversa com Batista, ele detonava o ministro por não endereçar as investigações para os delegados certos, seja lá o que isso signifique.
Na semana passada, um indício de que o cálculo político pode ser determinante sobre o imbróglio jurídico foi dado pelo senador João Alberto Souza (PMDB-MA), presidente do Conselho de Ética que arquivou uma representação contra o tucano por não estar convencido das acusações.
Nos bastidores, o PMDB já sinalizava que só rejeitaria o pedido de prisão contra Aécio, se ele avançasse, caso os tucanos demonstrarem apoio incondicional.
Este apoio incondicional pode significar muita coisa, de votos às reformas ao abraço tóxico, em termos eleitorais, ao mandato de Temer.
Se não quiser virar réu, Temer precisará reunir forças em outra Casa, a Câmara dos Deputados, para a denúncia não ser remetida de volta ao Supremo Tribunal Federal, que pode determinar o afastamento do presidente do cargo caso haja acolhimento. Para avançar, o pedido precisa do apoio de dois terços dos deputados.
Em outras palavras: os deputados terão de mostrar aos eleitores a lealdade ou não a um presidente formalmente acusado e com atuais 7% de aprovação, segundo o Datafolha. A um ano da eleição, a escolha pode representar o suicídio político de quem até ontem bradava contra a corrupção e o ataque aos bons costumes da República. Daí o apego a um detalhe aparentemente banal, mas determinante para a sucessão das coisas: quando e como será a sessão? Na madrugada? No meio da semana? Ou num domingo à tarde, com todos os holofotes acionados, como aconteceu na sessão de impeachment de Dilma Rousseff?
FHC, que agora apela ao bom senso de Temer, poderia usar o mesmo argumento sobre o presidente afastado de sua legenda, que já mandou avisar ter uma memória boa dos últimos 20 anos de acordos e negociações como deputado, governador e, até pouquíssimo atrás, senador também afastado.
Falta combinar com quem não quer colocar a cabeça a prêmio para salvar a coroa. Segundo as contas da Folha de S.Paulo, três dos sete integrantes tucanos da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara pretendem votar a favor da admissibilidade da denúncia contra Temer – a análise é uma prévia da votação no Plenário. Apenas um parece disposto a sair em defesa do peemedebista.
Temer terá de apostar nos votos de outros partidos.
Em um ano, o PSDB se tornou o PMDB do PMDB, que hoje exige fidelidade integral mas observa um remedo de apoio calculado sob outros critérios, sobretudo eleitorais. Bom senso é outra coisa.
Na carta endereçada a Michel Temer em forma de artigo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que aprovou no muque (maldosos usarão outro termo) a emenda da própria reeleição e agora defende mandato presidencial de cinco anos, fez um apelo ao bom senso do peemedebista para encurtar sua estadia no Planalto. O gesto seria, nas palavras do grão-tucano, uma demonstração de “grandeza”. Uma gentileza, claro, veja bem, se não for muito incômodo, faltou dizer FHC.
O convite antes revela um desejo do que um mero conselho, dado de graça pela principal liderança tucana. Temer renunciando, PSDB e PMDB tratariam com outros termos a estratégia para aprofundar o abraço mútuo que não levasse ao afogamento. Aqui entram dois cálculos políticos. Um é relativo à sobrevivência a curto prazo. O outro é eleitoral.
A essa altura, quando todos parecem alvejados, ninguém tem condições de deixar o aliado ferido na estrada. Sabe que vai precisar de amparo em breve. Na ausência de coisa melhor, fala-se em bom senso por desencargo de consciência.
Na vida real, não haveria janela de oportunidade maior para o primeiro presidente da República denunciado formalmente por um procurador-geral do que a desgraça do fiador da aliança com os tucanos, o senador e presidente afastado do PSDB, Aécio Neves (MG). Seu partido, que decidiu recentemente permanecer no governo, tem hoje quatro ministérios na Esplanada, entre eles a Secretaria do Governo e o Ministério das Relações Internacionais.
Em autoexílio desde que teve conversas divulgadas com o dono da JBS, Joesley Batista, Aécio poderia ter o destino selado pelos colegas peemedebistas no Senado caso o STF aceitasse o pedido de prisão e da perda do cargo feito pela Procuradoria Geral da República. O ministro Marco Aurélio, porém, decidiu atender um pedido da defesa do tucano, que teve o pedido de prisão rejeitado e poderá voltar ao Senado. Em seu argumento, o magistrado disse considerar normais, esperadas e decorrentes do exercício legítimo da função legislativa as críticas feitas por Aécio à atuação do ministro da Justiça –na conversa com Batista, ele detonava o ministro por não endereçar as investigações para os delegados certos, seja lá o que isso signifique.
Na semana passada, um indício de que o cálculo político pode ser determinante sobre o imbróglio jurídico foi dado pelo senador João Alberto Souza (PMDB-MA), presidente do Conselho de Ética que arquivou uma representação contra o tucano por não estar convencido das acusações.
Nos bastidores, o PMDB já sinalizava que só rejeitaria o pedido de prisão contra Aécio, se ele avançasse, caso os tucanos demonstrarem apoio incondicional.
Este apoio incondicional pode significar muita coisa, de votos às reformas ao abraço tóxico, em termos eleitorais, ao mandato de Temer.
Se não quiser virar réu, Temer precisará reunir forças em outra Casa, a Câmara dos Deputados, para a denúncia não ser remetida de volta ao Supremo Tribunal Federal, que pode determinar o afastamento do presidente do cargo caso haja acolhimento. Para avançar, o pedido precisa do apoio de dois terços dos deputados.
Em outras palavras: os deputados terão de mostrar aos eleitores a lealdade ou não a um presidente formalmente acusado e com atuais 7% de aprovação, segundo o Datafolha. A um ano da eleição, a escolha pode representar o suicídio político de quem até ontem bradava contra a corrupção e o ataque aos bons costumes da República. Daí o apego a um detalhe aparentemente banal, mas determinante para a sucessão das coisas: quando e como será a sessão? Na madrugada? No meio da semana? Ou num domingo à tarde, com todos os holofotes acionados, como aconteceu na sessão de impeachment de Dilma Rousseff?
FHC, que agora apela ao bom senso de Temer, poderia usar o mesmo argumento sobre o presidente afastado de sua legenda, que já mandou avisar ter uma memória boa dos últimos 20 anos de acordos e negociações como deputado, governador e, até pouquíssimo atrás, senador também afastado.
Falta combinar com quem não quer colocar a cabeça a prêmio para salvar a coroa. Segundo as contas da Folha de S.Paulo, três dos sete integrantes tucanos da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara pretendem votar a favor da admissibilidade da denúncia contra Temer – a análise é uma prévia da votação no Plenário. Apenas um parece disposto a sair em defesa do peemedebista.
Temer terá de apostar nos votos de outros partidos.
Em um ano, o PSDB se tornou o PMDB do PMDB, que hoje exige fidelidade integral mas observa um remedo de apoio calculado sob outros critérios, sobretudo eleitorais. Bom senso é outra coisa.
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