Por Flávio Aguiar, na Rede Brasil Atual:
Decididamente vivemos momentos agônicos e carregados de adrenalina.
Assistimos a um aperitivo verbal do que pode ser a promessa do Apocalipse.
Os Estados Unidos acusaram o regime de Bashar al Assad de atacar civis com armas químicas na região de Douma, aglomerado (não dá mais para dizer “cidade”, tamanha a destruição) perto de Goutha, outro aglomerado em disputa entre as forças de Damasco e os rebeldes apoiados pelo Ocidente.
As estimativas variam: entre 40 e 70 mortos. A maior parte delas gira em torno de 40 a 45 mortos. Mais de 500 atendidos em hospitais, com sintomas de graves problemas respiratórios. “Armas químicas” é uma expressão que significa “gás”. O governo de Damasco e a Rússia negam a existência do ataque. Alegam que cada vez que Damasco obtêm uma vitória no campo militar aparecem as referências desabonadores de um “ataque químico”. E que Damasco está ganhando a guerra em Goutha e em Douma. O Conselho de Segurança da ONU se reuniu e, para variar, não chegou a um acordo sobre qualquer resolução.
Entrementes os Estados Unidos dizem que vão retaliar com ataques aéreos contra bases de Damasco. A Rússia, que tem forças na região, diz que se os mísseis vierem, vai derruba-los. E os aviões também. Pode ser retórica de parte a parte? Pode. Mas também pode não ser. Theresa May, a primeira-ministra britânica, diz que quer mais provas sobre os ataques. Trump deu um passo para trás: diz que o ataque com os mísseis não tem data marcada. Putin pede bom senso. Bom senso nesta altura do campeonato desvairado?
Os Estados Unidos deslocaram navios de guerra para a costa da Síria no Mediterrâneo. Puseram no ar um bombardeiro que é chamado de “O avião do fim do mundo”, porque pode despejar ogivas nucleares.
Enfim, estamos vivendo à beira do pesadelo.
A mídia mainstream do Ocidente não é simpática a Trump, mas sempre ataca Putin. Este não é flor que se cheire, mas Trump é a ameaça maior. Por quê? Porque ele precisa de um enfrentamento com a Rússia. Trump é acusado, nos Estados Unidos, de ser favorecido por Putin para ganhar de Clinton. Verdade ou não, ele precisa se distanciar de Moscou para se manter no cargo.
E há outro fator. A estratégia dos Estados Unidos – iniciada por Obama – na Síria, foi um rotundo fracasso. Washington pensava que Bashar Al-Assad seria um prato fácil, como foram Saddam Hussein e Muhammar Ghadaffi. Enganaram-se rotundamente. Hoje a Síria antiga é uma ficção, mas a realidade é muito diversa daquela projetada pelas análises norte-americanas. Quase metade do país permanece sob controle das forças de Damasco. Quase outra metade está controlada pelos curdos. Há bolsões dispersos dos rebeldes, que fracassaram em constituir uma forca política respeitável, e do Estado Islâmico, que amargaram derrotas cruciais nos últimos tempos. Há ainda uma área relativamente grande, junto à fronteira com o Iraque, que é considerada terra-de-ninguém, com possível presença esparsa de tropas do E. I.
Diplomaticamente, a iniciativa hoje está dividida entre a Rússia, o Irã e a Turquia. Arábia Saudita e Israel, paradoxalmente irmanados, olham com preocupação o que consideram a influencia indevida do Irã na Síria.
Isto pode apresentar uma solução alternativa para Trump: encarregar Israel de atacar as bases sírias que ele quer destruir, para minar o poder de Damasco. Israel já o fez, com mísseis disparados de aviões que não entraram no espaço aéreo sírio.
O xadrez é complicado. E não há solução à vista. Podemos estar à beira do fim do mundo.
Enquanto isto, a guerra civil, que já dura sete anos, tem um saldo de mais de 350 mortos, sendo mais de 100 mil civis, 150 mil desaparecidos, provavelmente mortos, mais de 10 milhões de refugiados, sendo metade deles deslocados para o exterior; um país destruído, fome, doenças, crianças sem futuro e idosos que perderam seu passado.
Assistimos a um aperitivo verbal do que pode ser a promessa do Apocalipse.
Os Estados Unidos acusaram o regime de Bashar al Assad de atacar civis com armas químicas na região de Douma, aglomerado (não dá mais para dizer “cidade”, tamanha a destruição) perto de Goutha, outro aglomerado em disputa entre as forças de Damasco e os rebeldes apoiados pelo Ocidente.
As estimativas variam: entre 40 e 70 mortos. A maior parte delas gira em torno de 40 a 45 mortos. Mais de 500 atendidos em hospitais, com sintomas de graves problemas respiratórios. “Armas químicas” é uma expressão que significa “gás”. O governo de Damasco e a Rússia negam a existência do ataque. Alegam que cada vez que Damasco obtêm uma vitória no campo militar aparecem as referências desabonadores de um “ataque químico”. E que Damasco está ganhando a guerra em Goutha e em Douma. O Conselho de Segurança da ONU se reuniu e, para variar, não chegou a um acordo sobre qualquer resolução.
Entrementes os Estados Unidos dizem que vão retaliar com ataques aéreos contra bases de Damasco. A Rússia, que tem forças na região, diz que se os mísseis vierem, vai derruba-los. E os aviões também. Pode ser retórica de parte a parte? Pode. Mas também pode não ser. Theresa May, a primeira-ministra britânica, diz que quer mais provas sobre os ataques. Trump deu um passo para trás: diz que o ataque com os mísseis não tem data marcada. Putin pede bom senso. Bom senso nesta altura do campeonato desvairado?
Os Estados Unidos deslocaram navios de guerra para a costa da Síria no Mediterrâneo. Puseram no ar um bombardeiro que é chamado de “O avião do fim do mundo”, porque pode despejar ogivas nucleares.
Enfim, estamos vivendo à beira do pesadelo.
A mídia mainstream do Ocidente não é simpática a Trump, mas sempre ataca Putin. Este não é flor que se cheire, mas Trump é a ameaça maior. Por quê? Porque ele precisa de um enfrentamento com a Rússia. Trump é acusado, nos Estados Unidos, de ser favorecido por Putin para ganhar de Clinton. Verdade ou não, ele precisa se distanciar de Moscou para se manter no cargo.
E há outro fator. A estratégia dos Estados Unidos – iniciada por Obama – na Síria, foi um rotundo fracasso. Washington pensava que Bashar Al-Assad seria um prato fácil, como foram Saddam Hussein e Muhammar Ghadaffi. Enganaram-se rotundamente. Hoje a Síria antiga é uma ficção, mas a realidade é muito diversa daquela projetada pelas análises norte-americanas. Quase metade do país permanece sob controle das forças de Damasco. Quase outra metade está controlada pelos curdos. Há bolsões dispersos dos rebeldes, que fracassaram em constituir uma forca política respeitável, e do Estado Islâmico, que amargaram derrotas cruciais nos últimos tempos. Há ainda uma área relativamente grande, junto à fronteira com o Iraque, que é considerada terra-de-ninguém, com possível presença esparsa de tropas do E. I.
Diplomaticamente, a iniciativa hoje está dividida entre a Rússia, o Irã e a Turquia. Arábia Saudita e Israel, paradoxalmente irmanados, olham com preocupação o que consideram a influencia indevida do Irã na Síria.
Isto pode apresentar uma solução alternativa para Trump: encarregar Israel de atacar as bases sírias que ele quer destruir, para minar o poder de Damasco. Israel já o fez, com mísseis disparados de aviões que não entraram no espaço aéreo sírio.
O xadrez é complicado. E não há solução à vista. Podemos estar à beira do fim do mundo.
Enquanto isto, a guerra civil, que já dura sete anos, tem um saldo de mais de 350 mortos, sendo mais de 100 mil civis, 150 mil desaparecidos, provavelmente mortos, mais de 10 milhões de refugiados, sendo metade deles deslocados para o exterior; um país destruído, fome, doenças, crianças sem futuro e idosos que perderam seu passado.
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