sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O desânimo com as eleições e o desemprego

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

Qual é o desempregado que vai se animar a sair cedo de casa, gastando o dinheiro que não tem, para distribuir currículo, sabendo que as portas das empresas estão fechadas para ele?

Manchete da Folha desta quarta-feira informa que 66 milhões de brasileiros estão fora do mercado de trabalho, 40% do total, segundo o IBGE, e cada vez mais trabalhadores deixaram de procurar emprego.

E não é só por causa da crise econômica que se prolonga e aprofunda.

A meu ver, dois são os fatores principais que levam a esse desalento:
1- A nova politica salarial adotada pelas empresas: desde a implantação da “reforma trabalhista” no ano passado, que acabou com os direitos e os empregos fixos, os empregadores demitiram e cortaram os contratos de funcionários mais antigos, com salários maiores, para contratar profissionais mais jovens, e mais baratos.
2- O desânimo com as eleições: a falta de confiança de empresários e trabalhadores nos candidatos, que estão aí se digladiando neste fim de feira do mercado de votos, tiraram de todos a esperança em dias melhores com a posse de um novo presidente no próximo ano, qualquer que seja.

Chegamos a um ponto de desorganização e anomia social em que um bom currículo mais atrapalha do que ajuda o trabalhador, na medida em que o mercado não está interessado nesta mão-de-obra mais qualificada, mas se preocupa apenas em cortar custos de pessoal, não em investir para melhorar seus produtos e serviços para aumentar a produtividade.

O resultado é uma brutal queda de qualidade no atendimento ao público em bancos, lojas, restaurantes, supermercados, farmácias, oficinas, padarias, planos de saúde, assistência técnica _ em todos os setores, enfim, como os consumidores já estão sentindo na própria pele.

A situação fica mais dramática quando chegamos a áreas mais sensíveis da vida do presente e do futuro das novas gerações, em especial educação e saúde, com a crescente degradação de hospitais e escolas.

Se um inimigo do Brasil tivesse preparado um plano maquiavélico para destruir o país, não poderia ter feito nada mais cruel do que os golpistas da “Ponte para o Futuro”, que em dois anos fizeram o país voltar décadas para os tempos mais sombrios do passado.

Até o candidato governista, Geraldo Alckmin, que não desempaca nas pesquisas, já constatou isso, e paga o preço.

Acabaram ao mesmo tempo com o emprego e a renda dos trabalhadores, levaram empresas à falência, promoveram o êxodo de mão-de-obra qualificada, sucatearam o ensino e a pesquisa, mataram a autoestima e a esperança dos brasileiros.

Anunciaram que a “reforma trabalhista”, ao reduzir os encargos das empresas, ajudaria a criar milhões de novos empregos este ano, mas aconteceu exatamente o contrário.

Os novos números divulgados pelo IBGE mostram que, em relação ao ano passado, 1,2 milhão de brasileiros deixou a força de trabalho, 200 mil a mais do que aqueles que conseguiram algum tipo de ocupação, em sua maioria, na informalidade.

Informalidade é o nome que se dá a esta legião de trabalhadores obrigados a trabalhar “por conta própria”, que transformou as calçadas das grandes cidades em praças de alimentação barata.

São desempregados tentando vender comida ou roupas para outros desempregados, quase todos eles inadimplentes, com o nome sujo na praça, vendendo o almoço para pagar o jantar, sem dinheiro para a condução.

Pois hoje é só o primeiro dia de agosto, o mês do desgosto, como bem lembrou o nosso mestre Zuenir Ventura, em sua coluna do Globo, que vale a pena ler.

Foi em outros agostos, lembra ele, que Adolf Hitler se tornou o Führer da Alemanha, Getúlio se matou e Juscelino morreu num estranhíssimo acidente de carro na Via Dutra.

Lembra alguma coisa?

Vida que segue.

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