No quinto mês do governo Bolsonaro, é fácil reconhecer que a democracia está sendo empurrada a um dos mais profundos abismos de nossa História.
Na sequência de um tenebroso documento distribuído pelo presidente da República, no qual se define a "ruptura institucional" como uma "hipótese nuclear", "irreversível, com desfecho imprevisível", o próximo domingo, 26 de maio, é um dos pontos de passagem do período.
Tudo indica que a mobilização irá confirmar a fragilidade desorientada dos movimentos interessados em estimular uma saída de inspiração fascista - a palavra é essa - diante do desmoronamento de um governo em minoria em seu próprio país, como apontam a mais recente pesquisa de opinião, Atlas Politico, publicada pelo El País: 28,6% dos brasileiros aprovam seu governo, enquanto 36,2% desaprovam.
Depois de estimular a manifestação, como reação ao gigantesco protesto de 15 de maio, mobilização com base em reivindicações legítimas em defesa do ensino público, Bolsonaro anuncia que não irá participar do dia 26.
Considerando tantas mudanças de ideia que marcam seu curto mandato presidencial, é prudente aguardar para ver.
A simpatia inicial diante de uma mobilização dessa natureza, essencialmente contrária à Constituição e ao regime democrático, é sintoma de uma doença grave, porém.
Isso porque ela representa um novo esforço de enfraquecimento das instituições, que há anos vem sendo dobradas por ataques duríssimos, como a deposição de Dilma, - sem crime de responsabilidade - e a prisão de Lula por "objeto indeterminado". É uma sequência, a continuidade na já duvidosa glorificação de Sérgio Moro e da Lava Jato.
Resignados diante da impossibilidade de tutelar Bolsonaro e o núcleo palaciano, os comandantes militares, que assumiram os principais cargos e maiores responsabilidades na tomada de decisões na fase final da campanha eleitoral, já se descolaram do governo, como sintetizou o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo em entrevista a TV 247 (17/5/2019).
Não jogam contra Bolsonaro mas evitam comprometer-se com ele. Também não se animam com os movimentos do vice Mourão, que tem exibido um comportamento considerado deslumbrado demais diante da gravidade da hora.
Mesmo alvejado pelo guru pornográfico e outros aliados do mictório palaciano, que cobiçam a totalidade da área de comunicação sob seus cuidados, mas teme a liderança de tropa conquistada no Haiti e no Congo, o ministro Santos Cruz foi preservado.
Sua saída ameaçava desencadear uma renúncia coletiva dos ministros fardados, hipótese captada e sugerida por articulistas de cabeceira do governo. Incluído na delegação que foi a Dallas com Bolsonaro, como uma forma de lhe dar prestígio, hoje Santos Cruz tira fotos sorridentes com lideranças da bancada evangélica que há pouco faziam tiro-ao-alvo com sua reputação.
Neste ambiente, há uma mudança na paisagem externa.
Vista como paisagem favorável no momento da posse de Bolsonaro, a tal ponto que permitiu a Ernesto Araújo anunciar bravatas intervencionistas contra Nicolas Maduro, há uma mudança em curso na conjuntura sul-americana.
A campanha eleitoral argentina confirma o favoritismo de uma chapa com Cristina Kirchner, mesmo de vice.
Depois do recente fiasco da Operação Guaidó, o mais que possível retorno do peronismo ao governo representa uma alteração ainda maior na região. Mesmo sem as imensas reservas de petróleo venezuelano, a Argentina possui um peso econômico e diplomático respeitável, único, na região, superado apenas pelo Brasil.
Na geopolítica, ocupa uma posição decisiva no Atlântico Sul, de importância estratégica mundial.
Mais de uma vez, Bolsonaro chegou a falar, em tom de quem assopra apito de guarda noturno, sobre um possível retorno do peronismo a Casa Rosada.
Os desastres recentes indicam que deveria ficar calado e respeitar o direito de auto-determinação do povo argentino.
Alguma dúvida?
Na sequência de um tenebroso documento distribuído pelo presidente da República, no qual se define a "ruptura institucional" como uma "hipótese nuclear", "irreversível, com desfecho imprevisível", o próximo domingo, 26 de maio, é um dos pontos de passagem do período.
Tudo indica que a mobilização irá confirmar a fragilidade desorientada dos movimentos interessados em estimular uma saída de inspiração fascista - a palavra é essa - diante do desmoronamento de um governo em minoria em seu próprio país, como apontam a mais recente pesquisa de opinião, Atlas Politico, publicada pelo El País: 28,6% dos brasileiros aprovam seu governo, enquanto 36,2% desaprovam.
Depois de estimular a manifestação, como reação ao gigantesco protesto de 15 de maio, mobilização com base em reivindicações legítimas em defesa do ensino público, Bolsonaro anuncia que não irá participar do dia 26.
Considerando tantas mudanças de ideia que marcam seu curto mandato presidencial, é prudente aguardar para ver.
A simpatia inicial diante de uma mobilização dessa natureza, essencialmente contrária à Constituição e ao regime democrático, é sintoma de uma doença grave, porém.
Isso porque ela representa um novo esforço de enfraquecimento das instituições, que há anos vem sendo dobradas por ataques duríssimos, como a deposição de Dilma, - sem crime de responsabilidade - e a prisão de Lula por "objeto indeterminado". É uma sequência, a continuidade na já duvidosa glorificação de Sérgio Moro e da Lava Jato.
Resignados diante da impossibilidade de tutelar Bolsonaro e o núcleo palaciano, os comandantes militares, que assumiram os principais cargos e maiores responsabilidades na tomada de decisões na fase final da campanha eleitoral, já se descolaram do governo, como sintetizou o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo em entrevista a TV 247 (17/5/2019).
Não jogam contra Bolsonaro mas evitam comprometer-se com ele. Também não se animam com os movimentos do vice Mourão, que tem exibido um comportamento considerado deslumbrado demais diante da gravidade da hora.
Mesmo alvejado pelo guru pornográfico e outros aliados do mictório palaciano, que cobiçam a totalidade da área de comunicação sob seus cuidados, mas teme a liderança de tropa conquistada no Haiti e no Congo, o ministro Santos Cruz foi preservado.
Sua saída ameaçava desencadear uma renúncia coletiva dos ministros fardados, hipótese captada e sugerida por articulistas de cabeceira do governo. Incluído na delegação que foi a Dallas com Bolsonaro, como uma forma de lhe dar prestígio, hoje Santos Cruz tira fotos sorridentes com lideranças da bancada evangélica que há pouco faziam tiro-ao-alvo com sua reputação.
Neste ambiente, há uma mudança na paisagem externa.
Vista como paisagem favorável no momento da posse de Bolsonaro, a tal ponto que permitiu a Ernesto Araújo anunciar bravatas intervencionistas contra Nicolas Maduro, há uma mudança em curso na conjuntura sul-americana.
A campanha eleitoral argentina confirma o favoritismo de uma chapa com Cristina Kirchner, mesmo de vice.
Depois do recente fiasco da Operação Guaidó, o mais que possível retorno do peronismo ao governo representa uma alteração ainda maior na região. Mesmo sem as imensas reservas de petróleo venezuelano, a Argentina possui um peso econômico e diplomático respeitável, único, na região, superado apenas pelo Brasil.
Na geopolítica, ocupa uma posição decisiva no Atlântico Sul, de importância estratégica mundial.
Mais de uma vez, Bolsonaro chegou a falar, em tom de quem assopra apito de guarda noturno, sobre um possível retorno do peronismo a Casa Rosada.
Os desastres recentes indicam que deveria ficar calado e respeitar o direito de auto-determinação do povo argentino.
Alguma dúvida?
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