quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Delegação indígena denuncia genocídio

Por Antonio Barbosa Filho

Desde 17 de outubro e até 20 de novembro, uma delegação de importantes lideranças indígenas brasileiras está percorrendo doze países europeus para denunciar a política genocida contra os Povos originários e a destruição deliberada da Amazônia, pelo governo Bolsonaro.

No dia 5 de novembro, parte dos indígenas reuniu-se com membros do Parlamento Europeu, em Bruxelas, enquanto outros líderes faziam o mesmo em Lisboa. Do percurso fez parte uma audiência com o Papa Francisco, no Vaticano, a quem foi entregue uma Carta que resume os riscos que hoje ameaçam as Nações indígenas brasileiras.

Na carta, assinada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB - os signatários falam em nome dos "povos originários, que a colonização de mais de 500 anos, subjuga até os dias de hoje, visando o nosso desterro e a nossa extinção para satisfazer os interesses de lucro e consumo exacerbado de minorias movidas pelo espírito do capital, da destruição e na morte progressiva da Mãe Terra".

Afirmam que "o governo do presidente Bolsonaro, desde o primeiro dia, decidiu nos escolher como alvos da artilharia do projeto de suposto desenvolvimento que quer impor a qualquer custo sobre as nossas terras, territórios e bens naturais, que protegemos há milhares de anos". Os indígenas acusam o atual governo de "desmontar as instituições e políticas diferenciadas conquistadas junto ao Estado brasileiro e reconhecidos na Constituição de 1988".

"Segundo a mesma Carta Magna - prossegue a carta ao Papa Francisco - nossa terras são inalienáveis e os direitos sobre elas, imprescritíveis". (O governo Bolsonaro) "exerce uma ostensiva influência sobre o Congresso Nacional para, em conluio com as forças econômicas ali representadas, flexibilizar ou regredir na legislação ambiental, restringir ou suprimir os nossos direitos constitucionais, principalmente o nosso direito originário aos nossos territórios, também ameaçados no âmbito do poder judiciário que, sob pressão do latifúndio e do agronegócio, ameaça regredir na interpretação da ocupação tradicional dos mesmos"

A carta entregue ao Papa termina com um apelo: "Por tudo isso, Santo Padre, viemos por meio desta apresentar a Vossa Santidade o nosso clamor, esperando ser possível acionar mecanismos e meios que possam levar o governo brasileiro a frear ou encerrar esta brutal ofensiva que ameaça o nosso bem viver e a continuidade dos nossos povos, línguas e culturas".

No Parlamento Europeu a comitiva do Brasil reuniu-se com os deputados Miguel Urbán Crespo, Malin Bjork, Fernando Barrena Arza, Marisa Matias, e representantes dos deputados José Gusmão, Eugenia Rodriguez Palop, Katerina Kanecná, Leila Chaibi e Martina Anderson.

Solidariedade

A jornada "Sangue Indígena: nenhuma gota a mais" tem tido o apoio de brasileiros que vivem nos diversos países visitados, como a artista Rebeca Lang, que vive em Paris há quase trinta anos e pertence a FIBRA - Frente Internacional de Brasileiros contra o Golpe. Rebeca ajuda da divulgação da Jornada, e informa que o encontro no Parlamento Europeu foi muito produtivo.

Os indígenas ouviram dos deputados presentes que eles lutam junto a todas as bancadas para que a União Européia não ratifique o acordo com o Mercosul no formato atual, sem que dele conste a garantia da defesa dos direitos dos povos originários. E que o tratado preveja que o não cumprimento desses itens seja um condicionante para o rompimento do acordo comercial com cada país que descumprí-los.

A jornada pede que todos os brasileiros apóiem esta luta, pelos indígenas e pela Amazônia, viralizando nas redes sociais as hashtags:

#NenhumaGotaMais
#NiUnagotaMas
#NotASingleDropMore
#JornadaIndigenanaEuropa
#ResistenciaIndigena
#ClimateChange

* Antonio Barbosa Filho é jornalista, coordenador do Centro Barão de Itararé no Vale do Paraíba, e autor do livro "Audálio, deputado".

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