A cada novo dia que passa amplia-se a percepção em nossa sociedade a respeito do tremendo equívoco que representou a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República em outubro de 2018. Percebe-se uma generalização do movimento contra esse governo, inclusive da parte de setores que o haviam apoiado no segundo turno contra a candidatura de Fernando Haddad.
A consolidação de uma Frente Ampla contra as pretensões golpistas e autoritárias do ex-capitão vem se somar ao aumento do apoio popular ao impeachment contra o ocupante do Palácio do Planalto. As mais recentes denúncias e escândalos envolvendo sua família e a forma destrambelhada que foi encontrada para “exilar” sob as asas de Trump o pior Ministro da Educação de nossa História marcam a crise de isolamento político crescente do chefe de governo no momento atual.
Talvez o que mais impressiona nesse xadrez é própria insistência de Bolsonaro com sua estratégia genocida. Para ele, pouco importa se o Brasil passou a ocupar o vergonhoso e trágico posto de vice líder mundial no número de casos de covid 19, tendo superado a marca de 50 mil óbitos. Afinal, trata-se de mera gripezinha e as mortes viriam de uma forma ou outra, táoquei? E daí? O Exército está produzindo cloroquina em volumes impressionantes e ela será a mais nova panaceia para nos livrar de todo esse mal.
Bolsonaro denuncia a imprensa, a oposição, os médicos, os governadores e os prefeitos por toda a crise. Acuado, ele sabe muito bem que seus índices de popularidade já estão em queda, por mais que o núcleo mais ideológico continue oferecendo a ele seu apoio sob qualquer circunstância. Do ponto de vista do crescimento da economia, 2019 foi um ano perdido e a culpa é da enganação promovida por Paulo Guedes. O pibinho dos primeiros doze meses de governo divulgado pelo IBGE revelou o fracasso da agenda austericida. Considerando que as eleições previstas para esse ano estão perdidas e não interessa a ele conferir nenhum conteúdo plebiscitário no pleito, tudo se volta para a tentativa de reeleição em 2022.
A pior dupla possível
Com essa estratégia, Bolsonaro procura colar nos chefes dos executivos estaduais e municipais a responsabilidade por toda a tragédia que, na verdade, foi por ele criada e potencializada. Dia sim e outro também ele sai às ruas sem proteção alguma contra a doença e estimula retomada irresponsável das atividades econômicas. Com isso, fica a mensagem de que a crise, o desemprego e as mortes estariam aí por conta de quem não quer deixar o povo trabalhar e ele governar. O genocídio que sua conduta irresponsável está causando na população mais desassistida de nosso país vem a reboque de sua pretensão política e eleitoral.
O superministro da economia busca se adequar ao discurso do chefe. Mantém o repeteco da mesma lengalenga de sempre: reformas e privatização. No entanto, sabe que será cobrado pelo fracasso de sua gestão à frente do monstrengão que fundiu Fazenda, Desenvolvimento e Indústria, Planejamento, e Trabalho. Guedes não entregou nada do que prometeu ao então candidato. Sua única possibilidade de permanecer na equipe é o buscando o reforço do apoio do povo do financismo. Com isso, ele se volta novamente para sua agenda de desmonte das políticas públicas e de destruição do Estado brasileiro. Restabelece a oportunidade para que os representantes do capital financeiro possam continuar a fazer a festa às custas da administração pública. Alguém aí falou em crise? Que crise? Sempre apoiada pelo governo de plantão, dificuldade é uma palavra desconhecida pela banca tupiniquim.
Guedes procura fugir da discussão das dificuldades atuais e de sua revelada incompetência em apresentar soluções para a grande maioria da população desassistida e para as micro, pequenas e médias empresas que não contam com recursos próprios para atravessar o período de confinamento. Assim, desde março ele se mantém agarrado à narrativa do pós pandemia. Não discute o presente, apenas o futuro. Mas não pelo fato de que esse debate é mesmo importante. Simplesmente ele usa esse recurso para tirar o foco da enormidade da crise atual e da falta de respostas de sua equipe. Aliás, quem tem um mínimo de senso de oportunismo na cabeça, já começa a cair fora, como foi o caso do ex Secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.
Guedes: desespero bate à porta
Ocorre que nem sempre se consegue escapar da realidade com evasivas. Os números oficiais divulgados por órgãos do próprio governo são catastróficos. E aí o old chicago boy começa dar sinais de desespero. Para tentar explicar o inexplicável inventa sandices como a separação desonesta e equivocada do PIB em dimensões estanques do setor público e do setor privado. Era uma tentativa a mais de dizer que o produto do governo foi pior do que o do privado - caiu em tamanho ridículo que não deve mais repetir a dose. A calhordice mais recente foi na “inovação” no método de apuração da carga tributária em relação ao PIB. Para tornar os números mais assustadores, Guedes resolveu somar ao volume de tributos arrecadados o próprio déficit fiscal. Mais uma loucura escandalosa, na busca tresloucada por argumentos para reforçar a ideia de falência do Estado e da necessidade de avançar na privatização para solucionar o problema fiscal.
Tudo se passa como se Guedes não tivesse tirado nenhuma lição da crise atual. Para ele, a pós pandemia deve se limitar ao receituário de antes e de sempre. Avançar nas reformas de destruição das conquistas inseridas na Constituição de 1988 e generalizar a transferência do patrimônio público ao capital privado por meio da retomada dos processos de privatização das empresas estatais. Essa é cabeça obtusa de quem esteve sempre acostumado a amealhar fortunas privadas às custas da privatização das finanças públicas.
Povo nenhum merecia uma duplinha tão terrível no comando de seu país. E muito menos em um momento tão crítico como esse que vivemos atualmente sob a égide do covid 19. Um presidente que desconsidera as mortes de seus cidadãos em prol de sua ambição de poder e um superministro que parece se inspirar nos jogos de destruição para orientar a política econômica.
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