O governo Bolsonaro é hoje um espectro daquele que assumiu em janeiro de 2019 com forte apoio do setor financeiro, da classe média, da mídia, do alto empresariado, das Forças Armadas, do Judiciário, da Lava Jato, dos EUA, de Trump e também do povão.
Em janeiro de 2019, Bolsonaro já tinha oposição aguerrida, mas ao mesmo tempo sufocada. À mercê do que pudessem vir a ser os erros e acertos do governo que chegava. Mais disso do que da sua capacidade de operar uma resistência organizada e forte a uma agenda que prometia intervenções pesadas na economia e nos direitos humanos.
Bolsonaro chegava como um imperador num cavalo branco. Algo meio um Napoleão com uma agenda ultraneoliberal e fascista.
Neste final de março de 2021, por um lado Bolsonaro acaba de mostrar ao país que é refém do centrão, cedendo na demissão de seu fiel escudeiro, Ernesto Araújo, por exigência do Senado e entregando a Secretaria do Governo para uma inexpressiva deputada, Flávia Arruda, que é unha e carne com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e filiada ao PL que já mandava piscadelas para a candidatura de Lula. Sim, Bolsonaro também deu sinal de que tem medo de Lula.
Por outro lado, Bolsonaro revelou ao país que não tem nas Forças Armadas o apoio que boa parte da população e da esquerda imaginavam que tinha. Ao demitir o ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva e ter recebido sinais de demissão dos comandantes das três armas (Marinha, Aeronáutica e Exército) ficou claro que o comando das Forças Armadas está com o presidente até a página 3. E que ele terá que quebrar muitos ovos se quiser enveredar pelo omelete autoritário.
Não há um sinal sequer de força que permita Bolsonaro endurecer o regime neste momento. Os sinais são de um piloto que comanda um avião descontrolado por erros que cometeu e que não sabe mais o que fazer. Por isso decidiu arriscar uma reforma ministerial destrambelhada mexendo num ministério tão sensível como o da Defesa sem ter uma direção clara do que pretende.
Numa hora dessas não é recomendado aos que são oposição entrarem em pânico junto com o governante em crise. É preciso ter muita calma e não ficar gritando, por exemplo, golpe à vista ou qualquer bobagem com este significado.
Um golpe não se consolida apenas pelo desejo de um presidente maluco. Ele precisa de condições e apoios objetivos do estabilishment, da mídia e das Forças Armadas que Bolsonaro já não tem mais neste momento.
Bolsonaro está lutando pela sua sobrevivência. Contra um impeachment que parecia imensamente distante há 3 meses e que subiu no telhado. E pela blindagem dos seus filhos, em especial o 01.
Pode parecer um bicho assustado, disposto a tudo, mas já é um bicho sem dentes. Uma presa fácil para ser descartada pelo sistema, se este entender que é a hora. Até porque a popularidade de Bolsonaro está em queda.
Não é momento de temê-lo e nem de fortalecê-lo com teses conspiratórias. É hora de tratá-lo politicamente como ele é, um verme. Um verme genocida.
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