Charge: Ivan Cabral |
Pronto, general Paulo Sérgio, o senhor conseguiu: colocou-se, e ao Brasil, nas páginas do The New York Times e na capa do site do jornal norte-americano.
Mas pelas piores razões possíveis: o jornal diz que as Forças Armada são o “novo aliado” de Jair Bolsonaro para colocar sob ameaça o processo eleitoral brasileiro:
“O presidente Jair Bolsonaro, do Brasil, está há meses atrás nas pesquisas para a crucial corrida presidencial do país. E por meses, ele questionou repetidamente seus sistemas de votação, alertando que se ele perder a eleição de outubro, provavelmente será graças ao roubo de votos. Essas alegações foram amplamente consideradas simples conversa. Mas agora, Bolsonaro alistou um novo aliado em sua luta contra o processo eleitoral: os militares do país.”
O texto é assinado por Jack Nicas, chefe da sucursal do Brasil, que conversou com generais, juízes e políticos brasileiros para escrever o artigo.
E diz que, faltando quatro meses "para uma das votações mais importantes da América Latina em anos, um confronto de alto risco está se formando. De um lado, o presidente, alguns líderes militares e muitos eleitores de direita argumentam que a eleição está aberta a fraudes. Do outro, políticos, juízes, diplomatas estrangeiros e jornalistas estão soando o alarme de que Bolsonaro está preparando o cenário para uma tentativa de golpe.”
A reportagem é longa – está aberta para não assinantes – reunindo as informações que tem se espalhado por aqui, mas tem um dado irônico, em meio às sessões que apuram as responsabilidades pela invasão do Capitólio, com a qual se traça um paralelo brasileiro:
“As táticas de Bolsonaro parecem ter sido adotadas do manual do ex-presidente Donald J. Trump, e Trump e seus aliados trabalharam para apoiar as alegações de fraude de Bolsonaro.
Os dois homens refletem um retrocesso democrático mais amplo que se desdobra em todo o mundo.
O motim do ano passado no Capitólio dos EUA mostrou que as transferências pacíficas de poder não são mais garantidas mesmo em democracias maduras.
No Brasil, onde as instituições democráticas são muito mais jovens, o envolvimento dos militares nas eleições aumenta os temores.”
Nos tempos do autoritarismo, o “Deu no New York Times” era uma criação genial do humorista Henfil, para simbolizar o controle da informação numa ditadura latinoamericana.
Agora não andamos tão silenciados, mas ser apontado como golpista no mais importante jornal do mundo ainda é proeza que poucos conseguem.
E que superou em importância na mídia dos EUA o mal-explicado encontro com Biden na semana passada.
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