terça-feira, 31 de outubro de 2023

Bolsonarista é acusado de feminicídio

Cemitério de mulheres/Senal
Por Altamiro Borges


A Polícia Civil de Roraima deflagrou nesta segunda-feira (30) uma operação para tentar prender o ex-senador Telmário Mota. Ele é acusado de ter mandado matar Antônia Araújo de Souza, de 52 anos, após a filha do casal ter denunciado uma tentativa de estupro no ano passado. Ela foi assassinada com um tiro na cabeça em 29 de setembro último, quando deixou a sua casa em Boa Vista, capital do Estado, para ir trabalhar.

A polícia cumpriu três mandados de prisão e sete de busca e apreensão em Roraima e Brasília. Um sobrinho do ex-senador, identificado como Harrison Nei Correa, e um dos apontados como executor do disparo, Leandro Luz da Conceição, também são alvos da operação. A Folha informa que “Telmário Mota teve a prisão temporária decretada e é considerado foragido. A operação da Polícia Civil de Roraima foi denominada de Caçada Real” – o nome da fazenda do ruralista onde teria sido planejada a execução de Antônia Araújo.

Os antecedentes criminais do "cidadão de bem"

Conforme registra a revista CartaCapital, “em agosto de 2022, a filha de Mota e Antônia afirmaram que o então senador tocou em suas partes íntimas e tentou arrancar sua roupa no Dia dos Pais. O caso foi registrado como violação de vulnerabilidade pela filha do casal que ainda tinha 17 anos. Até o momento, Telmário Mota não foi condenado”. Seus advogados juram que ele é inocente, tanto da acusação de estrupro como a de feminicídio.

Mas a polícia garante que há indícios de que ele foi o mandante do assassinato. Além disso, seus antecedentes criminais desse típico "cidadão de bem" são graves. “Em 2015, o então vereador foi acusado de agredir Maria Aparecida Nery de Melo. A jovem afirmou à polícia que mantinha relações com Mota desde os seus 16 anos e que, na ocasião, apanhou até ‘desmaiar’”, descreve a reportagem. Pouco depois, porém, ela retirou a denúncia de forma misteriosa.

A revista lembra ainda que “durante a sua atuação política, Mota ficou conhecido por declarações polêmicas e práticas duvidosas. Em 2016, já como senador, foi investigado por participar de rinhas de galo. Ele também foi acusado de suposta apologia ao crime ao defender quadrilhas que organizaram a prática. Em 2017, Telmário Mota viralizou nas redes sociais após discursar no plenário do Senado sobre um falso planeta, conhecido como ‘Nibirú’, que iria colidir com a terra e ‘extinguir o ciclo atual’”.

Não falha uma! Outro bolsonarista

Com mais esse crime no currículo, os internautas bombaram o velho mantra: “Não falha uma”. Lembraram que o ex-senador passou por vários partidos, mas que foi um ativo bolsonarista na fase recente. Ele inclusive fez questão de postar um vídeo com a sua declaração de voto em 2022. “Temos trabalhado sempre na base do presidente Jair Bolsonaro. Telmário é Bolsonaro”. Na prática, o velhaco sempre foi um oportunista. Em 2016, mesmo filiado ao PDT, o então senador votou pelo impeachment de Dilma Rousseff. Um ano depois, ele foi expulso da sigla por ter votado a favor do projeto do “teto de gastos” de Michel Temer e migrou para o PTB.

Uma longa reportagem do site Congresso em Foco dá mais detalhes sobre o bolsonarista. “Em 2020, ano em que começou a pandemia da Covid, Telmário Mota declarou seu apoio ao governo de Jair Bolsonaro, passando a integrar sua base de apoio no Senado. No mesmo ano, ele foi investigado pela PF na operação Desvid-19, que buscava apurar supostos desvios de recursos oriundos de emendas parlamentares aos estados para compra de material no enfrentamento à pandemia. Um ano depois, seu nome foi retirado do inquérito a pedido da própria Polícia Federal”.

“O ano de 2021, porém, foi marcado por outra polêmica: no mês de janeiro, em meio ao período mais intenso de mortes decorrentes da Covid-19 no Brasil, o senador promoveu uma festa com mais de mil pessoas em seu estado. Em 2022, sem conseguir formar uma coligação forte para a sua candidatura, entrou na disputa eleitoral já em uma posição frágil. Em agosto, a situação piorou: uma filha de 17 anos, fruto de uma relação fora de seu casamento, o denunciou por abuso sexual. De acordo com ela, ele a teria obrigado a entrar em seu carro e ingerir bebida alcoólica, tentando então tocar suas partes íntimas”.

“Ainda em meio à campanha pela reeleição, Mota foi acusado pelo ex-superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, de compor a parcela de parlamentares que tentavam facilitar o tráfico ilegal de madeira na Amazônia e proteger pessoas envolvidas, chamados por ele de ‘bancada do crime’... Sem base forte de apoio à sua candidatura e com o nome associado a um escândalo de violência sexual, Telmário Mota não conseguiu se reeleger ao Senado. Em setembro, a mãe de sua filha foi encontrada morta em Boa Vista. As câmeras de segurança identificaram dois homens, que se aproximaram dela de motocicleta e a assassinaram”.

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