sexta-feira, 10 de novembro de 2023

O ex-sócio indigesto de Flávio Rachadinha

Charge: V.T.
Por Altamiro Borges


Com o título “Os segredos do sócio”, o site Metrópoles postou nesta quinta-feira (9) uma reportagem bombástica contra o senador Flávio Bolsonaro – também apelidado de Flávio Rachadinha. Ela traz as ameaças de Alexandre Santini, ex-sócio do filhote 01 do “capetão” em uma loja de chocolates no Rio de Janeiro. “Se eu quiser, ponho o Flávio na cadeia. Com o que eu tenho na mão, ele vai preso. Sei tudo da vida dele”, detona o empresário. De acordo com a apuração do colunista Rodrigo Rangel, as denúncias têm consistência.

“A lista de segredos é extensa e inclui desde mesadas para manter o silêncio de Fabrício Queiroz até indícios de tráfico de influência no governo de Jair Bolsonaro”. Alexandre Santini foi sócio de Flávio Rachadinha em uma loja de chocolates da Kopenhagen que, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, foi aberta para lavar dinheiro. “Para os promotores que investigaram as chamadas ‘rachadinhas’, ele entrou na sociedade como uma espécie de laranja de luxo. Não faz muito tempo, a amizade de quase duas décadas que fez Flávio escolher Santini como sócio na chocolateria virou pó. Desde o primeiro turno da campanha eleitoral do ano passado, os dois estão rompidos”.

Laranja de luxo posta recados nas redes sociais

“Nem um nem outro explica os motivos da briga. Pessoas próximas a ambos dão versões diferentes. Umas dizem que o motivo é de ordem estritamente pessoal – íntima, até (Santini promoveu animadas festas privês que teriam deixado Flávio, seu convidado especial, em apuros). Outras sustentam que o rompimento se deu por diferenças irreconciliáveis na condução dos negócios conjuntos”.

A briga entre os ex-sócios se tornou pública no primeiro semestre deste ano. O “laranja de luxo” postou alguns recados cifrados pelas redes sociais. “Não adianta tentar escapar, tudo é questão de tempo, pois provas não faltam para seus inúmeros ‘crimes na política’ que vão te levar para a prisão”, disparou, sem citar o senador nominalmente. “De lá para cá, muita coisa aconteceu e a crise entre os dois escalou. Hoje, Santini trava sua guerra particular contra Flávio Bolsonaro em duas frentes”.

“Em uma delas, ele mostra a cara, cobra do ex-sócio um valor milionário a título de ‘acerto de contas’ e não diz abertamente tudo o que sabe. Em outra, longe de holofotes, se coloca como um homem-bomba, detentor de segredos que, assegura, podem explodir a carreira do primogênito de Jair Bolsonaro. A parte mais visível da contenda ganhou forma nas últimas semanas, com uma notificação extrajudicial que os advogados de Santini enviaram para Flávio Bolsonaro”.

Empresário cobra uma dívida de R$ 1.473 milhão

No documento de três páginas, que o site Metrópoles teve acesso, Alexandre Santini argumenta que ficou no prejuízo ao abrir com Flávio Bolsonaro a Bolsotini Chocolates e Café Ltda, razão social da loja de chocolates instalada no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca. Ele relata que, do investimento inicial de R$ 1 milhão, pôs R$ 450 mil do próprio bolso, enquanto o pimpolho do ex-presidente deu R$ 200 mil – “em dinheiro vivo” – e a dentista Fernanda Bolsonaro, mulher do senador, aportou R$ 350 mil por meio de uma transferência bancária.

O ex-sócio sustenta que, embora a sociedade fosse dividida meio a meio, Flávio Bolsonaro sempre ficou com a maior parte dos lucros: R$ 1,7 milhão (dos quais R$ 700 mil foram retirados em dinheiro), contra R$ 644 mil. Ele ainda garante que pagava as contas da Bolsotini sem ser reembolsado e que, quando foi preciso vender a loja, após o estouro das rachadinhas inviabilizar o negócio, ficou só com R$ 529 mil, enquanto Flávio recebeu R$ 875 mil. Por essas diferenças, ele agora cobra do senador carioca exatos R$ 1.473.344,46.

Afora a batalha na Justiça pelo reembolso, há uma outra guerra bem mais suja em curso. “A coluna teve acesso a uma série de elementos, incluindo documentos e registros de conversas de Santini com pessoas próximas, que mostram que, por trás da cobrança oficial, ele se move para pressionar Flávio a acertar o que deve, sob pena de revelar segredos capazes não apenas de abreviar a carreira política do filho 01 de Jair Bolsonaro, mas também de levá-lo para a prisão”. Vale conferir alguns das supostas sujeiras descritas na reportagem:

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Os segredinhos de Alexandre Santini

“Os segredos que Alexandre Santini diz ter envolvem transações em dinheiro vivo que incluem aquisições milionárias de imóveis feitas por Flávio, pagamentos de despesas pessoais com recursos de origem suspeita supostamente obtidos graças à influência do senador no governo federal durante o período em que o pai foi presidente e bastidores de como ele, emparedado pelo escândalo das rachadinhas, administrou o silêncio do notório Fabrício Queiroz”.

“Quando desfia em privado as histórias dos tempos em que esteve junto com o senador, ele fala sem reservas que o fluxo financeiro da loja realmente fugia dos padrões de um negócio normal. Diz, por exemplo, que no primeiro ano já foi possível recuperar, na contabilidade oficial, todo o dinheiro investido no negócio, o que não é normal em se tratando de um estabelecimento que funcionava em um shopping que nem está entre os maiores do Rio. O ex-sócio até brinca: se fosse assim, todo mundo estaria investindo em lojas da Kopenhagen”.

Os relógios de luxo do filhote 01 do fascista

“Ainda na lista dos segredos guardados pelo ex-sócio há um capítulo que lança o senador para dentro da trama dos relógios e joias de luxo recebidos pelo ex-clã presidencial durante o governo passado – assunto que levou Jair Bolsonaro a virar alvo de mais uma investigação no Supremo Tribunal Federal. Ao listar o que tem sobre Flávio, Santini tem exibido, a partir do rolo da câmara de seu celular, fotos de uma extensa coleção de relógios de luxo que, diz, o senador ganhou durante viagens oficiais e, também, de empresários interessados em tê-lo como amigo. Algumas imagens foram feitas dentro da casa de Flávio. A coleção tem exemplares caríssimos de marcas como Rolex, Patek Philippe e Hublot”.

“Santini diz saber, ainda, como Flávio Bolsonaro virou um ás do ramo imobiliário a partir do período em que ocupou uma cadeira de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio. Várias das transações do hoje senador da República, como a aquisição de apartamentos em bairros nobres da zona sul carioca e de um andar inteiro de um prédio de salas comerciais na Barra da Tijuca, chegaram a ser alvo da apuração do MP fluminense, sob suspeita de lavagem de dinheiro”.

“A loja de chocolates não é o único elo entre Alexandre Santini e Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas. Por um tempo, depois da eclosão do escândalo, o ex-sócio do filho 01 de Jair Bolsonaro funcionou como um ponto de contato com Fabrício Queiroz, o ex-policial militar que trabalhou como assessor dele na Alerj e foi acusado de ser o operador do esquema. Queiroz e Santini se falavam com frequência. Registros dessas conversas estão preservados até hoje... Em pelo menos uma das gravações, Queiroz se refere a Alexandre Santini como um dos aliados da família que, assim como ele, se mantiveram fiéis, mas acabaram escanteados, diferentemente de outros que se deram bem durante o governo Bolsonaro”.

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