quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Por que a Folha não investiga o Serra?
Reproduzo artigo de Brizola Neto, publicado no blog Tijolaço:
A Folha de S. Paulo está conduzindo, como todos sabem, uma intensa ação judicial para obter acesso à íntegra do processo de Dilma Roussef movido pela ditadura, com material obtido sob tortura e num regime de exceção.
A Folha defendeu, em editorial, o seu interesse com estas palavras:
“É da essência republicana que a biografia de um candidato se exponha ao exame até mesmo impiedoso da opinião pública. Trata-se, afinal, de alguém que pretende assumir o comando do país.”
Seguindo o mesmo raciocínio, a sociedade tem, então, o direito de exigir que a Folha procure e exponha, para “o exame impiedoso da opinião pública”, os autos do processo movido na Justiça Eleitoral de São Paulo, em 1988, onde o candidato José Serra, - “alguém que pretende assumir o comando do país” – busca reparação ao fato de ter sido acusado pelo seu então colega de partido, Flávio Bierrenbach, de ter entrado pobre e saído rico do governo Montoro, onde foi secretário de Estado.
A acusação foi feita na televisão e Serra iniciou um processo por calúnia, injúria e difamação contra Bierrenbach. Este, então, solicitou ao juiz da 2a Zona Eleitoral, então o Dr.Wálter Maierovitch, o que se chama exceção da verdade, ou seja, o direito de provar que não é calunioso ou difamante o que havia sido afirmado. O juiz atendeu e, então, Serra tentou reduzir o processo ao de injúria, que juridicamente não comporta a comprovação de ser verdadeiro o que se afirmou.
O processo passou a arrastar-se e, finalmente, prescreveu. Mas está lá, no TRE de São Paulo, com a prova que se exige em processos relativos ao horário eleitoral, que é a fita do que foi veiculado.
A matéria, da revista CartaCapital, em 2002, está reproduzida em diversos blogs e pode ser lida aqui.
Flávio Bierrenbach não é um “consultor” condenado por estelionato. É ministro aposentado do Superior Tribunal Militar, o mesmo ao qual a Folha exige os dados de Dilma Rousseff. E não chegou lá nomeado por Lula, mas por Fernando Henrique Cardoso, em 1999. É alguém, portanto, digno da credibilidade e de isenção política em relação ao atual Governo.
Aliás, a Folha tem pleno conhecimento do processo e das acusações de Bierrenbach.
Publicou, em 2002, uma matéria onde dizia que o depoimento de Bierrenbach ia ser levado ao ar pela campanha de Ciro Gomes e até transcreveu parte do que ele dizia:
“Com esse objetivo, deve ir ao ar ainda hoje no horário eleitoral gratuito um depoimento em que o ex-deputado Flávio Bierrenbach acusa o tucano. “Entrou pobre na Secretaria de Planejamento do governo Montoro. Saiu rico”, diz ele.”
Portanto, a Folha de S. Paulo, se não quiser que seu editorial defendendo que a “essência republicana” seja ter conhecimento de tudo o que se disse – até pelos torturadores e receptadores, como foi o caso do sr. Rubnei Quicoli – sobre “ alguém que pretende assumir o comando do país”, está na obrigação de publicar o que o Ministro Bierrenbach disse sobre José Serra. Até porque foi dito num processo judicial em pleno regime de liberdades, e não papéis manchados de sangue do período da tortura e da bestialidade.
Ou, então, deve confessar a seus leitores que pratica o padrão Rubens Ricúpero de jornalismo: o que é bom (para Serra) a gente mostra; o que é ruim a gente esconde.
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A Folha de S. Paulo está conduzindo, como todos sabem, uma intensa ação judicial para obter acesso à íntegra do processo de Dilma Roussef movido pela ditadura, com material obtido sob tortura e num regime de exceção.
A Folha defendeu, em editorial, o seu interesse com estas palavras:
“É da essência republicana que a biografia de um candidato se exponha ao exame até mesmo impiedoso da opinião pública. Trata-se, afinal, de alguém que pretende assumir o comando do país.”
Seguindo o mesmo raciocínio, a sociedade tem, então, o direito de exigir que a Folha procure e exponha, para “o exame impiedoso da opinião pública”, os autos do processo movido na Justiça Eleitoral de São Paulo, em 1988, onde o candidato José Serra, - “alguém que pretende assumir o comando do país” – busca reparação ao fato de ter sido acusado pelo seu então colega de partido, Flávio Bierrenbach, de ter entrado pobre e saído rico do governo Montoro, onde foi secretário de Estado.
A acusação foi feita na televisão e Serra iniciou um processo por calúnia, injúria e difamação contra Bierrenbach. Este, então, solicitou ao juiz da 2a Zona Eleitoral, então o Dr.Wálter Maierovitch, o que se chama exceção da verdade, ou seja, o direito de provar que não é calunioso ou difamante o que havia sido afirmado. O juiz atendeu e, então, Serra tentou reduzir o processo ao de injúria, que juridicamente não comporta a comprovação de ser verdadeiro o que se afirmou.
O processo passou a arrastar-se e, finalmente, prescreveu. Mas está lá, no TRE de São Paulo, com a prova que se exige em processos relativos ao horário eleitoral, que é a fita do que foi veiculado.
A matéria, da revista CartaCapital, em 2002, está reproduzida em diversos blogs e pode ser lida aqui.
Flávio Bierrenbach não é um “consultor” condenado por estelionato. É ministro aposentado do Superior Tribunal Militar, o mesmo ao qual a Folha exige os dados de Dilma Rousseff. E não chegou lá nomeado por Lula, mas por Fernando Henrique Cardoso, em 1999. É alguém, portanto, digno da credibilidade e de isenção política em relação ao atual Governo.
Aliás, a Folha tem pleno conhecimento do processo e das acusações de Bierrenbach.
Publicou, em 2002, uma matéria onde dizia que o depoimento de Bierrenbach ia ser levado ao ar pela campanha de Ciro Gomes e até transcreveu parte do que ele dizia:
“Com esse objetivo, deve ir ao ar ainda hoje no horário eleitoral gratuito um depoimento em que o ex-deputado Flávio Bierrenbach acusa o tucano. “Entrou pobre na Secretaria de Planejamento do governo Montoro. Saiu rico”, diz ele.”
Portanto, a Folha de S. Paulo, se não quiser que seu editorial defendendo que a “essência republicana” seja ter conhecimento de tudo o que se disse – até pelos torturadores e receptadores, como foi o caso do sr. Rubnei Quicoli – sobre “ alguém que pretende assumir o comando do país”, está na obrigação de publicar o que o Ministro Bierrenbach disse sobre José Serra. Até porque foi dito num processo judicial em pleno regime de liberdades, e não papéis manchados de sangue do período da tortura e da bestialidade.
Ou, então, deve confessar a seus leitores que pratica o padrão Rubens Ricúpero de jornalismo: o que é bom (para Serra) a gente mostra; o que é ruim a gente esconde.
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PT pede investigação de Paulo Preto
Reproduzo matéria de Suzana Vier, publicada na Rede Brasil Atual:
A bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo ingressou com representação junto ao Ministério Público Estadual (MPE) pedindo investigação da conduta de José Serra (PSDB) como governador do estado. O atual candidato à Presidência da República é envolvido em função de acusações contra Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor de Engenharia da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa).
É a segunda representação encaminhada ao órgão em cinco meses. Em maio deste ano, a legenda pediu investigação de Paulo Preto por sua ação de arrecadação de fundos de campanha para o PSDB. Ele teria recolhido R$ 4 milhões antes do início do período determinado pela Justiça Eleitoral, mas o destino dos recursos é desconhecido. Na edição de 13 de agosto deste ano, Evandro Losacco, membro da Executiva do PSDB e tesoureiro-adjunto do partido reconhece que houve a arrecadação, embora negue que os recursos tenham ido para a campanha.
Dilma relembra o "caso Paulo Preto"
O caso foi citado por Dilma Rousseff (PT) durante o debate entre pressidenciáveis no domingo (10), na TV Bandeirantes. Serra inicialmente negou conhecer Souza, mas depois defendeu o ex-diretor da Dersa. Os petistas negam qualquer relação entre a nova representação e a acusação da candidata governista.
Os deputados sustentam que o novo pedido de investigação foi decorrente de reunião com o procurador-geral de Justiça de São Paulo na semana passada. A apuração da representação apresentada em maio corre em sigilo de Justiça.
Representação
No atual pedido de investigação, o centro das atenções é a análise de possível ilegalidade, inconstitucionalidade e improbidade na conduta de Serra. Além dele e de Paulo Preto, são citados Delson José Amador, ex-diretor-presidente da empresa, e José Max Reis Alves, atual presidente da Dersa.
Sobre Paulo Preto, recai agora a suspeita de tráfico de influência. A hipótese que os petistas pedem para ser investigada é se ele teria usado sua função de autorizar pagamentos a empreiteiras e de coordenar obras para fazer caixa de campanha. A representação aponta a exoneração do ex-diretor, em abril deste ano, após Alberto Goldman (PSDB) ter assumido o cargo.
O PT pede que se avalie a execução de contratos e o cumprimento de obras efetivamente pagas. Isso porque há suspeitas de desvios de recursos em obras estratégicas no estado, como a expansão da Jacu Pêssego, Rodoanel e a Nova Marginal. "Ninguém nesse governo deu condições das empresas apoiarem mais recursos politicamente do que eu", disse Souza à Folha de S.Paulo. Ele negou ter feito a arrecadação.
Advogados
Outra frente de investigação de eventual tráfico de influência diz respeito à contratação do escritório Edgar Leite Advogados Associados, no qual trabalha Priscila Arana de Souza Zahram, filha de Souza. Além disso, o escritório trabalha para empreiteiras, contratadas pela Dersa para executar obras. O duplo vínculo indicaria conflito de interesses, na visão da bancada.
A representação sustenta que o Tribunal de Constas do Estado (TCE) e o Tribunal de Contas da União (TCU) apontaram problemas na contratação. "Não houve licitação para o contrato com esse escritório", atesta Antonio Mentor, líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa.
Há pedidos de esclarecimento sobre um empréstimo concedido pela advogada e pela ex-mulher de Souza a Aloísio Nunes Ferreira (PSDB), senador eleito por São Paulo. Juntas, elas cederam R$ 300 mil para o ex-secretário da Casa Civil de Serra no estado. Embora não represente ilegalidade, os deputados querem saber se houve algum tipo de relação com as outras acusações.
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A bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo ingressou com representação junto ao Ministério Público Estadual (MPE) pedindo investigação da conduta de José Serra (PSDB) como governador do estado. O atual candidato à Presidência da República é envolvido em função de acusações contra Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor de Engenharia da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa).
É a segunda representação encaminhada ao órgão em cinco meses. Em maio deste ano, a legenda pediu investigação de Paulo Preto por sua ação de arrecadação de fundos de campanha para o PSDB. Ele teria recolhido R$ 4 milhões antes do início do período determinado pela Justiça Eleitoral, mas o destino dos recursos é desconhecido. Na edição de 13 de agosto deste ano, Evandro Losacco, membro da Executiva do PSDB e tesoureiro-adjunto do partido reconhece que houve a arrecadação, embora negue que os recursos tenham ido para a campanha.
Dilma relembra o "caso Paulo Preto"
O caso foi citado por Dilma Rousseff (PT) durante o debate entre pressidenciáveis no domingo (10), na TV Bandeirantes. Serra inicialmente negou conhecer Souza, mas depois defendeu o ex-diretor da Dersa. Os petistas negam qualquer relação entre a nova representação e a acusação da candidata governista.
Os deputados sustentam que o novo pedido de investigação foi decorrente de reunião com o procurador-geral de Justiça de São Paulo na semana passada. A apuração da representação apresentada em maio corre em sigilo de Justiça.
Representação
No atual pedido de investigação, o centro das atenções é a análise de possível ilegalidade, inconstitucionalidade e improbidade na conduta de Serra. Além dele e de Paulo Preto, são citados Delson José Amador, ex-diretor-presidente da empresa, e José Max Reis Alves, atual presidente da Dersa.
Sobre Paulo Preto, recai agora a suspeita de tráfico de influência. A hipótese que os petistas pedem para ser investigada é se ele teria usado sua função de autorizar pagamentos a empreiteiras e de coordenar obras para fazer caixa de campanha. A representação aponta a exoneração do ex-diretor, em abril deste ano, após Alberto Goldman (PSDB) ter assumido o cargo.
O PT pede que se avalie a execução de contratos e o cumprimento de obras efetivamente pagas. Isso porque há suspeitas de desvios de recursos em obras estratégicas no estado, como a expansão da Jacu Pêssego, Rodoanel e a Nova Marginal. "Ninguém nesse governo deu condições das empresas apoiarem mais recursos politicamente do que eu", disse Souza à Folha de S.Paulo. Ele negou ter feito a arrecadação.
Advogados
Outra frente de investigação de eventual tráfico de influência diz respeito à contratação do escritório Edgar Leite Advogados Associados, no qual trabalha Priscila Arana de Souza Zahram, filha de Souza. Além disso, o escritório trabalha para empreiteiras, contratadas pela Dersa para executar obras. O duplo vínculo indicaria conflito de interesses, na visão da bancada.
A representação sustenta que o Tribunal de Constas do Estado (TCE) e o Tribunal de Contas da União (TCU) apontaram problemas na contratação. "Não houve licitação para o contrato com esse escritório", atesta Antonio Mentor, líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa.
Há pedidos de esclarecimento sobre um empréstimo concedido pela advogada e pela ex-mulher de Souza a Aloísio Nunes Ferreira (PSDB), senador eleito por São Paulo. Juntas, elas cederam R$ 300 mil para o ex-secretário da Casa Civil de Serra no estado. Embora não represente ilegalidade, os deputados querem saber se houve algum tipo de relação com as outras acusações.
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José Serra abraça o Tea Party
Reproduzo excelente artigo de Antonio Martins, publicado no blog Outras Palavras:
Como Serra-2010 reproduz, no Brasil, a irracionalidade e a mobilização de ressentimentos que caracteriza o Tea Party, nos EUA. Por que a guinada de Dilma no debate da Band era indispensável para a busca da vitória. Quais as perspectivas para as eleições, agora.
I. O momento da guinada
Surpreendente, a candidata que lidera as intenções de voto abriu sua participação escancarando a “campanha de calúnias e mentiras” lançada contra si mesma. Tomou a iniciativa de introduzir o tema do aborto – principal peça usada pelos adversários para fustigá-la. Ousou referir-se à esposa de seu oponente, apontando-a como parte dos ataques (e não foi contestada…). Depois, partiu para o território mais desejado: as privatizações, ausentes da campanha até agora, foram tema de três perguntas em sequência, e certamente polarizarão as discussões, daqui para a frente.
Pouco traquejada em debates televisivos, Dilma Roussef teve momentos de nervosismo e lapsos, na noite do último domingo (10/10), primeiro confronto com José Serra após o primeiro turno. Mas ao final, havia alcançado dois objetivos. O mais visível foi retomar a iniciativa e voltar a pautar a disputa presidencial, depois de quase um mês apenas “segurando o resultado” e da frustração por não liquidar a disputa em 3 de outubro. Menos evidente, porém ainda mais importante, foi ter exposto a face pouco convencional – e por isso surpreendente e perigosa – da “nova” direita que a candidatura de José Serra articula. A frase que sintetiza esta descoberta ficará marcada. “Vocês estão introduzindo ódio na vida brasileira”.
A reação de Dilma respondeu a uma emergência. Estacionado por meses no patamar de 25% dos votos, incapaz de despertar entusiasmo ou simpatia durante toda a campanha, José Serra mostrou que não estava morto a partir de meados de setembro. Os ataques subterrâneos que lançou contra a candidata petista foram incapazes de lhe transferir votos. Mas provocaram o segundo turno, porque um grande contingente de eleitores atingidos refugiou-se em Marina.
Embora tenha conquistado menos de 1/3 das preferências dos eleitores, o candidato do PSDB viu-se, de um momento para outro, em condições reais de se tornar presidente. Tal possibilidade foi demonstrada pela primeira pesquisa de intenção de votos para o segundo turno, do Datafolha. Em 7 e 8 de outubro, menos de uma semana após a primeira disputa, Serra avançara pouco: tinha 41% das intenções de voto, contra 40% na sondagem anterior. Mas Dilma caíra de 52% para 48%. A diferença estreitara-se cincos pontos – reduzindo-se a apenas sete. Para entender como tal reviravolta foi possível, é preciso examinar a fundo, a à luz dos novos fatos, as características da campanha de Serra.
II. Uma estratégia de despolitização radical
Subestimada durante meses, por fugir inteiramente à lógica das disputas políticas clássicas (e do que se esperaria de alguém com o passado do candidato), a trajetória do candidato tucano começa agora a fazer sentido. Inspira-se no Tea Party, a ultra-direita norte-americana que reemergiu com enorme força, em resposta à eleição de Barack Obama – e que tem como ícone Sarah Palin… Seu perfil não se confunde nem com o da direita clássica (que defendia com sinceridade as ideias conservadoras), nem com o do neoliberalismo (que postulava como valor máximo a supremacia dos mercados).
Corresponde a uma fase de impasse do capitalismo ocidental. Depois de verem seu projeto de sociedade questionado, e de o terem reciclado parcialmente nas décadas anteriores, as velhas elites parecem, em todo o mundo, incapazes de dar um novo passo propositivo adiante. Sua associação orgânica com o conservadorismo foi abandonada, na sequência a 1968; sua crença na “mão invisível”, que substituiu a antiga aliança a partir do fim dos anos 1970, acabou destroçada pela crise pós-2008; as periferias batem à porta – tanto as globais, quanto as metropolitanas. Resta resistir a elas: e como não é possível fazê-lo por meio de um projeto articulado, convocam-se os medos e ressentimentos: o irracional.
É uma aposta momentaneamente forte, porque as ideias de ampliação da democracia e transformação social rearticularam-se há muito pouco (na virada do século) e não puderam ainda fincar raízes no imaginário popular, nem formular conceitos sólidos. Lula, Obama ou Evo Morales; o Fórum Social Mundial, a sociedade civil global, o desejo de rever as relações entre o ser humano e a natureza; a cultura das periferias, a aparição em cena dos indígenas e negros, as novas classes médias; a blogosfera, o compartilhamento de cultura e conhecimento, a colaboração como valor decisivo para produzir – tudo isso são todos fenômenos contemporâneos. Não têm o peso da experiência, dos erros, dos recursos materiais e financeiros, da influência geopolítica que caracterizava a tradição de esquerda anterior – especialmente a social-democracia e o socialismo real.
Sem uma alternativa para contrapor a estas inovações que aspiram a construir futuro, a direita-Tea Party tenta despejar sobre elas os preconceitos do passado. Sua estratégia é evitar o debate político e, sobretudo, o choque entre projetos. Suas propostas são risíveis: nos EUA, insiste-se em manter duas guerras, ampliar os cortes de impostos decretados por Bush e, ainda assim, reduzir o déficit público. Seu método é substituir o debate racional pela mobilização de rancores e recalques, pelas denúncias caluniosas e não-assumidas, pelo ataque implacável a certas ideias e personalidades, pela desinformação deliberada e generalizada.
Seu poder não pode ser desprezado – especialmente em sociedades nas quais o acesso médio dos cidadãos à informação ainda é reduzido. Nos EUA, pesquisa recente mostrou que apenas um terço dos cidadãos sabe que Barack Obama é cristão; 20% pensam que ele é muçulmano; e o percentual dos que estão mal-infomados cresceu acentuadamente desde a posse do presidente. Além disso, boa parte da sociedade crê sinceramente que a crise financeira é responsabilidade direta de Obama, não das políticas de seus antecessores…
A candidatura Serra repete de modo impressionante, em seus aspectos centrais, este padrão. O postulante jamais apresentou programa — nem à Justiça Eleitoral [1], nem, principalmente, aos eleitores. O sentido geral das propostas de Dilma e Marina é compreensível e razoavelmente conhecido: pode-se aderir a elas, deplorá-las, apoiá-las em parte, estabelecer diálogos. O presidenciável do PSDB apresenta, enquanto isso, uma coleção de promessas incoerentes ao longo do tempo e incompatíveis entre si.
Ele já foi contra e a favor da renda cidadã e do programa habitacional do governo. Ele diz que o Estado brasileiro tem uma dívida crescente (o que é falso…) e ainda assim propõe cortar impostos dos ricos e, ao mesmo tempo, ampliar os benefícios pagos à maioria (contrariando toda a sua prática anterior). Ele tenta sepultar debates incômodos com rompantes repentinos, cheios de bazófia e incompatíveis com seu arco de alianças (em 12/10, dois dias depois de Dilma introduzir na campanha as privatizações, prometeu reestatizar empresas…). A velha mídia jamais questiona estas incongruências. Mergulhada ela própria em crise, talvez deposite suas últimas esperanças numa contra-utopia orwelliana, num descolamento radical entre o discurso político e a realidade, em que a mediação jornalística assumiria por completo caráter de ficção – e seria recompensada por isso…
III. Desconstruir a adversária
Como lhe falta um programa coerente, a direita-Tea Party apela para a desconstrução das candidaturas que vê como inimigas. Nos EUA, contra todas as evidências e racionalidade, Barack Obama é apontado como um marxista e traidor da pátria – de nada lhe servindo, aliás, manter um orçamento militar superior ao de George W. Bush… No Brasil, o alvo é Dilma. A “nova” direita não ousa atacar nem a figura de Lula, nem o lulismo. Além de temer a popularidade do presidente, não tem projeto a contrapor. Por isso, sua preocupação central não é, sequer, destacar as possíveis qualidades de Serra – mas transformá-lo, por meio da eliminação política de sua adversária, numa espécie de candidato único.
A fase intensa da campanha para desconstruir Dilma começou no final de agosto e desdobrou-se em duas fases. Na primeira, o protagonismo foi do Jornal Nacional e de quatro publicações impressas que esqueceram suas rivalidades históricas para formar uma espécie de Santa Aliança: O Globo, Veja, Folha e Estado de S.Paulo.
Nesta fase, o método consistiu em bombardear a opinião pública com dois “escândalos”: o vazamento do sigilo bancário de Verônica Serra, do qual Dilma Roussef foi – sabe-se agora com certeza – injustamente acusada; e a agência de lobby mantida pelo filho de Erenice Guerra, que não obteve nenhum favorecimento real, embora usasse o parentesco com a mãe poderosa para impressionar clientes. O primeiro caso era uma ficção; o segundo, uma irrelevância. Mas ambos monopolizaram, por 30 dias, as manchetes dos três jornais de maior circulação do país; da revista semanal mais conhecida; e do noticiário de maior audiência na TV. Para atestar o caráter eleitoreiro das “denúncias”, basta lembrar que foram imediatamente esquecidas, ao cumprirem seu papel na campanha. Não visavam investigar a fundo um assunto importante – apenas iniciar atacar uma candidatura, para favorecer outra.
Dilma resistiu ao ataque. Mas nas três semanas que antecederam as urnas, a ofensiva midiática foi complementada por outra: a mobilização das bases conservadoras. Nos EUA, ela é uma caracteística da Tea Party: aproveitando-se da frustração inicial das expectativas geradas por Obama, a direita formou centenas de comitês em todo o país e promoveu ao menos duas grandes marchas em Washington. No Brasil, onde não há nada que se compare a esta força, recorreu-se à difusão de denúncias apócrifas por meio da internet – um espaço onde o PT e seus aliados desperdiçaram muitas oportunidades e ignoraram a blogosfera potencialmente aliada.
A campanha de Serra articulou o lançamento incessante de boatos anônimos. Mobilizou a classe média conservadora e ressentida, numa rede informal muito capilarizada. Imitando uma vez mais o exemplo norte-americano, apoiou-se (sob as vistas grossas da CNBB) no poder crescente que o fundamentalismo está conquistando no catolicismo institucional e em algumas seitas evangélicas.
Uma visita ao site sejaditaverdade, ou a leitura de cartaz, afixado diante de muitas igrejas, no dia da eleição (na foto, em Porto Alegre), dão uma pequena ideia do que se destilou. Segundo a montanha de spams políticos, a candidata teria participado de diversos assassinatos. Sua postulação visaria, fundamentalmente, aprovar a disseminação do aborto, o casamento gay e o ataque do Estado às Igrejas. Enfrentaria processo de uma ex-amante. Lançaria blasfêmias contra Cristo (“nem ele impede minha vitória”). Posaria com armas. Estaria impedida de entrar nos Estados Unidos, por atos terroristas. Teria mobilizado fabricantes de chips chineses para fraudar as urnas eletrônicas brasileiras. Sua candidatura estaria a ponto de ser impugnada pelo “ficha limpa”. Seu vice, Michel Temer, frequentaria seitas satanistas em Curitiba. Etc. Etc. Etc…
O jornalista Leonardo Sakamoto explicou, em seu blog como estas alegações inteiramente inconsistentes acabam adquirindo força, em conjunto. Disparadas às dezenas de milhões, cada uma delas acaba atingindo um público que se sensibiliza pelo tema em questão e acredita no argumento. Os integrantes deste grupo passam a reproduzir a “denúncia”, acrescentando a ela, agora, o peso de sua reputação e influência pessoal.
A montagem desta rede de boatos foi a função a que se dedicou o norte-americano de origem indiana Ravi Singh, sócio da transnacional de marketing político ElectionMall – que prestou consultoria por meses à campanha de Serran[2]. Em 2007, diante do sucesso de Obama na internet, o site progressista norte-americano Mother Jones entrevistou Michael Cornfield, vice-presidente da empresa. Indagado sobre a possibilidade de a direita servir-se da internet no futuro, ele a considerou inevitável. E frisou: “Há mais de uma maneira de usar a web. Muito mais que uma maneira”.
No exato momento em que a campanha de Serra mobilizava todas as suas energias, a de Lula e Dilma descansava. O movimento fazia sentido, se visto pela lógica das disputas eleitorais travadas até então. Num comício em Curitiba, a uma semana do primeiro turno, o presidente recomendou a seus apoiadores “segurar o jogo”. “Estamos ganhando de 2 x 0 e faltam dez minutos para terminar a partida. O adversário está nos chutando na canela e no peito e o juiz não apita falta. Querem explusar alguém do nosso lado. Vamos fazer como o Parreira, quando técnico do Corínthians, e prender a bola. Enquanto ela estiver nos nossos pés, o outro time não faz gol”.
Comemorara cedo demais a resistência de Dilma aos ataques midiáticos. Não se dera conta de que, em articulação com a boataria apócrifa, eles haviam constituído um ataque em pinça poderoso. Milhões de eleitores, que conheciam a candidata superficialmente, eram atingidos agora tanto pelo Jornal Nacional quanto por mensagens recebidas de pessoas próximas e confiáveis.
Um excelente texto publicado por Weden no site do Luís Nassif sintetizou o cenário. Além de provocar a segundo turno, a artilharia cerrada disparada durante semanas pela mídia e pela central de boatos apócrifos estava começando a desconstruir politicamente a candidata. Expressão destacada do lulismo, responsável pelo planejamento e articulação política de seu segundo governo, ela estava sendo sendo reduzida a uma escolha errada do presidente.
“Reconheço que nunca houve um governo tão bom para nós”, mas “esta mulher é um perigo para o país” foi o depoimento emblemático colhido por Weden junto a um taxista – que estava disposto a votar em Dilma até as vésperas do primeiro turno, mas migrou para Marina e tendia, naquele momento (7/10) a Serra. Embora ainda limitado (daí Dilma manter-se na dianteira), o movimento alastrava-se rapidamente. Weden abordou com realismo seu sentido potencial: “A candidata petista está perdendo o ‘efeito continuidade’ que conseguiu representar até semanas atrás. Se Dilma ficar na metade dos votos governistas, perde a eleição”.
IV. Por onde corre a repolitização
Como pode uma candidata repolitizar uma campanha, quando setores crescentes do eleitorado questionam sua própria legitimidade? A pergunta embaraçou até mesmo grandes especialistas. Entrevistado por Luís Nassif, Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus, sugeriu que a chave era o tema do aborto. Dilma deveria fazer um pronunciamento “amplo e forte” contra a interrupção da gravidez. Era, evidentemente, um equívoco. Se fosse responder a cada uma das invenções lançadas contra si, a candidata não faria mais nada, até 31 de outubro. Além disso, cada resposta acabaria dando mais destaque ao próprio boato. A vítima de uma sequência de calúnias enfrenta um drama semelhante ao de quem cai num poço de areia movediça: quanto mais se debate, mais afunda. A única saída é buscar um ponto de apoio externo.
Dilma viu no debate da Band, em 10 de outubro, o momento para escapar do poço. Procurou o ponto de apoio mais potente – e, ao mesmo tempo, mais difícil e arriscado. Em sua primeira pergunta a Serra, questionou diretamente a desqualificação da campanha. Já na réplica, ainda mais incisiva, apontou a manipulação de suas opiniões relativas tema ao aborto. Voltou ao ele numa pergunta posterior, quando, para ampliar a veracidade do que alegava, mencionou o envolvimento de Mônica Serra no esforço de difamação.
Estava visivelmente tensa: naqueles instantes, qualquer escorregão em sua fala seria catastrófico. Mas completou bem o movimento, que lhe trouxe duas vantagens. Abriu caminho para que sua campanha continue denunciando a armação adversária – ou seja, produzindo antídotos contra a desconstrução de sua imagem. E mostrou grande coragem, desmentindo na prática a impressão – preconceituosa e machista – de que é mero produto de marketing de Lula. Estes dois pontos lhe deram o apoio necessário para abrir, em seguida, o questionamento político e programátrico a Serra. A escolha dos temas era óbvia: privatizações e programas de redistribuição de renda, símbolos máximos da diferença entre o projeto do lulismo e o das elites.
Dará certo? O objetivo principal dos candidatos, num debate como o da Band não é conquistar o eleitorado, mas redefinir os temas que polarizarão a campanha em seguida. Mesmo com apenas 2% de audiência, o evento cria fatos incontornáveis. Os primeiros efeitos foram logo sentidos. A campanha de Serra e os jornalistas que a bajulam tentaram desqualificar a nova postura da candidata – um sinal evidente que ela leva a disputa para um terreno que temem. Mais: o programa de TV do PSDB-DEM foi obrigado a referir-se à privatização. Não poderá manter por muito tempo a abordagem totalmente falsificadora que, como se viu, adotou – desde que a campanha de Dilma aprofunde o tratamento dado ao tema…
Uma coisa é certa: a três semanas da eleição, o giro executado pela candidata em 10 de outubro é um movimento sem retorno. A “Diminha paz e amor”, a continuadora quase natural do legado de Lula, deu lugar a um novo personagem político. Dele precisa fazer parte, também, a polemizadora; a mulher que demonstra vasto conhecimento técnico sobre os programas que coordenou no governo; a que, por estar profundamente envolvida no movimento de democratização expresso pelo lulismo, sente-se à vontade para provocar o choque pedagógico entre prejetos para o Brasil. Desta iniciativa dependem agora tanto a repolitização da campanha quando a consolidação ou recomposição da imagem de Dilma, entre a parcela do eleitorado que esteve ou está em dúvida sobre seu voto.
As reviravoltas de campanha levam algum tempo para produzir todos os seus efeitos. É possível que eles não sejam captadas pelas próximas pesquisas – ou seja, que a diferença entre os dois candidatos volte a diminuir ou mesmo desapareça. Será preciso muita calma nessa hora. O grande risco a evitar é o desespero, que levaria a reverter o giro de Dilma.
O programa de TV será, nesta reta derradeira, o palco central para este confronto de projetos. A trilha aberta em 10 de outubro só pode ser preenchida com muita informação. É preciso expor, por exemplo, – e sempre por meio de fatos – a resistência (política e simbólica) da base de Serra aos programas de redistribuição de renda; as tentativas de sabotar os projetos de lei que tratam do Pré-Sal (um ano depois de apresentados, só um foi transformado em lei pelo Congresso). Se feita com sabedoria e talento, a exposição dos absurdos assacados contra Dilma pela campanha apócrifa lançará o feitiço contra o feiticeiro.
Viveremos fortes emoções, nas próximas semanas. Mas o processo de transformações iniciado há oito anos tem potência suficiente para voltar a se impor, entre a maioria do eleitorado. Se isso ocorrer, Dilma acrescentará a sua história pessoal a inteligência de ter sabido, a tempo, comandar o movimento necessário para derrotar a direita-Tea Party – este quase-fascismo pós-moderno que ronda o Brasil em 2010.
Notas
1— Em 3 de julho, data fixada pelo TSE para que os candidatos apresentassem seus programas de governo, a coligação PSDB-DEM-PPS protocolou na Justiça Eleitoral apenas a transcrição dos discursos de Serra feitos na convenção conjunta das três agremiações. A mídia comercial acobertou tal ausência – enquanto destacava, por dias, o fato de a campanha Dilma ter alterado alguns dos itens do programa formalmente apresentado.
2 — Sempre tendente à mistificação e ao provincianismo, a velha mídia tratou Singh como um “guru”. Certamente, impressionou-se por sua origem indiana, ou pelo fato de usar o turbante típico da etnia sikh…
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Como Serra-2010 reproduz, no Brasil, a irracionalidade e a mobilização de ressentimentos que caracteriza o Tea Party, nos EUA. Por que a guinada de Dilma no debate da Band era indispensável para a busca da vitória. Quais as perspectivas para as eleições, agora.
I. O momento da guinada
Surpreendente, a candidata que lidera as intenções de voto abriu sua participação escancarando a “campanha de calúnias e mentiras” lançada contra si mesma. Tomou a iniciativa de introduzir o tema do aborto – principal peça usada pelos adversários para fustigá-la. Ousou referir-se à esposa de seu oponente, apontando-a como parte dos ataques (e não foi contestada…). Depois, partiu para o território mais desejado: as privatizações, ausentes da campanha até agora, foram tema de três perguntas em sequência, e certamente polarizarão as discussões, daqui para a frente.
Pouco traquejada em debates televisivos, Dilma Roussef teve momentos de nervosismo e lapsos, na noite do último domingo (10/10), primeiro confronto com José Serra após o primeiro turno. Mas ao final, havia alcançado dois objetivos. O mais visível foi retomar a iniciativa e voltar a pautar a disputa presidencial, depois de quase um mês apenas “segurando o resultado” e da frustração por não liquidar a disputa em 3 de outubro. Menos evidente, porém ainda mais importante, foi ter exposto a face pouco convencional – e por isso surpreendente e perigosa – da “nova” direita que a candidatura de José Serra articula. A frase que sintetiza esta descoberta ficará marcada. “Vocês estão introduzindo ódio na vida brasileira”.
A reação de Dilma respondeu a uma emergência. Estacionado por meses no patamar de 25% dos votos, incapaz de despertar entusiasmo ou simpatia durante toda a campanha, José Serra mostrou que não estava morto a partir de meados de setembro. Os ataques subterrâneos que lançou contra a candidata petista foram incapazes de lhe transferir votos. Mas provocaram o segundo turno, porque um grande contingente de eleitores atingidos refugiou-se em Marina.
Embora tenha conquistado menos de 1/3 das preferências dos eleitores, o candidato do PSDB viu-se, de um momento para outro, em condições reais de se tornar presidente. Tal possibilidade foi demonstrada pela primeira pesquisa de intenção de votos para o segundo turno, do Datafolha. Em 7 e 8 de outubro, menos de uma semana após a primeira disputa, Serra avançara pouco: tinha 41% das intenções de voto, contra 40% na sondagem anterior. Mas Dilma caíra de 52% para 48%. A diferença estreitara-se cincos pontos – reduzindo-se a apenas sete. Para entender como tal reviravolta foi possível, é preciso examinar a fundo, a à luz dos novos fatos, as características da campanha de Serra.
II. Uma estratégia de despolitização radical
Subestimada durante meses, por fugir inteiramente à lógica das disputas políticas clássicas (e do que se esperaria de alguém com o passado do candidato), a trajetória do candidato tucano começa agora a fazer sentido. Inspira-se no Tea Party, a ultra-direita norte-americana que reemergiu com enorme força, em resposta à eleição de Barack Obama – e que tem como ícone Sarah Palin… Seu perfil não se confunde nem com o da direita clássica (que defendia com sinceridade as ideias conservadoras), nem com o do neoliberalismo (que postulava como valor máximo a supremacia dos mercados).
Corresponde a uma fase de impasse do capitalismo ocidental. Depois de verem seu projeto de sociedade questionado, e de o terem reciclado parcialmente nas décadas anteriores, as velhas elites parecem, em todo o mundo, incapazes de dar um novo passo propositivo adiante. Sua associação orgânica com o conservadorismo foi abandonada, na sequência a 1968; sua crença na “mão invisível”, que substituiu a antiga aliança a partir do fim dos anos 1970, acabou destroçada pela crise pós-2008; as periferias batem à porta – tanto as globais, quanto as metropolitanas. Resta resistir a elas: e como não é possível fazê-lo por meio de um projeto articulado, convocam-se os medos e ressentimentos: o irracional.
É uma aposta momentaneamente forte, porque as ideias de ampliação da democracia e transformação social rearticularam-se há muito pouco (na virada do século) e não puderam ainda fincar raízes no imaginário popular, nem formular conceitos sólidos. Lula, Obama ou Evo Morales; o Fórum Social Mundial, a sociedade civil global, o desejo de rever as relações entre o ser humano e a natureza; a cultura das periferias, a aparição em cena dos indígenas e negros, as novas classes médias; a blogosfera, o compartilhamento de cultura e conhecimento, a colaboração como valor decisivo para produzir – tudo isso são todos fenômenos contemporâneos. Não têm o peso da experiência, dos erros, dos recursos materiais e financeiros, da influência geopolítica que caracterizava a tradição de esquerda anterior – especialmente a social-democracia e o socialismo real.
Sem uma alternativa para contrapor a estas inovações que aspiram a construir futuro, a direita-Tea Party tenta despejar sobre elas os preconceitos do passado. Sua estratégia é evitar o debate político e, sobretudo, o choque entre projetos. Suas propostas são risíveis: nos EUA, insiste-se em manter duas guerras, ampliar os cortes de impostos decretados por Bush e, ainda assim, reduzir o déficit público. Seu método é substituir o debate racional pela mobilização de rancores e recalques, pelas denúncias caluniosas e não-assumidas, pelo ataque implacável a certas ideias e personalidades, pela desinformação deliberada e generalizada.
Seu poder não pode ser desprezado – especialmente em sociedades nas quais o acesso médio dos cidadãos à informação ainda é reduzido. Nos EUA, pesquisa recente mostrou que apenas um terço dos cidadãos sabe que Barack Obama é cristão; 20% pensam que ele é muçulmano; e o percentual dos que estão mal-infomados cresceu acentuadamente desde a posse do presidente. Além disso, boa parte da sociedade crê sinceramente que a crise financeira é responsabilidade direta de Obama, não das políticas de seus antecessores…
A candidatura Serra repete de modo impressionante, em seus aspectos centrais, este padrão. O postulante jamais apresentou programa — nem à Justiça Eleitoral [1], nem, principalmente, aos eleitores. O sentido geral das propostas de Dilma e Marina é compreensível e razoavelmente conhecido: pode-se aderir a elas, deplorá-las, apoiá-las em parte, estabelecer diálogos. O presidenciável do PSDB apresenta, enquanto isso, uma coleção de promessas incoerentes ao longo do tempo e incompatíveis entre si.
Ele já foi contra e a favor da renda cidadã e do programa habitacional do governo. Ele diz que o Estado brasileiro tem uma dívida crescente (o que é falso…) e ainda assim propõe cortar impostos dos ricos e, ao mesmo tempo, ampliar os benefícios pagos à maioria (contrariando toda a sua prática anterior). Ele tenta sepultar debates incômodos com rompantes repentinos, cheios de bazófia e incompatíveis com seu arco de alianças (em 12/10, dois dias depois de Dilma introduzir na campanha as privatizações, prometeu reestatizar empresas…). A velha mídia jamais questiona estas incongruências. Mergulhada ela própria em crise, talvez deposite suas últimas esperanças numa contra-utopia orwelliana, num descolamento radical entre o discurso político e a realidade, em que a mediação jornalística assumiria por completo caráter de ficção – e seria recompensada por isso…
III. Desconstruir a adversária
Como lhe falta um programa coerente, a direita-Tea Party apela para a desconstrução das candidaturas que vê como inimigas. Nos EUA, contra todas as evidências e racionalidade, Barack Obama é apontado como um marxista e traidor da pátria – de nada lhe servindo, aliás, manter um orçamento militar superior ao de George W. Bush… No Brasil, o alvo é Dilma. A “nova” direita não ousa atacar nem a figura de Lula, nem o lulismo. Além de temer a popularidade do presidente, não tem projeto a contrapor. Por isso, sua preocupação central não é, sequer, destacar as possíveis qualidades de Serra – mas transformá-lo, por meio da eliminação política de sua adversária, numa espécie de candidato único.
A fase intensa da campanha para desconstruir Dilma começou no final de agosto e desdobrou-se em duas fases. Na primeira, o protagonismo foi do Jornal Nacional e de quatro publicações impressas que esqueceram suas rivalidades históricas para formar uma espécie de Santa Aliança: O Globo, Veja, Folha e Estado de S.Paulo.
Nesta fase, o método consistiu em bombardear a opinião pública com dois “escândalos”: o vazamento do sigilo bancário de Verônica Serra, do qual Dilma Roussef foi – sabe-se agora com certeza – injustamente acusada; e a agência de lobby mantida pelo filho de Erenice Guerra, que não obteve nenhum favorecimento real, embora usasse o parentesco com a mãe poderosa para impressionar clientes. O primeiro caso era uma ficção; o segundo, uma irrelevância. Mas ambos monopolizaram, por 30 dias, as manchetes dos três jornais de maior circulação do país; da revista semanal mais conhecida; e do noticiário de maior audiência na TV. Para atestar o caráter eleitoreiro das “denúncias”, basta lembrar que foram imediatamente esquecidas, ao cumprirem seu papel na campanha. Não visavam investigar a fundo um assunto importante – apenas iniciar atacar uma candidatura, para favorecer outra.
Dilma resistiu ao ataque. Mas nas três semanas que antecederam as urnas, a ofensiva midiática foi complementada por outra: a mobilização das bases conservadoras. Nos EUA, ela é uma caracteística da Tea Party: aproveitando-se da frustração inicial das expectativas geradas por Obama, a direita formou centenas de comitês em todo o país e promoveu ao menos duas grandes marchas em Washington. No Brasil, onde não há nada que se compare a esta força, recorreu-se à difusão de denúncias apócrifas por meio da internet – um espaço onde o PT e seus aliados desperdiçaram muitas oportunidades e ignoraram a blogosfera potencialmente aliada.
A campanha de Serra articulou o lançamento incessante de boatos anônimos. Mobilizou a classe média conservadora e ressentida, numa rede informal muito capilarizada. Imitando uma vez mais o exemplo norte-americano, apoiou-se (sob as vistas grossas da CNBB) no poder crescente que o fundamentalismo está conquistando no catolicismo institucional e em algumas seitas evangélicas.
Uma visita ao site sejaditaverdade, ou a leitura de cartaz, afixado diante de muitas igrejas, no dia da eleição (na foto, em Porto Alegre), dão uma pequena ideia do que se destilou. Segundo a montanha de spams políticos, a candidata teria participado de diversos assassinatos. Sua postulação visaria, fundamentalmente, aprovar a disseminação do aborto, o casamento gay e o ataque do Estado às Igrejas. Enfrentaria processo de uma ex-amante. Lançaria blasfêmias contra Cristo (“nem ele impede minha vitória”). Posaria com armas. Estaria impedida de entrar nos Estados Unidos, por atos terroristas. Teria mobilizado fabricantes de chips chineses para fraudar as urnas eletrônicas brasileiras. Sua candidatura estaria a ponto de ser impugnada pelo “ficha limpa”. Seu vice, Michel Temer, frequentaria seitas satanistas em Curitiba. Etc. Etc. Etc…
O jornalista Leonardo Sakamoto explicou, em seu blog como estas alegações inteiramente inconsistentes acabam adquirindo força, em conjunto. Disparadas às dezenas de milhões, cada uma delas acaba atingindo um público que se sensibiliza pelo tema em questão e acredita no argumento. Os integrantes deste grupo passam a reproduzir a “denúncia”, acrescentando a ela, agora, o peso de sua reputação e influência pessoal.
A montagem desta rede de boatos foi a função a que se dedicou o norte-americano de origem indiana Ravi Singh, sócio da transnacional de marketing político ElectionMall – que prestou consultoria por meses à campanha de Serran[2]. Em 2007, diante do sucesso de Obama na internet, o site progressista norte-americano Mother Jones entrevistou Michael Cornfield, vice-presidente da empresa. Indagado sobre a possibilidade de a direita servir-se da internet no futuro, ele a considerou inevitável. E frisou: “Há mais de uma maneira de usar a web. Muito mais que uma maneira”.
No exato momento em que a campanha de Serra mobilizava todas as suas energias, a de Lula e Dilma descansava. O movimento fazia sentido, se visto pela lógica das disputas eleitorais travadas até então. Num comício em Curitiba, a uma semana do primeiro turno, o presidente recomendou a seus apoiadores “segurar o jogo”. “Estamos ganhando de 2 x 0 e faltam dez minutos para terminar a partida. O adversário está nos chutando na canela e no peito e o juiz não apita falta. Querem explusar alguém do nosso lado. Vamos fazer como o Parreira, quando técnico do Corínthians, e prender a bola. Enquanto ela estiver nos nossos pés, o outro time não faz gol”.
Comemorara cedo demais a resistência de Dilma aos ataques midiáticos. Não se dera conta de que, em articulação com a boataria apócrifa, eles haviam constituído um ataque em pinça poderoso. Milhões de eleitores, que conheciam a candidata superficialmente, eram atingidos agora tanto pelo Jornal Nacional quanto por mensagens recebidas de pessoas próximas e confiáveis.
Um excelente texto publicado por Weden no site do Luís Nassif sintetizou o cenário. Além de provocar a segundo turno, a artilharia cerrada disparada durante semanas pela mídia e pela central de boatos apócrifos estava começando a desconstruir politicamente a candidata. Expressão destacada do lulismo, responsável pelo planejamento e articulação política de seu segundo governo, ela estava sendo sendo reduzida a uma escolha errada do presidente.
“Reconheço que nunca houve um governo tão bom para nós”, mas “esta mulher é um perigo para o país” foi o depoimento emblemático colhido por Weden junto a um taxista – que estava disposto a votar em Dilma até as vésperas do primeiro turno, mas migrou para Marina e tendia, naquele momento (7/10) a Serra. Embora ainda limitado (daí Dilma manter-se na dianteira), o movimento alastrava-se rapidamente. Weden abordou com realismo seu sentido potencial: “A candidata petista está perdendo o ‘efeito continuidade’ que conseguiu representar até semanas atrás. Se Dilma ficar na metade dos votos governistas, perde a eleição”.
IV. Por onde corre a repolitização
Como pode uma candidata repolitizar uma campanha, quando setores crescentes do eleitorado questionam sua própria legitimidade? A pergunta embaraçou até mesmo grandes especialistas. Entrevistado por Luís Nassif, Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus, sugeriu que a chave era o tema do aborto. Dilma deveria fazer um pronunciamento “amplo e forte” contra a interrupção da gravidez. Era, evidentemente, um equívoco. Se fosse responder a cada uma das invenções lançadas contra si, a candidata não faria mais nada, até 31 de outubro. Além disso, cada resposta acabaria dando mais destaque ao próprio boato. A vítima de uma sequência de calúnias enfrenta um drama semelhante ao de quem cai num poço de areia movediça: quanto mais se debate, mais afunda. A única saída é buscar um ponto de apoio externo.
Dilma viu no debate da Band, em 10 de outubro, o momento para escapar do poço. Procurou o ponto de apoio mais potente – e, ao mesmo tempo, mais difícil e arriscado. Em sua primeira pergunta a Serra, questionou diretamente a desqualificação da campanha. Já na réplica, ainda mais incisiva, apontou a manipulação de suas opiniões relativas tema ao aborto. Voltou ao ele numa pergunta posterior, quando, para ampliar a veracidade do que alegava, mencionou o envolvimento de Mônica Serra no esforço de difamação.
Estava visivelmente tensa: naqueles instantes, qualquer escorregão em sua fala seria catastrófico. Mas completou bem o movimento, que lhe trouxe duas vantagens. Abriu caminho para que sua campanha continue denunciando a armação adversária – ou seja, produzindo antídotos contra a desconstrução de sua imagem. E mostrou grande coragem, desmentindo na prática a impressão – preconceituosa e machista – de que é mero produto de marketing de Lula. Estes dois pontos lhe deram o apoio necessário para abrir, em seguida, o questionamento político e programátrico a Serra. A escolha dos temas era óbvia: privatizações e programas de redistribuição de renda, símbolos máximos da diferença entre o projeto do lulismo e o das elites.
Dará certo? O objetivo principal dos candidatos, num debate como o da Band não é conquistar o eleitorado, mas redefinir os temas que polarizarão a campanha em seguida. Mesmo com apenas 2% de audiência, o evento cria fatos incontornáveis. Os primeiros efeitos foram logo sentidos. A campanha de Serra e os jornalistas que a bajulam tentaram desqualificar a nova postura da candidata – um sinal evidente que ela leva a disputa para um terreno que temem. Mais: o programa de TV do PSDB-DEM foi obrigado a referir-se à privatização. Não poderá manter por muito tempo a abordagem totalmente falsificadora que, como se viu, adotou – desde que a campanha de Dilma aprofunde o tratamento dado ao tema…
Uma coisa é certa: a três semanas da eleição, o giro executado pela candidata em 10 de outubro é um movimento sem retorno. A “Diminha paz e amor”, a continuadora quase natural do legado de Lula, deu lugar a um novo personagem político. Dele precisa fazer parte, também, a polemizadora; a mulher que demonstra vasto conhecimento técnico sobre os programas que coordenou no governo; a que, por estar profundamente envolvida no movimento de democratização expresso pelo lulismo, sente-se à vontade para provocar o choque pedagógico entre prejetos para o Brasil. Desta iniciativa dependem agora tanto a repolitização da campanha quando a consolidação ou recomposição da imagem de Dilma, entre a parcela do eleitorado que esteve ou está em dúvida sobre seu voto.
As reviravoltas de campanha levam algum tempo para produzir todos os seus efeitos. É possível que eles não sejam captadas pelas próximas pesquisas – ou seja, que a diferença entre os dois candidatos volte a diminuir ou mesmo desapareça. Será preciso muita calma nessa hora. O grande risco a evitar é o desespero, que levaria a reverter o giro de Dilma.
O programa de TV será, nesta reta derradeira, o palco central para este confronto de projetos. A trilha aberta em 10 de outubro só pode ser preenchida com muita informação. É preciso expor, por exemplo, – e sempre por meio de fatos – a resistência (política e simbólica) da base de Serra aos programas de redistribuição de renda; as tentativas de sabotar os projetos de lei que tratam do Pré-Sal (um ano depois de apresentados, só um foi transformado em lei pelo Congresso). Se feita com sabedoria e talento, a exposição dos absurdos assacados contra Dilma pela campanha apócrifa lançará o feitiço contra o feiticeiro.
Viveremos fortes emoções, nas próximas semanas. Mas o processo de transformações iniciado há oito anos tem potência suficiente para voltar a se impor, entre a maioria do eleitorado. Se isso ocorrer, Dilma acrescentará a sua história pessoal a inteligência de ter sabido, a tempo, comandar o movimento necessário para derrotar a direita-Tea Party – este quase-fascismo pós-moderno que ronda o Brasil em 2010.
Notas
1— Em 3 de julho, data fixada pelo TSE para que os candidatos apresentassem seus programas de governo, a coligação PSDB-DEM-PPS protocolou na Justiça Eleitoral apenas a transcrição dos discursos de Serra feitos na convenção conjunta das três agremiações. A mídia comercial acobertou tal ausência – enquanto destacava, por dias, o fato de a campanha Dilma ter alterado alguns dos itens do programa formalmente apresentado.
2 — Sempre tendente à mistificação e ao provincianismo, a velha mídia tratou Singh como um “guru”. Certamente, impressionou-se por sua origem indiana, ou pelo fato de usar o turbante típico da etnia sikh…
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Serra "ficha suja": 17 processos na Justiça
Reproduzo artigo de Carlos Alberto Saraiva, publicado no Blog de Saraiva:
Se a Justiça no Brasil fosse mais rápida para políticos, José Serra (PSDB) já poderia estar ao lado de Joaquim Roriz e impedido de candidatar-se pela lei da ficha suja.
Serra tem 17 processos declarados à Justiça Eleitoral, de acordo com as certidões que ele mesmo apresentou (a contragosto, por imposição da lei, senão a candidatura fica impugnada).
Entre os processos, pelo menos três são por corrupção (improbidade administrativa).
O maior dos escândalos de corrupção envolvendo José Serra, e que o levou ao banco dos réus, foi sobre o PROER, com rombo nos cofres públicos de R$ 3 bilhões beneficiando o Banco Econômico, e de R$ 1,7 bilhões para o Banco Bamerindus ser comprado pelo HSBC.
O processo 2003.34.00.039140-7 corre na Justiça Federal do DF, e demonstra que José Serra, junto a outros tucanos do governo FHC, descumpriram as leis e as normas do próprio PROER, ao injetar bilhões do dinheiro público que foi para o ralo, em instituições que não poderiam receber socorro, e teriam que ser liquidadas.
Já houve uma decisão da juíza Daniele Maranhão Costa, da 5ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, aceitando que houve dano ao erário, enriquecimento ilícito e violação aos princípios administrativos no caso.
É a ante-sala para José Serra entrar na lista dos fichas sujas, caso se confirme uma condenação por juízes, em colegiado.
O demo-tucano também responde processos por crimes de imprensa, calúnia e injúria.
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Se a Justiça no Brasil fosse mais rápida para políticos, José Serra (PSDB) já poderia estar ao lado de Joaquim Roriz e impedido de candidatar-se pela lei da ficha suja.
Serra tem 17 processos declarados à Justiça Eleitoral, de acordo com as certidões que ele mesmo apresentou (a contragosto, por imposição da lei, senão a candidatura fica impugnada).
Entre os processos, pelo menos três são por corrupção (improbidade administrativa).
O maior dos escândalos de corrupção envolvendo José Serra, e que o levou ao banco dos réus, foi sobre o PROER, com rombo nos cofres públicos de R$ 3 bilhões beneficiando o Banco Econômico, e de R$ 1,7 bilhões para o Banco Bamerindus ser comprado pelo HSBC.
O processo 2003.34.00.039140-7 corre na Justiça Federal do DF, e demonstra que José Serra, junto a outros tucanos do governo FHC, descumpriram as leis e as normas do próprio PROER, ao injetar bilhões do dinheiro público que foi para o ralo, em instituições que não poderiam receber socorro, e teriam que ser liquidadas.
Já houve uma decisão da juíza Daniele Maranhão Costa, da 5ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, aceitando que houve dano ao erário, enriquecimento ilícito e violação aos princípios administrativos no caso.
É a ante-sala para José Serra entrar na lista dos fichas sujas, caso se confirme uma condenação por juízes, em colegiado.
O demo-tucano também responde processos por crimes de imprensa, calúnia e injúria.
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Donos da mídia e o seletor de opiniões
Reproduzo artigo de Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:
Liberdade de expressão parece ser um seletor de opiniões grudado nas mãos dos donos de veículos de comunicação ou de seus prepostos (diretores de Redação, editores-chefes, editores em geral). A liberdade de expressão pode até ser exercida, mas seu alcance é limitado e não pode, em hipótese alguma, ultrapassar a cadeia hierárquica de comando. Que é louvável clamar por esta preciosa liberdade ninguém tem dúvidas, mas que é execrável concedê-la apenas aos que se alinham com a ideologia dos patrões, pouca gente se arrisca a duvidar.
Vejamos alguns casos bem recentes. Observo que ver apenas um caso nas cercanias da própria imprensa já reclamaria uma boa dose de atenção. Pois bem, até as paredes e os cenários da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, sabem o que teria sido o real motivo para a demissão do experiente jornalista e apresentador de tevê Heródoto Barbeiro: o exercício de sua liberdade para perguntar, da bancada do programa Roda Viva, ao ex-governador José Serra sobre os preços dos pedágios paulistas. No entanto, são estes mesmos que demitem, que mostram truculência e que desfraldam bandeiras pela liberdade de expressão; que altas horas da madrugada mostram-se receptivos a telefonemas exigindo a demissão desse ou daquele profissional que, na pior das hipótese, tenha cometido por pensamento ou por ação apenas um crime: o crime de pensar.
Não mais que passada uma semana e, em 8 de julho deste 2010, ainda na mesma emissora de cunho estatal, ficamos sabendo pela contumaz marolinha com que a imprensa repercute casos do gênero que o jornalista Gabriel Priolli deixara de ser diretor de jornalismo da TV Cultura. A decisão, tomada pelo jornalista Fernando Vieira de Mello, vice-presidente de conteúdo da emissora, alimentou boatos a respeito da ingerência política sobre o canal. O fato é que tanto nos corredores da emissora como na blogosfera, circulou – e ainda circula – a informação de que, por trás da demissão de Priolli, pendia em forma de guilhotina uma suculenta matéria sobre – adivinhem – o aumento nos pedágios paulistas.
Mais um pouco e ficaremos convencidos de que no jornalismo paulista expressões como "pedágios" e "liberdade de expressão" são como óleo e água e não podem conviver em uma mesma Redação. Um deles tem que cair, sumir, desaparecer, submergir, calar.
Indignação e espanto
Curioso é que o ato de pensar equivale em importância ao mesmo que cimento e tijolos representam para se tirar da prancheta de um arquiteto uma casa. Chama a atenção a este observador que nesses dois casos nem Barbeiro nem Priolli levaram os lábios ao trombone. No segundo caso é fácil de entender o motivo, uma vez que ele é funcionário da Cultura.
Mas tinha que ser assim? Estaremos diante de um imenso trololó midiático, essa coisa de defender em público seus próprios interesses e em privado fazer o que bem entender e do jeito que melhor lhes convier?
E, então, ficamos sabendo que o crime de pensar pode ser letal se não altamente contagioso: a psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida do jornal O Estado de S. Paulo depois de ter escrito, no sábado (2/10), artigo sobre a "desqualificação" dos votos dos pobres. Sintomaticamente, recebeu como título duas palavras e reticências: "Dois pesos...". Mas foi sua possível continuação – ... duas medidas – que levantou ondas e ondas na internet. Todas elas mesclando indignação e espanto por ver como é comum que nas casas dos abastados ferreiros os espetos continuem teimando em ser de pau.
140 toques
A explicação oficial do jornal paulista é que a colunista vinha de há muito enveredando por outros assuntos em sua coluna, que não os da psicanálise. Ora essa, pergunto a minha camisa sem botões: de qual tipo de imprensa estamos falando, quando se enquadra de forma muito natural o campo de expressão de um colunista? Então, na condição de psicanalista, é-lhe vedado abordar política? Tratar de política é campo de algum especialista somente – aqueles que portam carteirinha partidária – ou não se configura o tipo de tema que diz respeito ao interesse de todos nós cidadãos?
Sigamos em frente, do contrário este artigo corre risco de ficar inconcluso. Pois bem, Maria Rita, em sua elegância habitual e refinamento intelectual, afixou em entrevista ao Portal Terra na quinta-feira (7/10), este punhado de palavras sobre sua derrubada do Estadão: "Fui demitida pelo jornal O Estado de S.Paulo pelo que consideraram um ‘delito’ de opinião." A partir disso minha admiração por ela só fez crescer e olha que já era bem grande.
Na semana que findou o mundo, aquele mundo amante da liberdade de expressão festejou o Premio Nobel da Paz concedido ao pensador chinês Lio Xiaobo, preso por escrever um manifesto pela liberdade de expressão na China. Alguns poucos se apressaram em homenagear Xiaobo. Um deles foi o ex-governador paulista José Serra que escreveu em seu twitter: "O ganhador do Nobel da Paz foi o professor chinês Liu Xiaobo, preso por ter publicado um manifesto em defesa da liberdade de expressão". Assíduo no twitter, bem que ele poderia ter teclado mais 140 caracteres para dizer algo como: "Mas se ele fosse brasileiro e escrevesse num jornal paulista, Xiaobo seria demitido".
Pelo que vejo existem legiões de pessoas decididas a cometer o crime de pensar.
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Liberdade de expressão parece ser um seletor de opiniões grudado nas mãos dos donos de veículos de comunicação ou de seus prepostos (diretores de Redação, editores-chefes, editores em geral). A liberdade de expressão pode até ser exercida, mas seu alcance é limitado e não pode, em hipótese alguma, ultrapassar a cadeia hierárquica de comando. Que é louvável clamar por esta preciosa liberdade ninguém tem dúvidas, mas que é execrável concedê-la apenas aos que se alinham com a ideologia dos patrões, pouca gente se arrisca a duvidar.
Vejamos alguns casos bem recentes. Observo que ver apenas um caso nas cercanias da própria imprensa já reclamaria uma boa dose de atenção. Pois bem, até as paredes e os cenários da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, sabem o que teria sido o real motivo para a demissão do experiente jornalista e apresentador de tevê Heródoto Barbeiro: o exercício de sua liberdade para perguntar, da bancada do programa Roda Viva, ao ex-governador José Serra sobre os preços dos pedágios paulistas. No entanto, são estes mesmos que demitem, que mostram truculência e que desfraldam bandeiras pela liberdade de expressão; que altas horas da madrugada mostram-se receptivos a telefonemas exigindo a demissão desse ou daquele profissional que, na pior das hipótese, tenha cometido por pensamento ou por ação apenas um crime: o crime de pensar.
Não mais que passada uma semana e, em 8 de julho deste 2010, ainda na mesma emissora de cunho estatal, ficamos sabendo pela contumaz marolinha com que a imprensa repercute casos do gênero que o jornalista Gabriel Priolli deixara de ser diretor de jornalismo da TV Cultura. A decisão, tomada pelo jornalista Fernando Vieira de Mello, vice-presidente de conteúdo da emissora, alimentou boatos a respeito da ingerência política sobre o canal. O fato é que tanto nos corredores da emissora como na blogosfera, circulou – e ainda circula – a informação de que, por trás da demissão de Priolli, pendia em forma de guilhotina uma suculenta matéria sobre – adivinhem – o aumento nos pedágios paulistas.
Mais um pouco e ficaremos convencidos de que no jornalismo paulista expressões como "pedágios" e "liberdade de expressão" são como óleo e água e não podem conviver em uma mesma Redação. Um deles tem que cair, sumir, desaparecer, submergir, calar.
Indignação e espanto
Curioso é que o ato de pensar equivale em importância ao mesmo que cimento e tijolos representam para se tirar da prancheta de um arquiteto uma casa. Chama a atenção a este observador que nesses dois casos nem Barbeiro nem Priolli levaram os lábios ao trombone. No segundo caso é fácil de entender o motivo, uma vez que ele é funcionário da Cultura.
Mas tinha que ser assim? Estaremos diante de um imenso trololó midiático, essa coisa de defender em público seus próprios interesses e em privado fazer o que bem entender e do jeito que melhor lhes convier?
E, então, ficamos sabendo que o crime de pensar pode ser letal se não altamente contagioso: a psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida do jornal O Estado de S. Paulo depois de ter escrito, no sábado (2/10), artigo sobre a "desqualificação" dos votos dos pobres. Sintomaticamente, recebeu como título duas palavras e reticências: "Dois pesos...". Mas foi sua possível continuação – ... duas medidas – que levantou ondas e ondas na internet. Todas elas mesclando indignação e espanto por ver como é comum que nas casas dos abastados ferreiros os espetos continuem teimando em ser de pau.
140 toques
A explicação oficial do jornal paulista é que a colunista vinha de há muito enveredando por outros assuntos em sua coluna, que não os da psicanálise. Ora essa, pergunto a minha camisa sem botões: de qual tipo de imprensa estamos falando, quando se enquadra de forma muito natural o campo de expressão de um colunista? Então, na condição de psicanalista, é-lhe vedado abordar política? Tratar de política é campo de algum especialista somente – aqueles que portam carteirinha partidária – ou não se configura o tipo de tema que diz respeito ao interesse de todos nós cidadãos?
Sigamos em frente, do contrário este artigo corre risco de ficar inconcluso. Pois bem, Maria Rita, em sua elegância habitual e refinamento intelectual, afixou em entrevista ao Portal Terra na quinta-feira (7/10), este punhado de palavras sobre sua derrubada do Estadão: "Fui demitida pelo jornal O Estado de S.Paulo pelo que consideraram um ‘delito’ de opinião." A partir disso minha admiração por ela só fez crescer e olha que já era bem grande.
Na semana que findou o mundo, aquele mundo amante da liberdade de expressão festejou o Premio Nobel da Paz concedido ao pensador chinês Lio Xiaobo, preso por escrever um manifesto pela liberdade de expressão na China. Alguns poucos se apressaram em homenagear Xiaobo. Um deles foi o ex-governador paulista José Serra que escreveu em seu twitter: "O ganhador do Nobel da Paz foi o professor chinês Liu Xiaobo, preso por ter publicado um manifesto em defesa da liberdade de expressão". Assíduo no twitter, bem que ele poderia ter teclado mais 140 caracteres para dizer algo como: "Mas se ele fosse brasileiro e escrevesse num jornal paulista, Xiaobo seria demitido".
Pelo que vejo existem legiões de pessoas decididas a cometer o crime de pensar.
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FHC e a contra-reforma tucana
Reproduzo artigo de Leandro Fortes, publicado no blog "Brasília, eu vi":
Fernando Henrique Cardoso é hoje um velho solitário de Higienópolis, por onde zanza, esquecido, entre moradores indiferentes. Pelas ruas do nobre bairro paulistano, FHC nem curiosidade mais desperta nos transeuntes, embora muitos deles o aceitem como mau professor da aula magna do neoliberalismo ainda ensaiada, agora em ritmo de Marcha sobre Roma, pelo candidato José Serra, herdeiro político a quem despreza.
Serra escondeu Fernando Henrique ao longo de toda a campanha eleitoral para só resgatá-lo quando, desfeita qualquer possibilidade de uma vitória digna, os tucanos embicaram em direção à vala golpista do moralismo anti-aborto, do terrorismo religioso e da malandragem política que faz de demônios miúdos símbolos sagrados da cristandade.
FHC é ateu, embora tenha passado seus oito anos de mandato escapulindo das patrulhas religiosas, diga-se, sem muito esforço, apoiado que era pela mídia e pelas representações do grande capital. Era, por assim dizer, um santo do pau oco ostensivamente tolerado por cardeais do PFL que o controlavam, beatos interessados em dividir o pão das estatais a preço de banana ao mesmo tempo em que vendiam indulgências políticas aos cristãos-novos do PSDB, estes, alegremente ungidos pelo papa ACM I, o Herético. Não por outra razão, céu e inferno se moveram, em conluio, para esconder na Espanha o filho bastardo de Fernando Henrique com uma repórter da TV Globo enquanto durasse, na Terra, o reinado do príncipe dos sociólogos. Assim foi feito. Fiat voluntas tua.
Anjo caído na Praça Vilaboim, FHC não é mais sombra do que era, pelo contrário, circula entre os mortais a remoer, aqui e ali, a mágoa de ter sido esquecido pelos que tanto comeram em sua mão. Mesmo agora, que Serra, abençoado pela Padroeira e batizado nas pias da TFP, encorajou-se a falar das privatizações, o velho ex-presidente sabe que, para ele, mesmo as semelhanças se tornaram distantes. Porque se FHC se moveu para a direita pelo viés econômico, embalado pela onda mundial da globalização made USA, Serra decidiu se jogar no precipício do fascismo sem máscaras nem rede de segurança, disposto a arreganhar os dentinhos para defender os fetos que Dilma Rousseff pretende assassinar, segundo avaliação criteriosa de Mônica Allende Serra, postulante ao cargo de primeira-dama e, provavelmente, ao de inquisidora-mor do Santo Ofício tucano.
De alguma maneira, no entanto, nos passos solitários que dá entre a banca de jornal e a padaria da dourada comunidade onde vive, Fernando Henrique Cardoso deve ter lá seus momentos de depressão mundana, ainda que, movido pela vingança, nada faça para conter a insensatez e o ridículo de seus correligionários e velhos companheiros empenhados, no alvorecer do século XXI, a jogar a política brasileira nas trevas da Idade Média. Faria melhor, na quadra da vida em que se encontra, se barrasse, com a autoridade que lhe resta, essa cruzada insana.
Fernando Henrique sabe que foi graças a ele, às alianças e escolhas que fez, que o PSDB, força política nascida como anunciação de novos tempos de ética e de igualdade social, transformou-se na trombeta do apocalipse da Opus Dei, seita fundamentalista católica onde se ajoelha e reza o governador eleito de São Paulo Geraldo Alckmin.
Não é possível não lhe vir, lá no fundo do peito, um quê de amargura ao vislumbrar o quão graúdas e salientes se tornaram as serpentes que plantou em ovos na democracia brasileira, sobretudo a mais virulenta delas, em plena e venenosa atividade, entocada no Supremo Tribunal Federal.
Talvez seja a hora de FHC se confessar.
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Fernando Henrique Cardoso é hoje um velho solitário de Higienópolis, por onde zanza, esquecido, entre moradores indiferentes. Pelas ruas do nobre bairro paulistano, FHC nem curiosidade mais desperta nos transeuntes, embora muitos deles o aceitem como mau professor da aula magna do neoliberalismo ainda ensaiada, agora em ritmo de Marcha sobre Roma, pelo candidato José Serra, herdeiro político a quem despreza.
Serra escondeu Fernando Henrique ao longo de toda a campanha eleitoral para só resgatá-lo quando, desfeita qualquer possibilidade de uma vitória digna, os tucanos embicaram em direção à vala golpista do moralismo anti-aborto, do terrorismo religioso e da malandragem política que faz de demônios miúdos símbolos sagrados da cristandade.
FHC é ateu, embora tenha passado seus oito anos de mandato escapulindo das patrulhas religiosas, diga-se, sem muito esforço, apoiado que era pela mídia e pelas representações do grande capital. Era, por assim dizer, um santo do pau oco ostensivamente tolerado por cardeais do PFL que o controlavam, beatos interessados em dividir o pão das estatais a preço de banana ao mesmo tempo em que vendiam indulgências políticas aos cristãos-novos do PSDB, estes, alegremente ungidos pelo papa ACM I, o Herético. Não por outra razão, céu e inferno se moveram, em conluio, para esconder na Espanha o filho bastardo de Fernando Henrique com uma repórter da TV Globo enquanto durasse, na Terra, o reinado do príncipe dos sociólogos. Assim foi feito. Fiat voluntas tua.
Anjo caído na Praça Vilaboim, FHC não é mais sombra do que era, pelo contrário, circula entre os mortais a remoer, aqui e ali, a mágoa de ter sido esquecido pelos que tanto comeram em sua mão. Mesmo agora, que Serra, abençoado pela Padroeira e batizado nas pias da TFP, encorajou-se a falar das privatizações, o velho ex-presidente sabe que, para ele, mesmo as semelhanças se tornaram distantes. Porque se FHC se moveu para a direita pelo viés econômico, embalado pela onda mundial da globalização made USA, Serra decidiu se jogar no precipício do fascismo sem máscaras nem rede de segurança, disposto a arreganhar os dentinhos para defender os fetos que Dilma Rousseff pretende assassinar, segundo avaliação criteriosa de Mônica Allende Serra, postulante ao cargo de primeira-dama e, provavelmente, ao de inquisidora-mor do Santo Ofício tucano.
De alguma maneira, no entanto, nos passos solitários que dá entre a banca de jornal e a padaria da dourada comunidade onde vive, Fernando Henrique Cardoso deve ter lá seus momentos de depressão mundana, ainda que, movido pela vingança, nada faça para conter a insensatez e o ridículo de seus correligionários e velhos companheiros empenhados, no alvorecer do século XXI, a jogar a política brasileira nas trevas da Idade Média. Faria melhor, na quadra da vida em que se encontra, se barrasse, com a autoridade que lhe resta, essa cruzada insana.
Fernando Henrique sabe que foi graças a ele, às alianças e escolhas que fez, que o PSDB, força política nascida como anunciação de novos tempos de ética e de igualdade social, transformou-se na trombeta do apocalipse da Opus Dei, seita fundamentalista católica onde se ajoelha e reza o governador eleito de São Paulo Geraldo Alckmin.
Não é possível não lhe vir, lá no fundo do peito, um quê de amargura ao vislumbrar o quão graúdas e salientes se tornaram as serpentes que plantou em ovos na democracia brasileira, sobretudo a mais virulenta delas, em plena e venenosa atividade, entocada no Supremo Tribunal Federal.
Talvez seja a hora de FHC se confessar.
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Senador do PSOL declara voto em Dilma
Por Altamiro Borges
Sem aparentar pressa, o PSOL começa a definir amanhã (14) a sua posição para o segundo turno das eleições presidenciais. O partido, que obteve 0,87% dos votos no primeiro turno (o veterano Plínio Arruda Sampaio ficou em quarto lugar na disputa, com 886.816 votos), está dividido. Um setor defende liberar sua militância, outro prega voto nulo e um terceiro propõe o apoio a Dilma Rousseff para evitar o pior – a vitória do demotucano José Serra.
Sem esperar pela decisão, porém, um dos dois senadores eleitos pelo PSOL, Randolfe Rodrigues, do Amapá, já explicitou seu apoio a Dilma Rousseff. “Tenho divergências com o projeto do PT, mas tenho antagonismos com DEM e PSDB. Entre os dois, o melhor candidato é a Dilma”, antecipou à Folha. Ele também passou a integrar o comando de campanha de Lucas Barreto (PTB), candidato ao governo estadual que apóia a presidenciável petista.
Líder dos “caras-pintadas”
Randolfe Rodrigues, o mais jovem senador do país, com 36 anos de idade, foi eleito no vácuo criado pela prisão de vários políticos do Amapá, em decorrência da Operação Mãos Limpas, da Polícia Federal, que investiga a cobrança de propinas no governo. Ele ficou em primeiro lugar na disputa, com 203.259 votos. Mas o jovem tem longa história de militância. Ele foi um dos líderes estudantis do movimento “cara-pintada”, que exigiu nas ruas o impeachment de Collor de Mello.
Nascido em Garanhuns, terra natal do presidente Lula, mudou-se com a família para o Amapá aos oito anos de idade. Ainda criança, acompanhou o pai Januário Martins, líder sindical e um dos fundadores do PT, nas primeiras reuniões políticas. Tão logo atingiu a maioridade, Randolfe filiou-se ao PT e, em 1998, candidatou-se a deputado estadual e foi eleito, tendo sido reeleito em 2002. Em 2005, ingressou no PSOL por discordar dos rumos do PT. Em 2009, liderou no estado o movimento “Fora Sarney”. Randolfe é professor universitário e mestre em políticas públicas.
O saldo das eleições
A decisão do jovem senador deve impactar o PSOL. Após seis anos de fundação, o partido elegeu dois senadores (Randolfe Rodrigues e Marinor Brito, no Pará, que ainda depende do julgamento de Jader Barbalho no processo da “ficha limpa”). A legenda ainda manteve a bancada de três deputados federais e elegeu quatro estaduais – reelegeu Carlos Giannazi (SP) e Marcelo Freixo (RJ) e conquistou duas cadeiras no Pará, Edmilson Rodrigues e Janira Rocha.
Sua maior vitória se deu no Rio de Janeiro, onde o deputado Chico Alencar foi o segundo mais votado no estado, com 240.724, e conseguiu garantir mais uma vaga para Jean Wyllys, ex-BBB da TV Globo, que obteve apenas 13.018 votos. O PSOL também conseguiu expressiva vitória em São Paulo, com a reeleição de Ivan Valente, com 189.014 votos.
Mudanças internas no partido
As correntes internas que resistiram à candidatura de Plínio Arruda Sampaio foram as maiores derrotadas no pleito. Luciana Genro não se reelegeu no Rio Grande Sul, e Heloisa Helena, que ficou em terceiro lugar na disputa presidencial de 2006 (obteve 6,5 milhões de votos, 6,85% da votação nacional), não reconquistou a cadeira de senadora em Alagoas. O resultado indica uma mudança na correlação de forças interna e talvez interfira na decisão do partido sobre o segundo turno das eleições presidenciais.
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Sem aparentar pressa, o PSOL começa a definir amanhã (14) a sua posição para o segundo turno das eleições presidenciais. O partido, que obteve 0,87% dos votos no primeiro turno (o veterano Plínio Arruda Sampaio ficou em quarto lugar na disputa, com 886.816 votos), está dividido. Um setor defende liberar sua militância, outro prega voto nulo e um terceiro propõe o apoio a Dilma Rousseff para evitar o pior – a vitória do demotucano José Serra.
Sem esperar pela decisão, porém, um dos dois senadores eleitos pelo PSOL, Randolfe Rodrigues, do Amapá, já explicitou seu apoio a Dilma Rousseff. “Tenho divergências com o projeto do PT, mas tenho antagonismos com DEM e PSDB. Entre os dois, o melhor candidato é a Dilma”, antecipou à Folha. Ele também passou a integrar o comando de campanha de Lucas Barreto (PTB), candidato ao governo estadual que apóia a presidenciável petista.
Líder dos “caras-pintadas”
Randolfe Rodrigues, o mais jovem senador do país, com 36 anos de idade, foi eleito no vácuo criado pela prisão de vários políticos do Amapá, em decorrência da Operação Mãos Limpas, da Polícia Federal, que investiga a cobrança de propinas no governo. Ele ficou em primeiro lugar na disputa, com 203.259 votos. Mas o jovem tem longa história de militância. Ele foi um dos líderes estudantis do movimento “cara-pintada”, que exigiu nas ruas o impeachment de Collor de Mello.
Nascido em Garanhuns, terra natal do presidente Lula, mudou-se com a família para o Amapá aos oito anos de idade. Ainda criança, acompanhou o pai Januário Martins, líder sindical e um dos fundadores do PT, nas primeiras reuniões políticas. Tão logo atingiu a maioridade, Randolfe filiou-se ao PT e, em 1998, candidatou-se a deputado estadual e foi eleito, tendo sido reeleito em 2002. Em 2005, ingressou no PSOL por discordar dos rumos do PT. Em 2009, liderou no estado o movimento “Fora Sarney”. Randolfe é professor universitário e mestre em políticas públicas.
O saldo das eleições
A decisão do jovem senador deve impactar o PSOL. Após seis anos de fundação, o partido elegeu dois senadores (Randolfe Rodrigues e Marinor Brito, no Pará, que ainda depende do julgamento de Jader Barbalho no processo da “ficha limpa”). A legenda ainda manteve a bancada de três deputados federais e elegeu quatro estaduais – reelegeu Carlos Giannazi (SP) e Marcelo Freixo (RJ) e conquistou duas cadeiras no Pará, Edmilson Rodrigues e Janira Rocha.
Sua maior vitória se deu no Rio de Janeiro, onde o deputado Chico Alencar foi o segundo mais votado no estado, com 240.724, e conseguiu garantir mais uma vaga para Jean Wyllys, ex-BBB da TV Globo, que obteve apenas 13.018 votos. O PSOL também conseguiu expressiva vitória em São Paulo, com a reeleição de Ivan Valente, com 189.014 votos.
Mudanças internas no partido
As correntes internas que resistiram à candidatura de Plínio Arruda Sampaio foram as maiores derrotadas no pleito. Luciana Genro não se reelegeu no Rio Grande Sul, e Heloisa Helena, que ficou em terceiro lugar na disputa presidencial de 2006 (obteve 6,5 milhões de votos, 6,85% da votação nacional), não reconquistou a cadeira de senadora em Alagoas. O resultado indica uma mudança na correlação de forças interna e talvez interfira na decisão do partido sobre o segundo turno das eleições presidenciais.
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Paulo Preto e os cofres de Serra
Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhar:
Paulo Preto veio à tona – como se fosse a lama acumulada no fundo de uma represa, e que repentinamente sobe à superfície.
Quem trouxe Paulo Preto à tona foi Dilma Rousseff, no debate da “Band”. Poucos meses antes, o engenheiro (um ex-funcionário da estatal paulista Dersa, que administra e constrói rodovias) aparecera em reportagens discretas de duas revistas (“Veja” e “Época”), tratado como “homem-bomba” dos tucanos. Teria arrecadado 4 milhões de reais, e sumido com a grana. Ele nega, mas alguns tucanos confirmam - como veremos a seguir.
Dilma relembrou a história no debate de domingo. Serra preferiu não responder. Na segunda-feira, a Record trouxe o caso completo, em horário nobre, no “Jornal da Record”.
A Globo escondeu a história: Ali Kamel prefere não mostrar Preto na tela. Também na segunda, Serra disse que não conhecia Paulo Preto.
Na terça-feira, dia 12 de outubro, enquanto os padres despejavam panfletos contra Dilma em Aparecida, Serra teve que mudar de idéia. Defendeu Paulo Preto – o tal que ele não conhecia.
Hum…
Por que Serra fez isso?
Porque Paulo Preto deu uma entrevista à “Folha”, e com sutileza de elefante em loja de cristais avisou ao PSDB: “Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro”.
Hum…
Preto fora demitido da Dersa, sem explicação. Queima de arquivo? Só que o arquivo continua por aí. Preto (o homem que Serra defende) tem em seu currículo uma prisão: ele foi acusado de tentar vender numa joalheria um bracelete roubado. Bracelete de 20 mil reais.
Gente fina.
Mais que isso: Eduardo Jorge – outro homem da grana dos tucanos – dissera à revista “Istoé” que Paulo Preto havia (sim!) arrecadado dinheiro sem conhecimento dos tesoureiros oficiais da campanha.
Serra – que agora defende Paulo Preto (aquele que ele afirmava não conhecer) – desmentiu Eduardo Jorge.
A história é cheia de nuances.
Tão interessante quanto o fato de ter mandado recado para Serra pelos jornais, foi Paulo Preto ter escolhido a dedo a repórter que o entrevistou na “Folha”: Andrea Michael. Na Operação Satiagraha, ela foi acusada pelo delegado Protógenes Queiroz de publicar reportagens que favoreciam Daniel Dantas.
Não a conheço pessaoalmente, não sei se a acusação é justa.
Mas é estranho que Paulo Preto tenha escolhido Andrea Michael para dar seu recado.
Reparem que na reportagem da Record a repórter conversa por telefone com o advogado de Preto, e pergunta se haveria alguma chance de entrevistar o engenheiro. A resposta do advogado: “zero”.
No dia seguinte, Paulo Preto falava com Andrea Michael Na “Folha”. Será que foi Paulo Preto mesmo quem mandou recados a Serra? Ou haveria outro personagem oculto nessa história – um banqueiro, talvez?
A conferir.
O fato é que a história revela disputa interna pesada no tucanato.
Imaginem se fosse alguém do PT? Seria Jornal Nacional 5 vezes por semana, até a eleição. Além do mais, Paulo Preto não é um homem da província apenas. Trabalhou dentro do Palácio do Planalto no governo FHC, como revelou a “Istoé”:
"O engenheiro não é filiado ao PSDB, mas tem uma história profissional ligada ao setor público e há 11 anos ocupa cargos de confiança nos governos tucanos. No segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, foi assessor especial da Presidência e trabalhou quatro anos no Palácio do Planalto, como coordenador do Programa Brasil Empreendedor".
Paulo Preto e o desvio de 4 milhões de reais é apenas uma das pautas – desagradáveis a Serra – ignoradas pela velha mídia durante a campanha. Por que ressurgiu agora? Porque Dilma trouxe à tona essa lama esquecida no fundo da represa. Mas também porque parece haver um desarranjo na aliança tucana. Haveria fissuras entre o serrismo e Dantas?
Outras pautas que Dilma pode explorar:
- o pai de Suzana Richtoffen – morto pela filha, como o Brasil inteiro lembra – trabalhava na mesma Dersa (reza a lenda que o crime poderia envolver disputa por recursos desviados dos cofres públicos e enviados ao exterior, em contas secretas);
- o caso Alstom (executivos da empresa foram presos na Europa por corrupção em países da América Latina; a Alstom é fornecedora do Metrô de São Paulo; o PSDB barra há vários anos uma CPI para investigar o Caso Alstom).
Há dezenas de outros.
A velha imprensa quer abrir os cofres da Justiça Militar - para usar depoimentos e documentos de torturadores (elaborados durante a ditadura) contra Dilma Rousseff.
Mas a velha imprensa não quer abrir o “cofre” de Serra.
Lá pode haver muito mais do que os supostos 4 milhões de Paulo Preto (que ele nega ter arrecadado. No cofre do tucano, há histórias mal contadas, desde que Serra presidia a UNE (União Nacional dos Estudantes).
Pergunta desse Escrevinhador: onde foi parar o dinheiro que a UNE tinha no cofre no dia 31 de março de 1964, quando houve o golpe militar no Brasil? Serra presidia a entidade.
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Paulo Preto veio à tona – como se fosse a lama acumulada no fundo de uma represa, e que repentinamente sobe à superfície.
Quem trouxe Paulo Preto à tona foi Dilma Rousseff, no debate da “Band”. Poucos meses antes, o engenheiro (um ex-funcionário da estatal paulista Dersa, que administra e constrói rodovias) aparecera em reportagens discretas de duas revistas (“Veja” e “Época”), tratado como “homem-bomba” dos tucanos. Teria arrecadado 4 milhões de reais, e sumido com a grana. Ele nega, mas alguns tucanos confirmam - como veremos a seguir.
Dilma relembrou a história no debate de domingo. Serra preferiu não responder. Na segunda-feira, a Record trouxe o caso completo, em horário nobre, no “Jornal da Record”.
A Globo escondeu a história: Ali Kamel prefere não mostrar Preto na tela. Também na segunda, Serra disse que não conhecia Paulo Preto.
Na terça-feira, dia 12 de outubro, enquanto os padres despejavam panfletos contra Dilma em Aparecida, Serra teve que mudar de idéia. Defendeu Paulo Preto – o tal que ele não conhecia.
Hum…
Por que Serra fez isso?
Porque Paulo Preto deu uma entrevista à “Folha”, e com sutileza de elefante em loja de cristais avisou ao PSDB: “Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro”.
Hum…
Preto fora demitido da Dersa, sem explicação. Queima de arquivo? Só que o arquivo continua por aí. Preto (o homem que Serra defende) tem em seu currículo uma prisão: ele foi acusado de tentar vender numa joalheria um bracelete roubado. Bracelete de 20 mil reais.
Gente fina.
Mais que isso: Eduardo Jorge – outro homem da grana dos tucanos – dissera à revista “Istoé” que Paulo Preto havia (sim!) arrecadado dinheiro sem conhecimento dos tesoureiros oficiais da campanha.
Serra – que agora defende Paulo Preto (aquele que ele afirmava não conhecer) – desmentiu Eduardo Jorge.
A história é cheia de nuances.
Tão interessante quanto o fato de ter mandado recado para Serra pelos jornais, foi Paulo Preto ter escolhido a dedo a repórter que o entrevistou na “Folha”: Andrea Michael. Na Operação Satiagraha, ela foi acusada pelo delegado Protógenes Queiroz de publicar reportagens que favoreciam Daniel Dantas.
Não a conheço pessaoalmente, não sei se a acusação é justa.
Mas é estranho que Paulo Preto tenha escolhido Andrea Michael para dar seu recado.
Reparem que na reportagem da Record a repórter conversa por telefone com o advogado de Preto, e pergunta se haveria alguma chance de entrevistar o engenheiro. A resposta do advogado: “zero”.
No dia seguinte, Paulo Preto falava com Andrea Michael Na “Folha”. Será que foi Paulo Preto mesmo quem mandou recados a Serra? Ou haveria outro personagem oculto nessa história – um banqueiro, talvez?
A conferir.
O fato é que a história revela disputa interna pesada no tucanato.
Imaginem se fosse alguém do PT? Seria Jornal Nacional 5 vezes por semana, até a eleição. Além do mais, Paulo Preto não é um homem da província apenas. Trabalhou dentro do Palácio do Planalto no governo FHC, como revelou a “Istoé”:
"O engenheiro não é filiado ao PSDB, mas tem uma história profissional ligada ao setor público e há 11 anos ocupa cargos de confiança nos governos tucanos. No segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, foi assessor especial da Presidência e trabalhou quatro anos no Palácio do Planalto, como coordenador do Programa Brasil Empreendedor".
Paulo Preto e o desvio de 4 milhões de reais é apenas uma das pautas – desagradáveis a Serra – ignoradas pela velha mídia durante a campanha. Por que ressurgiu agora? Porque Dilma trouxe à tona essa lama esquecida no fundo da represa. Mas também porque parece haver um desarranjo na aliança tucana. Haveria fissuras entre o serrismo e Dantas?
Outras pautas que Dilma pode explorar:
- o pai de Suzana Richtoffen – morto pela filha, como o Brasil inteiro lembra – trabalhava na mesma Dersa (reza a lenda que o crime poderia envolver disputa por recursos desviados dos cofres públicos e enviados ao exterior, em contas secretas);
- o caso Alstom (executivos da empresa foram presos na Europa por corrupção em países da América Latina; a Alstom é fornecedora do Metrô de São Paulo; o PSDB barra há vários anos uma CPI para investigar o Caso Alstom).
Há dezenas de outros.
A velha imprensa quer abrir os cofres da Justiça Militar - para usar depoimentos e documentos de torturadores (elaborados durante a ditadura) contra Dilma Rousseff.
Mas a velha imprensa não quer abrir o “cofre” de Serra.
Lá pode haver muito mais do que os supostos 4 milhões de Paulo Preto (que ele nega ter arrecadado. No cofre do tucano, há histórias mal contadas, desde que Serra presidia a UNE (União Nacional dos Estudantes).
Pergunta desse Escrevinhador: onde foi parar o dinheiro que a UNE tinha no cofre no dia 31 de março de 1964, quando houve o golpe militar no Brasil? Serra presidia a entidade.
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Serra, o mercador do pré-sal
Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:
O uso de qualquer arma pela campanha de José Serra, que está recorrendo à difamação da adversária, Dilma Rousseff, por todos os meios, com todo tipo de acusação, o que inclui até a vida sexual dela, e o espantoso apoio que os maiores jornais, revistas e televisões estão dando à estratégia difamatória, tudo isso não acontece só pela retomada do poder.
Você nunca viu uma campanha eleitoral como esta. Mesmo Fernando Collor de Mello, em 1989, jamais chegou ao ponto de difamar Lula usando homossexualidade ou acusações de que ele matava criancinhas. A campanha de difamação movida contra Dilma é a maior que este país já viu e utilizando “acusações” que em pleno século XXI são espantosas e inéditas.
Tudo isso só para se eleger presidente?
Os livros de história contarão a verdade sobre a campanha mais insidiosa contra uma única pessoa que fora empreendida até então no país. O que leva um único homem a se tornar beneficiário e autor de um processo tão repugnante e a grande imprensa de uma nação com a visibilidade do Brasil a se acumpliciar a ele?
O Brasil de 2002 e de 2006 não valia o preço de o candidato da direita e a imprensa conservadora irem tão longe. Não valia porque não existia neste país a riqueza que atualmente é a mais cobiçada da face da Terra, tão cobiçada que fez os Estados Unidos desencadearem uma onda de guerras contra países produtores de petróleo a fim de garantirem para si o abastecimento de um produto que escasseia no mundo e sem o qual esse país invasor poderia parar, literalmente.
É o pré-sal, estúpido. A Petrobrás, sob o governo Lula, tornou-se a quarta empresa mais valiosa do mundo. Um grupo político que consiga viabilizar a entrega dos subsolo brasileiro às petrolíferas multinacionais, exatamente como o governo Fernando Henrique Cardoso fez em 1997, ganhará dinheiro que sobrará aos seus descendentes daqui a mil anos.
As reservas de petróleo encontradas na camada pré-sal do litoral brasileiro estão dentro da área marítima considerada zona econômica exclusiva de nosso país. São reservas com petróleo considerado de média a alta qualidade, segundo a escala API.
O conjunto de campos petrolíferos do pré-sal se estende do litoral dos estados do Espírito Santo até Santa Catarina, com profundidades que variam de 1000 a 2000 metros de lâmina d’água e entre quatro e seis mil metros de profundidade.
Apenas com a descoberta dos três primeiros campos do pré-sal – Tupi, Iara e Parque das Baleias – as reservas brasileiras comprovadas, que eram de 14 bilhões de barris, aumentaram para 33 bilhões de barris. Além destas, existem reservas possíveis e prováveis de 50 a 100 bilhões de barris.
Há estimativas de que o preço do barril do petróleo deve chegar até a 80 dólares no ano que vem. Se tivermos, no limite, 100 bilhões de barris de petróleo enterrados no mar que banha as nossas praias, estaremos falando de oito trilhões de dólares.
Só para se ter idéia de quanto dinheiro é, basta dizer que o PIB dos EUA em 2009 foi de 14 trilhões de dólares. Ou seja, o Brasil pode ter mais da metade do PIB americano enterrado em seu litoral. Quanto vale a comissão de quem intermediar a venda de uma riqueza desse quilate? 1, 2 ou, quem sabe, até uns estupefacientes 3%?!
Muito dinheiro, não? Quem acha que há homens que matariam a própria mãe por tanta riqueza e poder?
Quem seriam esses homens? Penso que são aqueles que desde que se confirmou a riqueza imensurável que há em nosso subsolo apressaram-se em defender a privatização do subsolo brasileiro que o governo FHC promoveu, sobretudo em 1997 quando vendeu um enorme pedaço da Petrobrás.
As operações de exploração e produção de petróleo foram conduzidas pela Petrobrás de 1954 a 1997. Depois de 40 anos de monopólio da empresa, o trabalho de exploração, produção, refino e transporte do petróleo no Brasil foi permitido a empresas estrangeiras em 1997, quando Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei N° 9.478, que gerou a permissão.
Não é por outra razão que o PSDB e o PFL (agora disfarçado de “democratas”) propõem o regime de concessão para exploração do pré-sal enquanto que o governo Lula defende o regime de partilha.
No regime de concessão, que os tucanos implantaram no Brasil em 1997, a multinacional ganhará aquele pedaço do subsolo brasileiro para explorar e será a dona do que ali encontrar. Já no sistema do governo Lula, de partilha, tudo que for encontrado será do povo brasileiro e a quem extrair o petróleo caberá, simplificando, uma comissão pelo trabalho.
Essa riqueza toda pode dar ao país educação e saúde públicas de alta qualidade, por exemplo. Estradas, segurança, infra-estrutura… O pré-sal é o passaporte do Brasil e do seu povo para o Primeiro Mundo. Não lhe parece bom demais para ser verdade, leitor?
Sim, como você intuiu, há um problema. Para variar, os piratas da nação, os autores da mesma privataria que, por exemplo, vendeu o subsolo brasileiro ao privatizar a Vale, agora querem vender a Petrobrás. Por isso, não existe limite para o que o PSDB, o PFL, a Globo, a Folha, a Veja e o Estadão poderão fazer para eleger José Serra.
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Ameaçado, Serra defende seu homem-bomba
Reproduzo artigo de Marco Aurélio Weissheimer, publicado no sítio Carta Maior:
Após negar conhecer o engenheiro Paulo Vieira de Souza, acusado por lideranças do PSDB de ter desviado recursos destinados à campanha eleitoral do partido, o candidato José Serra saiu em defesa do ex-assessor, nesta terça-feira. Ontem, em Goiania, Serra disse que "nunca tinha ouvido falar em Paulo Preto". A amnésia terminou ocorreu após o engenheiro dizer à Folha de S.Paulo, em tom ameaçador que “não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro”. Serra declarou que “a acusação contra ele é injusta” e que ele é “totalmente inocente”. “Não houve desvio de dinheiro de campanha por parte de ninguém, nem do Paulo Souza”, declarou Serra que procurou atribuir a acusação à candidata Dilma Rousseff (PT). Os autores da acusação, na verdade, são lideranças do PSDB que estão sendo, inclusive, processadas pelo engenheiro inocentado por Serra.
Origem da acusação é o próprio partido de Serra
Dilma Roussef trouxe para o debate público, no debate da TV Bandeirantes, um tema incômodo para a campanha de José Serra: o caso do ex-integrante do governo tucano em São Paulo, Paulo Vieira de Souza, acusado por lideranças do próprio PSDB de ter fugido com R$ 4 milhões que seriam resultado de doações de empresários para a campanha de Serra. Quando Dilma mencionou o caso, “integrantes do PSDB, preocupados com o cerco da imprensa a partir daquele instante, prepararam uma saída à francesa do senador eleito Aloysio Nunes, que mantinha relações estreitas com Vieira de Souza. Minutos depois, o senador eleito deixou o estúdio e não retornou”, relataram os jornalistas Cláudio Leal e Marcela Rocha, em matéria publicada no portal Terra.
Paulo Vieira de Souza, que também é conhecido como Paulo Preto, foi diretor de engenharia da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), sendo responsável por uma grande parte das obras viárias do governo do Estado de São Paulo. Em agosto deste ano, a revista IstoÉ publicou uma matéria de capa, onde lideranças do PSDB acusaram abertamente o ex-assessor de “ter arrecadado dinheiro de empresários em nome do partido e não entregá-lo para o caixa da campanha”. A matéria da IstoÉ traz ainda uma declaração de um diretor de uma das empreiteiras responsáveis por obras de remoção de terras no eixo sul do Rodoanel: “Não fizemos nenhuma doação irregular, mas o engenheiro Paulo foi apresentado como o interlocutor de Aloysio junto aos empresários”.
Engenheiro teria relação estreita com Aloysio Nunes
Em 2009, Paulo Preto foi eleito Eminente Engenheiro do Ano pelo Instituto de Engenharia de São Paulo. O prêmio foi concedido “por sua excelente gestão dos aspectos institucionais, jurídicos e técnicos na condução de grandes obras governamentais, com brilhantes resultados para a sociedade, administração pública e contratantes.” O engenheiro ingressou com uma ação penal (por calúnia e injúria) contra os dirigentes tucanos Eduardo Jorge Caldas e Evandro Losacco, além dos jornalistas da revista IstoÉ, Sérgio Pardellas e Claudio Dantas. A reportagem baseou-se no depoimento de oito dos principais líderes e parlamentares do PSDB. Segundo eles, o engenheiro teria arrecadado pelo menos R$ 4 milhões para a campanha eleitoral, mas os recursos não chegaram ao caixa do comitê de Serra.
Ainda segundo a mesma matéria, Paulo Preto mantinha uma relação estreita com Aloysio Nunes, então chefe da Casa Civil do governo Serra, que acabou eleito para o Senado por São Paulo. “Não por acaso, o senador recém-eleito deixou o debate de domingo entre os segundo e terceiro blocos e saiu falando ao telefone evitando falar com jornalistas”, assinala nesta segunda-feira o portal de notícias R7, recordando o seguinte trecho da reportagem da Isto É:
“As relações de Aloysio e Paulo Preto são antigas e extrapolam a questão política. Em 2007, familiares do engenheiro fizeram um empréstimo de R$ 300 mil para Aloysio. No final do ano passado, o ex-chefe da Casa Civil afirmou que usou o dinheiro para pagar parte do apartamento adquirido no bairro de Higienópolis e que tudo já foi quitado”.
Os grandes jornais brasileiros deram pouca atenção à denúncia publicada na IstoÉ. Fosse outro o partido, com muito menos, o barulho provavelmente seria outro. Após algumas notas aqui e ali, o assunto caiu no esquecimento. O desinteresse é notável uma vez que, na reportagem da revista, as fontes são altos integrantes da cúpula tucana. São dois dirigentes do primeiro escalão do PSDB que dizem que o engenheiro arrecadou “antes e depois de definidos os candidatos tucanos às sucessões nacional e estadual”. Segundo o matéria, os R$ 4 milhões seriam referentes apenas ao valor arrecadado antes do lançamento oficial das candidaturas do PSDB, o que teria impedido que o dinheiro fosse declarado, tanto pelo partido quanto pelos supostos doadores.
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terça-feira, 12 de outubro de 2010
Ciro rejeita “cordialidade conservadora”
Reproduzo entrevista concedida ao jornalista André Cintra, publicada no sítio Vermelho:
Recém-integrado à coordenação da campanha presidencial de Dilma Rousseff, o deputado federal Ciro Gomes (PSB) precisou de poucos dias para mostrar a que veio. Com a língua à solta, saiu atirando até para aliados de Dilma – mas não há como duvidar de seu propósito maior: impedir a vitória do tucano José Serra, cujo projeto representa “o mal que foi provocado pelos oitos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso”.
Nesta entrevista ao Vermelho, Ciro diz que, por conhecer “essa gente” do PSDB “de longa data”, já esperava uma disputa eleitoral repleta de baixarias. Ainda mais porque é Serra quem está no centro da corrida à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O jogo do Serra é este. Em todas as eleições em que ele está – em todas, sem exceção de nenhuma! –, aparecem sempre os dossiês, os escândalos de véspera de eleição. Há sempre uma revista disponível para suprir a credibilidade das baixarias mais grotescas”, afirma.
No primeiro turno, Ciro limitou-se a chefiar a bem-sucedida campanha à reeleição de seu irmão, Cid Gomes, ao governo do Ceará. De quebra, ajudou a derrotar seu ex-correligionário Tasso Jereissati (PSDB) – um dos senadores que mais fizeram mal ao Brasil durante o governo Lula. Com o dever de casa cumprido, Ciro Gomes está de volta à grande arena eleitoral e defende Dilma com vigor.
Em sua opinião, é preciso abandonar a “cordialidade conservadora” e esclarecer os projetos “muito distintos” que estão em confronto no segundo turno. “O governo Lula ainda está aí, e a Dilma está no centro de toda a estratégia do governo Lula. E o projeto que o Serra representa é muito recente. Vai ser fácil comparar, e eu acho que o caminho é esse.” Confira abaixo trechos da entrevista:
Ao que tudo indica, a campanha da Dilma subestimou o impacto da baixaria tucana na disputa presidencial...
Quem alimenta essa cordialidade conservadora que eles (o PSDB) tentam impor é o Lula, que, muitas vezes, precisou ser aceito nos salões. Daí vem a versão “Lulinha paz e amor”.
E você? Já tinha convicção plena de que essa baixaria toda tomaria conta – como tomou – da eleição?
Eu conheço essa gente – conheço de longa data. Fui um dos fundadores do PSDB, que nasceu para ajudar a modernizar o Brasil. Agora, na campanha eleitoral, ele se escora no que há de mais profundamente grotesco, violentando uma tradição que o mundo inteiro admira – que é o respeito à diversidade religiosa.
Mas, com o Serra, sempre foi assim. O jogo do Serra é este. Em todas as eleições em que ele está – em todas, sem exceção de nenhuma! –, aparecem sempre os dossiês, os escândalos de véspera de eleição. Há sempre uma revista disponível para suprir a credibilidade das baixarias mais grotescas.
Foi o Serra que empurrou o PSDB para a apelação?
O Serra vem se fragilizando desde sempre. Ele tem uma história original e uma formação bastante respeitáveis, mas o oportunismo político dele está revelado. Veja o que ele faz com uma questão complexa, que é o aborto. Como a Dilma diz uma frase diferente da outra – e com cinco anos de diferença entre a primeira e a segunda frase –, a estrutura do Serra quer provar uma certa desonestidade.
Enquanto isso, ele vai a um cartório em São Paulo e assina um papel – diz que dá a palavra formal de que não iria renunciar à Prefeitura. Mas, ato contínuo, ele vai embora e entrega a Prefeitura de São Paulo ao DEM. Aí ninguém faz registro de nada, como se isso não fosse uma falta absoluta de escrúpulo. É isso o que caracteriza o caminho dele.
Como reagir a esse jogo sujo?
Não tem segredo. Para nossa grande sorte, os projetos são muito distintos. O governo Lula ainda está aí, e a Dilma está no centro de toda a estratégia do governo Lula. E o projeto que o Serra representa é muito recente. Vai ser fácil comparar, e eu acho que o caminho é esse.
O que, exatamente, representa a candidatura de Serra?
É o mesmo mal que foi provocado pelos oitos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. A explosão do desemprego, a quebra financeira, a instabilidade econômica, o aviltamento de salário, o desmantelo da infraestrutura, a dependência internacional sem precedente, o apagão no setor elétrico – tudo isso foi ontem. E ele, Serra, foi o ministro desse projeto durante oito anos – nem pode dizer que saiu porque se zangou com alguma coisa.
Agora, o que eles estão tentando? Em vez de usarem os critérios que importam – emprego, salário, progresso, desenvolvimento, justiça social, respeito internacional –, eles querem trazer para “miudices”. As questões que eles apresentam, mesmo graves, complexas ou sérias, são “miudices” sectárias, uma mistificação religiosa. Isso é o que eles querem e, se aceitarmos, nós entramos pelo cano. Temos de trazer o verdadeiro debate de volta. Por isso é que não aceito a cordialidade conservadora, que só interessa para eles.
De onde vem essa cordialidade?
Talvez nós ainda tenhamos complexo de inferioridade por não sermos aceitos na mesa dos brancos, dos grandões, dos mandões do país. Em cima da mesa, fica todo mundo elegante. E nós – que queremos ser elegantes – por debaixo da mesa aguentamos a canelada mais imunda e mal cheirosa. Vamos trazer o assunto para cima da mesa, para o povo saber quem está jogando sujo e quem está jogando limpo.
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Recém-integrado à coordenação da campanha presidencial de Dilma Rousseff, o deputado federal Ciro Gomes (PSB) precisou de poucos dias para mostrar a que veio. Com a língua à solta, saiu atirando até para aliados de Dilma – mas não há como duvidar de seu propósito maior: impedir a vitória do tucano José Serra, cujo projeto representa “o mal que foi provocado pelos oitos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso”.
Nesta entrevista ao Vermelho, Ciro diz que, por conhecer “essa gente” do PSDB “de longa data”, já esperava uma disputa eleitoral repleta de baixarias. Ainda mais porque é Serra quem está no centro da corrida à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O jogo do Serra é este. Em todas as eleições em que ele está – em todas, sem exceção de nenhuma! –, aparecem sempre os dossiês, os escândalos de véspera de eleição. Há sempre uma revista disponível para suprir a credibilidade das baixarias mais grotescas”, afirma.
No primeiro turno, Ciro limitou-se a chefiar a bem-sucedida campanha à reeleição de seu irmão, Cid Gomes, ao governo do Ceará. De quebra, ajudou a derrotar seu ex-correligionário Tasso Jereissati (PSDB) – um dos senadores que mais fizeram mal ao Brasil durante o governo Lula. Com o dever de casa cumprido, Ciro Gomes está de volta à grande arena eleitoral e defende Dilma com vigor.
Em sua opinião, é preciso abandonar a “cordialidade conservadora” e esclarecer os projetos “muito distintos” que estão em confronto no segundo turno. “O governo Lula ainda está aí, e a Dilma está no centro de toda a estratégia do governo Lula. E o projeto que o Serra representa é muito recente. Vai ser fácil comparar, e eu acho que o caminho é esse.” Confira abaixo trechos da entrevista:
Ao que tudo indica, a campanha da Dilma subestimou o impacto da baixaria tucana na disputa presidencial...
Quem alimenta essa cordialidade conservadora que eles (o PSDB) tentam impor é o Lula, que, muitas vezes, precisou ser aceito nos salões. Daí vem a versão “Lulinha paz e amor”.
E você? Já tinha convicção plena de que essa baixaria toda tomaria conta – como tomou – da eleição?
Eu conheço essa gente – conheço de longa data. Fui um dos fundadores do PSDB, que nasceu para ajudar a modernizar o Brasil. Agora, na campanha eleitoral, ele se escora no que há de mais profundamente grotesco, violentando uma tradição que o mundo inteiro admira – que é o respeito à diversidade religiosa.
Mas, com o Serra, sempre foi assim. O jogo do Serra é este. Em todas as eleições em que ele está – em todas, sem exceção de nenhuma! –, aparecem sempre os dossiês, os escândalos de véspera de eleição. Há sempre uma revista disponível para suprir a credibilidade das baixarias mais grotescas.
Foi o Serra que empurrou o PSDB para a apelação?
O Serra vem se fragilizando desde sempre. Ele tem uma história original e uma formação bastante respeitáveis, mas o oportunismo político dele está revelado. Veja o que ele faz com uma questão complexa, que é o aborto. Como a Dilma diz uma frase diferente da outra – e com cinco anos de diferença entre a primeira e a segunda frase –, a estrutura do Serra quer provar uma certa desonestidade.
Enquanto isso, ele vai a um cartório em São Paulo e assina um papel – diz que dá a palavra formal de que não iria renunciar à Prefeitura. Mas, ato contínuo, ele vai embora e entrega a Prefeitura de São Paulo ao DEM. Aí ninguém faz registro de nada, como se isso não fosse uma falta absoluta de escrúpulo. É isso o que caracteriza o caminho dele.
Como reagir a esse jogo sujo?
Não tem segredo. Para nossa grande sorte, os projetos são muito distintos. O governo Lula ainda está aí, e a Dilma está no centro de toda a estratégia do governo Lula. E o projeto que o Serra representa é muito recente. Vai ser fácil comparar, e eu acho que o caminho é esse.
O que, exatamente, representa a candidatura de Serra?
É o mesmo mal que foi provocado pelos oitos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. A explosão do desemprego, a quebra financeira, a instabilidade econômica, o aviltamento de salário, o desmantelo da infraestrutura, a dependência internacional sem precedente, o apagão no setor elétrico – tudo isso foi ontem. E ele, Serra, foi o ministro desse projeto durante oito anos – nem pode dizer que saiu porque se zangou com alguma coisa.
Agora, o que eles estão tentando? Em vez de usarem os critérios que importam – emprego, salário, progresso, desenvolvimento, justiça social, respeito internacional –, eles querem trazer para “miudices”. As questões que eles apresentam, mesmo graves, complexas ou sérias, são “miudices” sectárias, uma mistificação religiosa. Isso é o que eles querem e, se aceitarmos, nós entramos pelo cano. Temos de trazer o verdadeiro debate de volta. Por isso é que não aceito a cordialidade conservadora, que só interessa para eles.
De onde vem essa cordialidade?
Talvez nós ainda tenhamos complexo de inferioridade por não sermos aceitos na mesa dos brancos, dos grandões, dos mandões do país. Em cima da mesa, fica todo mundo elegante. E nós – que queremos ser elegantes – por debaixo da mesa aguentamos a canelada mais imunda e mal cheirosa. Vamos trazer o assunto para cima da mesa, para o povo saber quem está jogando sujo e quem está jogando limpo.
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Paulo Preto com o tucano. Serra mentiu!
Por Altamiro Borges
No debate da Band, a candidata Dilma Rousseff deixou o demotucano desnorteado, nas cordas, ao citar Paulo Vieira de Souza, ex-diretor do Dersa, também conhecido como Paulo Preto, que teria sumido com R$ 4 milhões do caixa-2 da campanha serrista. Ele é o típico homem-bomba, com vasta ficha corrida:
a) Diretor de Engenharia do Dersa, ele comandou as grandes obras da gestão Serra, como o Rodoanel, que reúne inúmeras suspeitas de superfaturamento;
b) Em 2001, Paulo Preto foi assessor da Casa Civil de FHC;
c) Ele mantem fortes laços políticos e pessoais com Aloysio Nunes, o braço direito de José Serra;
d) Paulo Preto emprestou R$ 300 mil a Aloysio Nunes em 2007 para que este adquirisse um apartamento em Higienópolis;
e) A sua filha, Priscila de Souza, é advogada de várias empreiteiras contratadas pelo governo Serra para a construção do Rodoanel;
f) Em junho de 2010, Paulo Preto foi preso na loja Guci, em São Paulo, por receptação de bracelete de brilhante roubado da própria loja;
g) Na atual campanha presidencial de José Serra, Paulo Preto arrecadou e sumiu com R$ 4 milhões do caixa dois tucano, segundo denúncia da revista "IstoÉ";
d) Por fim, Paulo Preto é investigado pela Polícia Federal por suspeita de propina recebida da Camargo Correa.
O homem-bomba ameaça
Diante da porrada de Dilma Rousseff, o candidato José Serra se apresssou em dizer que não conhecia o homem-bomba. Num evento em Goiânia, o demotucano garantiu: "Não sei quem é Paulo Preto. Nunca ouvi falar".
Indignado e temendo ser lançado às feras, o ex-operador tucano resolveu sair da clandestinidade e ameaçou. "Ele (Serra) me conhece muito bem... Todas as minhas atitudes foram informadas a Serra... Não se larga um líder ferido na estrada...Não cometam esse erro", advertiu Paulo Preto numa entrevista à Folha.
Em Aparecida, Serra ajoelha e mente
Agora, diante das ameaças e da revelação de fotos, Serra recuou descaradamente. No UOL, ele saiu às pressas em defesa do ex-diretor da Dersa. “Essa acusação contra ele é injusta porque não houve desvio por parte de ninguém, nem do Paulo Souza”, disse Serra após missa em Aparecida, no interior de São Paulo. “Ele é totalmente inocente nessa matéria", completou. Diante do altar, o demotucano ajoelhou e mentiu novamente.
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Padre Otto Dana: grito contra as trevas
Reproduzo artigo do Padre Otto Dana, Pároco da Igreja Sant´Ana, em Rio Claro (SP), publicado no blog de Luis Nassif:
Brasileiros e brasileiras! O capeta está solto! Empunhemos nossos terços e Bíblias e até Alcorões, se os houver! Herodes brande a espada afiada contra as criancinhas do Brasil! Ergamos a fogueira! Queimemos os hereges! O aborto e os gays estão espreitando pela janela!
Gente do céu! Que tiririquice! Que babaquice mais que medieval. Que onda inquisitorial graçando em pleno século XXI. A caça às bruxas. O extermínio dos veados. Cruz, credo! Xô Satanás! Estamos apenas tentando eleger um Presidente para o Brasil. Estamos discutindo propostas e projetos para uma boa administração do Brasil. Aborto, gueisismo, pílula, camisinha não é prioridade do momento.
O processo eleitoral corria tranquilo, dentro dos princípios democráticos: discute-aqui- denucia-ali, promete-isso, condena-aquilo, tudo numa boa. De repente a serenidade é detonada por uma horda de aiatolás, talibãs, mulás, numa gritaria ensurdecedora contra os que ameaçam o poder do Altíssimo.
Alguns vestidos de batina (ainda!), outros de mitra e báculo, outros de terno e gravata ostentando Bíblias, todos ecumenicamente de dedo em riste acusador: "ela é a favor do aborto, ele apóia o casamento homem-com-homem, mulher-com-mulher, os dois defendem a distribuição de camisinhas até para as crianças da escola.
Deus do céu! Que atraso! Que tiririquice! Pra começar, arbitrar sobre aborto e formas de casamento é da competência do Congresso Nacional e não do Presidente da República, que apenas sanciona ou veta a disposição do Congresso. Além do mais, aborto e casamento gay nem estão em pauta de discussão, hoje.
Mais importante e pertinente agora é ouvir dos candidatos suas propostas e projetos concretos quanto à saúde, educação de qualidade, distribuição de renda, segurança da população, criação de empregos, formas de apropriação ou não do Estado, relações diplomáticas e econômicas com outros países, transporte, saneamento básico, liberdade de imprensa, desenvolvimento do país, programas sociais, etc., etc.
E mais: estamos num país democrático, regido por uma Constituição Civil e não pelas tábuas da lei de Moisés. É um país democrático e laico e não teocrático, apesar de supostamente religioso. Sua capital é Brasília e não o Vaticano, nem a Canção Nova, nem a sede da Assembléia de Deus, nem a CNBB.
Tentar manipular a consciência do eleitor, ameaçando-o com a ira de Deus é injuriar o próprio Deus que nos criou livres. O dia em que o povo tiver que consultar um aiatolá de plantão tipo Pastor Silas Malafaia, ou um Padre José Augusto (Canção Nova) para votar, é melhor rasgar o título de eleitor e o estatuto da maioridade civil. O que vem se praticando em meios religiosos no momento, é o aborto da eleição, da democracia, da Constituição e do bom senso. Xô Satanás!
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Brasileiros e brasileiras! O capeta está solto! Empunhemos nossos terços e Bíblias e até Alcorões, se os houver! Herodes brande a espada afiada contra as criancinhas do Brasil! Ergamos a fogueira! Queimemos os hereges! O aborto e os gays estão espreitando pela janela!
Gente do céu! Que tiririquice! Que babaquice mais que medieval. Que onda inquisitorial graçando em pleno século XXI. A caça às bruxas. O extermínio dos veados. Cruz, credo! Xô Satanás! Estamos apenas tentando eleger um Presidente para o Brasil. Estamos discutindo propostas e projetos para uma boa administração do Brasil. Aborto, gueisismo, pílula, camisinha não é prioridade do momento.
O processo eleitoral corria tranquilo, dentro dos princípios democráticos: discute-aqui- denucia-ali, promete-isso, condena-aquilo, tudo numa boa. De repente a serenidade é detonada por uma horda de aiatolás, talibãs, mulás, numa gritaria ensurdecedora contra os que ameaçam o poder do Altíssimo.
Alguns vestidos de batina (ainda!), outros de mitra e báculo, outros de terno e gravata ostentando Bíblias, todos ecumenicamente de dedo em riste acusador: "ela é a favor do aborto, ele apóia o casamento homem-com-homem, mulher-com-mulher, os dois defendem a distribuição de camisinhas até para as crianças da escola.
Deus do céu! Que atraso! Que tiririquice! Pra começar, arbitrar sobre aborto e formas de casamento é da competência do Congresso Nacional e não do Presidente da República, que apenas sanciona ou veta a disposição do Congresso. Além do mais, aborto e casamento gay nem estão em pauta de discussão, hoje.
Mais importante e pertinente agora é ouvir dos candidatos suas propostas e projetos concretos quanto à saúde, educação de qualidade, distribuição de renda, segurança da população, criação de empregos, formas de apropriação ou não do Estado, relações diplomáticas e econômicas com outros países, transporte, saneamento básico, liberdade de imprensa, desenvolvimento do país, programas sociais, etc., etc.
E mais: estamos num país democrático, regido por uma Constituição Civil e não pelas tábuas da lei de Moisés. É um país democrático e laico e não teocrático, apesar de supostamente religioso. Sua capital é Brasília e não o Vaticano, nem a Canção Nova, nem a sede da Assembléia de Deus, nem a CNBB.
Tentar manipular a consciência do eleitor, ameaçando-o com a ira de Deus é injuriar o próprio Deus que nos criou livres. O dia em que o povo tiver que consultar um aiatolá de plantão tipo Pastor Silas Malafaia, ou um Padre José Augusto (Canção Nova) para votar, é melhor rasgar o título de eleitor e o estatuto da maioridade civil. O que vem se praticando em meios religiosos no momento, é o aborto da eleição, da democracia, da Constituição e do bom senso. Xô Satanás!
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O flerte de Serra com a extrema-direita
Reproduzo artigo de Manoel Fernandes Neto, editor do sítio NovaE:
A guinada à extrema-direita do candidato José Serra (PSDB-DEM-PPS) preocupa todas as forças democráticas do país, independentemente da opção partidária. O panfleto da Tradição Família e Propriedade – TFP, na reunião da coligação serrista é a ponta visível de um movimento que ficou mais cristalino a partir do momento em que Serra percebeu que, para ganhar e eleição, não bastaria posar de “novo Lula”; muito menos desenvolver debate saudável sobre projetos de governo.
No entanto, o início desta caminhada de Serra para o extremo direita do espectro político teve início quando o ex- ministro de FHC traçou as estratégias de campanha. Serra não conteve sua sede de poder ao permitir que fossem arregimentados os chamados trolls, que se enfronharam nas redes sociais como simpatizantes da sua candidatura, quando o real objetivo era difamar e provocar ativistas honestos e jornalistas imparciais.
Mas isso não foi o pior. Serra repercutiu em seu programa eleitoral o discurso do ódio anti-governo, anti-Lula e seus partidos aliados, que se espalhou em alguns segmentos preconceituosos da classe média, que multiplicaram spams difamatórios contra a candidata Dilma. Material tão ofensivo que merece uma investigação da Polícia Federal para se saber sua origem, tamanha a gravidade de seus conteúdos.
A situação atual é preocupante. O radicalismo da extrema-direita começa a esbarrar em agressões físicas para quem vota ou votou na candidata Dilma e coligação governista. Já começam a pipocar na rede depoimentos com o de Arnobio Rocha, que teve sua filha de 9 anos agredida na escola.
Para atestar os fatos, basta você declarar seu apoio ou simpatia por Dilma ou Lula numa rede ou roda social, e a resposta ser uma saraivada de impropérios, encaminhamentos dos spams caluniosos, ou mesmo uma patrulha implacável resumida na frase "você é esquerdista", para descredenciar os seus argumentos.
Para aqueles que não votam em Dilma, mas apreciam o debate saudável, basta se perguntar quantos e-mails caluniosos contra Serra são recebidos na própria caixa postal. A desproporção é a prova cabal de movimentos coordenados por algum grupo.
Nos últimos oito anos do governo Lula, o país viveu em harmonia, com os cidadãos e cidadãs expressando as opiniões em todos os níveis, de crenças religiosas às posições políticas, incluída nesse cenário a oposição raivosa e implacável da oposição.
Nos dois governos Lula, patrões dialogaram com funcionários, movimentos sociais expressaram suas posições, mesmo conflitantes; grandes jornais e redes de TV viveram liberdade de expressão plena, apesar de muitas vezes manipularem versões de fatos de acordo com seus interesses empresarias. Nunca ocorreu qualquer ingerência na sociedade civil; o saudável debate de idéias foi total, algo que vem sendo desprezado pelo ódio e a intolerância alimentados pela campanha de José Serra, que mais atira "gasolina na fogueira", com um evidente e desprezível falta de amor pela sociedade.
Isto é prejudicial a todos os brasileiros: aos que apóiam a candidata Dilma, mas também àqueles que, de forma honesta, votam no candidato José Serra; voto baseado na crença de sua capacidade de conduzir o Brasil, e não por revanchismo ou intolerância.
A NovaE, seus editores e colaboradores continuam de prontidão para combater com palavras, dados e opiniões os extremismos, à direita e à esquerda, pela simples razão de não fazerem bem ao país e aos cidadãos.
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A guinada à extrema-direita do candidato José Serra (PSDB-DEM-PPS) preocupa todas as forças democráticas do país, independentemente da opção partidária. O panfleto da Tradição Família e Propriedade – TFP, na reunião da coligação serrista é a ponta visível de um movimento que ficou mais cristalino a partir do momento em que Serra percebeu que, para ganhar e eleição, não bastaria posar de “novo Lula”; muito menos desenvolver debate saudável sobre projetos de governo.
No entanto, o início desta caminhada de Serra para o extremo direita do espectro político teve início quando o ex- ministro de FHC traçou as estratégias de campanha. Serra não conteve sua sede de poder ao permitir que fossem arregimentados os chamados trolls, que se enfronharam nas redes sociais como simpatizantes da sua candidatura, quando o real objetivo era difamar e provocar ativistas honestos e jornalistas imparciais.
Mas isso não foi o pior. Serra repercutiu em seu programa eleitoral o discurso do ódio anti-governo, anti-Lula e seus partidos aliados, que se espalhou em alguns segmentos preconceituosos da classe média, que multiplicaram spams difamatórios contra a candidata Dilma. Material tão ofensivo que merece uma investigação da Polícia Federal para se saber sua origem, tamanha a gravidade de seus conteúdos.
A situação atual é preocupante. O radicalismo da extrema-direita começa a esbarrar em agressões físicas para quem vota ou votou na candidata Dilma e coligação governista. Já começam a pipocar na rede depoimentos com o de Arnobio Rocha, que teve sua filha de 9 anos agredida na escola.
Para atestar os fatos, basta você declarar seu apoio ou simpatia por Dilma ou Lula numa rede ou roda social, e a resposta ser uma saraivada de impropérios, encaminhamentos dos spams caluniosos, ou mesmo uma patrulha implacável resumida na frase "você é esquerdista", para descredenciar os seus argumentos.
Para aqueles que não votam em Dilma, mas apreciam o debate saudável, basta se perguntar quantos e-mails caluniosos contra Serra são recebidos na própria caixa postal. A desproporção é a prova cabal de movimentos coordenados por algum grupo.
Nos últimos oito anos do governo Lula, o país viveu em harmonia, com os cidadãos e cidadãs expressando as opiniões em todos os níveis, de crenças religiosas às posições políticas, incluída nesse cenário a oposição raivosa e implacável da oposição.
Nos dois governos Lula, patrões dialogaram com funcionários, movimentos sociais expressaram suas posições, mesmo conflitantes; grandes jornais e redes de TV viveram liberdade de expressão plena, apesar de muitas vezes manipularem versões de fatos de acordo com seus interesses empresarias. Nunca ocorreu qualquer ingerência na sociedade civil; o saudável debate de idéias foi total, algo que vem sendo desprezado pelo ódio e a intolerância alimentados pela campanha de José Serra, que mais atira "gasolina na fogueira", com um evidente e desprezível falta de amor pela sociedade.
Isto é prejudicial a todos os brasileiros: aos que apóiam a candidata Dilma, mas também àqueles que, de forma honesta, votam no candidato José Serra; voto baseado na crença de sua capacidade de conduzir o Brasil, e não por revanchismo ou intolerância.
A NovaE, seus editores e colaboradores continuam de prontidão para combater com palavras, dados e opiniões os extremismos, à direita e à esquerda, pela simples razão de não fazerem bem ao país e aos cidadãos.
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“Dobrar o Bolsa-Família”: Serra mente!
Por Altamiro Borges
A própria Folha registrou que logo “no primeiro dia oficial de campanha, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, prometeu em Curitiba mais que duplicar os investimentos no Bolsa Família. Os recursos atenderiam, segundo o tucano, outras 15 milhões de famílias que deveriam ser assistidas pelo programa... O Bolsa Família atende hoje cerca de 12,6 milhões de famílias e, com a promessa de Serra, chegaria a 27,6”. Essa mentira foi amplamente difundida no primeiro turno e volta a ser repetida agora no segundo turno.
Ela é mais uma promessa eleitoreira e demagógica do candidato demotucano. Serra sempre foi um crítico mordaz dos programas sociais do governo Lula. Numa entrevista ao jornal Estadão, em março de 2009, ele condenou o Bolsa Família, afirmando que “a forma de promover a justiça social não pode ser apenas o assistencialismo”. Nos bastidores, os demotucanos sempre desqualificaram este programa como “bolsa esmola” e criticaram a chamada “gastança pública”.
Tucanos cortam gastos sociais
A abrupta mudança de posição é puro oportunismo. Devido ao sucesso do programa, que atende às carências emergenciais da população, estimula a educação e garante recordes de popularidade ao presidente Lula – e a natural transferência de votos para Dilma Rousseff –, Serra se traveste de cordeiro para enganar os ingênuos. Sem discurso e sem coragem para defender abertamente o seu programa neoliberal do “estado mínimo”, ele insiste na tática do embuste. Serra mente!
Mas a mentira tem perna curta. A mesma Folha, que agora evita criticar o Bolsa Família, revelou em maio passado que os principais programas de transferência de renda do governo de São Paulo encolheram ao longo da administração Serra. Em 2009, no seu último ano como governador, ele investiu apenas 0,15% do orçamento em projetos deste gênero. Já o governo Lula investiu 0,78% do orçamento federal somente no Bolsa Família – 5,2 vezes mais do que Serra.
Aliados desmentem o grão-tucano
No ano passado, Serra inclusive cortou um terço dos recursos dos programas Ação Jovem, Renda Cidadã e Jovem Cidadão (corte de R$ 80 milhões). E não foi por falta de verba. Na propaganda, os gastos subiram para R$ 243,7 milhões; enquanto nos programas sociais foram aplicados R$ 217,5 milhões. O Renda Cidadã atende a 117 mil famílias e o Ação Jovem, 90 mil pessoas. Já o Bolsa Família beneficia 12,6 milhões de famílias – cerca de 1 milhão somente em São Paulo.
Serra agora tenta disfarçar sua rejeição elitista ao “bolsa esmola”. Mas não dá para esconder sua prática política de corte dos investimentos sociais. Nem dá para esconder suas opiniões passadas ou as posições escancaradas de seus aliados. O DEM chegou a entrar na Justiça para acabar com o Bolsa Família. E o vice do tucano, o “ficha suja” Índio da Costa, já fez discursos na Câmara Federal contra os programas sociais do governo Lula – um deles, hilário, em julho de 2009.
“É proibido esmolar no município”
Ainda quando era vereador na cidade do Rio de Janeiro, o “ficha suja” chegou a apresentar um projeto de lei maluco, que escancarava sua postura elitista. “Fica proibido esmolar no município, para qualquer fim ou objeto”. Ou seja: Índio da Costa pretendia transformar em crime a doação de esmolas, prevendo multas e até prisão dos “criminosos”. Com certeza, esse excêntrico projeto do vice de José Serra será exibido nos programas de rádio e TV para desespero do tucano.
Já o neoliberal convertido Roberto Freire, presidente do PPS, não consegue conter a sua ojeriza aos programas sociais. Destoando da tática oportunista de José Serra, ele fez questão de afirmar recentemente no seu twitter que é contra o Bolsa Família. Para ele, este programa é “eleitoreiro e assistencialista” e deveria ser extinto. Sua sinceridade deve irritar José Serra, o lobo em pele de cordeiro que tenta ludibriar os eleitores com suas mentiras.
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A própria Folha registrou que logo “no primeiro dia oficial de campanha, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, prometeu em Curitiba mais que duplicar os investimentos no Bolsa Família. Os recursos atenderiam, segundo o tucano, outras 15 milhões de famílias que deveriam ser assistidas pelo programa... O Bolsa Família atende hoje cerca de 12,6 milhões de famílias e, com a promessa de Serra, chegaria a 27,6”. Essa mentira foi amplamente difundida no primeiro turno e volta a ser repetida agora no segundo turno.
Ela é mais uma promessa eleitoreira e demagógica do candidato demotucano. Serra sempre foi um crítico mordaz dos programas sociais do governo Lula. Numa entrevista ao jornal Estadão, em março de 2009, ele condenou o Bolsa Família, afirmando que “a forma de promover a justiça social não pode ser apenas o assistencialismo”. Nos bastidores, os demotucanos sempre desqualificaram este programa como “bolsa esmola” e criticaram a chamada “gastança pública”.
Tucanos cortam gastos sociais
A abrupta mudança de posição é puro oportunismo. Devido ao sucesso do programa, que atende às carências emergenciais da população, estimula a educação e garante recordes de popularidade ao presidente Lula – e a natural transferência de votos para Dilma Rousseff –, Serra se traveste de cordeiro para enganar os ingênuos. Sem discurso e sem coragem para defender abertamente o seu programa neoliberal do “estado mínimo”, ele insiste na tática do embuste. Serra mente!
Mas a mentira tem perna curta. A mesma Folha, que agora evita criticar o Bolsa Família, revelou em maio passado que os principais programas de transferência de renda do governo de São Paulo encolheram ao longo da administração Serra. Em 2009, no seu último ano como governador, ele investiu apenas 0,15% do orçamento em projetos deste gênero. Já o governo Lula investiu 0,78% do orçamento federal somente no Bolsa Família – 5,2 vezes mais do que Serra.
Aliados desmentem o grão-tucano
No ano passado, Serra inclusive cortou um terço dos recursos dos programas Ação Jovem, Renda Cidadã e Jovem Cidadão (corte de R$ 80 milhões). E não foi por falta de verba. Na propaganda, os gastos subiram para R$ 243,7 milhões; enquanto nos programas sociais foram aplicados R$ 217,5 milhões. O Renda Cidadã atende a 117 mil famílias e o Ação Jovem, 90 mil pessoas. Já o Bolsa Família beneficia 12,6 milhões de famílias – cerca de 1 milhão somente em São Paulo.
Serra agora tenta disfarçar sua rejeição elitista ao “bolsa esmola”. Mas não dá para esconder sua prática política de corte dos investimentos sociais. Nem dá para esconder suas opiniões passadas ou as posições escancaradas de seus aliados. O DEM chegou a entrar na Justiça para acabar com o Bolsa Família. E o vice do tucano, o “ficha suja” Índio da Costa, já fez discursos na Câmara Federal contra os programas sociais do governo Lula – um deles, hilário, em julho de 2009.
“É proibido esmolar no município”
Ainda quando era vereador na cidade do Rio de Janeiro, o “ficha suja” chegou a apresentar um projeto de lei maluco, que escancarava sua postura elitista. “Fica proibido esmolar no município, para qualquer fim ou objeto”. Ou seja: Índio da Costa pretendia transformar em crime a doação de esmolas, prevendo multas e até prisão dos “criminosos”. Com certeza, esse excêntrico projeto do vice de José Serra será exibido nos programas de rádio e TV para desespero do tucano.
Já o neoliberal convertido Roberto Freire, presidente do PPS, não consegue conter a sua ojeriza aos programas sociais. Destoando da tática oportunista de José Serra, ele fez questão de afirmar recentemente no seu twitter que é contra o Bolsa Família. Para ele, este programa é “eleitoreiro e assistencialista” e deveria ser extinto. Sua sinceridade deve irritar José Serra, o lobo em pele de cordeiro que tenta ludibriar os eleitores com suas mentiras.
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Remédios genéricos: Serra mente!
Por Altamiro Borges
Na sua campanha, o demotucano José Serra coleciona mentiras novas e antigas. Entre as novas, ele afirmou que iria “dobrar o Bolsa Família”, logo ele que sempre desqualificou esta iniciativa como “bolsa esmola” e que cortou investimentos de São Paulo nos programas de transferência de renda. Entre as velhas, o tucano repete que foi o pai do FAT e do seguro-desemprego, o que foi imediatamente desmascarado pelas centrais sindicais. A mentira mais batida, porém, é de Serra foi o criador dos remédios genéricos e “o melhor ministro da Saúde da história do país”.
Haddad desmentiu os tucanos
O decreto-lei número 793, que possibilitou a fabricação de remédios genéricos, é de 1993 e o seu autor foi Jamil Haddad, ex-ministro da Saúde de Itamar Franco. Antes, em 1991, o ex-deputado Eduardo Jorge já havia apresentado o projeto de lei 2.022, que proibia o uso de marca comercial ou fantasia nos produtos farmacêuticos e obrigava a utilização do nome genérico nos remédios comercializados no país. Ou seja: bem antes do trágico reinado de FHC e do seu egocêntrico ministro da Saúde, a política dos remédios genéricos já estava em pleno curso.
Ainda vivo, Jamil Haddad até ironizou os que tentavam se apropriar indevidamente do seu projeto: “Como de filho bonito todo mundo quer ser o pai, em 1999 foi aprovada uma lei, que era praticamente uma regulamentação dos remédios genéricos. O então ministro da Saúde, José Serra, passou a dizer que ele era o autor da lei. Eu considero uma usurpação o que está sendo enfatizado pelo PSDB. Eles não têm fundamento legal nenhum para afirmar que foi por meio daquele partido que se implantou a política dos medicamentos genéricos no país”.
Retrocessos e bondades do ex-ministro
Além de mentir sobre a autoria do projeto, os tucanos ainda foram denunciados por tentar atrasar a sua implantação. O partido cedeu às pressões do poderoso lobby da indústria farmacêutica, que ingressou na Justiça com liminares e fez chantagem diplomática a partir dos países sedes destas multinacionais. No primeiro mandato de FHC, iniciado em 1995, a implantação dos genéricos foi simplesmente arquivada. Só no final, com o desgaste do seu governo, é que ela foi retomada, com o aperto da fiscalização sobre as empresas farmacêuticas.
Para apagar as digitais de Jamil Haddad, FHC e Serra revogaram o decreto anterior e baixaram uma lei (9.787) e um novo decreto (3.181) sobre o tema. Ambos apresentaram retrocessos com relação à política anterior, fazendo concessões às multinacionais do setor. Enquanto o decreto do ex-ministro de Itamar Franco obrigava, por exemplo, que as letras do nome genérico fossem três vezes maiores do que a marca comercial, o projeto de Serra reduziu para o mesmo tamanho. Na ocasião, o presidente da Abifarma, o empresário Bandeira de Mello, elogiou a bondade de Serra para com as multinacionais. “A empresa agora poderá vender caro para quem quiser comprar”.
“Um lobista das multinacionais”
Vários estudos também desmascaram o embuste de que “Serra foi o melhor ministro da Saúde da história do Brasil”. A sua passagem pelo ministério foi um desastre para a indústria nacional de medicamentos. O setor foi totalmente desnacionalizado, beneficiando as multinacionais do setor, em especial dos EUA. A importação de insumos e remédios saltou de US$ 50 milhões, em 1990, para US$ 2,5 bilhões em 2001. “Nós viramos uma zona franca para a importação de remédios”, acusou Dante Alário Júnior, da Associação de Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac).
O incentivo dado por José Serra às importações de remédios fez com que o consumo de produtos fabricados no exterior crescesse trinta vezes, saltando da faixa de 1% para 30% do mercado. A isenção do imposto de importação bancada pelos tucanos desestimulou a produção interna, gerou forte desemprego no setor, reduziu os investimentos em pesquisa e tecnologia, causou a falência de várias indústrias nativas e elevou o preço dos remédios. Na época, alguns empresários do setor acusaram José Serra de ser “lobista das multinacionais dos medicamentos”.
Ministério virou “balcão de negócios”
Mesmo na área dos genéricos, a atuação do ex-ministro sofreu duras críticas. Ele presenteou os laboratórios estrangeiros com isenção total de impostos para importação. Certificados obtidos em órgãos de outros países, como do FDA dos EUA, eram imediatamente liberados como o rótulo de “genéricos”. Já as empresas nacionais eram obrigadas a fazer testes demorados para registrar os seus produtos, ao custo de US$ 60 mil. O resultado foi a invasão de “genéricos” estrangeiros e várias suspeitas de corrupção. Tanto que o ministério foi rotulado de “balcão de negócios”.
Quando a Polícia Federal apreendeu a agenda do lobista Alexandre Paes dos Santos, ela continha os nomes de assessores de Serra. Alguns foram acusados de extorquir empresários nacionais para liberar seus produtos. Em outro caso suspeito, batizado de “operação vampiro”, a PF desvendou uma quadrilha que atuava no Ministério da Saúde nas licitações para a compra de medicamentos. Os “vampiros” da máfia do sangue faziam parte do esquema PC Farias, mas continuaram agindo impunemente na gestão de José Serra. Ao ano, eles desviaram cerca de R$ 120 milhões.
Desmonte e surto da dengue
A política entreguista do ex-ministro José Serra causou o aumento do preço dos medicamentos – os de marca e os genéricos. No reinado tucano, as multinacionais do setor festejaram os recordes dos seus lucros. Além de prejudicar a saúde da população com os preços abusivos, Serra sabotou a indústria nacional de remédios e agravou o desemprego industrial no país. Como ministro da Saúde, sua única prioridade foi beneficiar as multinacionais do setor. Já como deputado, ele tinha cumprido o mesmo papel, atuando como lobista da lei das patentes do cartel farmacêutico.
Como se nota, é muita petulância afirmar que “Serra foi o melhor ministro da Saúde da história”. Para desmenti-lo, bastaria lembrar o surto da dengue no país. Em 2001, o grão-tucano gastou R$ 81,3 milhões em propaganda e apenas R$ 3 milhões em campanhas de combate à dengue. Como parte do desmonte neoliberal do Estado, ele demitiu seis mil mata-mosquitos contratados para eliminar os focos do Aedes Aegypti (transmissor da dengue). Resultado: em 2002 o Estado do Rio de Janeiro registrou 207.521 casos de dengue, com 63 mortes. Ou seja: Serra mente!
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Na sua campanha, o demotucano José Serra coleciona mentiras novas e antigas. Entre as novas, ele afirmou que iria “dobrar o Bolsa Família”, logo ele que sempre desqualificou esta iniciativa como “bolsa esmola” e que cortou investimentos de São Paulo nos programas de transferência de renda. Entre as velhas, o tucano repete que foi o pai do FAT e do seguro-desemprego, o que foi imediatamente desmascarado pelas centrais sindicais. A mentira mais batida, porém, é de Serra foi o criador dos remédios genéricos e “o melhor ministro da Saúde da história do país”.
Haddad desmentiu os tucanos
O decreto-lei número 793, que possibilitou a fabricação de remédios genéricos, é de 1993 e o seu autor foi Jamil Haddad, ex-ministro da Saúde de Itamar Franco. Antes, em 1991, o ex-deputado Eduardo Jorge já havia apresentado o projeto de lei 2.022, que proibia o uso de marca comercial ou fantasia nos produtos farmacêuticos e obrigava a utilização do nome genérico nos remédios comercializados no país. Ou seja: bem antes do trágico reinado de FHC e do seu egocêntrico ministro da Saúde, a política dos remédios genéricos já estava em pleno curso.
Ainda vivo, Jamil Haddad até ironizou os que tentavam se apropriar indevidamente do seu projeto: “Como de filho bonito todo mundo quer ser o pai, em 1999 foi aprovada uma lei, que era praticamente uma regulamentação dos remédios genéricos. O então ministro da Saúde, José Serra, passou a dizer que ele era o autor da lei. Eu considero uma usurpação o que está sendo enfatizado pelo PSDB. Eles não têm fundamento legal nenhum para afirmar que foi por meio daquele partido que se implantou a política dos medicamentos genéricos no país”.
Retrocessos e bondades do ex-ministro
Além de mentir sobre a autoria do projeto, os tucanos ainda foram denunciados por tentar atrasar a sua implantação. O partido cedeu às pressões do poderoso lobby da indústria farmacêutica, que ingressou na Justiça com liminares e fez chantagem diplomática a partir dos países sedes destas multinacionais. No primeiro mandato de FHC, iniciado em 1995, a implantação dos genéricos foi simplesmente arquivada. Só no final, com o desgaste do seu governo, é que ela foi retomada, com o aperto da fiscalização sobre as empresas farmacêuticas.
Para apagar as digitais de Jamil Haddad, FHC e Serra revogaram o decreto anterior e baixaram uma lei (9.787) e um novo decreto (3.181) sobre o tema. Ambos apresentaram retrocessos com relação à política anterior, fazendo concessões às multinacionais do setor. Enquanto o decreto do ex-ministro de Itamar Franco obrigava, por exemplo, que as letras do nome genérico fossem três vezes maiores do que a marca comercial, o projeto de Serra reduziu para o mesmo tamanho. Na ocasião, o presidente da Abifarma, o empresário Bandeira de Mello, elogiou a bondade de Serra para com as multinacionais. “A empresa agora poderá vender caro para quem quiser comprar”.
“Um lobista das multinacionais”
Vários estudos também desmascaram o embuste de que “Serra foi o melhor ministro da Saúde da história do Brasil”. A sua passagem pelo ministério foi um desastre para a indústria nacional de medicamentos. O setor foi totalmente desnacionalizado, beneficiando as multinacionais do setor, em especial dos EUA. A importação de insumos e remédios saltou de US$ 50 milhões, em 1990, para US$ 2,5 bilhões em 2001. “Nós viramos uma zona franca para a importação de remédios”, acusou Dante Alário Júnior, da Associação de Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac).
O incentivo dado por José Serra às importações de remédios fez com que o consumo de produtos fabricados no exterior crescesse trinta vezes, saltando da faixa de 1% para 30% do mercado. A isenção do imposto de importação bancada pelos tucanos desestimulou a produção interna, gerou forte desemprego no setor, reduziu os investimentos em pesquisa e tecnologia, causou a falência de várias indústrias nativas e elevou o preço dos remédios. Na época, alguns empresários do setor acusaram José Serra de ser “lobista das multinacionais dos medicamentos”.
Ministério virou “balcão de negócios”
Mesmo na área dos genéricos, a atuação do ex-ministro sofreu duras críticas. Ele presenteou os laboratórios estrangeiros com isenção total de impostos para importação. Certificados obtidos em órgãos de outros países, como do FDA dos EUA, eram imediatamente liberados como o rótulo de “genéricos”. Já as empresas nacionais eram obrigadas a fazer testes demorados para registrar os seus produtos, ao custo de US$ 60 mil. O resultado foi a invasão de “genéricos” estrangeiros e várias suspeitas de corrupção. Tanto que o ministério foi rotulado de “balcão de negócios”.
Quando a Polícia Federal apreendeu a agenda do lobista Alexandre Paes dos Santos, ela continha os nomes de assessores de Serra. Alguns foram acusados de extorquir empresários nacionais para liberar seus produtos. Em outro caso suspeito, batizado de “operação vampiro”, a PF desvendou uma quadrilha que atuava no Ministério da Saúde nas licitações para a compra de medicamentos. Os “vampiros” da máfia do sangue faziam parte do esquema PC Farias, mas continuaram agindo impunemente na gestão de José Serra. Ao ano, eles desviaram cerca de R$ 120 milhões.
Desmonte e surto da dengue
A política entreguista do ex-ministro José Serra causou o aumento do preço dos medicamentos – os de marca e os genéricos. No reinado tucano, as multinacionais do setor festejaram os recordes dos seus lucros. Além de prejudicar a saúde da população com os preços abusivos, Serra sabotou a indústria nacional de remédios e agravou o desemprego industrial no país. Como ministro da Saúde, sua única prioridade foi beneficiar as multinacionais do setor. Já como deputado, ele tinha cumprido o mesmo papel, atuando como lobista da lei das patentes do cartel farmacêutico.
Como se nota, é muita petulância afirmar que “Serra foi o melhor ministro da Saúde da história”. Para desmenti-lo, bastaria lembrar o surto da dengue no país. Em 2001, o grão-tucano gastou R$ 81,3 milhões em propaganda e apenas R$ 3 milhões em campanhas de combate à dengue. Como parte do desmonte neoliberal do Estado, ele demitiu seis mil mata-mosquitos contratados para eliminar os focos do Aedes Aegypti (transmissor da dengue). Resultado: em 2002 o Estado do Rio de Janeiro registrou 207.521 casos de dengue, com 63 mortes. Ou seja: Serra mente!
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FAT e seguro-desemprego: Serra mente!
Por Altamiro Borges
Uma das marcas da campanha presidencial de José Serra é a da dissimulação – para ser mais direto, da mentira. O candidato não tem como defender abertamente o programa neoliberal de desmonte do estado, da nação e do trabalho. Além de esconder seu programa, Serra está sem discurso. O chavão udenista da “ética” sucumbiu com a prisão do “vice-careca” Arruda no DF e com as denúncias de corrupção contra Yeda Crusius. Neste cenário, só resta mesmo a mentira.
Essa tática, usada à exaustão no primeiro turno, volta a ser a tônica do segundo turno. No programa de rádio e TV do PSDB, o embusteiro aparece na maior caradura afirmando ser o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do seguro-desemprego. No sítio oficial da campanha, a mentira está estampada no título: “Emenda de Serra criou o FAT e tirou o seguro-desemprego do papel”.
“Expediente para alavancar a candidatura”
Uma mentira repetida várias vezes pode virar “verdade”, já ensinava Goebbels, o marqueteiro de Hitler. Como advertiu o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), em entrevista ao blog Viomundo, “nem o FAT nem o seguro-desemprego são criações do Serra... Ele não pode usar a mentira como expediente para se promover e alavancar sua candidatura, pois ele vai perder mais credibilidade. Ainda mais hoje em dia que, graças à internet, tudo é descoberto rapidamente”.
Uma rápida pesquisa nos anais do Congresso Nacional confirma o embuste do demotucano. O autor do projeto de lei que criou o FAT foi o ex-deputado federal Jorge Uequed (PMDB-RS). O PL de número 991 foi apresentado em 11 de outubro de 1988. Já o projeto de José Serra sobre o tema foi apresentado sete meses depois, em 5 de maio de 1989, e recebeu o número 2250. Na sessão de 13 de dezembro de 1989, ele foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados devido à aprovação do projeto de Jorge Uequed.
Sarney desmente o tucano
Já no que se refere ao seguro-desemprego, José Serra volta a mentir. Na campanha presidencial de 2002, ele já havia difundido esta falsa versão. Na ocasião, numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador José Sarney desmentiu o candidato de chofre. “Não sei de onde ele tirou que criou o seguro-desemprego. O seguro foi criado no meu governo. Na época, ele era secretário de Econômica e Planejamento do governador Franco Montoro”.
Como apurou o blog Viomundo, Sarney disse a mais pura verdade – e Serra, novamente, mentiu. “O seguro-desemprego foi criado em 1986, quando Sarney ocupava a presidência da República. Foi instituído junto com o Plano Cruzado pelo decreto-lei 2.284, de 10 de março de 1986. Passou a ser concedido aos trabalhadores após a sua regulamentação, que ocorreu 40 dias depois, pelo decreto 92.608, de 30 de abril do mesmo ano”.
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Uma das marcas da campanha presidencial de José Serra é a da dissimulação – para ser mais direto, da mentira. O candidato não tem como defender abertamente o programa neoliberal de desmonte do estado, da nação e do trabalho. Além de esconder seu programa, Serra está sem discurso. O chavão udenista da “ética” sucumbiu com a prisão do “vice-careca” Arruda no DF e com as denúncias de corrupção contra Yeda Crusius. Neste cenário, só resta mesmo a mentira.
Essa tática, usada à exaustão no primeiro turno, volta a ser a tônica do segundo turno. No programa de rádio e TV do PSDB, o embusteiro aparece na maior caradura afirmando ser o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do seguro-desemprego. No sítio oficial da campanha, a mentira está estampada no título: “Emenda de Serra criou o FAT e tirou o seguro-desemprego do papel”.
“Expediente para alavancar a candidatura”
Uma mentira repetida várias vezes pode virar “verdade”, já ensinava Goebbels, o marqueteiro de Hitler. Como advertiu o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), em entrevista ao blog Viomundo, “nem o FAT nem o seguro-desemprego são criações do Serra... Ele não pode usar a mentira como expediente para se promover e alavancar sua candidatura, pois ele vai perder mais credibilidade. Ainda mais hoje em dia que, graças à internet, tudo é descoberto rapidamente”.
Uma rápida pesquisa nos anais do Congresso Nacional confirma o embuste do demotucano. O autor do projeto de lei que criou o FAT foi o ex-deputado federal Jorge Uequed (PMDB-RS). O PL de número 991 foi apresentado em 11 de outubro de 1988. Já o projeto de José Serra sobre o tema foi apresentado sete meses depois, em 5 de maio de 1989, e recebeu o número 2250. Na sessão de 13 de dezembro de 1989, ele foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados devido à aprovação do projeto de Jorge Uequed.
Sarney desmente o tucano
Já no que se refere ao seguro-desemprego, José Serra volta a mentir. Na campanha presidencial de 2002, ele já havia difundido esta falsa versão. Na ocasião, numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador José Sarney desmentiu o candidato de chofre. “Não sei de onde ele tirou que criou o seguro-desemprego. O seguro foi criado no meu governo. Na época, ele era secretário de Econômica e Planejamento do governador Franco Montoro”.
Como apurou o blog Viomundo, Sarney disse a mais pura verdade – e Serra, novamente, mentiu. “O seguro-desemprego foi criado em 1986, quando Sarney ocupava a presidência da República. Foi instituído junto com o Plano Cruzado pelo decreto-lei 2.284, de 10 de março de 1986. Passou a ser concedido aos trabalhadores após a sua regulamentação, que ocorreu 40 dias depois, pelo decreto 92.608, de 30 de abril do mesmo ano”.
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Quem é o Serra dos debates?
Reproduzo artigo de Gilson Caroni Filho, publicado no sítio Carta Maior:
Quando entrou nos estúdios da Rede Bandeirantes para o segundo confronto com Dilma Rousseff, Serra parecia confiante. Afinal, pesquisas recentes indicavam que sua candidatura registrava uma curva ascendente. Amparado pelo confortável clima de terror criado por demotucanos, com auxílio inestimável do oportunismo de grupos religiosos partidários da teologia da prosperidade, "in nomine Dei”, o massacre da adversária era tratado como favas contadas. Mas, como costuma acontecer na luta política, o açodamento voraz aumenta a voltagem de fracassos inesperados.
A adversária se mostrava surpreendentemente bem mais preparada do que no encontro anterior, disparando alguns petardos para os quais o PSDB - e a mídia corporativa que lhe apóia - não encontraria proteção adequada nem mesmo no dia seguinte. Do assessor que fugiu com R$ 4 milhões da campanha a uma possível privatização do pré-sal em um caso de vitória tucana, Serra manteve a fisionomia tensa, perdendo-se nas respostas, sem conseguir esboçar contra-ataques com os detalhes que a televisão exige. O desempenho do personagem preocupou assessores e a base social que lhe dá sustentação.
Quando perguntado sobre fatos provados, respondia com evasivas. Nem mesmo a mulher, Mônica Serra, foi capaz de defender. Foge como o diabo da cruz quando são feitas comparações entre os governos FHC e Lula. Quem tirou 14 milhões da miséria, levou 32 milhões para a classe média, criando 13 milhões de empregos? Que governo fez o Brasil crescer como nunca, libertando o país dos ditames do FMI? Quem proporcionou acesso de um enorme contingente popular às universidades, mudando a fisionomia e as expectativas educacionais de uma formação social marcada pela exclusão? Sob o manto das redações que o protegem, Serra é poupado de contraditórios incômodos. Quando exposto ao confronto, sobram o sorriso nervoso e as mãos trêmulas no ar.
Ficou claro, no debate de ontem, que Serra promete coisas sem base e silencia sobre como vai cumpri-las. Chegou o momento de mostrar, às claras, quem é o ex-governador que paga os piores salários do Brasil para os professores e policiais de São Paulo, recusando qualquer possibilidade de diálogo com representantes das duas categorias. Serra envereda pela ficção quando diz que criou os genéricos e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). E mente quando diz que tirou do papel o Seguro-Desemprego.
Nos próximos encontros, Dilma deve mostrar ao país o perigo de ter religiosos fundamentalistas dando palpite na administração pública. Precisa alertar que nas regiões metropolitanas, em comunidades carentes, além da crônica falta do Estado, os poderes conferidos a seitas e outros espertalhões, aliados a uma polícia medíocre e corrupta, acabam facilitando a vida de milicianos e traficantes. O que faz soar, no mínimo, ridícula a proposta tucana de criação de um Ministério da Segurança.
É importante indicar ao eleitor que um eventual governo Serra representará um mergulho nas trevas, com direito a TFPs, Opus Dei, Carismáticos e outras denominações legislando o nascimento de um poder assentado em bases teocráticas. Sobre isso deveria refletir uma parcela da classe média. Aquela mais apegada ao consumo que à cidadania, sócia despreocupada do rentismo e do poder nos tempos neoliberais.
Acostumada, desde a ditadura militar, à apropriação dos recursos que o mercado ou o Estado lhe ofereciam para a melhoria de seu poder aquisitivo e seu bem-estar material, ainda conserva vícios de origem, reagindo negativamente ao aumento da participação e da inclusão política de novos setores. Instalada em um desencanto abrangente, como estamento arraigado, abriga forças que não ameaçam apenas o processo democrático. O perigo vai bem além. Por tudo que vimos nessa campanha, a candidatura de Serra é incompatível com os valores mais caros à modernidade.
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Quando entrou nos estúdios da Rede Bandeirantes para o segundo confronto com Dilma Rousseff, Serra parecia confiante. Afinal, pesquisas recentes indicavam que sua candidatura registrava uma curva ascendente. Amparado pelo confortável clima de terror criado por demotucanos, com auxílio inestimável do oportunismo de grupos religiosos partidários da teologia da prosperidade, "in nomine Dei”, o massacre da adversária era tratado como favas contadas. Mas, como costuma acontecer na luta política, o açodamento voraz aumenta a voltagem de fracassos inesperados.
A adversária se mostrava surpreendentemente bem mais preparada do que no encontro anterior, disparando alguns petardos para os quais o PSDB - e a mídia corporativa que lhe apóia - não encontraria proteção adequada nem mesmo no dia seguinte. Do assessor que fugiu com R$ 4 milhões da campanha a uma possível privatização do pré-sal em um caso de vitória tucana, Serra manteve a fisionomia tensa, perdendo-se nas respostas, sem conseguir esboçar contra-ataques com os detalhes que a televisão exige. O desempenho do personagem preocupou assessores e a base social que lhe dá sustentação.
Quando perguntado sobre fatos provados, respondia com evasivas. Nem mesmo a mulher, Mônica Serra, foi capaz de defender. Foge como o diabo da cruz quando são feitas comparações entre os governos FHC e Lula. Quem tirou 14 milhões da miséria, levou 32 milhões para a classe média, criando 13 milhões de empregos? Que governo fez o Brasil crescer como nunca, libertando o país dos ditames do FMI? Quem proporcionou acesso de um enorme contingente popular às universidades, mudando a fisionomia e as expectativas educacionais de uma formação social marcada pela exclusão? Sob o manto das redações que o protegem, Serra é poupado de contraditórios incômodos. Quando exposto ao confronto, sobram o sorriso nervoso e as mãos trêmulas no ar.
Ficou claro, no debate de ontem, que Serra promete coisas sem base e silencia sobre como vai cumpri-las. Chegou o momento de mostrar, às claras, quem é o ex-governador que paga os piores salários do Brasil para os professores e policiais de São Paulo, recusando qualquer possibilidade de diálogo com representantes das duas categorias. Serra envereda pela ficção quando diz que criou os genéricos e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). E mente quando diz que tirou do papel o Seguro-Desemprego.
Nos próximos encontros, Dilma deve mostrar ao país o perigo de ter religiosos fundamentalistas dando palpite na administração pública. Precisa alertar que nas regiões metropolitanas, em comunidades carentes, além da crônica falta do Estado, os poderes conferidos a seitas e outros espertalhões, aliados a uma polícia medíocre e corrupta, acabam facilitando a vida de milicianos e traficantes. O que faz soar, no mínimo, ridícula a proposta tucana de criação de um Ministério da Segurança.
É importante indicar ao eleitor que um eventual governo Serra representará um mergulho nas trevas, com direito a TFPs, Opus Dei, Carismáticos e outras denominações legislando o nascimento de um poder assentado em bases teocráticas. Sobre isso deveria refletir uma parcela da classe média. Aquela mais apegada ao consumo que à cidadania, sócia despreocupada do rentismo e do poder nos tempos neoliberais.
Acostumada, desde a ditadura militar, à apropriação dos recursos que o mercado ou o Estado lhe ofereciam para a melhoria de seu poder aquisitivo e seu bem-estar material, ainda conserva vícios de origem, reagindo negativamente ao aumento da participação e da inclusão política de novos setores. Instalada em um desencanto abrangente, como estamento arraigado, abriga forças que não ameaçam apenas o processo democrático. O perigo vai bem além. Por tudo que vimos nessa campanha, a candidatura de Serra é incompatível com os valores mais caros à modernidade.
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Uma lembrança para Marina Silva
Reproduzo mensagem enviada por Paulo Maldos, ex-assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI):
Acho que é o caso de lembrar a Marina de onde ela estava em abril do ano 2.000.
No dia 22 de abril de 2.000 ela estava na estrada que liga Santa Cruz de Cabrália a Porto Seguro, junto com 3.600 indígenas, de mais de 180 povos, militantes do movimento negro, quilombolas, militantes do MST, estudantes, mulheres, militantes de inúmeros movimentos populares e sindicais, talvez mais de 10 mil ao todo, de todo o Brasil.
Ela tinha falado no Quilombo, que era o acampamento coletivo, no dia anterior, para alguns destes milhares de militantes.
No dia 22 de abril, logo pela manhã, foi desatada a repressão sobre todos e todas.
O Fernando Henrique estava na Cidade Alta de Porto Seguro, comemorando com o Presidente de Portugal.
Na estrada, a policia do Antonio Carlos Magalhães e as tropas do FHC jogavam bombas de gás, arrastavam negros pelos cabelos, espancavam indígenas e prendiam estudantes. Havia helicópteros e lanchas da Marinha no cerco.
Um indígena se jogou no chão da estrada, em frente dos soldados, que passaram por cima dele.
Encontrei a Marina com sua assessora Áurea, perdidas na estrada, escutando bombas e tiros próximos.
Coloquei as duas no meu carro, para escapar dali protegendo-as. Dentro do carro, a Marina falou calmamente que, se respirasse aquele gás, poderia morrer. Virei o carro para pegar um caminho de terra e ir em direção da praia. Ela pediu que não fosse, porque tinha visto soldados irem para a praia perseguindo estudantes.
Voltei com o carro prá estrada e levei a Marina até local seguro, longe da repressão e das bombas. Emocionado porque, segundo a nossa Senadora, eu talvez tivesse acabado de salvar sua vida.
Acho bom ela lembrar deste episódio neste momento, para pensar de que lado ela sempre esteve, e de que lado deve estar agora.
Um abraço fraterno
.
Acho que é o caso de lembrar a Marina de onde ela estava em abril do ano 2.000.
No dia 22 de abril de 2.000 ela estava na estrada que liga Santa Cruz de Cabrália a Porto Seguro, junto com 3.600 indígenas, de mais de 180 povos, militantes do movimento negro, quilombolas, militantes do MST, estudantes, mulheres, militantes de inúmeros movimentos populares e sindicais, talvez mais de 10 mil ao todo, de todo o Brasil.
Ela tinha falado no Quilombo, que era o acampamento coletivo, no dia anterior, para alguns destes milhares de militantes.
No dia 22 de abril, logo pela manhã, foi desatada a repressão sobre todos e todas.
O Fernando Henrique estava na Cidade Alta de Porto Seguro, comemorando com o Presidente de Portugal.
Na estrada, a policia do Antonio Carlos Magalhães e as tropas do FHC jogavam bombas de gás, arrastavam negros pelos cabelos, espancavam indígenas e prendiam estudantes. Havia helicópteros e lanchas da Marinha no cerco.
Um indígena se jogou no chão da estrada, em frente dos soldados, que passaram por cima dele.
Encontrei a Marina com sua assessora Áurea, perdidas na estrada, escutando bombas e tiros próximos.
Coloquei as duas no meu carro, para escapar dali protegendo-as. Dentro do carro, a Marina falou calmamente que, se respirasse aquele gás, poderia morrer. Virei o carro para pegar um caminho de terra e ir em direção da praia. Ela pediu que não fosse, porque tinha visto soldados irem para a praia perseguindo estudantes.
Voltei com o carro prá estrada e levei a Marina até local seguro, longe da repressão e das bombas. Emocionado porque, segundo a nossa Senadora, eu talvez tivesse acabado de salvar sua vida.
Acho bom ela lembrar deste episódio neste momento, para pensar de que lado ela sempre esteve, e de que lado deve estar agora.
Um abraço fraterno
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