domingo, 14 de agosto de 2011

Jornais ingleses omitem causas da revolta

Por Cris Rodrigues, de Londres, no sítio Sul21:

Londres, terça-feira, 9 de agosto de 2011. As já muito frequentes e barulhentas sirenes de Londres parecem ter se multiplicado nos últimos dias. A elas, somaram-se o barulho de helicópteros sobrevoando a cidade e 16 mil policiais perambulando pelas ruas. No quarto dia da onda de manifestações que varreu a capital britânica, muitas lojas fecharam as portas no meio da tarde. Em Kentish Town Road, uma avenida relativamente distante de qualquer distúrbio, uma pequena tabacaria familiar era um dos poucos estabelecimentos abertos às 20h. Dentro, duas mulheres estavam tranquilas e sem medo, mesmo vendo a filial de uma grande rede de supermercados do outro lado da rua de portas fechadas desde as 15h, sob o anúncio de que funciona até as 23h todos os dias da semana.



Era dia claro ainda, mas as ruas estavam quase vazias, longe do normal para uma cidade em que circula tanta gente o tempo todo. Terça-feira foi o dia em que mais se sentia o medo no ar, sensação que acabou alterando a rotina de muita gente. À noite, porém, não houve registro significativo de incêndio, depredação ou roubo, como os ingleses tinham visto nos dias anteriores. Ninguém entendia muito bem o que estava acontecendo ou, principalmente, por quê.

Sharon e Gurmit Johal, donas da pequena tabacaria familiar há 15 anos, não estavam assustadas, mas andar nas ruas era estranho, pelo vazio de pessoas e pelo som de helicópteros sobrevoando a cidade, que remetiam a um clima de pré-guerra civil, como se algo muito grave estivesse a ponto de acontecer.
Mas não foi e não é uma guerra civil o que Londres viveu nos últimos dias. Houve alguns problemas com transporte, como ônibus que mudaram de rota ou estações de metrô fechadas, que foram rapidamente solucionados. Mas as vidas da imensa maioria dos londrinos não foi alterada mais do que algumas horas.

Tudo começou no dia 4, com o suposto assassinato de um homem negro, popular em sua comunidade, por agentes da polícia britânica. Dois dias depois, um protesto pacífico foi realizado em Tottenham, no norte de Londres, que registra altos índices de desemprego, maiores do que a média já elevada da capital. Mas o protesto acabou em incêndio de prédios, carros e ônibus. Ainda mal explicada, a morte de Mark Duggan foi a gota d’água para que a insatisfação popular tomasse as ruas em uma onda de protestos sem precedentes na história recente da Inglaterra. Ao mesmo tempo, tornou-se uma desculpa para saques, incêndios e depredações em diversos bairros da capital e em cidades do interior da Inglaterra.

O conservador David Cameron parece ser o principal interessado em não discutir as causas e em não buscar interpretar o que estes jovens estão querendo dizer. Para ele, trata-se apenas de “criminalidade, pura e simples”, vazia de significado social, como ele disse na terça e repetiu, com as mesmas palavras, na quinta, quando o momento já não era mais de reagir rapidamente, mas de analisar as causas e procurar a melhor forma de encarar o problema. No mesmo pronunciamento, disse ainda que os envolvidos são muito jovens, e, portanto, não se trata de protesto político, mas de roubo. E jogou a responsabilidade para os pais, por não saberem onde e com quem seus filhos estavam.

No único momento em procurou alguma explicação social, Cameron tratou de descartar qualquer relação com desigualdade: “As crianças crescem sem saber a diferença entre certo e errado. Não tem a ver com pobreza, mas com cultura. A cultura de glorificar a violência, desrespeitar autoridades e saber tudo sobre direitos e nada sobre responsabilidades”. Isso no momento em que a Inglaterra vive a pior crise econômica dos últimos 50 anos, segundo o prefeito de Londres, Boris Johnson, do mesmo partido de David Cameron.

A única reação efetiva do primeiro ministro foi prometer repressão e punição, independente da idade de quem fosse pego roubando ou cometendo ato considerado de vandalismo. A ponto de afirmar publicamente, no início da semana: “Vocês vão sentir toda a força da lei. Se você tem idade suficiente para cometer crimes, você tem idade suficiente para encarar a punição.” Em cinco dias, cerca de 1,2 mil pessoas foram presas na Inglaterra, mais de 800 só em Londres.

“Tenho empatia por essas crianças”

Na quarta-feira, a cidade já estava praticamente normal. As pessoas divergem sobre as causas, mas garantem que não estão com medo. Ken Smith, dono de uma loja no bairro de Brixton, onde foi registrado um dos ataques considerados mais violentos, acredita que os jovens são vítimas da sociedade em que vivem. “Não tem nenhuma relação com cor, mas é uma coisa de classe. São pessoas muito jovens, excluídas socialmente, que vivem uma subcultura”, diz. “Eu tenho empatia por essas crianças, entendo que estão frustradas, mas o que elas fizeram é errado.”

Mas as causas, para ele, não são simples, e incluem desigualdade de classe, desemprego, inflação, cultura. Smith sente-se seguro em Londres, já que são apenas crianças manifestando sua falta de limites. Não sente medo também a vendedora de loja que não quis se identificar, mas por outro motivo. Ela acha que o governo está agindo muito bem ao agir com mãos de ferro reprimindo e prendendo todos os manifestantes. A bem-maquiada e sorridente vendedora não enxerga desigualdade no Reino Unido e diz que o desemprego, registrado pelas estatísticas, não existe. “São só jovens procurando confusão”, simplifica.

Ainda que sejam mesmo crianças e adolescentes desorientados buscando apenas vandalismo, tem que haver algum motivo para isso. Mesmo que suas causas não sejam bonitas e eles não bradem por liberdade, igualdade e fraternidade, estes “rioters” são um reflexo de um problema social.

Não foi o Twitter que causou a insatisfação popular

Apesar da intensa cobertura da onda de violência – o vespertino e gratuito Evening Standard dedicou 20 de suas 52 páginas às manifestações na terça-feira –, os jornais parecem simplesmente não querer falar sobre suas causas, como se ocorressem por geração espontânea. Dos jornais locais, destaca-se pela qualidade e extensão da cobertura o The Guardian, que atualizou o site com informações recentes ao longo de todo o tempo.

O excesso de informações desnorteia um pouco, e torna-se difícil filtrar e acessar conteúdo realmente útil, mas o interessante é que, além das notícias fresquinhas e factuais que vinham pelo minuto a minuto ou pelas matérias constantes, publicou uma série de artigos tentando analisar o que estava acontecendo. O jornal exerce não apenas o papel de produtor de notícia, mas também de filtro, já que seleciona entre as muitas informações circulando na internet as que são relevantes e verdadeiras. É o desafio do jornalismo atual, que teve mais uma prova durante os últimos dias em Londres.

Twitter, Facebook, celulares e outras tecnologias mais uma vez foram protagonistas, como já tinha acontecido durante a Primavera Árabe – especialmente no Egito – e nas manifestações dos “indignados” na Espanha, entre outros. Em 1968, os estudantes imprimiam jornais e distribuíam panfletos para organizar sua mobilização, que tornou-se histórica, principalmente em Paris. Sem comparar o conteúdo político e social, apenas o meio de organização, agora os jovens usam a internet e os celulares. Não foi o Twitter que causou a insatisfação popular, e uma afirmação em contrário é partir para uma análise extremamente simplista da sociedade.

Em defesa das redes sociais, mesmo para quem ficou assustado com os “riots” e acha que é só um bando de baderneiros causando bagunça, há que se dizer que elas também foram usadas pelo “outro lado” (entre aspas, porque não se trata de uma guerra entre mocinhos e bandidos). O Twitter virou uma central de informações para quem queria saber onde havia tumulto para tentar se proteger. Também foi usado nos dias seguintes, da mesma forma, como ferramenta de mobilização, e levou centenas de pessoas às ruas para limpar as calçadas de Londres.

Mas, ignorando a liberdade que as pessoas têm, ou deveriam ter, de se comunicar livremente, usando os meios de que dispõem, o primeiro ministro inglês agora propõem censurar redes sociais e mensagens de celular em momentos de conflito social. Mais uma vez, não só cogita retirar um direito dos cidadãos, mas busca num meio a causa. Ataca o veneno proibindo a embalagem.

3 comentários:

Anônimo disse...

Por favor,faça como CartaCapital e
coloque a opção de aumentar a letra.

Anderson Benelli da Silva disse...

é só apertar control + do seu teclado

jose alberto disse...

Alô Seu Altamiro
Não tive o desprazer de conhecê-lo mas através do Olavo de Carvalho tomei conhecimento de sua existência.
Vc vê que polemizar com OV rende seus frutos não é mesmo ?
A respeito do artigo acima nota-se que vc já ficou do lado dos "pobres perseguidos" , prática semper usada pelos comunistas da sua laia !! Vc nem sabe o que está acontecendo e já descobriu a causa do conflito . Valeu Sherlock , vc é o máximo .
Em Londres não é como no Brasil onde os bandidos do MST fazem e acontecem , lá o pau come , borracha neles.
Porquê vc não vai lá defender essa cambada ?
Vc vai levar borracha também , vai lá malandro !