quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Mídia ataca merreca do salário mínimo

Por Altamiro Borges

No seu discurso terrorista sobre o espectro da inflação, a mídia patronal segue fustigando o reajuste de 14,3% no salário mínimo previsto para janeiro próximo. Em vários editoriais, Estadão, Folha, Valor e O Globo afirmam que o aumento, garantido no acordo firmado entre as centrais sindicais e o governo Lula, implodirá as metas inflacionárias. Os tais “comentaristas econômicos” das TVs, que mais parecem agiotas do mercado financeiro, reforçam o coro apocalíptico.



Estudo divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicas (Dieese) mostra, porém, que o salário mínimo continua uma merreca, que entrava o desenvolvimento da economia brasileira. Se valesse o que determina a própria Constituição Federal, o mínimo necessário para o trabalhador suprir suas despesas básicas com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, deveria ser de R$ 2.349,26.

4,31 vezes inferior ao necessário

A Pesquisa Nacional da Cesta Básica, feita pelo Dieese, apontou alta dos preços em 15 das 17 capitais pesquisadas. A projeção de quanto deveria ser o valor do salário mínimo foi feita com base no preço mais alto da cesta básica, verificado em Porto Alegre em novembro, de R$ 279,64. O valor fixado pelo Dieese, de R$ 2.349,26 corresponde a 4,31 vezes o mínimo em vigor, de R$ 545,00.

O levantamento também apontou que, para adquirir a cesta em novembro, o consumidor brasileiro que ganha o salário mínimo precisava trabalhar 96 horas e 13 minutos. Esse tempo ficou acima do verificado em outubro, quando a mesma compra exigia o cumprimento de 94 horas e 4 minutos. Em novembro de 2010, porém, o tempo necessário era ainda maior: 98 horas e 12 minutos.

Efeitos positivos na economia

Apesar da evidência de que o salário mínimo está arrochado, desrespeitando a própria Constituição, a mídia rentista insiste em culpá-lo pelo futuro aumento da inflação. Na defesa dos interesses especulativos do capital financeiro, ela inventa um fantasma para atemorizar a sociedade. Numa ponta, os rentistas criticam as recentes cortes da taxa de juros, adotados pelo Banco Central, de forma ainda bastante tímida; na outra, eles satanizam o aumento do poder aquisitivo e do consumo interno.

Vários estudos comprovam que a valorização do salário mínimo, uma conquista do sindicalismo obtida no governo Lula, foi essencial para evitar maiores traumas da crise capitalista mundial. Essa política reaqueceu o mercado interno, gerando maior consumo – como efeito, mais produção, mais emprego e mais renda. Mesmo ficando abaixo dos R$ 2,349,26 calculados pelo Dieese, o reajuste de 14,3% no valor do salário mínimo, que passará dos atuais R$ 545 para R$ 622,73 em janeiro, deverá injetar cerca de R$ 64 bilhões na economia brasileira em 2012.

Esse reajuste, ainda mísero, permitirá que o Produto Interno Bruto (PIB) volte a crescer no próximo do ano, depois de ficar quase estagnado no segundo semestre de 2011. “Nossa estimativa é de que o PIB volte a crescer em um ritmo de 0,8% no primeiro trimestre de 2012, principalmente por causa do impulso dado pelo salário mínimo em um período que tradicionalmente é fraco”, afirma Bráulio Borges, autor de estudos sobre o impacto do aumento do mínimo no crescimento econômico do País.

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