Por Marco Aurélio Mello, no blog DoLaDoDeLá:
Sabe-se que o valor da ação foi calculado em um milhão e cem mil reais, mas os termos do acordo - que acaba de ser fechado - ainda não foram divulgados. Sem uma sentença terminativa, a emissora não corre por ora o risco de, por analogia, (súmula vinculante), sofrer uma enxurrada de ações semelhantes.
Na primeira instância a juíza não quis nem ouvir todas as testemunhas, por suspeição. Eram elas: Mariano Boni (então chefe de redação em São Paulo), Teresa Garcia (editora-chefe do Jornal Hoje, à época), Rosane Baptista (coordenadora do Jornal Nacional, também em São Paulo) e um funcionário do R.H., de nome Valdir.
A empresa negava o vínculo de emprego e dizia que o jornalista tinha total autonomia, e que podia decidir sobre a melhor forma de conduzir as pautas e até mesmo recusá-las (guarde bem este trecho para o relato que farei abaixo).
O julgamento em segunda instância durou apenas nove meses, um recorde para a justiça do trabalho. No entanto, quando o processo subiu para o TST, a Globo Participações conseguiu fazê-lo voltar para 69ª Vara do Trabalho de São Paulo, para que mais uma das testemunhas fosse ouvida, criando-se assim condições para um acordo, já que Dorneles passou a suspeitar se teria ou não sucesso pela via judicial.
O jornalista cobrava direitos trabalhistas sonegados a ele, depois que viu-se obrigado a trocar a condição de "celetista" pela figura do P.J., pequeno empresário prestador de serviços, em 1988. O cálculo baseou-se nos 20 anos de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço devidos e nos 5 anos (limite máximo a ser reclamado) de todos os outros encargos trabalhistas.
Quem é esse peregrino?
Carlos Dornelles é um dos repórteres-grife da televisão brasileira. Depois de passar pela Folha da Manhã, Zero Hora e RBS-TV, em Porto Alegre, Dodô, como é carinhosamente chamado pelos colegas mais íntimos, veio para São Paulo, em 1983, onde sua carreira ganhou novo fôlego.
Gaúcho de Cachoeira do Sul, de 1988 a 1990 foi correspondente internacional da Globo, baseado no escritório de Londres e, de 1991 a 1992, ocupou vaga no escritório de Nova Iorque. Em 2008, sem a renovação do contrato, aceitou convite para trabalhar como repórter especial do Jornal da Record, na emissora concorrente, onde está até hoje.
Autor de três livros e ganhador dos principais prêmios de jornalismo, Dorneles é admirado por todos que tiveram o privilégio de trabalhar ao lado dele, principalmente "o pessoal da rua", que vê no colega uma figura simples, humana e modesta, bem diferente da maioria dos repórteres de televisão brasileira, encantados pela representação que sua imagem ganha diante da telinha.
Ético ou Turrão?
Fui editor de várias reportagens do Dodô enquanto servi ao Jornal Nacional, de 2004 a 2008. E sou testemunha do que precipitou a saída dele da emissora.
Dorneles não aceitava que seu texto fosse modificado, mudando-se o sentido do que ele tinha apurado. Isso aconteceu em pelo menos duas ocasiões, quando Ali Kamel tentou manipular o conteúdo de suas matérias. Em ambos os casos o colega, um exemplo raro de coragem e desprendimento, recusou-se a gravar o texto e foi embora para casa.
Em outra ocasião, foi chamado num plantão de sábado para "repercutir" uma matéria de capa da Veja, bem ao gosto da política editorial imposta por Ali Kamel. Novamente recusou-se a fazer uma reportagem de assunto sobre o qual não havia feito apuração.
No auge da crise da campanha eletoral de 2006, instado por um estudante de jornalismo, numa palestra no Rio Grande do Sul, Dorneles disse que os barões da mídia deveriam todos ser investigados. A declaração, bombástica, veio num momento delicado, em que a emissora era acusada de esconder a queda de um avião para noticiar o "dinheiro na cueca" dos "aloprados do PT".
Passadas as eleições, sem eleger seu candidato, Geraldo Alckmin, a emissora começou o expurgo. Dorneles foi aprisionado na geladeira do Globo Rural, e deu-se por satisfeito, porque voltaria a ter liberdade para trabalhar, sem ter que se ocupar com o tipo de jornalismo que Ali Kamel e seus comparsas passaram a flertar.
Há outros processos em curso, de menor monta. Para a emissora - que está sendo investigada por crimes de deixariam Al Capone de "cabelos em pé", o tratamento dado a um dos principais jornalistas do país, a quem chama na ação de "litigante de má fé", dá bem a dimensão do tipo de empresários com quem estamos lidando.
Portanto, seu fosse você, leitor, tiraria as crianças da frente dos infantis, das novelas e, até, da Copa do Mundo, porque eles não valem "uma marmita azêda".
Na primeira instância a juíza não quis nem ouvir todas as testemunhas, por suspeição. Eram elas: Mariano Boni (então chefe de redação em São Paulo), Teresa Garcia (editora-chefe do Jornal Hoje, à época), Rosane Baptista (coordenadora do Jornal Nacional, também em São Paulo) e um funcionário do R.H., de nome Valdir.
A empresa negava o vínculo de emprego e dizia que o jornalista tinha total autonomia, e que podia decidir sobre a melhor forma de conduzir as pautas e até mesmo recusá-las (guarde bem este trecho para o relato que farei abaixo).
O julgamento em segunda instância durou apenas nove meses, um recorde para a justiça do trabalho. No entanto, quando o processo subiu para o TST, a Globo Participações conseguiu fazê-lo voltar para 69ª Vara do Trabalho de São Paulo, para que mais uma das testemunhas fosse ouvida, criando-se assim condições para um acordo, já que Dorneles passou a suspeitar se teria ou não sucesso pela via judicial.
O jornalista cobrava direitos trabalhistas sonegados a ele, depois que viu-se obrigado a trocar a condição de "celetista" pela figura do P.J., pequeno empresário prestador de serviços, em 1988. O cálculo baseou-se nos 20 anos de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço devidos e nos 5 anos (limite máximo a ser reclamado) de todos os outros encargos trabalhistas.
Quem é esse peregrino?
Carlos Dornelles é um dos repórteres-grife da televisão brasileira. Depois de passar pela Folha da Manhã, Zero Hora e RBS-TV, em Porto Alegre, Dodô, como é carinhosamente chamado pelos colegas mais íntimos, veio para São Paulo, em 1983, onde sua carreira ganhou novo fôlego.
Gaúcho de Cachoeira do Sul, de 1988 a 1990 foi correspondente internacional da Globo, baseado no escritório de Londres e, de 1991 a 1992, ocupou vaga no escritório de Nova Iorque. Em 2008, sem a renovação do contrato, aceitou convite para trabalhar como repórter especial do Jornal da Record, na emissora concorrente, onde está até hoje.
Autor de três livros e ganhador dos principais prêmios de jornalismo, Dorneles é admirado por todos que tiveram o privilégio de trabalhar ao lado dele, principalmente "o pessoal da rua", que vê no colega uma figura simples, humana e modesta, bem diferente da maioria dos repórteres de televisão brasileira, encantados pela representação que sua imagem ganha diante da telinha.
Ético ou Turrão?
Fui editor de várias reportagens do Dodô enquanto servi ao Jornal Nacional, de 2004 a 2008. E sou testemunha do que precipitou a saída dele da emissora.
Dorneles não aceitava que seu texto fosse modificado, mudando-se o sentido do que ele tinha apurado. Isso aconteceu em pelo menos duas ocasiões, quando Ali Kamel tentou manipular o conteúdo de suas matérias. Em ambos os casos o colega, um exemplo raro de coragem e desprendimento, recusou-se a gravar o texto e foi embora para casa.
Em outra ocasião, foi chamado num plantão de sábado para "repercutir" uma matéria de capa da Veja, bem ao gosto da política editorial imposta por Ali Kamel. Novamente recusou-se a fazer uma reportagem de assunto sobre o qual não havia feito apuração.
No auge da crise da campanha eletoral de 2006, instado por um estudante de jornalismo, numa palestra no Rio Grande do Sul, Dorneles disse que os barões da mídia deveriam todos ser investigados. A declaração, bombástica, veio num momento delicado, em que a emissora era acusada de esconder a queda de um avião para noticiar o "dinheiro na cueca" dos "aloprados do PT".
Passadas as eleições, sem eleger seu candidato, Geraldo Alckmin, a emissora começou o expurgo. Dorneles foi aprisionado na geladeira do Globo Rural, e deu-se por satisfeito, porque voltaria a ter liberdade para trabalhar, sem ter que se ocupar com o tipo de jornalismo que Ali Kamel e seus comparsas passaram a flertar.
Há outros processos em curso, de menor monta. Para a emissora - que está sendo investigada por crimes de deixariam Al Capone de "cabelos em pé", o tratamento dado a um dos principais jornalistas do país, a quem chama na ação de "litigante de má fé", dá bem a dimensão do tipo de empresários com quem estamos lidando.
Portanto, seu fosse você, leitor, tiraria as crianças da frente dos infantis, das novelas e, até, da Copa do Mundo, porque eles não valem "uma marmita azêda".
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