quinta-feira, 6 de março de 2014

Garis hostilizam a TV Globo no RJ

Por Altamiro Borges

A mídia privada tem destilado ódio contra a greve dos garis do Rio de Janeiro, deflagrada em pleno Carnaval. Os grevistas da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) são tratados como vândalos, que prejudicam a imagem da cidade maravilhosa, o turismo e a saúde pública. As péssimas condições de trabalho e os míseros salários – cerca de R$ 800 mensais – não merecem destaque nos jornalões e nos telejornais. Já a atitude inábil do prefeito da cidade, Eduardo Paes (PMDB) – que desprezou as reivindicações da categoria e ainda ameaçou demitir 300 grevistas –, conta com a complacência da velha imprensa. Tamanha criminalização talvez explique a nota publicada no sítio Comunique-se nesta quinta-feira (6): “Equipe da Globo é hostilizada e impedida de cobrir manifestação dos garis”.

Segundo a notinha, “na tarde dessa quarta-feira de Cinzas, cerca de 200 garis participaram de uma manifestação em frente à sede da Comlurb, na Tijuca, e fecharam a Rua Major Ávila por cinco horas. De acordo com o jornal O Globo, durante o protesto, uma equipe de reportagem da TV Globo, que fazia a cobertura do ato, foi hostilizada pelos grevistas e acabou sendo obrigada a deixar o local”. A exemplo do restante da imprensa patronal, o sítio faz questão de criticar a paralisação. “Como consequência da greve, montanhas de lixo podem ser vistas em vários pontos da cidade. A quantidade de detritos ocupa calçadas, dificultando a passagem de pedestres. Além do mau cheiro, que também incomoda os que seguem em direção ao trabalho”.

Os trabalhadores da Comlurb aproveitaram o Carnaval, quando os serviços prestados são mais sentidos pela população e pelos poderes públicos, para deflagrar a greve por reajuste e melhores condições de trabalho. Eles reivindicam salário de R$ 1.200, mais adicional de insalubridade e vale-alimentação de R$ 20,00. Num primeiro momento, a prefeitura rejeitou dialogar com a categoria. Diante da greve, ela aceitou elevar o salário de R$ 804 para R$ 872,00, mas a proposta foi rejeitada. Já a Justiça considerou a greve “abusiva” e fixou multa diária de R$ 50 mil para o sindicato, que agora diz não participar do movimento. Apesar do cerco, os garis mantêm a paralisação e têm recebido o apoio de setores da sociedade. 

Segundo a Agência Brasil, no irreverente desfile de protesto realizado em plena quarta-feira de Cinzas, que percorreu as ruas do centro do Rio Janeiro, os manifestantes foram aplaudidos por foliões que brincavam nos blocos de rua. Os grevistas também receberam o apoio da direção carioca da CTB, que divulgou uma nota oficial – reproduzida abaixo:

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A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - Rio de Janeiro manifesta seu apoio aos trabalhadores da Companhia Municipal de Limpeza Urbana da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro (COMLURB) e o repúdio à demissão dos trabalhadores grevistas. Conhecidos como garis, o trabalhadores da limpeza urbana carioca, pedem um piso salarial de R$ 1,2 mil; aumento no valor do tíquete alimentação diário para R$ 20 e o pagamento de horas-extras para quem trabalhar nos domingos e feriados, como previsto em lei. Os trabalhadores também exigem melhores condições de trabalho e que as negociações sejam reabertas imediatamente.

Os profissionais da limpeza urbana prestam um serviço essencial para o bom funcionamento da cidade e devem ser tratado com respeito pelo poder público. A CTB-RJ repudia com veemência a demissão dos profissionais garis e defende a reabertura das negociações com readmissão imediata de todos os demitidos.

Repudiamos, também, a truculência e falta de sensibilidade com que a Comlurb vem lidando com o movimento dos trabalhadores. Acreditamos que o diálogo é sempre a melhor forma e consideramos absurda a insensibilidade com a qual a empresa lida com a demissão de trabalhadores e pais de família.

Consideramos que seria importante que a Comlurb reveja imediatamente sua política de intransigência e, ao invés de tentar criminalizar a legítima luta dos trabalhadores, comece a pensar em um plano de valorização para os seus profissionais.

Todo apoio à luta dos garis!

Rio de Janeiro, 05 de Março de 2014
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - Rio de Janeiro


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2 comentários:

marcio ramos disse...

.... se soubessem a força que têm pediam pelo menos uns três mil reais livre mais equipamentos novos para trabalho, melhores condições nos galpões, passe transporte, cultura, motel, rango e tudo que tem direito e é negado e o poder de multar todo fdp que jogar lixo na rua.... etc etc etc...

Fatima Cristina Mendes Magalhães disse...

UMA REFLEXÃO SOBRE A MATERIA PUBLICADA EM 07-3-14 NA FOLHA DE SÃO PAULO INTITULADA "CULTURA DO LIXO" DE AUTORIA DO JORNALISTA RUY CASTRO
Nesta questão de lixo e da greve dos trabalhadores da limpeza urbana da cidade do Rio de Janeiro, com todo respeito ao jornalista Ruy Castro e aos seus escritos pretéritos, no caso, e apenas (vide link acima, da avara FSP digital que não nos permite copiar e colar o texto, tão bobinha que é, quando o google já mostra tudo, e em segundos, do que lhe convier e com o que poderá lucrar...), julgamos que poderiamos focar um pouco mais, talvez, a questão colocada em discussão, ainda que de forma bem simples, em torno do binomio matéria x energia.

E é tão extensa, e profunda (lembrando Betinho, de saudosa memória e seus sonhos, o qual sempre pontuava, integrando-os, sob o ponto- de- vista local e o ponto-de-vista global), é a questão, que não lembrariamos do lixo como um bem de mercado tão-somente ou relacionado à ânsia de se ficar rico com sua exploração ou mesmo da diferenciação de cidadãos do mundo pobre dos cidadãos do mundo rico pela quantidade produzida em kg por dia. Neste último quesito poderiamos dar até uma chance à comparação falando nas proteínas ( ou melhor, da baixa relação carbono nitrogenio típica que é da composição do lixo dos ricos) jogadas fora e que faltam na alimentação dos famintos.

E ainda aí poderíamos dizer que eles - os famintos- são tantos no mundo e que, assim, o seu multiplicativo em base do percapta poderia iguala-los aos ricos na base quantitativa global. O que talvez queira dizer, em sintese, que lixo é lixo, seja do pobre, seja do rico - todos seres humanos produtores- pois agride o ambiente e pode causar doenças, alem de - num chamado ao senso estético - numa cidade tão linda, como o é o nosso Rio de Janeiro, não combinar com o relevo do verde nas montanhas, com as flores explodindo tantas cores, com a areia branquinha bordando o azul do mar.

Solução pra este último caso, sabemos que os mais abastados sempre tem: afinal, não é por acaso que os lixões ficam sempre na periferia onde moram os mais pobres entre nós, obrigando os caminhões a realizarem o transporte do lixo em base úmida(!) por longas distancias, queimando diesel à vontade, é verdade, mas preservando o senso estético daqueles que o produzem em maiores quantidades; tudo, é claro, cruelmente compatibilizado às nossas desigualdades municipais, estaduais, regionais, existentes em nosso país.

E isso sem falar, acima de tudo, da energia despendida pelo corpo do trabalhador da limpeza publica, que é o gari, como vulgarmente o chamam, a troco de uns trocados de salário no fim do mês pra alimentar a familia, pra pagar a luz, a agua, pra vestir, pagar a moradia, comprar os livros e os cadernos dos filhos. E sabemos ainda que essa energia toda, empregada num trabalho duro, não se dissipa, assim, à toa; um dia o corpo sentirá a perda da saúde, ironicamente, de quem tanto fez pela saúde dos demais.

Fica, assim, pra nós determinado que o lixo é materia que sobra da atividade humana e que consome energia do ambiente, dos trabalhadores da limpeza urbana, da nação que importa mais frações de um ouro que dizem ser negro. E que, acima de tudo, é um agente de difusão de doenças. E a ironia - a maldade que sempre a acompanha - é tanta que esta matéria sobrante, que poderia gerar energia e trabalho em condições de dignidade, se espalha por entre as coisas belas de nossa cidade nos mostrando o quanto somos incapazes de compreender - e, sobretudo, de encontrarmos soluções justas - para coisas tão simples, e comuns, típicas de nossa existencia humana.

Todo o nosso apoio -e solidariedade - às reivindicações dos trabalhadores da limpeza urbana de nossa cidade!