Na manhã desta terça-feira (14), na sala de reuniões do
quarto andar do Palácio do Planalto, a presidenta Dilma Rousseff concedeu uma
entrevista exclusiva para um grupo de blogueiros. Participaram da coletiva Maria
Inês Nassif, Cynara Menezes, Paulo Moreira Leite, Renato Rovai e Luis Nassif. A
conversa foi franca, elucidativa e bem descontraída. Durou cerca de uma hora e
meia e ainda teve mais outros 40 minutos de conversa informal – que incluiu
literatura, filmes de preferência e algumas amenidades. No geral, a presidenta
se mostrou muito segura, convicta das ações do seu governo e confiante no
futuro. Confesso, porém, que sai bastante preocupado da entrevista em Brasília.
Sobre um tema que está assombrando os trabalhadores – o da ampliação
da terceirização, que teve seu projeto de lei aprovado na semana passada pela
Câmara Federal –, Dilma foi evasiva. Afirmou que as mudanças não devem afetar
os direitos trabalhistas e previdenciários, nem retirar a responsabilidade das contratantes
sobre as irregularidades das terceirizadas e nem afetar a arrecadação de
impostos – tudo o que já está embutido no projeto de lei. Mas evitou dizer qual
será a postura do seu governo caso a proposta seja aprovada no Senado Federal. “Não
discuto a questão do veto”. Insinuou que isto seria demagogia e não
corresponderia à realidade política do país!
Já sobre a questão da regulação econômica da mídia, a
presidenta reafirmou a sua defesa da tese. Mas jogou um balde de água fria
neste caminho. “No momento não há a menor condição de abrir essa discussão, por
conta de toda a situação [política]”. Ela até elogiou a sociedade civil pela
coleta de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular sobre o tema.
Mas disse desconhecer o conteúdo da proposta, que foi elaborada há dois anos
pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). Ou seja: jogou
novamente o assunto para a sociedade civil, isentando o Estado de qualquer atitude
política!
Em apenas um tema a presidenta foi enfática – e até solicitou
que fosse tratado. Dilma exibiu sólidos argumentos contra a proposta
conservadora de redução da maioridade penal. Garantiu que isto representaria um
grave retrocesso civilizatório e não resolveria o problema da insegurança no
país. Já com relação aos protestos golpistas de março e abril, organizados por
grupelhos fascistóides e com descarado apoio dos barões da mídia, a presidenta
novamente evitou a polêmica. Afirmou que são “normais”. Ela ainda minimizou as
iniciativas desestabilizadoras da oposição direitista derrotada nas urnas, que
tenta insistentemente realizar um terceiro turno das eleições. “São normais”.
A presidenta Dilma Rousseff, com toda a sua experiência e
conhecimento, mostrou-se muito segura e confiante. Já eu deixei o Palácio do
Planalto bem preocupado! A sensação é de que o governo está sentado em cima de
um vulcão em erupção e, tecnocraticamente, ainda não se deu conta! Espero
estar totalmente errado.
*****
Leia também:
3 comentários:
Espero que vc esteja errado. Vc , eu e tantos outros.
Geraldo Jr.
Uma coisa é certa, se a Dilma e o PT entrarem com uma proposta de redemocratização da mídia agora, é provável que seja a última ação deste governo... os tranqueiras, marinhos e afins não poupariam esforços em conjunto para destruir o governo, com o argumento que a "ditadura do PT" quer tirar a liberdade de imprensa para depois tornar o país comunista... e sabemos que grande parte do povo engoliria isto com muito entusiamo.
Melhor ficar quieto por enquanto...
Prezado Miro, creio que sua matéria está mais realista.
Ontem, sobre a primeira matéria do Portal Fórum (com a entrevista de Dilma aos blogueiros), postei um pequeno comentário no meu blog, transcrevendo parte da matéria, com link para o restante.
E joguei meus comentários lá no Portal. Vão aí:
REGULAÇÃO DA MÍDIA NO BRASIL TEM UM PROBLEMA: O GOVERNO NÃO TEM FORÇA PARA FAZER O BARCO ANDAR
De Guaiaquil (Equador) - Nem o governo, nem tampouco o movimento democrático, popular e de esquerda. E nem os dois juntos. A presidenta Dilma se esforça, patina, e não consegue ser afirmativa e objetiva em coisa alguma. Foi isso que veio à cabeça deste jornalista/blogueiro ao ler a matéria do Portal Fórum sobre a coletiva desta terça-feira aos seis blogueiros chamados progressistas (ou “sujos”). Os companheiros do Portal Fórum, com muito talento e boa vontade, até conseguiram achar um título positivo/afirmativo:
Dilma aponta iniciativa popular como caminho para pautar a regulação da mídia
Mas talvez por estar mais próximo de uma realidade política bem distinta, eu esteja prenhe de pessimismo diante das coisas do Brasil, conforme se pode depreender do título que usei acima. Transcrevo então a abertura da matéria e a parte sobre a regulação da mídia, que é a que mais me interessa. No fim deixo o link para quem quiser ler todo o material:(...)
Abraços, Jadson
Postar um comentário