Por Umberto Martins, no site da CTB:
Mais um fato para desmentir o "mito" da extrema-direita, que ganhou a eleição com o discurso demagógico de que ia acabar com a corrupção e a velha política, agitou a manhã desta quarta-feira. O ministro que Bolsonaro indicou para destruir o meio ambiente, Ricardo Salles, acordou com a Polícia Federal no calcanhar, consumando um mandato de busca e apreensão em três diferentes imóveis que frequenta com regularidade como residência ou local de trabalho.
O ministro da “boiada”
Salles, que ganhou (má) fama internacional pela famosa “boiada” que prometeu na já histórica reunião presidencial de 22 de abril de 2020, teve seus sigilos bancários quebrados no âmbito de uma operação conduzida pela PF que investiga a exportação ilegal de madeira para Estados Unidos e Europa.
Quem autorizou a quebra de sigilo foi o ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que também determinou o afastamento do presidente do Ibama, Eduardo Bim, assim como nove outros agentes ligados ao Instituto e ao Ministério do Meio Ambiente.
O Supremo ordenou ainda a suspensão imediata da aplicação de um despacho emitido em fevereiro de 2020, que permitiu a exportação de produtos florestais sem a necessidade de emissão de autorizações de exportação.
“Estima-se que o referido despacho, elaborado a pedido de empresas que tiveram cargas não licenciadas apreendidas nos EUA e Europa, resultou na regularização de mais de 8 mil cargas de madeira exportadas ilegalmente entre os anos de 2019 e 2020”, informou a PF
Ligações criminosas
As ligações entre Salles e sua equipe, incluindo a do Ibama, e empresários envolvidos com o desmatamento, grilagem, queimadas e exportação ilegal de madeira tornaram-se notórias e escandalizaram a opinião pública mundial, manchando ainda mais a imagem do Brasil e causando prejuízos econômicos, conforme denunciou a senadora Katia Abreu.
O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva denunciou o ministro ao STF afirmando que dispunha de indícios e provas de sua ligação com os contrabandistas. O ministro Alexandre Moraes mandou investigar e os fatos da manhã desta quarta-feira (19) indicam que Ricardo Salles foi encurralado e está em maus lençóis.
Indicado pelo ministro, o presidente afastado do Ibama pautou sua gestão pela flexibilização e esvaziamento da fiscalização, desmantelando o órgão e abrindo as porteiras para a “boiada” prometida por Salles a madeireiros fora da lei, afastando os técnicos e especialistas do órgão e colocando no lugar pessoas inexperientes e sem a devida competência para os cargos.
“A situação que se apresenta é de grave esquema criminoso de caráter transnacional. Esta empreitada criminosa não apenas realiza o patrocínio do interesse privado de madeireiros e exportadores em prejuízo do interesse público, notadamente através da legalização e de forma retroativa de milhares de carregamentos de produtos florestais exportados em dissonância com as normas ambientais vigentes entre os anos de 2019 e 2020 mas, também, tem criado sérios obstáculos à ação fiscalizatória do Poder Público no trato das questões ambientais com inegáveis prejuízos a toda a sociedade”, alega a PF, em trecho reproduzido na decisão de Moraes.
Queridinho do Clã
A torcida contra Ricardo Salles é grande, ele já teve a cabeça pedida por políticos do Centrão e não conta com muitos aliados dentro do Palácio do Planalto. Balançou desde a divulgação do vídeo que registrou a reunião ministerial realizada em abril do ano passado, mas ainda não caiu porque pertence à ala mais fundamentalista do bolsonarismo, é amiguinho dos filhos e queridinho do Clã Bolsonaro.
Salles e Jair Bolsonaro compartilham as mesmas opiniões reacionárias e funestas sobre meio ambiente, direitos humanos, direitos dos índios e relação com a Natureza e a Amazônia. Ambos são responsáveis pelo aumento exponencial das queimadas, do desmatamento e da opressão das comunidades indígenas e quilombolas. Agora Salles parece com os dias contados na Esplanada dos Ministérios, vai ter que enfrentar a Justiça e pode parar na cadeia.
De todo modo, este não é o primeiro nem o único escândalo de corrupção que ronda o presidente. Já vimos outros do gênero ou com parentesco como a rachadinha nos gabinetes de Flavio Bolsonaro, os cheques do miliciano Queiroz para a primeira dama, o orçamento secreto de R$ 3 bilhões para comprar votos no Congresso, sem falar nas ligações perigosas com a milícia carioca e até com assassinos da vereadora Marielle Franco.
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