sábado, 19 de março de 2011

Significado da visita de Obama ao Brasil

Reproduzo artigo de Reginaldo Nasser, publicado no sítio Carta Maior:

Qual é o real significado, em termos de política externa, da visita do presidente da república imperial? Até que ponto devemos levar em consideração a sua fala? Em 2009, Obama fez o famoso discurso do Cairo que deverá entrar para a história da diplomacia como um dos mais importantes exercícios de retórica, pois o apoio aos ditadores e a Israel continuou como nunca. Como esquecer da carta que enviou ao Presidente Lula instando o Brasil a trazer o Irã para a mesa de negociação e dias depois condenar a “aproximação” dos dois países?

Nesse sentido, creio ser apropriado relembrar os ensinamentos do sociólogo alemão, Max Weber, em texto publicado no início do século XX. Weber advertia que aquele que realmente quisesse encontrar o verdadeiro poder do Estado, não deveria dar tanta relevância para os discursos parlamentares ou para as falas dos presidentes, mas sim observar a forma como é conduzida a administração rotineira do Estado.

Que tal uma passada de olhos sobre os acontecimentos dessa semana e verificar a “rotina imperial” ( 12 a 19 de março)?

Após a derrubada de Mubarak, Obama disse que "era a força moral da não-violência, e não a violência, a força moral que dobrou o arco da história para a justiça”. Entretanto o Pentágono e o lobby da indústria de armas dobraram o arco da história contra os manifestantes pró-democracia no Bahrein. Pode ser mera coincidência, mas é curioso constatar que, após viagem do Secretário de Defesa, Robert Gates, ao Bahreim no dia 11 de Março a Arábia Saudita enviou tropas para aquele pais dando maior consistência ao processo contra-revolucionário com extrema violência.

Os seis Estados membros do Conselho de Cooperação do Golfo (Bahrein, Kuwait, Omã, Qatar, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos) têm fortes ligações com o Pentágono desde os anos 1990. Receberam dos EUA nos últimos quatro anos grandes quantidades de material militar (veículos blindados, aviões, metralhadora e munições) no valor de US$ 70 bilhões. O circulo de poder entre a indústria militar, os Estados do Golfo e o Pentágono inclusive asseguraram uma mudança da doutrina de “mudança de regime ", como no Egito ou Tunísia, para “alteração de regime” a fim de garantir o atual governo.

No dia 18 de março o Center for Constitutional Rights (Fundado em 1966 por ativistas dos direitos civis nos EUA) divulgou um relatório solicitando a administração de Obama a passar da retórica à ação, e a urgência em adotar medidas concretas para cumprir com as suas obrigações internacionais dos direitos humanos. As denúncias versam sobre questões que vão desde a discriminação racial, execuções extrajudiciais até a prática de tortura no Iraque, Afeganistão e Guantanamo (lembram-se da promessa em início de mandato?).

No dia 17 de março em matéria do The Guardian ficamos sabendo que os militares dos EUA estão desenvolvendo um software que permitirá secretamente manipular os meios de comunicação com falsos nomes para influenciar e espionar as redes sociais com o objetivo de combater as “ideologias extremistas”. O porta-voz Centcom, orgão gerenciador do projeto, esclareceu, sem meias palavras, que nenhuma das intervenções será feita em língua inglesa porque seria ilegal!

Na política doméstica, esta cada vez mais claro que Washington perdeu o interesse pelo problema do desemprego. O governo Obama foi derrotado na “guerra de idéias”. Em recente pesquisa de opinião pública, a maioria dos americanos, com razão, já não nota diferença significativa entre democratas e republicanos no que se refere ao debate sobre o deficit. (Paul Krugman The Forgotten Millions, 18/03/ 2011 The New York Times).

Em documentos revelados pelo WikiLeaks tomamos conhecimento de ações do governo norte-americano e seus lobbies para combater a lei do pré-sal e que a Casa Branca pressionou autoridades ucranianas para obstaculizar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes. Portanto, já é hora pararmos com essa ladainha de visita simbólica ou de início de uma nova parceria estratégica.

(*) Professor de Relações Internacionais da PUC (SP) e Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP).

8 comentários:

Sonia disse...

Parabéns ao professor Nasser pelo artigo, muito lúcido.

A presença de Obama no Brasil e seus discursos deixam claro de que ele veio mercadejar, vender ao Brasil e fazer alianças educacionais, mas o fato é que a parceria brasileira com a americana ao eles atuarem aqui, não foi falado e não se sabe se haverá.


Ele enfatizou todo o tempo de gerar emprego nos EUA, mas ele não disse em parceria de que empregos pudessem ser gerados aqui e lá, nem quando falou para os empresários, que ficaram babando ovo.

Olha a visão de vira lata do Brasil, o cara vem ficam todos falando de visita histórica, um blábláblá, mas o que o país reivindica ficou no campo das generalizações.

Baba com os americanos, vendem matéria prima para os chineses, acham que está tudo bem. Se não mudarem a desindustrialização vai intensificar no país e eles aplaudem. Ou estou maluca ou essa gente entende de fato de comércio, viu?

Fazer negócio com o Brasil é literalmente negócio da China, sem dúvida.

Sonia disse...

Os EUA não deram garantias nenhuma de que deixaram o protecionismo para os produtores brasileiros entrarem lá. Primeiro porque não depende de Obama. Já pensou um governador republicano ter seus empresários batendo a porta junto com parlamentares por não receberem mais os subsídios para o milho, a soja e o algodão. E como fica, os EUA que precisam dar emprego a estas pessoas?

Sim, porque acabando o subsídio decano, haverá desemprego. Então, na crise que estão, não vão dar, pois prevalecerá o protecionismo. Se não davam em tempos de vacas gordas não é agora que darão.

Vamos ver vária Dohas emperradas porque os americanos não farão concessão. E o Brasil? Não conseguirá ter uma postura firme com a Vale para parar de vender matéria-prima e exportar valor agregado. Desde o governo Lula vemos esta novela e a coisa não se resolve.

Aliás, nem os royalties dos minérios que são uma merreca fingem que não veem.

Sonia disse...

Eu não entendo essa rasgação de seda da mídia nativa é o "simbólico" nisso. Agora sugar, sugar, sugar e continuar sugando e dar o mínimo é símbólico. Isso é idiotizar demais a pessoa.

Então, quando virem, o país voltou literalmente ao Pau Brasil como disse o Ricúpero. Sem nacionalismos, mas é preciso proteger a indústria nacional porque ela também gera emprego aqui. Os americanos perderam muito seus postos de trabalho para a China e hoje andam pelo mundo a mercadejar porque sabe que os chineses ocupam espaços.

O Brasil não procura fortalecer. Anteontem vieram uns coreanos e chineses investirem na Bahia, estão interessados em alimentos.

Fica a dúvida, será que vão investir mesmo em indústrias no interior baiano para que se exporte com valor agregado, ou será mais uma força de exportação de matéria-prima?

Bem, há uma região na Bahia que conhece muito bem a experiência de exportar matéria-prima sem valor agregado, quando uma doença qualquer dá na plantação, é o fim dessa riqueza se não houver o combate.

O agronegócio é importante, mas é preciso industrializar, favorecer a agricultura familiar não com matéria prima, mas tornarem esses lugares como setores produtivos, também.

São vários desafios, mas me causa repúdio ver uma coisa dessa, com toda essa rasgação de seda em que a realidade é outra.

Todas as reivindicações que Dilma fez, nos pontos das contradições que realmente interessa ao país, esteve na pauta da Rodada Uruguai e na Rodada Doha e até hoje não saiu.

Eu não entendo as plumas, se não há "win win', como se propõe crer que há. Não entendo a bolsa de Nova York cotar cacau, se não um pé nos EUA, por exemplo.

E o que as empresas americanas ganharão com a Copa? E as fraudes das licitações,por exemplo, o super faturamento do maracanã, que já foi divulgado?

Carlos disse...

Miro,

Se você conseguir dar uma verificada na mídia americana e europeia verá que a visita de Obama não tem visibilidade nenhuma, a exceção da nota de rodapé do WP; mas, a cobertur do ataque à Líbia está em todos.

Mas aqui no Brasil parece que Deus veio a Terra, destaque para a babaovice da Globo.

Unknown disse...

Durante a campanha e eleito presidente, depositei confiança no Obama, porque os EUA precisava trlhar outro caminho e acreditei que Obama, com seu carisma e inteligencia poderia, que também me pareceu capaz de declinar qualquer esquema de lobby.

Mas, não demorou muito para Obama mostrar sua verdadeira face e a que realmente veio - "Quem muito fala, pouco faz.". Ele é mais um presidente que tá fazendo a lição dos seus professores - lobby do petróleo, armas - que fica falando, falando, teorias em cima de teorias e ele infelizmente não percebeu que essa cola não causa mais efeito algum, a não ser irritação e desconfiança.
O julgava inteligente, e ele visita alguns países da AL, e não percebe que "enquanto voce está indo com o milho eu estou voltando com o fubá".

raffaeldantas disse...

Eu acho meio complicado fazer parceria estratégica com quem tem objetivo de te sabotar.

Notícia em Verso disse...

É a primeira visita do atual presidente norte-americano
Negro quebrando paradigma, como nossa mulher, este ano
Segue os mesmos passos de Bush, Clinton e outros tantos
Nada de bate-papo, cafezinho. Só assunto sério por enquanto

“É a economia, estúpido!” Frase célebre e inteligente
Veio firmar ao menos 10 acordos bilaterais com a gente
Além de estreitar as relações estremecidas no governo anterior
Quando o Brasil foi simpatizante dos grandes tiranos do exterior

A China agora é o maior parceiro comercial do Brasil
Mas nos Estados Unidos, essa derrota ninguém engoliu
Querem de volta o 1º lugar que tinham com vantagem total
E Dilma, claro, pressiona por equilíbrio na balança comercial

Além disso, na ONU cobramos uma vaga permanente
E exigimos posicionamento dos EUA, até agora indiferente
Acenou com simpatia, mas sem resposta partiu para o Rio
De onde dará sequência à sua agenda, tal qual se previu

O helicóptero, de tão grande, pousou em campo de futebol
Antes, atendeu tietagem: foto para Paes, com o filho menor
O discurso para o povão tinha o Huck de apresentador convidado
Foi desviado para o teatro. Há segurança para o chefe de estado?

http://noticiaemverso.com
twitter: @noticiaemverso

Lula }Dîas disse...

É triste ver que a Globo obrigou seus contratados, inclusive atores negros, a comparecer e tecer elogios ao marionetes dos falcões, símbolo maior do maior país terrorista do planeta, que pratica crimes em todos os cantos do mundo e faz discurso hipócrita de paz e segurança. Lamentável.