Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
A repercussão internacional da prisão do ex-presidente Lula, inicialmente subestimada, promete gerar um incômodo crescente para o Brasil, com mais personalidades e organizações defendendo seu direito de ser candidato. Nas últimas horas houve a manifestação de seis ex-chefes de Estado e de governo europeus condenando sua prisão e defendendo sua candidatura, um manifesto similar de parlamentares daquele continente e a publicação de um artigo de Lula no jornal francês Le Monde. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, acusou o golpe emitindo uma truculenta nota de censura aos ex-governantes.
Os ex-governantes foram François Hollande, ex- -presidente da França, José Luis Zapatero, ex-presidente da Espanha, Massimo D´Alema, Enrico Letta e Romano Prodi, ex-presidentes do conselho de ministros da Itália, e Elio Di Rupo, ex-premiê da Bélgica. Em nota, disseram “apelar solenemente para que o presidente Lula possa concorrer livremente perante o sufrágio do povo brasileiro”. Fora do poder, falaram como pessoas físicas, exercendo direito universal à opinião. A censura do chanceler foi tosca, lembrando que perderam “audiência em casa” (porque perderam eleições) e qualificando o gesto como “preconceituoso, arrogante e anacrônico”.
Ontem circulou o manifesto “Lula e o Brasil, uma situação alarmante”, subscrito por mais de 50 parlamentares europeus de diferentes partidos. Em seu artigo no Le Monde, “Porque quero voltar a ser presidente”, Lula recordou os êxitos de seu governo, falou da condenação por um apartamento “no qual nunca dormi, do qual nunca tive a propriedade, a posse, sequer as chaves” e da decisão de concorrer novamente, “diante do desastre que se abate sobre o povo brasileiro”.
Em missa que celebrou também ontem, o papa Francisco proferiu homilia em que alguns petistas viram uma referência indireta a Lula. Segundo a transcrição da agência Vatican News, referindo-se às intrigas contra Jesus e os apóstolos, ele disse num trecho que o método é usado ainda hoje, na vida política: “A mídia começa a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e a difamação essas pessoas ficam manchadas. Depois chega a justiça e as condena e, no final, se faz um golpe de Estado”.
Em relação ao papa, trata-se de uma hermenêutica, mas a campanha lá fora em defesa de Lula, o presidente que deu ao Brasil sua maior projeção internacional, deve se intensificar, dando trabalho ao chanceler, se ele seguir disposto a rebater todas as manifestações em defesa do prisioneiro da Lava Jato.
Juízes da esquina
A história é conhecida. Contrário ao AI-5, o vice-presidente civil Pedro Aleixo explicou suas razões ao general-presidente Costa e Silva: “O problema não é o senhor, é o guarda da esquina”.
O juiz Sergio Moro conduz a Lava Jato escorado numa espécie de AI-5 que lhe permite atropelar o devido processo legal em nome do combate à corrupção. Ontem um juiz de Campinas decidiu, não com base na lei e sim na economia de gastos, pelo corte dos seguranças e assessores a que Lula tem direito como ex-presidente. A pessoa física está presa mas sua representação política continua sendo feita pelo Instituto que leva seu nome. Nele atuam os assessores. Mas a conta é do STF, que não contendo Moro, estimulou o surgimento de justiceiros da esquina.
Freio de mão
Em resposta direta aos governadores que se movimentam em defesa do apoio a Ciro Gomes, as bancadas petistas da Câmara e do Senado emitiram nota reafirmando compromisso com a candidatura de Lula. O líder da minoria, senador Humberto Costa, foi mais longe. “Ainda que Lula não possa ser candidato, um partido que governou o país por 13 anos, tem grandes bancadas e cinco governadores tem o dever de apresentar um nome próprio. A unidade será necessária no segundo turno, com quem chegar lá, mas forçar esta discussão agora é atropelo inaceitável”.
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