sexta-feira, 22 de junho de 2018

Julgamento de Lula: melhor não sonhar!

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

Se os petistas já alimentavam esperanças com o julgamento, no dia 26, do pedido de efeito suspensivo da prisão do ex-presidente Lula, é natural que elas tenham aumentado com a absolvição da senadora Gleisi Hoffmann.

O novo recurso será julgado pelos mesmos ministros da Segunda Turma que inocentaram Gleisi das acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sustentando que elas se baseavam apenas em delações premiadas inconsistentes e contraditórias.

Ocorre que no caso da senadora, que tem direito ao foro especial, eles julgaram o mérito da acusação.

No caso de Lula, não tratarão do mérito, e podem esbarrar na decisão tomada em abril, que levou à sua prisão, alegando a vigência das prisões após condenação em segunda instância.

É certo que o plenário impôs uma derrota à Lava Jato com a proibição das conduções coercitivas, o arresto de investigados sem prévia convocação para depor.

A absolvição de Gleisi foi outra lambada na Lava Jato e no juiz Moro, uma reprimenda às condenações lastreadas apenas em delações.

Todos os ministros da turma disseram que não era possível condená-la por corrupção e lavagem de dinheiro com base apenas no que disseram os delatores, sendo que um deles, Paulo Roberto Costa, mudou sua versão seis vezes.

O relator, ministro Fachin, entendeu que houve caixa dois mas só foi seguido por Celso de Mello.

No dia 26, entretanto, estes mesmos ministros não estarão julgando se Lula é inocente ou culpado no caso do tríplex do Guarujá, pelo qual foi condenado por Moro e depois pelo TRF-4.

Vão examinar um pedido de suspensão temporária da prisão, até que a defesa tenha acesso ao acórdão, ainda não publicado, da negação do primeiro habeas corpus pelo plenário, na madrugada de 5 de abril, por 6 votos a 5.

Ali a maioria defendeu a prevalência das prisões em segunda instância.

O voto decisivo foi o de Rosa Weber, que embora dizendo-se contrária à prisão em segunda instância, optou pelo respeito à decisão de 2016 na qual foi voto vencido. Dos cinco ministros da Segunda Turma, quatro votaram pela concessão do habeas corpus a Lula e são contrários à prisão antes de esgotados todos os recursos, mas foram vencidos: Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. Nem por isso, pode-se concluir que agora repetirão aquele voto.

Quando julgaram um segundo recurso da defesa de Lula, alegaram que, apesar das posições individuais, deviam observar o que decidiu o plenário em abril.

É razoável supor que voltem a dizer isso. De modo que não parece haver solução para Lula enquanto o STF não examinar as ADCs que questionam a constitucionalidade das prisões em segunda instância, uma vez que a Constituição diz que ninguém será considerado culpado até o completo trânsito em julgado. O erro, como disse o ex-presidente do STF Nelson Jobim, foi ter julgado o HC antes da questão de fundo. Mas assim determinou a ministra Cármen Lúcia.

Na carta de congratulações que escreveu ontem a Gleisi, Lula disse que “o STF reagiu claramente diante da indústria das delações, desmoralizando o discurso e a prática da Lava Jato”.

Ele também foi condenado por Moro tendo como fundamento principal a delação de Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS, que disse “ter sido informado” de que o tríplex “estava reservado” à família do ex-presidente.

E que os gastos com a reforma teriam sido descontados em um acerto de propinas com o PT.

Fora isso, Moro invocou a visita que ele fez ao imóvel com dona Marisa e um documento não assinado, fatos que se encaixam na versão de Lula: o imóvel foi-lhe oferecido, visitou-o, achou caro e inadequado e recusou-o.

O eixo da condenação é, pois, uma delação mas isso não virá ao caso no dia 26.

Por tudo, o PT combina esperança e ceticismo. “Vejo o STF emitir sinais contra abusos e violações, e isso traz esperança, mas aguardemos”, diz o deputado Wadih Damous.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que fique bem claro aos sonhadores do PT (e lulistas de modo geral):Lula não poderá concorrer em 2018! E mais:é recomendável parar com a sistemática campanha de queimação de Ciro Gomes, com motivações claramente sectárias e exclusivistas, fazendo, na prática, o trabalho que atende aos propósitos da direita. Há gente na esquerda que confunde a força do golpe com a força do governo golpista. Esse é um erro fatal. A direita terá candidato e o mesmo não será menos difícil de vencer do que em 2014. O Brasil continua sendo um país polarizado, dividido entre dois campos. O PT é um partido estigmatizado, com índice de rejeição muito superior a 2014 (embora a campanha mediática não tenha conseguido destruí-lo como pretendia). No presente momento, não existe nenhum nome melhor que o de Ciro para derrotar o candidato que representará a plutocracia financeira que encomendou o golpe. O projeto de Ciro não é o projeto do PT. Porém, sua eventual vitória representará uma derrota dos golpistas e uma oportunidade para que o campo popular e democrático acumule forças, ampliando e fortalecendo os chamados movimentos sociais, as lutas não institucionais das quais o PT se divorciou. Em última análise, é preferível (para o povo, para os tra balhsdores, para os interesses democráticos e nacionais) fazer oposição ao governo de Ciro do que ter que continuar resistindo aos ataques de um ptojeto neoliberal fortalecido com a vitória nas urnas, como acaba de ocorrer na Colômbia. Darcy Brasil Rodrigues da Silva.

Sérgio Dutra Vianna de Oliveira disse...

Fachin já deu um jeito de acabar com as esperanças conforme alertou a Tereza Cruvinel.
Contou com a ajuda da vice-presidente do TRF/4ª que emitiu decisão nesta mesma sexta-feira não acatando o pedido de recurso da defesa de Lula ao Supremo.
Em poucos minutos depois dessa atitude da vice-presidente do TRF/4ª o ministro Fachin considerou prejudicado o julgamento marcado para a próxima terça-feira, 26 de junho.
E assim, de golpe em golpe, "Com o Supremo, com tudo", vai sendo realizada a farsa institucional brasileira que decidiu por rasgar a Constituição, as Leis Orgânicas e Ordinárias, o Código Penal e o Código de Processo Penal.
Vale tudo para manter Lula preso e fora das eleições de outubro.
A Canalha vai comemorando seus golpes com novos golpes.
Até quando o brasileiro ficará passiva a tudo isso?