É muito conhecido o relato bíblico do massacre de crianças que Herodes mandou que fosse feito, em Belém, há dois mil anos. Atravessou os milênios como o relato de um grave crime contra a humanidade. Segundo os relatos mais severos, 10 mil crianças teriam sido vítimas da sanha de Herodes.
O que ocorre no Brasil, sob o governo golpista dirigido pelo presidente Michel Temer supera, em termos numéricos, aquele morticínio.
O austericídio do governo golpista, que sonega recursos para a área social (saúde, educação, saneamento básico, Bolsa Família, principalmente) e corta investimentos produtivos para fomentar o crescimento econômico, paralisa a economia e está na base do enorme desemprego e subemprego que afligem e empobrecem os brasileiros.
Sob a draconiana política econômica de Michel Temer, a extrema pobreza voltou aos níveis que tinha em 2002, no final do governo de Fernando Henrique Cardoso – a fome aumentou e a ameaça do Brasil voltar ao Mapa da Fome da ONU (do qual saiu em 2014) é cada vez mais concreta. Há especialistas que preveem que a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), a ser divulgada no final de 2018, trará números dramáticos: calculam que indicarão que mais de 10 milhões de brasileiros foram atirados à situação de extrema pobreza nestes dois anos posteriores ao golpe de 2016.
A consequência mais clamorosa deste empobrecimento da população, que resulta diretamente da ação política do governo que favorece apenas aos muito ricos e à especulação financeira, é o crescimento na taxa de mortalidade infantil. Em 2015 houve 5.595 mortes de crianças menores de 4 anos de idade; em 2016, aumentou para 6.212 – um crescimento de 11%. Entre as crianças de 1 mês de vida a 1 ano de idade, o aumento foi de 2%: o número de crianças mortas passou de 11.001 para 11.214.
As crianças morrem por falta de atendimento médico adequado às mães durante a gravidez e aos bebês em seu primeiro ano de vida. E também pela alimentação deficiente – em 2017 a taxa de desnutrição crônica de crianças até cinco anos foi de 13,1%. Não se pode esquecer ainda a volta de doenças tratáveis, há muito erradicadas, e que reaparecem com força. Uma das principais causas da mortalidade infantil são simples diarreias, que aumentaram 12% entre 2015 e 2016, entre as crianças de até 5 anos de idade.
Tudo isso fez com que o Brasil recuasse um quarto de século e a taxa de mortalidade infantil, que caía desde 1990, voltasse a crescer em 2016. Nos 25 anos entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade infantil caiu de 51,6 em cada mil nascidos para 13,8 por mil. Voltou a crescer entre 2015 e 2016, e a perspectiva é de piora ainda maior.
“A austeridade é a principal causa da mortalidade infantil porque nos últimos anos houve uma diminuição nesse número que esteve ligada a um aumento de gastos públicos com saúde, com segurança alimentar, meio ambiente e com saneamento básico. Ou seja, essas áreas são fundamentais para a queda do indicador de mortalidade infantil. Mas, a partir de 2015, com as políticas de austeridade, houve uma inversão em ambas as trajetórias, ou seja, a redução no gasto com saúde e aumento da mortalidade infantil”, assegura o professor de economia da Unicamp Pedro Rossi em entrevista ao Portal Vermelho.
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