Por Mino Carta, na revista CartaCapital:
Não, não vou falar de Lord Keynes. A memória do grande pensador inglês é de exclusiva competência do professor Belluzzo, neste momento indignado nos precórdios com a presença do presidente eleito na festa da vitória do Palmeiras no Brasileirão. Eu, torcedor palestrino nos meus tempos escolares, lamento que a taça tenha sido erguida pelo tonitruante capitão, bem como as suaves carícias recebidas por ele de Luís Felipe Scolari.
Vou é falar de Henry Ford, um empresário da época liberal do capitalismo, e não confundir com neoliberal. Não sei se Bolsonaro o consideraria “vermelho”, já que pagava bem seus operários.
A Ford, Antonio Gramsci fez referência em suas Memórias do Cárcere ao definir sua atuação como fordismo, simbolizado pelo Modelo T lançado pela Ford no início da década de 20 e que se tornou o Fusca daquela quadra. Tratava-se de um carro de excelente desempenho, acessível aos trabalhadores que o fabricavam. Dali partia a espiral benigna, da produção ao consumo.
Raros foram os capitalistas brasileiros dispostos a aprender a lição que o Barão de Mauá, exemplar único e admirável, aprendera muito antes. Um livro intitulado A Industrialização de São Paulo, do brasilianist Warren Dean, conta com precisão e elegância a trajetória dos pioneiros, o italiano Francesco Matarazzo, o português Manuel Inácio, a quem se seguiu a dinastia dos Ermírio de Moraes, e o austro-inglês Jorge Street, o mais interessado no bem-estar dos seus empregados. Foi Getúlio Vargas, entretanto, quem cuidou de lançar as bases da industrialização do País ao longo de um período histórico que o viu como ditador e, cinco anos depois, como presidente democraticamente eleito.
Volta Redonda e Petrobras são obra de Getúlio, as leis trabalhistas, a carteira de trabalho, o salário mínimo, naquele tempo de valor de compra superior ao atual. Nem por isso foi possível criar uma agremiação política de esquerda, como se deu em vários países, do laborismo ao socialismo e ao comunismo, graças à participação decisiva de um proletariado consciente da sua força. No Brasil da casa-grande e da senzala seria impossível chegar a tanto, apesar do empenho idealista de Luiz Carlos Prestes.
O golpe de 1964 destruiu as perspectivas de modernização descortinadas pelo governo de João Goulart.
Ao desastre dos dias de hoje, 64 oferece notável contribuição. O fim da ditadura abre o caminho de uma falada redemocratização, cujo mérito foi a Constituição de 1988, mas cujos pecados foram os erros políticos do governo Sarney, a tragédia econômica e as bandalheiras do governo de Fernando Henrique depois do assombro collorido. Veio Lula e tentou a volta por cima com alguns resultados importantes, mas tanto o ex-metalúrgico quanto Dilma Rousseff governaram cercados pelo ódio de classe e a oposição maciça da mídia nativa.
O golpe de 2016 representou o arremate fatal e, com a inestimável colaboração de um Judiciário disposto a legalizar a ilegalidade, prepara com desvelo a eleição de Bolsonaro e a instalação da demência como forma de governo. Nunca o Brasil viveu situação tão grave e, só aparentemente, tão absurda. De fato, é o último capítulo possível de uma história de 518 anos de predação imposta pela lei do mais forte, obviamente irresponsável, tanto mais em um país tão dotado pela natureza.
Pagamos pela falta de quem fosse realmente capaz de nos levar a emergir da Idade Média para a Idade da Razão. A cultura escravocrata está em vigor como nunca, hoje nas mãos de um governo pronto a acentuá-la, inclusive pelo fortalecimento das políticas neoliberais. Isso tudo, entre outros relevantes aspectos da conjuntura, impede que mesmo brasileiros supostamente letrados entendam o quanto estamos distantes da contemporaneidade.
As inquietações europeias, quando não as revoltas, resultam dos monstros criados pelas políticas neoliberais portadoras da desigualdade. Talvez estejamos no início conturbado de uma nova era nascida com fúria como revolução antineoliberalismo, enquanto um Brasil exportador de commodities embrenha-se cada vez mais na selva.
Vou é falar de Henry Ford, um empresário da época liberal do capitalismo, e não confundir com neoliberal. Não sei se Bolsonaro o consideraria “vermelho”, já que pagava bem seus operários.
A Ford, Antonio Gramsci fez referência em suas Memórias do Cárcere ao definir sua atuação como fordismo, simbolizado pelo Modelo T lançado pela Ford no início da década de 20 e que se tornou o Fusca daquela quadra. Tratava-se de um carro de excelente desempenho, acessível aos trabalhadores que o fabricavam. Dali partia a espiral benigna, da produção ao consumo.
Raros foram os capitalistas brasileiros dispostos a aprender a lição que o Barão de Mauá, exemplar único e admirável, aprendera muito antes. Um livro intitulado A Industrialização de São Paulo, do brasilianist Warren Dean, conta com precisão e elegância a trajetória dos pioneiros, o italiano Francesco Matarazzo, o português Manuel Inácio, a quem se seguiu a dinastia dos Ermírio de Moraes, e o austro-inglês Jorge Street, o mais interessado no bem-estar dos seus empregados. Foi Getúlio Vargas, entretanto, quem cuidou de lançar as bases da industrialização do País ao longo de um período histórico que o viu como ditador e, cinco anos depois, como presidente democraticamente eleito.
Volta Redonda e Petrobras são obra de Getúlio, as leis trabalhistas, a carteira de trabalho, o salário mínimo, naquele tempo de valor de compra superior ao atual. Nem por isso foi possível criar uma agremiação política de esquerda, como se deu em vários países, do laborismo ao socialismo e ao comunismo, graças à participação decisiva de um proletariado consciente da sua força. No Brasil da casa-grande e da senzala seria impossível chegar a tanto, apesar do empenho idealista de Luiz Carlos Prestes.
O golpe de 1964 destruiu as perspectivas de modernização descortinadas pelo governo de João Goulart.
Ao desastre dos dias de hoje, 64 oferece notável contribuição. O fim da ditadura abre o caminho de uma falada redemocratização, cujo mérito foi a Constituição de 1988, mas cujos pecados foram os erros políticos do governo Sarney, a tragédia econômica e as bandalheiras do governo de Fernando Henrique depois do assombro collorido. Veio Lula e tentou a volta por cima com alguns resultados importantes, mas tanto o ex-metalúrgico quanto Dilma Rousseff governaram cercados pelo ódio de classe e a oposição maciça da mídia nativa.
O golpe de 2016 representou o arremate fatal e, com a inestimável colaboração de um Judiciário disposto a legalizar a ilegalidade, prepara com desvelo a eleição de Bolsonaro e a instalação da demência como forma de governo. Nunca o Brasil viveu situação tão grave e, só aparentemente, tão absurda. De fato, é o último capítulo possível de uma história de 518 anos de predação imposta pela lei do mais forte, obviamente irresponsável, tanto mais em um país tão dotado pela natureza.
Pagamos pela falta de quem fosse realmente capaz de nos levar a emergir da Idade Média para a Idade da Razão. A cultura escravocrata está em vigor como nunca, hoje nas mãos de um governo pronto a acentuá-la, inclusive pelo fortalecimento das políticas neoliberais. Isso tudo, entre outros relevantes aspectos da conjuntura, impede que mesmo brasileiros supostamente letrados entendam o quanto estamos distantes da contemporaneidade.
As inquietações europeias, quando não as revoltas, resultam dos monstros criados pelas políticas neoliberais portadoras da desigualdade. Talvez estejamos no início conturbado de uma nova era nascida com fúria como revolução antineoliberalismo, enquanto um Brasil exportador de commodities embrenha-se cada vez mais na selva.
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