quarta-feira, 18 de julho de 2018

Crianças brasileiras limpam cocô nos EUA

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Apareceu uma novidade ainda mais deprimente em torno das crianças que permanecem aprisionadas em centros de detenção nos Estados Unidos, longe de seus pais -- que tentavam entrar clandestinamente no país.

Além da prisão ser um escândalo absoluto, equivalente a um sequestro, pois ninguém pode ser preso sem culpa formada, o caso atinge milhares de meninos e meninas, menores de idade, que sequer podem ser acusados de cometer qualquer tipo de delito. Graças a uma reportagem do New York Times, sabemos agora que estão submetidos a um regime de crueldade ainda maior.

Crianças com pouco mais de cinco anos realizam trabalhos forçados para ajudar na conservação e cuidados de higiene dos centros em que foram aprisionadas -- inclusive na limpeza dos mictórios. "Eu lavava o banheiro," contou o brasileiro Diego Magalhães, que passou 43 dias num centro de detenção em Chicago."Tínhamos de tirar o lixo cheio de papel higiênico sujo. Todo mundo tinha de fazer isso," disse ele, em entrevista ao jornal.

As crianças têm hora para dormir e acordar. Devem evitar abraços e outras manifestações de afeto que, como qualquer calouro de psicologia pode explicar, representam um conforto e um consolo importantes nessas situações, ainda mais para quem ainda não têm condições de compreender as brutalidades e injustiças do mundo.

O tratamento recorda memórias de personagens contemporâneos que passaram parte da infância em campos de concentração -- ou mesmo prisões brasileiras no período mais duro do regime militar. Do ponto de vista legal, o tratamento contraria noções e valores básicos de nossa época, como o veto a exploração do trabalho infantil, a proibição de maus tratos, a tortura psicológica. Também contraria acordos internacionais sobre a infância, a começar pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança. Numa definição essencial, ali se estabelece o princípio do "Interesse Superior da Criança", segundo o qual toda decisão de governos que envolvem a infância devem "considerar aquelas que oferecem o máximo de bem-estar". Outro ponto diz respeito a "Sobrevivência e Desenvolvimento", pelo qual os Estados-membros da ONU se comprometem a garantir a infância um "desenvolvimento com harmonia nos aspectos físico, psicológico, moral e social".

Um aspecto curioso, nesse debate, é que apenas três países deixaram de assinar a convenção, aprovada em 1989 pela ONU. Duas foram nações africanas, mergulhadas na miséria econômica e do inferno político, Somália e Sudão. O outro não-signatário foi a primeira potência mundial -- o governo dos Estados Unidos, que completava o terceiro mandato republicano consecutivo. Naquele período histórico, os governos de Ronald Reagan e George Bush, pai, se dedicavam a combater os governos comunistas e progressistas no plano internacional, e, no plano interno, desmontar os programas de bem-estar social criados no período Roosevelt na saída da crise de 1929.

A ideologia do momento era o Fim da História, uma celebração da economia de mercado como destino universal da humanidade.

O resultado está aí, nas crianças prisioneiras, que choram longe das mães nos Estados Unidos, onde a mão de obra clandestina é perseguida pelo Estado mas é sempre bem vinda pelas empresas e famílias endinheiradas que buscam mão de obra para o serviço doméstico. Este é o sistema que ajuda a manter os salários nos EUA num patamar baixo, marca permanente do regime de trabalho do país mais rico e um dos mais desiguais do mundo.

Ao deixar os EUA fora da Convenção, postura que seria seguida também pelos governos democratas de Bill Clinton e Barack Obama, a Casa Branca criou um escudo contra ações internacionais, que não podem ser impedidas mas podem ser dificultadas em casos desse tipo.

Em qualquer caso, nada é tão vergonhoso como o silêncio dos governos de países que assinaram o tratado -- sempre em clima de festa -- e assistem em silêncio à humilhação de suas crianças. A gravidade do caso é motivo de denúncia e escândalo. Tirando badulaques e novidades tecnológicas de nossa época, é preciso retornar ao tempo em que a escravidão era uma atividade legalizada para se encontrar cenas tão degradantes.

Não custa lembrar que o sufoco que leva tantas famílias latino-americanas a procurar um refúgio nos Estados Unidos é a outra face da moeda parte do fim da história, aquela diplomacia que inclui uma política deliberada para garantir um domínio colonial sobre povos e países, impedindo seu desenvolvimento e soberania -- sempre em nome do mercado. Depois da pilhagem de riquezas naturais, de atos evidentes de sabotagem a caminhos possíveis para um desenvolvimento autônomo, do empobrecimento forçado da população, as fronteiras são abertas ou fechadas conforme o interesse da metrópole.

Inaceitável, o silêncio do governo Temer e do Itamaraty sobre o tratamento a nossas crianças é compreensível. Pela entrega do pré-sal, as privatizações e a abertura do país ao império, eles são cúmplices e beneficiários do fim da história -- e nada irão fazer para contrariar estes interesses. No Brasil de hoje, o desemprego atinge um recorde histórico, a inadimplência das famílias é motivo de alarme. Conforme o Datafolha, 62% dos jovens gostariam de viver em outro país.

Alguma dúvida?

3 comentários:

Anônimo disse...

Não de hoje que conhecemos as atrocidades, barbaridades, crueldades e outras "dades" de americanos, na América e no mundo. E quem quer ir pra lá tem que ir sabendo o que os espera. Comigo eles nunca vão fazer nada (diretamente) pois indiretamente estão fazendo com o golpe. Sabem por que? Porque lá seria o último lugar do mundo onde poria meus pés. Se quiserem saber o grau de conhecimento de um americano acessem.
https://youtu.be/3xcXmEkoxm0

Carlos disse...

O grau de conhecimento de um americano fez deles a maior nação do mundo. Já o grau de conhecimento de um brasileiro...A fila do visto continua enorme, coisa que talvez vc nem consiga.

henrique de oliveira disse...

Enquanto crianças brasileiras limpam a merda dos americanos , nosso judiciário caga no país inteiro e ninguém tem coragem de limpar , afinal nossas crianças aqui estão sendo exterminadas pelos golpista , melhor limpar merda lá e continuar vivo.