Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
“A cadeira vai ajeitando a pessoa”, disse em recente entrevista o ex-ministro petista e senador eleito Jacques Wagner, afirmando que é ainda cedo para saber se o presidente eleito Jair Bolsonaro representará risco para a democracia.
Ao ser diplomado ontem pelo TSE, juntamente com seu vice, general Mourão, Bolsonaro deu mostras de que o peso do cargo também amolda o eleito às circunstâncias, antes mesmo de sentar-se na cadeira.
Enfrentando um escândalo de precocidade inédita, ele fez ontem o discurso mais conciliador de que se tem notícia. Institucionalizou-se, finalmente.
Após receber a maior votação no primeiro turno, Bolsonaro declarou a manifestantes, em transmissão digital, que os “marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”. Seriam presos ou teriam que se exilar.
Vitorioso em 28 de outubro, não pregou a pacificação do país, como é de praxe naquela hora, não se referiu aos que não votaram nele, e nas primeiras entrevistas, atacou não apenas os adversários, como também a imprensa, fazendo ameaças diretas ao jornal ‘Folha de S. Paulo’, que havia denunciado o esquema de disparos de Fake News por sua campanha, com a ajuda financeira de empresas.
O Bolsonaro que discursou ontem era outro.
“Governarei em benefício de todos, sem distinção de origem social, raça, sexo, cor, idade ou religião”, prometeu ontem o homem que se notabilizou pelo antagonismo com gays, negros e índios, pelo desapreço às mulheres, e pelas referências ao PT e outras forças de esquerda como “inimigos” a serem batidos.
“Aos que não me apoiaram, peço a sua confiança para construirmos juntos um futuro melhor para o nosso país”. Para quem prometia cadeia e exílio, que progresso!
Ele também elogiou a Justiça Eleitoral, que na campanha colocou sob suspeição, falando frequentemente na possibilidade de fraude para evitar sua vitória. Mas acabou dando uma canelada nas mídias tradicionais, ao destacar a força da Internet, dizendo que “o poder popular não precisa mais de intermediação”.
Antes mesmo de sentar-se na cadeira de presidente, Bolsonaro está sendo “ajeitado” pelas circunstâncias.
Nunca um presidente foi alvo de um escândalo antes da posse.
Ele mesmo se jogou no centro da trama que envolve o PM Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho Flávio, senador eleito, quando era deputado estadual.
Da conta em que ele movimentou mais de R$ 1,2 milhão em um ano, saiu um cheque para a futura primeira-dama Michele. Bolsonaro apressou-se a dizer que se tratava do pagamento de uma dívida que o PM tinha para com ele.
Enrolou-se, porque parece não haver prova do empréstimo, por sinal omitido na declaração de imposto de renda, erro que ele já admitiu.
O final de semana passou e Fabrício não veio a público dar explicações sobre movimentação atípica descoberta pelo COAF e sobre os depósitos de funcionários do gabinete na citada conta.
Ontem o futuro ministro Sérgio Moro, que também vai ser “ajeitado pela cadeira”, defendeu o esclarecimento dos fatos.
O líder do PT, Paulo Pimenta, acrescentou ao pedido de investigação apresentado à PGR indícios de que a família Bolsonaro teria sido previamente informada da operação Furna da Onça e da consequente varredura do Coaf em contas da Alerj.
“Agora vão começar a bater em meus filhos”, disse o presidente eleito em uma reunião, horas antes do estouro do escândalo.
Senadores da oposição pensam em representar contra Flávio Bolsonaro junto ao Conselho de Ética, depois que ele tomar posse.
Escândalos desta natureza são como fogo de morro acima, ninguém segura.
Por mais desculpas que sejam apresentadas, por mais que o governo tente travar as investigações, elas vão acontecer.
Nos últimos anos, criou-se no MPF e na Polícia Federal um sistema denuncista de muitos braços, que nenhum governo pode controlar.
Haverá sempre um delegado, um policial ou um procurador com acesso à informação, que a repassará para algum jornalista.
É diante do inescapável que Bolsonaro ajusta seu discurso e fala finalmente em pacificação, embora sem usar esta palavra.
“A cadeira vai ajeitando a pessoa”, disse em recente entrevista o ex-ministro petista e senador eleito Jacques Wagner, afirmando que é ainda cedo para saber se o presidente eleito Jair Bolsonaro representará risco para a democracia.
Ao ser diplomado ontem pelo TSE, juntamente com seu vice, general Mourão, Bolsonaro deu mostras de que o peso do cargo também amolda o eleito às circunstâncias, antes mesmo de sentar-se na cadeira.
Enfrentando um escândalo de precocidade inédita, ele fez ontem o discurso mais conciliador de que se tem notícia. Institucionalizou-se, finalmente.
Após receber a maior votação no primeiro turno, Bolsonaro declarou a manifestantes, em transmissão digital, que os “marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”. Seriam presos ou teriam que se exilar.
Vitorioso em 28 de outubro, não pregou a pacificação do país, como é de praxe naquela hora, não se referiu aos que não votaram nele, e nas primeiras entrevistas, atacou não apenas os adversários, como também a imprensa, fazendo ameaças diretas ao jornal ‘Folha de S. Paulo’, que havia denunciado o esquema de disparos de Fake News por sua campanha, com a ajuda financeira de empresas.
O Bolsonaro que discursou ontem era outro.
“Governarei em benefício de todos, sem distinção de origem social, raça, sexo, cor, idade ou religião”, prometeu ontem o homem que se notabilizou pelo antagonismo com gays, negros e índios, pelo desapreço às mulheres, e pelas referências ao PT e outras forças de esquerda como “inimigos” a serem batidos.
“Aos que não me apoiaram, peço a sua confiança para construirmos juntos um futuro melhor para o nosso país”. Para quem prometia cadeia e exílio, que progresso!
Ele também elogiou a Justiça Eleitoral, que na campanha colocou sob suspeição, falando frequentemente na possibilidade de fraude para evitar sua vitória. Mas acabou dando uma canelada nas mídias tradicionais, ao destacar a força da Internet, dizendo que “o poder popular não precisa mais de intermediação”.
Antes mesmo de sentar-se na cadeira de presidente, Bolsonaro está sendo “ajeitado” pelas circunstâncias.
Nunca um presidente foi alvo de um escândalo antes da posse.
Ele mesmo se jogou no centro da trama que envolve o PM Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho Flávio, senador eleito, quando era deputado estadual.
Da conta em que ele movimentou mais de R$ 1,2 milhão em um ano, saiu um cheque para a futura primeira-dama Michele. Bolsonaro apressou-se a dizer que se tratava do pagamento de uma dívida que o PM tinha para com ele.
Enrolou-se, porque parece não haver prova do empréstimo, por sinal omitido na declaração de imposto de renda, erro que ele já admitiu.
O final de semana passou e Fabrício não veio a público dar explicações sobre movimentação atípica descoberta pelo COAF e sobre os depósitos de funcionários do gabinete na citada conta.
Ontem o futuro ministro Sérgio Moro, que também vai ser “ajeitado pela cadeira”, defendeu o esclarecimento dos fatos.
O líder do PT, Paulo Pimenta, acrescentou ao pedido de investigação apresentado à PGR indícios de que a família Bolsonaro teria sido previamente informada da operação Furna da Onça e da consequente varredura do Coaf em contas da Alerj.
“Agora vão começar a bater em meus filhos”, disse o presidente eleito em uma reunião, horas antes do estouro do escândalo.
Senadores da oposição pensam em representar contra Flávio Bolsonaro junto ao Conselho de Ética, depois que ele tomar posse.
Escândalos desta natureza são como fogo de morro acima, ninguém segura.
Por mais desculpas que sejam apresentadas, por mais que o governo tente travar as investigações, elas vão acontecer.
Nos últimos anos, criou-se no MPF e na Polícia Federal um sistema denuncista de muitos braços, que nenhum governo pode controlar.
Haverá sempre um delegado, um policial ou um procurador com acesso à informação, que a repassará para algum jornalista.
É diante do inescapável que Bolsonaro ajusta seu discurso e fala finalmente em pacificação, embora sem usar esta palavra.
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