O PSDB é um partido paulista: controlado por líderes paulistas, defende os interesses da elite de São Paulo e depende fortemente do voto paulista.
Foi no Estado de São Paulo que Aécio Neves colheu sua maior vitória no primeiro turno em 5 de outubro (de São Paulo saíram 10 milhões dos cerca de 30 milhões obtidos pelo PSDB).
Nas redes sociais, militantes tucanos comemoram: “aqui é São Paulo!”
Outros dizem coisas horríveis sobre o povo nordestino - que votou em massa no PT. A elite paulista pautou a eleição assim: São Paulo contra o Brasil.
E não deixa de ser irônico: o PSDB - partido dos paulistas - dessa vez tem um candidato mineiro. Mas é um mineiro rejeitado em sua terra natal.
Sim, em Minas Gerais o PSDB perdeu no primeiro turno a eleição para governador, e Aécio Neves ficou bem atrás de Dilma na soma de votos para presidente!
Mas em São Paulo - terra de FHC, Serra e Alckmin - o PSDB colheu vitória importante.
Por isso, não há qualquer dúvida: a candidatura de Aécio está nas mãos dos paulistas. E eles querem dominar de novo o Brasil, como já fizeram no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Não se engane: Aécio tem sotaque mineiro, e gosta de frequentar as noitadas cariocas. Mas na Política ele representa São Paulo. Da mesma forma que FHC (nascido no Rio) foi no governo um representante das elites paulistas.
A elite dos Jardins e Higienópolis (bairros “nobres” paulistas) não se conforma com o avanço do Brasil.
Não se conforma com o fato de o Rio de Janeiro ser o núcleo da nova indústria do Petróleo, depois da descoberta do Pré-Sal.
Não se conforma com a força da nova economia nordestina - que cresce enquanto São Paulo mergulha no mau humor.
A elite de São Paulo não aceita que o Nordeste tenha melhorado nos últimos doze anos.
E atenção: o povo nordestino (que vive em seus estados de origem, ou que dá um duro danado em São Paulo, Rio e por esse Brasil afora) precisa saber o que se fala do Nordeste em terras paulistas.
O típico paulista acha que Nordestino é “vagabundo”. Sei disso porque vivo em São Paulo, já ouvi isso da boca de paulistas.
E nem é gente rica. É gente que detesta o sotaque nordestino, gente racista.
O mais triste: parte do povo trabalhador em São Paulo foi contaminada por esse discurso, e manifesta um ódio visceral “por esses nordestinos que agora andam de avião e pensam que são gente”.
O ex-presidente FHC, chefe político de Aécio, acaba de dizer que o PT só tem voto do “povo mal informado”.
FHC (aquele que chamava aposentado de “vagabundo”) não teve a coragem de falar com todas as letras o que tucanos de São Paulo berram nas ruas, nos bares, nos ambientes sociais: “nordestino é povo sem cultura”.
Mas FHC traduziu isso de forma chique…
Infelizmente, ouvi coisa parecida de um colega de trabalho, na semana da eleição.
“Eu voto em qualquer um para acabar com esse PT corrupto, e que só ajuda o Nordeste”.
Aí lembrei a ele que o PT não inventou a corrupção, e que os governos Lula e Dilma incentivaram a Polícia Federal a investigar pra valer os poderosos.
O amigo paulista respondeu: “pode ser, mas então eu não voto porque não quero mais favorecer nordestino”.
É disso que se trata: Aécio significa o Brasil dominado pela turma da Bolsa de Valores de São Paulo, dos bancos e empresas paulistas, e pelo ódio da classe média paulista.
O povo da Bahia, do Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Alagoas precisa saber disso.
E mais que tudo: o povo pernambucano (que votou massivamente em Marina Silva, por lealdade a Eduardo Campos) não deve se confundir.
Aécio é garotão mineiro, criado nas praias da zona sul carioca.
Mas, por trás dele, há toda a turma de São Paulo. Há a ideologia da elite paulista.
Claro, eu sei que Aécio tem votos em outras partes do Brasil.
Mas a candidatura dele representa um projeto paulista: ligado aos bancos, dominado pela ideologia de que o mais forte deve vencer, ele é contra a intervenção do governo para proteger os mais pobres, e quer privatizar tudo.
Programas sociais e direitos trabalhistas? Não, porque isso “atrapalha” as empresas.
Esse é o projeto que Aécio representa.
Não é novidade. Em 1930, Getúlio Vargas derrotou a elite paulista.
São Paulo reagiu em 1932 com uma “revolução” liberal.
Na verdade, era a reação dos fazendeiros paulistas inconformados porque o poder lhes escapava das mãos.
Nos anos 50, o trabalhismo de Vargas se consolidou em todo Brasil: menos em São Paulo e no Rio de Carlos Lacerda (onde a “zona sul” já era fortemente contra o povão).
Direitos sociais, direitos trabalhistas: a elite paulista detestava (e detesta) isso tudo.
Sabe o que diziam de Vargas? “Nunca houve governo tão corrupto”. Igualzinho ao que falam hoje sobre Lula e Dilma.
Aécio é a repetição dessa história. Ele vem forte para o segundo turno? Sim.
Com ele, estão FHC, Serra e aquela paulistada que pensa assim: “queremos o Brasil de volta, em nossas mãos”.
Não se engane. Se Aécio fosse bom para os mineiros e para o Brasil, ele teria ganho a eleição em Minas. E perdeu.
Aécio é bom para a elite de São Paulo. E só.
Quem assina esse texto é um paulista, filho de paulista, neto de paulista. Conheço bem essa terra.
Ela está envenenada pelo ódio. Mais à frente, quem sabe, poderemos implodir essa muralha de ódio.
Por hora, é preciso impedir que o ódio paulista contamine o Brasil! Aécio vencerá em São Paulo no segundo turno? É provável, e com ampla margem.
Mas que não vença com o voto do nordestino que vive em São Paulo, e nem com o voto dos paulistas que sabem qual o lado do povo trabalhador.
E mais importante: que Aécio seja amplamente derrotado Brasil afora.
Essa eleição será mais ou menos assim: São Paulo x Brasil. Infelizmente, será assim.
O Nordeste, a Amazônia, o Rio de Janeiro, Minas Gerais e o Sul terão força para derrotar esse projeto?
Acredito que sim.
Não me impressiono com pesquisas.
A elite de São Paulo vai perder de novo. Mesmo que dessa vez tenha escolhido um mineiro para “disfarçar”…
Mas é um mineiro que serve ao ódio paulista.
E ódio, como se sabe, serve para muito pouco nessa vida.
* Antonio de Azevedo é paulistano da gema.
1 comentários:
Ah Esta terra ha de haver cumprir seu ideal e transformar-se num imenso paulistal.
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