sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Romper o cerco conservador

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

O PT não é um partido de santos. Há gente boa e ruim ali – como em toda parte.

Mas você já reparou que, em toda eleição, há sempre uma onda de denúncias contra o PT? E só contra o PT?

Onde estão as investigações sobre os trens de São Paulo? Sobre a privatizações tucanas? Jamais prosperaram. Agora, a 15 dias da eleição, surge a delação premiada de um réu desesperado – jogando lama sobre Dilma, Lula e o PT como um todo. Não há chance de responder. Não. O rolo compressor midiático está acionado.

Beira o ridículo dizer que todo o problema do Brasil “é a corrupção do PT”. Não há corruptores? E os empresários? Não há uma reforma Política a fazer. Não.

Esse moralismo todo encobre o debate maior: teremos um Estado a serviço dos pobres ou dos ricos? Um Estado para a elite paulista, ou a serviço das maiorias? Esse é o centro da disputa. E os tucanos sabem que essa disputa está perdida. Então apelam para o moralismo seletivo.

Nada disso é novo: a ferramenta contra governos trabalhista sempre foi essa. Vargas foi tratado como um “bandido a acobertar criminosos”. Vejam bem: Vargas, o maior presidente da história brasileira foi cercado no Palácio por um boçal chamado Carlos Lacerda… Há 5 ou 6 anos, FHC lamentou que não tivéssemos um Lacerda no século XXI. Na verdade, temos sim: dezenas de lacerdinhas espalhados pelos jornais, rádios e revistas da marginal.

O círculo se fecha. E o bombardeio vai durar 15 dias.

O PT contava com a campanha de João Santana pra equilibrar o jogo: uma campanha da marquetagem. Só que o PSDB terá os mesmos 10 minutos na TV até o dia 26 – e mais a Globo, a Veja, todos os portais de internet, além das manchetes de jornal e rádio. Terá tudo… E esse discurso de que “é preciso varrer a quadrilha dos corruptos” ecoa pela internet.

Aqui, nos blogs, cansamos de dizer que o maior inimigo do projeto trabalhista no Brasil é a mídia velhaca. A diretora da Associação Nacional de Jornais (ANJ) disse, em 2009: “na falta de partidos de oposição, a imprensa virou o partido de oposição”. A mídia velhaca produz o conteúdo que depois se espalha pelas redes e pelas ruas.

Em 2010, blogs de esquerda conseguiram oferecer um contraponto à ofensiva da Globo de Ali Kamel e de Serra. Nunca mais isso acontecerá. Por que? Porque a elite e o PSDB nunca mais serão pegos de surpresa: criaram sua própria rede, e já atuaram fortemente nas redes em junho de 2013.

A Globo deu o roteiro para o Mensalão. A Globo criou os “aloprados” petistas em 2006. A Globo e seus parceiros midiáticos vão ecoar o escândalo da Petrobrás agora em 2014. Um escândalo de boca-de-urna.

Seria mais fácil enfrentar essa onda, se o PT tratasse a Globo, a Veja e outros como os inimigos que são. Brizola sempre fez isso. Requião sempre fez, no Paraná.

Dilma foi-se confraternizar com a Globo depois de eleita. Fez omelete com Ana Maria Braga, visitou a Folha, acreditou em relações “republicanas”. Os ministros petistas legitimam a Veja: correm para as páginas amarelas. Um candidato a governador petista, em conversa com blogueiros, disse que “não abria mão de ter uma boa relação com a imprensa”.

Sei… Na campanha, ele descobriu que relação é essa.

Agora, a onda vem forte como nunca.

Em 1954, a imprensa emparedou Vargas. Em 1964, emparedou Jango. Em 2014, Lula e o PT – com Dilma – estão emparedados.

Assistimos ao mais duro cerco conservador no Brasil, desde 1964. E há quem prefira se omitir, não escolha lado e se refugie no voto nulo.

O discurso – hoje – é o mesmo de sempre: tirar do poder os “corruptos”.

A elite brasileira assumiu toda sua ferocidade. O fascismo avança.

É preciso enfrentar a onda. Ainda que a direção partidária que teria a obrigação de tomar à frente da batalha prefira “conversar” e legitimar os inimigos.

É preciso, pelas frestas que restam, mostrar que o discurso de “fora corruptos” e “vamos mudar tudo” encobre uma disputa de projetos.

Só isso permitirá romper o círculo conservador.

2 comentários:

Unknown disse...

Ser do PT não implica em ser também o próprio PT, anormal, mas grave, gravíssimo é ter esta consciência e não se achar PT, estando no partido em busca de alguma sobra, de algum ganho. Basta uma carona, um brinde qualquer, para declarar o interesse na causa, o desinteresse pela causa.
Bastou quatro anos em quinhentos de corrupção e outras barbáries, pela opressão ao trabalho, para que os trabalhadores fossem criticados pelos próprios trabalhadores, como os maiores corruptos da história do Brasil.
Quando com PT ou sem, este cenário aponta para uma grande crise na representação da sociedade nos poderes da república. A principal no judiciário diante de tantas deficiências éticas e estéticas de responsabilidade de iguais.

Everaldo Vieira disse...

Ótima reportagem!
Quero acrescentar que estamos diante de uma luta de classes, é uma espécie de Bolsa família x Bolsa de valores.