sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Segundo turno: o voto útil

Por Pedro A. Ribeiro de Oliveira, no site da Adital:

O 1º turno é o momento político por excelência, porque nele se explicitam as propostas dos candidatos e candidatas, independentemente de sua probabilidade de vitória. A proposta de Lula e Dilma foi apoiada por muitos companheiros e companheiras de fé e luta política, como Leonardo Boff, Frei Betto e Luiz Alberto G. Souza, mas não por mim. Não me entusiasma a inclusão das classes e setores marginalizados no mercado de consumo sem taxar as grandes fortunas de ruralistas, empresário/as, banqueiro/as e rentistas.

O crescimento do PIB por meio da exploração desregulada dos recursos naturais é uma política insana: quando o último barril de petróleo for extraído do pré-sal, a Amazônia se tornar terreno do agronegócio, os rios secarem e não for mais possível extrair minérios da terra, será a catástrofe econômica e os pobres serão os primeiros a morrer. Por isso, minha opção no 1º turno foi por Luciana Genro, do PSOL.

No 2º turno a liberdade de escolha fica reduzida: é Dilma, é Aécio ou é nulo.

Descarto a opção pelo voto nulo, porque ele só se justifica como expressão de protesto quando o processo eleitoral é estruturalmente viciado, como ocorreu durante a ditadura militar. Hoje, apesar dos defeitos que só serão corrigidos pela Reforma Política, as eleições deixam transparecer bastante bem a vontade popular. E cada voto conta.

Escolho votar em Dilma por acreditar que será mais do mesmo. Não creio que ela fará a Reforma Agrária, cumprirá o preceito constitucional de demarcar e proteger os territórios e povos indígenas, ou terá mais cuidado com a ecologia... Creio, porém, que ela manterá as duas principais mudanças introduzidas pelo governo Lula: a política externa soberana e o aumento real do salário-mínimo. Vejamos brevemente cada uma delas.

1. Diferentemente do governo FHC, cuja política externa foi marcada pela subserviência aos EUA, Lula fez uma guinada em direção ao Sul geopolítico: rejeitou a ALCA, não cedeu a base de Alcântara, apoiou regimes ou governos perseguidos por Washington – como Cuba, Venezuela, Bolívia e Honduras – e incentivou a integração política da América do Sul. Dilma manteve essa linha política e nada indica que vá mudá-la num possível segundo mandato. Já Aécio, tendo por mentor FHC, traria de volta o realinhamento com o "grande irmão” do Norte.

2. FHC dizia ser inviável dar aumento real ao salário mínimo enquanto este fosse o piso da Previdência Social. Aumento acima da inflação – afirmava ele, do alto de sua arrogância professoral – só seria possível depois de sua desvinculação constitucional ao piso das aposentadorias e pensões. Muito provavelmente, em nome do equilíbrio fiscal Aécio desvincularia o salário-mínimo do piso da Previdência. Lula, porém, estabeleceu uma política de aumento real do salário-mínimo, e nem por isso o INSS quebrou. (Mesmo porque o déficit contábil da Previdência Social deve-se ao DRU, que desvia 20% dos recursos orçamentários da Seguridade Social para o pagamento de juros de dívidas). Por isso, hoje os avós têm outro status social: em vez de peso econômico para a família, são um esteio para seus filhos e filhas em dificuldade. Isso é fruto da teimosia de Lula e Dilma!

Por isso, mesmo não acreditando que Dilma ainda tenha pendor para a esquerda, darei a ela meu voto no dia 26 de outubro. É minha maneira de apoiar uma política externa soberana e, principalmente, para dar força aos avôs e avós que vivem de aposentadoria e têm direito à dignidade dos anciãos.

* Pedro A. Ribeiro de Oliveira é professor no mestrado em Ciências da Religião da PUC-Minas e Consultor de ISER-Assessoria.

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